Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

UM GRITO DE MAGIA

Estou te entediando, Srta. Squallheart?”

Eu me assusto e bato meu joelho contra a mesa. Minhas pernas são longas demais para tudo em Strixhaven, e as cadeiras do escritório de Uvilda não são exceção. A Decana da Perfeição se senta com as mãos delicadamente cruzadas, combinando perfeitamente com a magia fria e controlada que ela realiza. E, caso alguém precise ser lembrado, seu escritório é exatamente igual. Paredes de cobalto, tapetes cerúleos e cortinas azuis transparentes que tremem com a brisa fria. A única nota discordante na decoração é o candelabro. E eu, acho.

Arte de Chris Rahn

Desculpe,” eu digo. “Estou com uma música presa na minha cabeça.”

Uvilda ergue uma sobrancelha fina. “Alguma que eu conheça?”

Acho que não.” É suave – uma cadência distante que não consigo capturar. Apenas uma única linha da melodia, repetindo-se desde que acordei esta manhã. “Eu realmente não consigo me lembrar das palavras.”

Sério? Memória parece ser um problema neste semestre, não é?”

Eu giro uma das pulseiras no meu pulso. “Eu acho que devo anotar as coisas.”

Ela ri como se eu tivesse feito uma piada. Eu mexo com as pulseiras no meu outro braço. Eu as uso principalmente para me impedir de morder minhas garras.

Uvilda não é um problema. No que se refere aos magos sêniores, já encontrei coisas piores indo nas festas lotadas de amigos e admiradores de minha mãe, suportando horas de fofoca, traição e arrivismo social. A decana tem a tendência de falar com as pessoas como se fossem cálculos mágicos complexos que podem ser desvendados com a frase-gatilho correta.

Não estou aqui para desencorajá-la, Srta. Squallheart. Pelo contrário. Quero capacitá-la para que faça o melhor trabalho que puder aqui na Faculdade Prismari.”

Eu sei disso.”

Você é a única aluna que ainda não se candidatou a uma crítica, e meus professores me dizem que é porque você, até agora, não conseguiu concluir nada.” Ela faz uma pausa, esperando que eu dê uma desculpa. Eu não tenho nenhuma. “Já faz quase um mês desde o início do período letivo, Srta. Squallheart.”

Ela olha incisivamente para minhas pulseiras tilintando, e eu me forço a deixá-las de lado. “Isso não é… verdade. Eu terminei algumas coisas. Eu só… não entreguei nada.”

E por que não?”

Eu hesito. “Não está… certo. Não está pronto.”

Você não deveria deixar que eu julgasse isso? É para isso que serve uma crítica.”

Eu encolho os ombros. Quero dizer a ela que já sei exatamente o que ela vai criticar, mas sei que ela vai achar isso impertinente. Minha mãe sempre faz isso. Ao lado de Uvilda na mesa, uma das chamas de uma vela atrai minha atenção. Ele está se comportando de forma estranha, tremendo um pouco fora do tempo das outras.

Senhorita Squallheart?” Ela me dá um sorriso fraco. “Outra música ficou na sua cabeça?”

Eu respiro fundo. O campus de Strixhaven é impregnado pelo sabor da magia, mas neste prédio é especialmente pungente. Eu seguro um espirro. “Não tenho nada preparado para uma crítica e não tenho uma boa desculpa. Não sei mais o que dizer.”

Estou esperando raiva; o que eu consigo é muito pior. Uvilda adota uma expressão carrancuda. Parece uma tarefa árdua. “Há algo que você gostaria de discutir, Rootha?”

Eu faço uma pausa. “O que você quer dizer?”

Sua expressão não muda, mas suas nadadeiras se agitam de aborrecimento. Todas as velas em sua mesa tremulam com o deslocamento do ar, exceto uma. “Coisas em sua mente, distúrbios emocionais? Problemas em casa?”

Eu me corrijo. Uvilda é exatamente como os outros. O calor sobe pelo meu pescoço. “Isso não tem nada a ver com minha mãe.”

