Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

EPISÓDIO 01: UM ESTRANHO EM EIGANJO

De todos os cômodos do Palácio Imperial, a cozinha era o favorito de Kaito.

O cheiro perfumado de caldo de ramen, bolinhos de carne de porco e katsu curry flutuava pelo corredor e pela janela lateral onde Kaito estava debruçado. Ele inspirou como se estivesse em uma neblina, escorregou pelo beiral e entrou no depósito, mantendo seus passos o mais silencioso possível. Assim como Patas-Leves o ensinara.

Não que a conselheira da Imperatriz aprovaria as atividades extracurriculares de Kaito.

Arte de Julian Kok Joon Wen
Os pratos estavam empilhados no balcão próximo; a bacia ao lado estava cheia de água com sabão, bolhas subindo perigosamente perto da borda. Kaito estava quase na porta quando um pequeno kami tirou a cabeça para fora da água, piscando como se tivesse acabado de acordar de um cochilo. Quatro xícaras de chá em miniatura flutuavam em torno de seu corpo em forma de salamandra, seu rosto adornado por vários chifres pintados que pareciam cacos de porcelana quebrada.

Kaito parou, preparando-se para ouvir um sermão, quando o Kami da Louça Imperial pegou outro prato sujo e afundou na água, desinteressado no que Kaito estava fazendo.

Uma risada de canto de boca, e ele disparou para virar a esquina em direção à cozinha aberta.

Os cozinheiros do palácio estavam distraídos com seus preparativos. Entre as panelas barulhentas, o caldo fervendo e os sons de uma faca de açougueiro contra uma tábua de cortar, não importava se Kaito fosse silencioso – ele poderia até ser invisível.

Seus olhos percorreram avidamente a mesa de centro, onde pedaços redondos de mochi azul estavam em fileiras uniformes, cada um decorado com um rosto sorridente e pequenos olhos amarelos em forma de meia-lua.

Kaito levantou a mão, dedos dançando levemente como se estivesse reunindo coragem. Dois pedaços de mochi flutuaram no ar, pairando centímetros acima da mesa.

Kaito puxou os doces para mais perto com sua mente, concentrando-se enquanto eles se aproximavam dele. Ele estendeu a mão, prendendo a respiração, e apanhou-os no ar, bem quando um dos cozinheiros o viu por trás de uma panela de macarrão de vidro.

“Ei!” O rosto do cozinheiro já estava vermelho do vapor, mas agora estava ficando roxo. “O que eu te disse sobre roubar?”

Kaito correu de volta pelo corredor, tropeçando em seu pé. Ele podia ouvir alguém correndo atrás dele, mas não ia perder tempo olhando por cima do ombro. Ele voltou para a despensa, o cotovelo acertou a beirada de uma panela suja, e derrubou uma pilha de pratos sobre o balcão.

Com o mochi ainda apertado contra o peito, Kaito estendeu a mão livre para segurar os pratos no ar. Eles pairaram no lugar, mas os passos no corredor estavam próximos. Muito próximos.

Kaito não tinha escolha.

Ele soltou os pratos e pulou para a janela assim que a explosão de porcelana ecoou atrás dele. O kami irrompeu da água com sabão, gritando para a bagunça e o cozinheiro assustado ao lado dos pratos quebrados.

Com um sorriso malicioso, Kaito enfiou um pedaço de mochi na boca e o outro no bolso, pulou do parapeito da janela e fez seu caminho ao redor da parede.

Como a maioria dos edifícios de Eiganjo, o Palácio Imperial tinha telhados baixos e curvos e espaços com terraços. Jardins de musgo e areia eram abundantes, alguns deles subindo pelas laterais do palácio, com árvores saindo dos expositores.

