Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

VORTHOS SE LIBERTA

Matt Cavotta

Escreveu a coluna “Taste the Magic” de 2005 a 2007

Vorthos Mandelbrot é um apaixonado jovem aprendiz de mago. Ele trata seus estudos e seu trabalho de magia com foco e zelo, mas acima de tudo, com elegância. Pois não é a promessa de poder que o motiva, é a arte e a beleza inerente da magia; as simetrias ocultas, as maravilhosas coincidências, o som, o cheiro, o próprio gosto dela. O velho ditado, “A jornada é o destino” é muito verdadeiro para o jovem Vorthos. É a fluidez do encantamento, sua relação com o som e a textura do próximo feitiço, a união perfeita de corpo, mente e mana que define a magia para Vorthos – não apenas o efeito final da mágica.

Às vezes, isso é difícil para seu mestre entender. Por muito tempo, ele forneceu seu conhecimento mágico para uma longa lista de alunos famintos de uma maneira: entregando aos alunos curiosos as chaves duras e frias da feitiçaria. O mestre de Vorthos se acostumou a fornecer essas chaves e observar seus alunos desbloquearem seus próprios cofres de poder. Mas essas chaves não servem nas fechaduras que Vorthos está tentando abrir, e seu mestre não entende muito bem.

Essa falta de compreensão é bastante clara, considerando a técnica de ensino que o mestre de Vorthos está empregando atualmente. Nos últimos dias, Vorthos e seus colegas praticaram todos os processos mágicos e realizaram todos os feitiços somáticos fundamentais ao ritmo constante (extremamente irritante para Vorthos) de uma batida de tambor.

“É importante que você seja capaz de disparar seus feitiços em uma sucessão rítmica – como uma rajada de golpes que não permite um contra-ataque,” berrou o mestre.

Vorthos estava irritado por dentro, pois o tambor parecia forçá-lo a fazer seus movimentos e pronunciar seus encantamentos em sincronia com a batida. Ele se encolhia cada vez que um movimento de mão potencialmente bonito era interrompido para permanecer no ritmo. Ele amaldiçoou a si mesmo cada vez que uma ideia para uma improvisação tinha que ser ignorada para se manter no ritmo. Para Vorthos, isso era automação sem alma, mecânica sem sentido. Ele pensou por um instante que preferia cultivar trigo ou cevada – pelo menos assim teria tempo para admirar as ondulações douradas de sua colheita enquanto o vento soprava, levando o cheiro do futuro direto para suas narinas. Mas então ele se lembrou – ele era um mago. É tudo o que ele sempre quis ser. Com o tempo, ele seria capaz de transformar areia em sementes e cultivar campos no deserto. “Plante suas sementes agora”, pensou ele, “e colha os benefícios mais tarde”.

Vorthos ficou surpreso ao ver como os outros alunos estavam concentrados, com que facilidade eles se acomodavam no ritmo do tambor esmagador da arte. “Eles tinha mais vontade do que eu?” Vorthos se perguntou enquanto os observava produzindo em uníssono os gestos finais de um feitiço de fogo. A chama fugaz estalou de suas mãos e se dissipou com um estalo – tudo em perfeita sincronia com o tambor. A atenção de Vorthos não estava em seu trabalho. Às vezes, seu feitiço nem produzia chamas e, na maioria das vezes, ele estava muito ocupado olhando para os outros, para acompanhar o ritmo. Quando ele não estava observando os outros alunos, ele olhava para baixo, fugindo do olhar de desgosto que certamente estava direcionado para ele.

“Atenção ao ritmo,” seu mestre advertiu. “Isso evitará que você vacile quando os tempos forem difíceis.”

“Cuidado com o ritmo, para que você mantenha a vantagem.”

“Cuidado com o ritmo, pois ele o levará firmemente em direção à vitória.”

O espírito de Vorthos se quebrava a cada palavra que seu mestre proferia. E sobre cuidar da harmonia do cântico? E a leveza do movimento? A posição da mão que invoca a chama? Ou a cor e o cheiro da chama? Ou o fluxo de tudo isso, a continuidade de todo o feitiço? E sobre todas essas coisas? Vorthos permitiu que sua mente vagasse. Com uma mudança sutil no movimento do corpo e uma música fluida em vez de um canto rítmico, Vorthos acreditava que poderia criar algo mais do que apenas fogo.

O ritmo estava prendendo-o. Estava travando. Isso não era magia. Naquele momento, Vorthos viu uma resposta. Uma resposta bonita e simples que lhe permitiria se libertar desse ritmo restritivo e criar algo diferente. Naquele momento, Vorthos, não era mais um estudante. Ele foi despertado para uma consciência além da tutela estruturada.

Seus movimentos se desviavam ligeiramente do ritmo, entrando e saindo do compasso como um músico confiante. Ele mudou pouco dos movimentos prescritos – mas o suficiente para criar uma justaposição complexa contra o simples baque do metrônomo.

“Vorthos! Cuidado com seus processos!”

Vorthos queria agradar seu mestre. Mas seu desejo de tratar a magia como uma forma de arte era mais forte. Enquanto lutava para fazer as duas coisas ao mesmo tempo, tecendo floreios sutis e inflexões quase inaudíveis em seus processos, Vorthos entrou em um estado elevado de magia. Enquanto continuava seu feitiço furtivo, ele se tornou cada vez mais consciente do mundo que se abria para ele. Os sons e visões de seu mestre, o tambor e os outros alunos começaram a desaparecer enquanto um caleidoscópio de luz, energia, música e a consciência se abria diante dele – e depois se fechou.

“Vorthos! Mantenha o ritmo!” seu mestre gritou enquanto cutucava Vorthos no ritmo do tambor com a ponta pontiaguda de sua varinha.

Vorthos foi arrancado de seu devaneio – mas ele havia mudado. Ele já havia adquirido novos conhecimentos, novas percepções, novo poder, e tudo veio de uma magia orgânica e bela. Não da ladainha repetitiva prescrita por seu mestre.

Vorthos não se importa com o tempo!”

Com isso, ele continuou os movimentos designados do feitiço de chama, mas sua mente pulou para outro lugar. Seu corpo e cérebro realizavam um dueto paradoxal, entrando e saindo da conexão um com o outro. Seu mestre balançou o dedo e a mandíbula em câmera lenta e silenciosa. Sem o som do tambor para continuar, os outros alunos lentamente saíram de sua sincronia e olharam um para o outro e para seu mestre em confusão lenta e exagerada.

Silêncio.

No bem-vindo alívio do silêncio, Vorthos novamente se viu deslizando para outra consciência.

Ele continuou seu feitiço, com medo de quebrar qualquer magia que o trouxera até aqui. Neste novo lugar não havia luzes ou sons, apenas uma extensão infinita de nada e tudo ao mesmo tempo. Nesse amplo espaço aberto, a mente de Vorthos se expandiu. Alargou-se e aprofundou-se para caber na vastidão deste lugar. Como tudo isso veio de um simples feitiço de fogo? O silêncio, o portal para… aqui, Vorthos não tinha como saber. Mas se sentiu em casa. Por muito tempo sua mente de mago foi forçada a viver em uma grade de minúsculas caixas rígidas, incapaz de se expandir.

Enquanto flutuava, Vorthos sentiu seu feitiço crescendo dentro dele, pulsando de sua cabeça até seu coração e através de seu braço esquerdo. No momento em que começou a sentir o zumbido quente na palma da mão, no momento em que a chama estava prestes a estourar da ponta dos dedos, um som quebrou o silêncio e sua mão iluminou o nada com cor.

“Bem-vindo.”

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