Sua mãe era uma maga incrivelmente talentosa e delicada.” Ou Uvilda não percebeu minha raiva, ou ela não se importa. “Ela foi… o quê, a terceira geração de alunos da Prismari em sua família?”

Meus olhos são atraídos irresistivelmente para uma das peças de arte em exibição no escritório. Uma réplica perfeita de um floco de neve, até sua delicada estrutura cristalina. Congelado, mas nunca derretendo. Um pequeno feitiço, seguro e sem falhas. Minha mãe o fez em seu primeiro mês na Prismari. Eu quero destruí-lo com minhas próprias mãos.

Quarta,” eu digo. “Ela foi a quarta. Eu sou a quinta.”

Uma maga Squallheart, incapaz de terminar um projeto. As chamas das velas estremecem novamente, dançando com a brisa. Eu me perco no movimento, deixando Uvilda tagarelar sobre minha família ser melhor do que eu.

E por respeito a sua mãe e em deferência ao talento que eu sei que você possui, vou permitir que você se redima.”

Eu mordo uma resposta sarcástica. Um efeito colateral de crescer sem amigos da sua idade é que você tende a se dirigir a figuras de autoridade como se fossem iguais. “Hã?”

Traga-me um projeto concluído amanhã—”

Amanhã?” As velas brilham com meu mau humor.

A expressão de Uvilda fica decididamente azeda. “Você mesma disse que tem trabalhos concluídos. Traga-me alguns. Ou não posso mais garantir uma vaga para você na faculdade Prismari.”

As velas acendem mais alto. Acalme-se, acalme-se. Eu sabia que algo assim estava perto de acontecer, não há razão para eu perder o controle. As velas se acalmam. Todas exceto uma, que continua a dançar.

Não fico surpresa quando, assim que passo pela soleira do escritório de Uvilda, ocorre um whoosh e um clarão de luz vermelha, seguido por um grito de aborrecimento.

Nassari, Dean of Expression | Arte de Jason Rainville

Ah, acalme-se,” diz uma voz que estala nas bordas.

Olá, Decane,” digo estupidamente, olhando por cima do ombro. “Você tem o hábito de se esconder nas chamas das velas durante as críticas dos alunos?”

Ugh, me chame de Nassari. ‘Decane’ era o nome do meu pai.”

Hã, sério?”

Não.” Outre feiticeire sênior da Prismari bate um dedo escuro em seu queixo. “Não sei por que disse isso. Mesmo assim, me chame de Nassari. Efrites não fazem cerimônia.”

Nassari,” digo, porque também nunca fui ótima em cerimônias. “Mesma pergunta, eu imagino.”

Hmm? Aah, não. A maioria dos alunos de Uvilda são incrivelmente chatos.”

Os pés de Nassari quase não tocam o chão, as chamas se acumulando entre seus calcanhares e o mosaico do chão. Eu meio que esperava ver um rastro de marcas de queimadura, mas sua magia é controlada demais para isso. Afinal, eles são os Decanos da Expressão e mantêm uma rédea curta exatamente ao redor do que essa expressão acarreta.

Mas você me interessa, Rootha. E quero estender minha oferta de ajuda, caso algum dia você deseje um conselho menos, digamos…”

Prático?”

Eu ia dizer ‘irritantemente cansativo’, mas essa palavra é muito mais moderada.”

Chegamos ao topo da escada e não tenho certeza se Nassari pretende me seguir descendo-a. Seu escritório fica no alto do Salão Conjurot, junto com seus apartamentos e oficina. Se eu pedir a ajuda de Nassari, elu provavelmente conseguiria um aumento do prazo. Elu provavelmente poderia conseguir mais do que isso. Um adiamento.

Eu sei que a magia da sua família possui um estilo exclusivo,” elu diz. “Mas eu não acho que combina com você.”

Como assim?” Sai mais cortante do que pretendo.