Mesmo com o palácio guardado por samurais leais e imponentes mecas de vigilância imperiais, Kaito vagava livremente entre suas aulas. A maioria dos imperiais não lhe dava nenhuma atenção. Eles estavam mais preocupados em manter relações positivas com os kami, regular a tecnologia e monitorar o quão corretamente os Futuristas estavam seguindo as regras.

Equilíbrio, como Patas-Leves costumava dizer.

Kaito não se importava com equilíbrio; ele estava apenas feliz que ninguém parecia se incomodar em observar os telhados.

Escalando a beirada do apartamento mais próximo, Kaito seguiu uma trilha improvisada sobre as casas e voltou para o jardim de pedras da sala de treino. As portas deslizantes estavam escancaradas. Até onde ele sabia, Patas-Leves ainda não estava lá.

Kaito correu pela areia, passando por uma espiral de pedras quebradas meio afundadas no chão. Elas zumbiam fracamente com energia; uma antiga relíquia do passado.

No momento em que Kaito passou pelas portas deslizantes, ele soube que não estava sozinho.

“Você está atrasado,” a voz afiada de Eiko soou das sombras. “E seu rosto está coberto de farinha de arroz.”

Kaito girou em direção a sua irmã. Mesmo tendo a mesma idade, Eiko sempre parecera mais velha. Talvez porque depois que seus pais morreram, ela sentiu que era sua responsabilidade cuidar de seu irmão.

Kaito também cuidava de Eiko, mas ele nunca a castigaria por se divertir.

Não que Eiko fizesse muito isso.

Ele puxou uma manga para limpar a boca. “Não fique brava.” Ele tirou o outro pedaço de mochi do bolso e estendeu para ela. “Eu trouxe um presente para você.”

Eiko franziu a testa, mas a sugestão de um sorriso brilhou em seus olhos. Com um suspiro, ela pegou o mochi e colocou na boca, esfregando os dedos na camisa. “Você precisa começar a levar seu treinamento mais a sério. Já faz cinco anos – a maioria dos Imperiais já teria escolhido uma especialidade durante esse tempo.”

Kaito deu de ombros, ainda sorrindo. Geralmente evitava que Eiko ficasse muito brava com ele. “Nós somos a exceção, não a regra. Talvez se continuarmos com o treinamento geral por tempo suficiente, nunca teremos que nos separar. Podemos ficar assim para sempre.”

Eiko fechou a boca, as bochechas florescendo com rubor. “Kaito, eu-”

Patas-Leves entrou na sala, e o que quer que Eiko ia dizer pareceu parar na ponta de seus lábios.

Vestida com seu quimono decorativo, Patas-Leves atravessou a sala com o equilíbrio e a nobreza de alguém que não foi criada apenas como uma Imperial – ela era o próprio exemplo de um. Sete caudas brancas balançaram atrás dela. Um sinal da idade e sabedoria da kitsune.

Kaito e Eiko se curvaram respeitosamente. Patas-Leves era a professora deles, mas também era a coisa mais próxima que eles tinham de uma guardiã.

Arte de Randy Vargas

Mesmo que Kaito não amasse as regras do palácio, isso nunca o impediu de desejar a aprovação de Patas-Leves. Ele só queria que fosse tão natural para ele quanto para Eiko. A vida imperial convinha à sua irmã.

Mas para Kaito, havia muitas paredes.

Patas-Leves cruzou os braços atrás dela e olhou diretamente para Kaito. “Você e Eiko não serão mais parceiros de treino.”

As sobrancelhas de Kaito franziram. “Nós não vamos mais treinar?” Ele olhou para sua irmã, mas ela apenas mordeu a ponta do lábio.

“Vocês vão treinar,” Patas-Leves corrigiu. “Mas não juntos. Eiko escolheu estudar para ser uma diplomata kami. Eu organizei a agenda dela para coincidir com seus colegas estudantes imperiais.”

Kaito sentiu o Plano inclinar. Ele se virou para sua irmã. “Por que você não me contou?”