Nassari se inclina para perto. Eu quase me afasto devido à sua pele ficar vermelha e laranja, e as chamas florescerem em seus olhos. Efrites tem a reputação de serem complicados e imprevisíveis. Mas os orcs também têm a reputação de serem violentos. Eu mantenho minha posição.

Há mais em você do que você deixa transparecer,” Nassari diz, os olhos quentes o suficiente para arder. “Há magia selvagem em você.”

A memória me atinge como um tapa, as mesmas palavras ditas em uma voz diferente. Magia selvagem. Folhas verdes, céu azul e vermelho. Fúria vermelha, sangue vermelho. Um grito em meus ouvidos e uma euforia doentia e vertiginosa explodindo em minhas veias.

Eu tropeço. Nassari me pega antes que eu caia escada abaixo.

Estou bem,” eu suspiro, antes que elu possa perguntar. “Obrigado pela oferta, mas vou ficar bem.”

Pelo menos uma coisa boa aconteceu com Decana Uvilda falando sobre minha mãe: eu me lembro de onde veio a música que estava presa na minha cabeça. Não as palavras ou o nome, mas sua fonte. Minha mãe costumava cantar para si mesma enquanto trabalhava. Uma paleta em uma mão, um pincel na outra, inclinada perto do cavalete e zumbindo suavemente. Eu sentava nos tapetes e misturava os pigmentos para ela enquanto meus irmãos corriam do lado de fora com as crianças da vizinhança.

Amarelo, Roothie,” ela dizia, “o mais brilhante que você puder fazer.” E eu faria o meu melhor para misturar as tintas do jeito que ela queria. Mesmo quando eu entendia errado, as pinturas eram sempre lindas. Tudo o que ela fazia era lindo.

Todos os alunos da Prismari têm seus próprios aposentos – uma sala de estar e um estúdio. O meu fica no lado oeste do campus, com vista para a orla do Passeio Opus. Quando chego em casa, um dos sóis está se pondo acima do lago, enviando uma luz brilhante em sua superfície. Eu me sirvo um pouco de licor de amarantino seco com gelo, tomando pequenos goles e cantarolando para mim mesma a velha canção da minha mãe enquanto tento encontrar o candidato ideal para a crítica de Uvilda. Porém, se ficar bêbada o suficiente, talvez eu decida fazer as malas e sair correndo.

Uma linha de telas encostada na parede do estúdio – paisagens e retratos genéricos. Todas feitas no último mês, e nenhuma vale a tinta com que foram pintadas. Em teoria, eu estava praticando a técnica, mas nada aqui vale uma crítica. Como disse para Uvilda, já sei tudo o que ela vai dizer.

Aproximo-me da minha mesa de trabalho, cheia de papel de desenho, pincéis e um cinzel amassado de quando o joguei contra a parede na semana passada. Minha peça mais recente da aula de escultura arcana está entre os detritos. Eu suspiro. Aquela provavelmente será minha melhor chance.

A peça é de um azul profundo e frio. Isso se encaixaria perfeitamente no escritório de Uvilda. Mas, além disso, não há nada de surpreendente. Parece apenas uma explosão caótica, uma onda quebrando congelada, porque é exatamente isso que é. Eu enchi um balde com água e derramei no chão do estúdio, congelando quando ela espirrou de volta em mim. O efeito não é nem de longe tão espetacular quanto eu esperava.

Minha mãe tece esculturas intrincadas e brilhantes de água e gelo, entrelaçando cada molécula em um nível básico para construir a estrutura mais delicada e brilhante. Tudo o que consigo fazer é congelar tudo de uma vez, o que significa que não tenho controle sobre sua aparência. Sem nuance, sem arte. Apenas magia crua e não filtrada lançada em uma explosão descoordenada. Magia selvagem.

Eu estremeço, sirvo-me de mais amarantino e reformulo o feitiço de congelamento porque a superfície está parecendo um pouco escorregadia. A magia vem quando eu invoco, mas é lenta e embaçada. Eu gostaria de culpar o álcool, mas…

Minha mãe tinha uma tigela de bolinhas de gude em seu estúdio e eu costumava brincar com elas enquanto ela trabalhava, jogando-as no carpete para fazer formas. Gatos, cães, dragões, orcs, todos vestidos para a batalha. Eu adorava espalhar minhas mãos sobre elas e sentir as pequenas esferas de vidro contra minhas palmas, misturá-las, juntá-las. Mas se eu quisesse que os contornos fossem precisos, tinha que alinhar as bolinhas uma a uma, lenta e cuidadosamente.

É assim que o processo do tipo de mágica da minha mãe é para mim. Lento, cuidadoso e enfadonho.

Estou começando a sentir a bebida quando alguém bate na minha porta.

Eu sei que você está aí, Rooth. Posso sentir a melancolia.”

Atordoada, eu destranco a porta. Uma mulher está parada na soleira, olhos negros brilhantes sob a luz bruxuleante que paira no corredor.

Felisa?”

Ela sorri, torto e brilhante, revelando a ponta de um afiado dente canino. “Você não vai me convidar para entrar?”

Eu limpo minha garganta. “Entre.”

Ela passa por mim suavemente. Felisa Fang está vestida para sair com um vestido prata e preto, seu cabelo preso para cima revelando um pescoço esguio e orelhas suavemente pontudas. É o mesmo vestido que ela usou no ano passado, quando nós duas passamos a noite no pub, unidas pela necessidade de não conhecermos mais ninguém. Felisa, por ser do outro lado do mundo, e eu porque minhas habilidades de fazer amigos estavam pateticamente atrofiadas. Bebemos demais e contamos nossas histórias uma para a outra. Ou, pelo menos, mentimos sobre elas. Eu contei a ela sobre as alegrias de crescer com Samara Squallheart, louvada artista-maga, e ela me contou sobre o clã Fang e sua enorme mansão.

Fosse verdade ou não, ela estaria a altura da mentira – uma vampira, elegante e perspicaz, com uma sagacidade brutal única mesmo entre outros de sua espécie. Gostei muito dela quando nos conhecemos.

Ainda gosto. Pelo menos em teoria. Na prática, mal nos falamos desde que escolhemos nossas faculdades.

Bem, isso aqui é enorme!” Felisa anuncia, girando no centro da sala até que sua saia se alargue. “Você tem um quarto extra inteiro! Como isso é justo? Terei que reclamar com o decano… é completamente inaceitável que eu não tenha um estúdio próprio, mesmo que minha vida dependesse disso. Ah, você estava trabalhando?”

Eu estava quase terminando.” Nós duas ficamos uma de cada lado da minha mesa de trabalho. “Precisa de alguma coisa?”

Eu não te vejo há anos – achei melhor dar uma olhada. Você não tem vindo para o Fim do Arco.”

Eu suspeito imediatamente. Não porque tenhamos brigado, mas porque há um ar forçado nessa conversa. “Eu realmente ando sem vontade de beber ultimamente,” digo com cautela.

Felisa inclina a cabeça para o copo em minha mão.

Eu realmente ando sem vontade de beber em público recentemente,” corrijo.

Aham.” Ela estende a mão para a escultura, e eu tenho que me esforçar para não afastar sua mão. “Você que fez isso?”

Eu concordo.

É bonito.”

Bonito.” Minha voz soa como se estivesse vindo de algum lugar fora do meu peito.

Sim.” Os olhos de Felisa brilham sob as luzes do estúdio. “Não tão bonito quanto você, no entanto.” Ela ri – um som quente e musical. É tão viciante que tenho vontade de rir com ela. “Eu nem sei por que você está aqui.” Ela dá um passo mais perto, até que eu pudesse estender a mão e tocá-la. “Se eu fosse tão bonita quanto você, não me incomodaria nem com a universidade.”

O calor atinge minhas bochechas, então meu peito, então meu intestino, com força, enquanto a irritação se enrola dentro de mim como um punho. “Não faça isso.”