Os ombros de Eiko afundaram. “Eu tentei. Muitas vezes. Mas você nunca quer falar sobre o nosso futuro, e eu não poderia adiar meu treinamento por mais tempo. Nós não seremos crianças para sempre, Kaito.”

“Adiar?” ele repetiu. “O que isso quer dizer?”

Ela achatou a boca. “A razão pela qual demorei tanto para escolher uma especialidade foi porque eu esperava que você escolhesse primeiro. Achei… achei que poderia tornar as coisas mais fáceis.”

Kaito retraiu-se, ferido. Ele podia não querer que as coisas mudassem, mas também nunca quis atrasar sua irmã.

Há quanto tempo ela guardava tal segredo?

“Sinto muito,” Eiko disse, apertando a mão no ombro de seu irmão. “Mas está na hora. Para nós dois. E talvez agora você também possa escolher seu foco, sem se preocupar comigo.”

Patas-Leves observou os dois em silêncio, tão imóvel que até mesmo suas caudas pararam de balançar.

Kaito piscou, lutando contra a ardência em seus olhos. “Tudo bem. Estou feliz por você.” Era o que um bom irmão diria.

E ele queria ser um bom irmão, mesmo que não fosse um bom Imperial.

Eiko assentiu, retirando a mão do ombro dele. As coisas seriam diferentes agora. Ela estudaria nas bibliotecas e salas de conselho e faria viagens ao movimentado centro metropolitano de Towashi, e talvez até aos arredores da Floresta Jukai para consertar as relações com os kami.

Não restava muito da floresta — a maior parte havia sido cortada para dar espaço para a cidade. Agora os kami a guardavam ferozmente, e apenas os mais habilidosos na diplomacia kami tinham alguma chance de reprimir as hostilidades.

Seria o trabalho perfeito para Eiko, um dia. Durante todo o tempo, Kaito estaria preso aqui. No palácio. Sem nenhum plano para o futuro.

Patas-Leves deu um passo cuidadoso para frente, levantando o queixo levemente enquanto olhava para Kaito. “Braço-Ligeiro está esperando por você no jardim de sakura. Ele irá apresentá-lo ao seu novo parceiro de treino.”

Kaito engoliu o nó na garganta, mas não conseguiu se livrar da surpresa. Braço-Ligeiro dirigia a elite da Academia Cauda-Dourada para samurais imperiais. O que o faria concordar em treinar Kaito? E porque?

“Eu vou imediatamente,” Kaito disse com uma voz calma, e saiu da sala, ansioso por uma distração.

Os jardins de sakura ficavam no coração do Palácio Imperial. Havia um atalho por cima do muro, mas Kaito pegou o longo caminho através dos prédios e subiu as escadas de pedra. Ele estava perto dos aposentos da Imperatriz e do templo de Kyodai; ele tinha que, pelo menos, parecer estar em seu melhor comportamento.

Kaito só tinha falado com a Imperatriz atrás de uma tela. A primeira vez foi por acidente — ele escalou o muro errado tentando fugir de um Kami das Flores da Primavera, que não gostou de Kaito acidentalmente pisotear um canteiro de flores, e acabou em um jardim privado cercado por hortênsias e lagoas de carpas. Uma varanda extravagante levava a uma porta de tela de papel, onde uma luz quente brilhava atrás dela. Alguém estava sentado na beirada da sala, mas tudo que Kaito podia ver era sua sombra.

Ele tentou fugir, mas só deu dois passos quando uma voz o chamou e perguntou o que ele estava fazendo.

Kaito não sabia que era a Imperatriz. Tudo o que ele ouviu foi a voz de uma garota de sua idade. Alguém mais propenso a ser seu amigo do que alguém que reportaria a Patas-Leves sobre a travessura que ele estava fazendo.

Então Kaito disse a ela a verdade. Como ele se esgueirou na seção restrita da biblioteca em um desafio e estava a meio caminho de pegar um dos livros quando alguém o viu. Como ele nunca correu tão rápido em sua vida tentando fugir e teve que subir em três telhados diferentes, cinco muros e escalar um prédio apenas para chegar em segurança.

A garota sorriu atrás da tela. Ele pôde ouvir em sua voz quando ela lhe disse que nunca tinha ouvido nada tão bobo em toda a sua vida.

Eles conversaram por quase uma hora antes de Kaito perceber que estava atrasado para uma aula. E quando ele perguntou qual era o nome da garota, ela não disse. Era proibido para a Imperatriz revelar seu nome, mesmo para os mais próximos a ela. Mas ela disse que ele era bem-vindo para voltar e vê-la na próxima vez que ele precisasse de um lugar para se esconder.

Quando Kaito estava saindo, ele subiu de volta na parede e olhou ao redor do prédio – para saber para onde voltar – quando percebeu que estava no jardim da Imperatriz.

Um bom Imperial saberia que não deveria voltar. Um bom súdito saberia que falar tão casualmente com a Imperatriz de Kamigawa era impróprio. E um bom aluno não deixaria uma distração atrapalhar seus estudos.

Mas Kaito não era bom em nada além de seguir seu próprio coração.

A próxima vez que ele foi visitar a imperatriz por trás da tela, ele não deu muita importância a saber quem ela realmente era, além de chamá-la de “Vossa imperatreza” quando sentiu que precisava de algo para chamá-la. Ele apenas falava com ela como um amigo, dia após dia.

E, eventualmente, foi isso que eles se tornaram.

Kaito alcançou os portões do jardim de sakura e fechou os dedos em punhos. Ele contaria à imperatriz sobre a escolha de Eiko na próxima vez que falasse com ela. Mas quando ela inevitavelmente perguntasse como Kaito se sentia sobre isso, o que ele diria?

Patas-Leves estava preparando-os para servir à imperatriz. Era seu dever elevar seu treinamento. Como ele poderia dizer à Imperatriz de Kamigawa que estava descontente com isso?

Tornar-se um samurai fazia mais sentido para Kaito. Ele era forte e rápido para sua idade, e ele tinha telecinesia – ele poderia ser um recurso para os imperiais com o treinamento adequado.

Talvez este fosse o plano de Patas-Leves. Colocar Kaito em uma posição em que se o Braço-Ligeiro o recrutasse diretamente, ele não seria capaz de dizer não.

Braço-Ligeiro estava esperando na grama, sua armadura imperial montada estrategicamente em torno de sua forma kitsune. O metal cintilou contra a luz do sol, feito de vários tons de ouro, bronze e castanho-avermelhado, com um leque extravagante aberto em suas costas.

Sob seu capacete de cores semelhantes, Braço-Ligeiro fez um aceno curto. “Patas-Leves me disse que você é um excelente espadachim.”

Kaito fez uma careta. Era isso mesmo. Ele seria puxado para dentro da vida imperial, sem nenhuma maneira de sair. Ele seria um samurai até morrer. “É…sim, senhor.”

Braço-Ligeiro grunhiu. “Eu não creio que Patas-Leves seja uma mentirosa, mas também nunca conheci um excelente espadachim que hesitasse.” Seus bigodes se eriçaram. “Quer tentar isso de novo?”

Kaito se endireitou. “Posso lutar bem, senhor. Treino com minha irmã há muitos anos.”

“Bom.” Braço-Ligeiro virou-se para o lado, olhos severos fixos além das cerejeiras. “Precisamos de um novo parceiro de treino. Alguém adepto da habilidade que não vai ficar para trás em seus estudos. E já que você não saiu do treinamento geral…”

Kaito ouviu o desgosto em sua voz. A implicação de que Kaito era preguiçoso e não tinha nenhum material de samurai.

Ele escondeu sua alegria. Talvez ainda houvesse esperança.