O que?”

Não use magia em mim.” Eu me afasto dela. “Eu sei que não devo confiar em nada que alguém da Platinopena diga.”

As presas de Felisa brilharam em um rosnado, antes que ela lutasse para se controlar.

Uau. Bem, tudo bem. Eu só estava oferecendo algum incentivo – parecia que você poderia usá-lo.”

O que isto quer dizer?” Eu estalo de volta.

Felisa é uma Vanglória – ela usa palavras para inspirar ou reprovar, o que pode resultar em quedas e picos intensos na estabilidade emocional de um alvo. É um tipo complexo de magia que não é fácil de ensinar. Ou você tem jeito para isso, ou não. Eu sinto a pressão disso no interior das minhas pálpebras e na parte de trás da minha garganta.

A raiva que estava fervendo na boca do meu estômago desde o escritório hoje reapareceu como um inferno. “Pare! Eu não preciso de suas mentiras ou seu encorajamento ou qualquer outra coisa que você possa oferecer.” A magia gira dentro de mim, empurrando a arquitetura dos meus ossos. Eu vejo sangue vermelho e céu azul e ouço os gritos ao meu redor. E então eu só vejo Felisa, olhando para mim como se ela não soubesse quem eu sou. “Talvez você deva ir.”

Ela vai.

Eu estou tremendo. Sinto pequenos tremores em meus braços e pernas. Eu espirro mais amarantino no copo e engulo em um gole. Beleza. Beleza. O que a beleza vai me trazer? A arte da minha mãe é mais do que beleza. É transcendente. É poderosa. Se eu levar alguma coisa bela para Decana Uvilda, eu sei exatamente o que ela dirá.

Quando minha mão alcança meu projeto, é como se pertencesse a outra pessoa. Minhas garras brilham e minhas pulseiras batem juntas. Minha escultura ressoa como mil sinos minúsculos enquanto a esmago em pedaços no chão do estúdio.

Arte de Bayard Wu

O Passeio Opus fica deserta à noite, mas as luzes bruxuleantes ardem ao longo da via, guiando meu caminho. Eu cambaleio entre filas e filas de projetos de arte, lindos e impossíveis, oferecidos à faculdade por alunos agradecidos. Todo mundo deixa algo para trás quando se forma – é tradição.

Não é difícil encontrar o da minha mãe. Eu conheço sua magia de longe.

Sua maior criação: uma cachoeira sem fim saindo do nada e desaparecendo no nada. A magia é perfeita, mas fácil de interromper. Com um toque de meus dedos, sinto todas as formas como ela se manteve unida por décadas. Eu poderia desenrolar fio por fio, ou poderia apenas quebrá-la.

Uma alegria vingativa cresce dentro de mim. Samara Squallheart é famosa, amada, mas seu trabalho será tão facilmente desfeito quanto o de sua filha inútil.

Eu não faria isso. Seria um problemão.”

Um fino cordão de chamas enlaça meu pulso, mais vapor do que fogo. Então eu me esforço contra ele e ele esquenta, cada vez mais até que eu grito, queimada.

Decane Nassari me solta e estende a mão paciente. “Deixe-me ver.”

Elu não parece zangade, mas há autoridade suficiente em sua voz que eu nem sonho em desobedecer. Não é mágica. Apenas autoridade. A pele delu é perfeitamente fria ao toque, e quando elu passa o polegar em meu pulso, a queimadura desaparece. “Bom como novo.”

Eu me afasto. Eu me sinto tão vazia que estou ecoando. “Você estava me seguindo?”

Sim.”

Ah.”

Eu não esperava honestidade, e certamente não esperava sem uma repreensão anexada. E foi bom eu estar te seguindo.

Você enviou Felisa para mim também?”

Os olhos de carvão brilhantes de Nassari se estreitam. “Eu não sei quem é.”

Ela é Platinopena. Uma Vanglória. Nós somos – nós éramos amigas. Ela veio do nada e começou a usar magia de encorajamento em mim.”