Braço-Ligeiro estava muito ocupado observando algo atrás das árvores. “Você se lembrará de ser respeitoso em todos os momentos, mas também tratará essas aulas como qualquer outra, entendeu?”

Kaito assentiu, e uma porta próxima se abriu. Passos soaram no caminho. Braço-Ligeiro curvou-se.

Preparando-se para fazer o mesmo, Kaito apertou os pés, mas parou quando uma garota apareceu na esquina. Uma garota com cabelos brancos como a neve, olhos castanhos e uma expressão séria demais para pertencer a alguém tão jovem.

“Obrigada por seu serviço.” Sua voz era experiente e formal, mas Kaito também reconheceu a familiaridade nela.

A Imperatriz de Kamigawa.

Os olhos de Kaito se arregalaram. Ele nunca tinha visto seu rosto antes — apenas sua sombra. Mas a sombra que ele conhecia era cheia de calor, sentimentos e sonhos do que o Plano poderia ser um dia.

Ela era mais do que uma sombra. Ela era alguém com quem Kaito se importava.

Ele se lembrou de se curvar. “Obrigado pela oportunidade, Vossa Imperatreza – digo, Alteza.”

Arte de Eric Deschamps

Ela não reagiu ao apelido desajeitado que ele vinha usando há anos, mas o nariz de Braço-Ligeiro se torceu em desaprovação. Ele pegou uma das espadas de treino de madeira do suporte. Com as duas mãos, ele estendeu para a imperatriz e baixou a cabeça. Quando ele retirou a segunda, ele jogou para Kaito a vários metros de distância.

Kaito foi rápido – sua mão estalou no ar, pegando a espada pelo cabo antes de atingi-lo no peito.

Braço-Ligeiro olhou para ele, mas não disse nada.

Tomando suas posições na grama, Kaito e a imperatriz ergueram suas espadas, preparando-se para lutar.

Kaito sabia que deveria observar cada movimento dela, mas não conseguia desviar o olhar dos olhos dela. Ela o reconheceu? Ela reconheceu a voz dele?

Ela pensava nele como um amigo, ou Kaito tinha apenas imaginado isso em sua cabeça?

Braço-Ligeiro deu a ordem para começar, e Kaito balançou sua espada. A imperatriz bloqueou – seu estilo de luta era como água, fluido e poderoso. Eles se moviam em círculos ao redor do ringue de treino improvisado, espadas batendo com precisão, nenhum deles suando.

Kaito deu um passo para trás, a espada levantada em defesa, quando percebeu o olhar de Braço-Ligeiro.

Trate essas aulas como qualquer outra.

Apertando os dentes, Kaito assentiu. Ele entendeu o que se esperava dele. E esperava que a imperatriz o perdoasse.

Ele brandiu sua espada com força, empurrando a imperatriz para a beirada do ringue. Ele era implacável, atacando em rajadas rápidas e afiadas de fúria – o oposto de sua energia calma.

Se ela era um lago, ele era um tsunami.

Kaito a cansaria em minutos. Ele estava certo disso.

A imperatriz bloqueou, de novo e de novo, e então girou para longe dele como seda flutuante, tão graciosa que a força de seu próximo golpe o pegou desprevenido. A espada dele curvou-se sob a dela, e ela se manteve firme. E então, em um movimento rápido, ela rolou seu corpo e quebrou a ponta de sua espada na empunhadura da de Kaito.

Ele a sentiu chacoalhar na palma da mão, mas era tarde demais. Ela girou novamente, chutando Kaito no estômago enquanto tomava sua espada com a mão livre e segurou as duas lâminas de madeira em seu pescoço antes mesmo que ele tivesse tempo de se equilibrar.

Kaito olhou para a imperatriz – na forma como a luz do sol explodia atrás dela, mostrando sua silhueta esbelta como se ela fosse novamente uma sombra atrás de uma tela – e viu um sorriso aparecer na borda de seus lábios. Um sorriso de reconhecimento.