Nassari faz um som com a garganta que me lembra o fogo devorando um pergaminho. “Isso soa mais uma ideia de Uvilda do que minha. Funcionou?”

Eu ofego. “Não gosto que brinquem com minhas emoções.”

Ninguém gosta.”

Algumas pessoas devem gostar,” eu digo. “Caso contrário, ninguém em Platinopena teria um emprego.”

Os olhos de Nassari brilham ainda mais. “Hmm, mas alguém visita uma Vanglória porque quer, ou porque não tem escolha?”

Não estou sóbria a suficiente para isso. “Eu não sei! Por que alguém faz alguma coisa?”

Ah, o enigma eterno. Vamos discuti-lo longe de delicadas obras de arte. Eu adoro um pouco de destruição, mas os golens jardineiros arrancarão minha pele se eu deixar você destruir o gramado.”

Após um momento de hesitação, eu pego o braço oferecido e deixo-me guiar para lonnge da cachoeira de minha mãe. “Então você está me dizendo que Uvilda fez minha amiga usar magia em mim para… para quê? O objetivo de uma crítica é que eu mesma faço o trabalho!”

Hmm.” A boca de Nassari se achatou. “Talvez seja menos o seu sucesso que ela está cortejando e mais a notícia para um terceiro interessado.”

Eu me esforço para entender o que elu quer dizer e, quando o faço, a raiva volta a crescer dentro de mim em espirais tensas. “Minha mãe. Claro.”

Os Squallhearts foram generosos com doações no passado,” diz Nassari.

Eu sei disso. Claro que eu sei. Mas de alguma forma nunca me ocorreu que eu só poderia ter sido aceita em Strixhaven por causa da fama de minha mãe. Eu iria para Strixhaven porque é isso que as mulheres Squallheart fazem, mas eu presumi, talvez idiotamente, que chegaria lá por meus próprios méritos.

Fico feliz que Nassari esteja aqui, porque não tenho certeza do que eu faria se elu não estivesse. Eu sei que elu sente a violência reprimida dentro de mim. A magia selvagem.

Posso te contar um segredo?” A luz bruxuleante torna suas chamas fantasmagóricas.

Eu… acho que sim? Não sou muito boa com segredos.”

Tudo bem, eu confio em você.” Elu toca a boca com o dedo, imitando um sussurro. “Eu nunca gostei da sua mãe.”

O que?” De tudo no mundo que elu poderia ter dito, eu não esperava por isso. “Mas… ela é um gênio. Você sabe quanto custa uma de suas pinturas?”

Nassari mostra uma língua laranja derretida em uma demonstração infantil de antipatia. “Eh. Claro. Mas a mulher em si… sem ofender sua família, mas ela sempre foi arrogante e irritadiça na minha classe. Ela era simpática quando precisava de você, mas quando não precisava mais você não era nada.

Eu fico olhando para elu, porque acho que nunca ouvi ninguém resumir minha mãe de forma tão brutal e precisa. “Então por que você está fazendo tudo isso?” A frase sai mais alta do que eu quero, a frustração crescendo. “Se eu não sou sua aluna e você não se importa com minha mãe, por que perder seu tempo comigo?”

A brisa açoita as chamas de Nassari em torno de seus tornozelos. “Você sabe como é um terremoto? Não os tremores em si, mas a potência antes de começar. O gosto do ar antes de uma tempestade, a maré recuando antes de uma onda. É assim que eu sinto você. A magia que você está fazendo em suas aulas – limpa, arrumada e ordenada. Não combina com você.”

As palavras abrem um buraco dentro de mim, o horror borbulhando. Nassari pode ficar lá e dizer isso para mim, pode estender a mão e agarrar todas as coisas dentro de mim que mais me assustam e arrancá-las para fora.

Eu balanço para trás. “Você não entende.”

Explique, então.” Aquela autoridade novamente. Sem compulsão, apenas temperada pelas chamas.