Braço-Ligeiro ainda estava assistindo, então Kaito tentou não sorrir de volta. Mas por dentro, ele estava radiante.

Ao longo dos anos, Kaito e a imperatriz continuaram a treinar juntos. E quando não estavam treinando, Kaito encontrava maneiras de encontrá-la no jardim, onde podiam falar pela tela da varanda. Sem o olhar atento de Braço-Ligeiro, eles eram apenas dois amigos de infância compartilhando seus segredos.

Kaito esperava que o que eles tinham nunca mudasse, mesmo que o Plano ao redor deles mudasse. Rumores sobre revoltas nas montanhas da Cidade de Sokenzan atormentavam as conversas cotidianas. Os Futuristas ficaram cada vez mais frustrados com os regulamentos imperiais sobre tecnologia. Na Floresta de Jukai, as relações com os kami ainda eram tensas.

E Eiko estava sempre ocupada estudando. Às vezes parecia que a imperatriz era tudo o que Kaito tinha.

Pressionando os dedos contra as telhas pretas, Kaito verificou novamente sua aderência. Choveu durante a noite e parte da calha ainda escorria água. Mas ele gostou do desafio, e era uma boa maneira de praticar ficar na ponta dos pés – literalmente.

Ao longe, o trem Eiganjo dobrou uma esquina, entrando na estação como uma adaga de metal. Mecas em forma de animais de origami pairavam nos penhascos ao redor, e ginetes de mariposas apareceram no alto, esperando para recepcionar os recém-chegados – Futuristas vindos da cidade flutuante de Otawara para falar com os conselheiros da imperatriz.

Kaito enfiou o último pedaço de pão de feijão vermelho na boca, bateu as migalhas de suas mãos e contornou a beirada do telhado em direção à residência da imperatriz.

No meio do caminho, ele avistou um homem vestido com uma armadura Futurista parado em um dos jardins em terraços. Um cidadão-da-lua, pairando vários centímetros acima da grama.

Ele deve ter vindo antes dos outros, Kaito observou.

Luzes azuis brilhavam no peito do futurista em padrões irregulares, fazendo a cor quase branca de seu colete brilhar. Finas placas de metal rosa-ouro estavam sobre seus ombros em camadas. O homem beliscou uma com os dedos, arrancando-a como se estivesse puxando uma folha de uma árvore.

Em sua mão, a forma triangular se expandiu antes de se dobrar repetidamente, transformando-se em um drone em forma de garça de origami. Ele voou rapidamente, desaparecendo nas nuvens como se estivesse carregando um segredo em suas asas.

Arte de Cristi Balanescu
Quando o homem se virou, Kaito estava parado na frente dele.

O estranho arregalou os olhos, claramente assustado. Ele se concentrou no rosto jovem de Kaito, avaliando sua idade, e relaxou, os pés tocando o chão. “Impressionante, garoto. Faz muito tempo desde que alguém se aproximou sorrateiramente de mim assim.” Com uma risada, ele acrescentou “Mas você tem sorte que os Imperiais levaram minhas armas no portão. Pessoas como eu tendem a cortar primeiro e perguntar depois.”

Kaito não se moveu. “Eu não sou um garoto.” Ele acenou com a cabeça em direção ao ombro do homem. “E tenho certeza de que os Futuristas não deveriam trazer tecnologia externa para o palácio.”

“Eu estava apenas enviando uma mensagem amigável,” o homem respondeu facilmente.

“Amigável o suficiente para que você tenha que se esconder no jardim para enviá-la?”

O homem inclinou a cabeça. “Sem ofensa, mas você não parece muito com um Imperial para mim.” Ele acenou com a mão sobre o próprio rosto para dar ênfase. “A maioria deles tem uma soberba característica. Mas você? Você só parece curioso. Além disso, você ainda está aqui, falando comigo.”