Minha respiração estremece no meu peito. “Não sei por onde começar.”

Qualquer lugar.”

Eu fecho meus olhos brevemente. “Eu comecei cedo na magia. Quando tinha cerca de oito anos. Isso é muito jovem para um orc. Eu era uma criança desajeitada. Mãos grandes, pés grandes e com a magia só ficou pior. Eu tinha um temperamento terrível. Eu gostava de… jogar coisas. Quebrá-las. Gritar se eu não tivesse o que queria. O que é normal para uma criança, eu acho. Mas eu era uma criança que podia incendiar coisas com meu cérebro.” Eu forço uma risada. Dói. “Eu estava no quintal brincando com meus irmãos. Um deles – Tomlin, o caçula… Eu estava com raiva dele. Nem me lembro do que ele estava fazendo. Provavelmente me cutucando com um pedaço de pau, alguma coisa estúpida.

Eu estava com tanta raiva. Eu queria machucá-lo, e foi o que eu fiz.” Eu aperto minha mandíbula contra as memórias. “Eu me senti – bem. Certa. Como se fosse o que eu deveria fazer. Ele sobreviveu, está bem, mas ninguém nunca mais confiou em mim. Nenhuma das famílias próximas deixaria seus filhos perto de mim. Então, enquanto meus irmãos e irmã estavam na floresta correndo com crianças da nossa idade, eu estava lá dentro. Sendo ensinada a controlar minha magia.” Diga, Rootha. “Mesmo que ela não venha naturalmente. Eu posso fazer isso. Eu fiz. Até agora.”

Nassari faz um barulho suave ao meu lado. Minhas passadas agitadas nos levaram por toda a extensão da Opus Walk, e estamos na extremidade da seção habitável do campus Prismari. Além dali está a escuridão intercalada com brumas de magia – Furygale. Um cemitério de projetos abandonados e feitiços lançados pela metade que não gostavam de se render às suas partículas básicas. Ninguém deveria vir aqui, mas as pessoas vêm. Felisa costumava participar de duelos de honra aqui regularmente, observando alunos mais velhos resolverem seus problemas com magia quando as palavras não eram mais adequadas.

Exatamente o lugar para despejar uma coisa quebrada que não funciona como deveria.

Você nunca contou essa história para ninguém, não é?”

Eu fico olhando para a escuridão. “Eu não quero simpatia.”

Ótimo. Porque você não vai conseguir nenhuma de mim.”

Eu olho para elu, esperando um sorriso. Só mais uma piada. Mas não há nada de engraçado em sua expressão, nada gentil.

Surpreendentemente, começo a rir, mesmo enquanto tudo dentro de mim fica cada vez mais apertado. “Bem, ótimo! Obrigada pelo incentivo.”

Nassari levanta um ombro. “Se eu achasse que incentivo ajudaria, teria te enviado de volta para sua Vanglória. Você acha que é a única maga com uma história como essa? Magia não é uma disciplina limpa.”

Fantástico,” eu zombo. “É bom saber como eu sou normal. E suponho que todos esses magos cresceram e tiveram uma vida feliz?”

Pelo contrário.” Nassari levanta a corda que bloqueia o final da Caminhada de Furygale, passando sob ela com uma graça sobrenatural. “Muitos deixam isso arruiná-los, como você fez aqui.”

Isso dói como um tapa. “Eu não deixo—!”

Você cometeu um erro e desapareceu dentro de si mesma.”

Um erro?” Minha voz ecoa no vazio. “Eu poderia ter matado meu irmão, e eu gostei!”

Nassari deixa a corda cair lentamente, separando-nos. “Bem, você não vai me matar. Não importa o quanto você goste.”

Eu mostro minhas presas. “Você tem certeza disso?”

Elu sorri como eu, cruel e com poder bruto. “Me teste.”