Kaito cruzou os braços. “Eu não nasci um Imperial. Mas esta é minha casa agora.” Até quando ele dizia isso, as palavras pareciam erradas. Como algo verdadeiro ainda pode parecer uma mentira?

“Sem pais, hein?” Quando Kaito não respondeu, o homem deu de ombros. “Nem eu. Os meus morreram trabalhando na fábrica. Houve um vazamento tóxico, e os sensores lá eram tão velhos que ninguém soube da fumaça até que fosse tarde demais.” Ele enrijeceu o maxilar. “Poderia ter sido evitado se eles tivessem acesso a equipamentos melhores, mas com todos os regulamentos imperiais e o custo de atualizar qualquer coisa na Cidade Baixa…”. A voz do homem ficou distante, mas ele forçou outro sorriso. “Tenho sorte de ter uma família extensa em Otawara. Caso contrário, eu ainda poderia estar lá embaixo, brigando por tecnologia ultrapassada e lutando para manter um teto sobre minha cabeça.”

Kaito não falava sobre seus pais, e nem sobre Eiko. Para ninguém.

Parecia errado reclamar, quando os Imperiais lhes deram um lugar seguro para estudar, com bastante comida, e o tipo de abrigo que algumas pessoas em Kamigawa brigariam com prazer para ter.

E ainda…

“Houve um acidente no laboratório Towashi onde meus pais trabalhavam, e ambos foram expostos à radiação.” Kaito endureceu. Dizer as palavras em voz alta parecia estranho, e muito parecido com uma traição. O que Eiko diria? Patas-Leves? A Imperatriz?

Mas as palavras precisavam sair. Talvez fosse melhor Kaito dizê-las a um estranho.

“Ah,” o homem disse. “Dificilmente alguém na Cidade Baixa consegue obter a tecnologia médica adequada para envenenamento por radiação. É muito caro.”

O rosto de Kaito corou com uma raiva crescente que ele nem sabia que tinha. “Meu pai… ele tinha a tecnologia médica. Ele ia usá-lo com minha mãe. Mas… ainda não tinha sido aprovada.”

“Mercado negro?”

Kaito assentiu. “Meu pai foi preso. Ele morreu na prisão, e minha mãe morreu pouco depois.”

A voz do homem estava cheia de compaixão. “Não é certo que alguém deva controlar quem vive e quem morre. A tecnologia deve ser para as pessoas. Para que possam cuidar de si mesmas, quando ninguém mais o fará.”

Kaito torceu a boca. “Mas sem regulamentação, qualquer um pode construir qualquer coisa. Pessoas más podem construir armas.” Precisava haver regras. Patas-Leves havia enfatizado esse ponto mais de uma vez.

O homem deu um tapinha no ombro de Kaito e se inclinou. “Isso é o que as pessoas dizem quando querem te controlar.” Ele puxou a mão e arrancou outro pequeno drone de origami de sua armadura. “Aqui. De uma pessoa que o sistema falhou para outra.”

Kaito pegou o presente, surpreso com o quão reconfortante ele o achou. Os Imperiais tinham seus próprios drones, mas este parecia diferente. Era um pedaço de um mundo que Kaito ainda não tinha visto.

O cidadão-da-lua caminhou para a porta, os membros fluindo com graça, apesar dos contornos ásperos da sua voz. “Estou atrasado para uma reunião. Mas foi bom conversar com você, garoto.”

“Garoto não,” Kaito disse logo depois.

O homem riu por cima do ombro. “Se você estiver procurando um emprego, acho que os Futuristas poderiam usar alguém como você. Basta perguntar por Katsumasa.”

Ele desapareceu no prédio, e Kaito sentiu como se a terra tivesse sacudido alguma coisa para fora. Algo que ele enterrou há muito tempo e estava com muito medo de revisitar.

Até agora.