Elu está me provocando. Não deixo ninguém fazer isso há mais de quinze anos, mas não suporto o desdém em seus olhos. A decepção humilhante. Elu pensara que eu seria algo digno, interessante. Algo valioso. Eu provei que estava errade.

Isso me deixa irritada. Isso me faz queimar.

Arte de Colin Boyer

O poder irrompe forte e escaldante do meu diafragma, uma gota quente de magia que sai em um grito. Não era nem mesmo um encantamento, apenas uma descarga crua de emoção. Totalmente descontrolada, preparada para matar.

Nassari se move mais rápido do que eu já vi uma criatura se mover. Como chamas acendendo grama seca. Elu salta para trás no ar e pega minha magia entre as palmas das mãos. A força disso joga elu mais alto no ar, ondas de choque atingindo o chão e chicoteando minhas tranças em volta da minha cabeça. Elu dá um giro elegante no ar e cai de volta ao chão. A magia que foi canalizada é lançada para fora e para longe em Furygale, onde fica suspensa no ar, estalando como estática.

Meus joelhos batem no chão. “Não, não, não.” Todas as minhas entranhas foram arrancadas. Eu ecoo como as galerias superiores do Biblioplexo. Eu ataquei um decane.

Levante-se,” Nassari diz.

Eu tiro meu cabelo dos meus olhos. A calma delu é irritante. “Eu ataquei você!”

Eu disse para você atacar.”

Isso não importa!”

Eu não vou te expulsar da Prismari, Rootha Squallheart. E nem a Decana Uvilda. Se você quiser sair, terá que fazer isso por conta própria.”

Eu fico olhando para elu, a silhueta contra a descarga de minha magia ainda pairando no ar. Ao longo da minha vida, tudo o que alguém me ofereceu foi um vago incentivo e métodos de controle. Nassari me oferece uma mão para que eu me levante e passe e por cima da corda em direção à Furygale.

Ainda não tenho um projeto para Uvilda,” digo. Eu estou tremendo. Tento esconder fechando os punhos.

No escuro, todo o corpo de Nassari arde. Elu é a coisa mais brilhante aqui. “Nada?” Elas olham em direção ao borrão de magia. “Aquilo não parece ser nada.”

Eu ofego. “Sim, aquilo não é arte. É birra.”

Você sabe o que eu entreguei no meu primeiro projeto?”

Não, o quê?”

A língua derretida de Nassari brilha por trás do sorriso. “Um terremoto.”

Eu rio, novamente não tenho certeza se elu está brincando. Eu me aproximo da magia pairando no ar. Não é… exatamente disforme. Há uma consistência naquilo, uma constelação. Eu estendo a mão—

E puxo para trás. A música. A música da minha mãe ressoa em meus ouvidos quando toco a magia. Alta demais – é praticamente um grito e ainda sem palavras – mas acho que posso ouvi-las em algum lugar bem no fundo. Eu poderia arrancá-las – eu sei que poderia.

Mas não em uma noite.

Eu balanço minha cabeça. “Não posso levar isso para Uvilda.”

Claro que não.” As sobrancelhas de Nassari são feitas de chamas, mas ainda podem parecer extremamente sarcásticas. “Eu não disse? Você não vai embora enquanto quiser ficar. Uvilda não é mais sua conselheira. Eu sou. E eu digo que você passou.”

Estou momentaneamente sem palavras, minha boca mexendo. “Uvilda não ficará feliz com isso.”

Eu cuido dela.”

Por que?” Eu explodi. “Por que você está fazendo isso por mim? Não sou excepcional. Não sou única. Sou—”

Um dos meus,” Nassari diz, e me perfura com um olhar tão intenso que tenho vontade de recuar. “A magia dentro de você é do que eu sou feite, corpo e alma. E eu não vou deixar que ela se queime em nada.”

Eu engulo seco, todas as minhas dúvidas me cercando. “Eu não valho isso.”

Talvez ainda não.” A boca de Nassari está torta. “Mas tenho um faro para investimentos de longo prazo.”






Traduzido por Blackanof
Revisado por Sophia

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