Ele gostaria de ter alguém com quem conversar. Mas Eiko era dedicada à vida imperial – ela nunca entenderia o conflito em seu coração. Nem a imperatriz. Não quando ela governava Kamigawa e acreditava tão fortemente que controlar a tecnologia era a única maneira de manter o equilíbrio entre a fusão dos reinos mortais e espirituais.

Kaito observou os ginetes das mariposas voarem sobre o palácio, imaginando se Patas-Leves se certificaria de que um dia seria ele. Um fiel até o fim.

Mas, pelo menos, ele estaria com as pessoas com quem se importava. Talvez desistir de uma parte de seu coração não fosse tão ruim se ele estivesse lutando uma batalha que mantivesse sua família segura.

Ele já tinha perdido seus pais. Ele não perderia mais ninguém, nunca mais.

Colocando o drone de garça no bolso, Kaito suspirou para as nuvens e lembrou que ele tinha sua própria reunião. Ele subiu de volta na parede e foi encontrar sua amiga.

Os meses passaram lentamente. Kaito nunca contou a ninguém sobre o Futurista no jardim. Era um segredo que ele carregava consigo. Um segredo que não saía de seus pensamentos.

Mas ele contou à imperatriz como seus ideais estavam mudando. Ela não concordou, mas o deixou falar, e de alguma forma isso só deu mais propósito a seus sentimentos. Mas mesmo quando sua mente começou a se afastar dos ensinamentos imperiais, o resto de sua vida parecia continuar inalterado.

Até o dia em que Kaito encontrou Patas-Leves no jardim de sakura.

“Onde está Braço-Ligeiro?” Kaito inclinou a cabeça, intrigado. “Nossa aula de combate foi cancelada?”

“Não haverá mais aulas de combate.” Patas-Leves dobrou as mãos à frente. Houve um tempo em que ela parecia se erguer sobre Kaito, mas agora eles tinham a mesma altura.

“Não entendo.” O olhar de Kaito percorreu o jardim em busca da imperatriz, mas ela não estava lá.

O nariz de Patas-Leves tremeu levemente. “Você é quase um adulto, Kaito. Não há razão para você ser o parceiro de treino de ninguém. Você deve escolher um caminho e começar sua própria jornada. Braço-Ligeiro acha que você se encaixaria bem como um—”

“Eu não quero ser um samurai,” Kaito interrompeu. Ele nem tinha percebido que tinha tomado aquela decisão até que as palavras saíram de sua boca.

Mas ele estava cansado de esconder quem era e como se sentia.

As caudas de Patas-Leves se endireitaram atrás dela. “Eu sei que você e a imperatriz têm uma amizade.” Kaito desviou o olhar. “Mas é hora de vocês dois se concentrarem em seus deveres com Kamigawa – a imperatriz com seu povo, e você com a imperatriz.”

“Eu não preciso me juntar à Academia da Cauda-Dourada para fazer isso,” Kaito argumentou acaloradamente.

“A imperatriz tem muitos inimigos que desejam que ela falhe,” advertiu Patas-Leves. “Ela precisa de samurais. Leais.” Ela fez uma pausa, a voz afiada como uma lâmina. “Não um parceiro de treino mais interessado em encher a cabeça dela com ideias sobre um futuro diferente.”

O coração de Kaito rachou ao meio. “Ela… ela te contou?” Eles falaram sobre tantas coisas ao longo dos anos, uma sombra para outra. Eles contaram seus medos um ao outro. Suas esperanças para o Plano.

Mas Kaito nunca pensou que ela trairia seus sentimentos para Patas-Leves.

‘É nosso dever proteger a imperatriz, sempre. A privacidade é uma ilusão para alguém do status dela.” Patas-Leves suspirou, dando um passo em direção a Kaito. “Talvez eu tenha permitido que você mantivesse sua infância por muito tempo. Poderia ter sido melhor se eu tivesse intervindo e colocado você em um caminho melhor.”

“Um caminho melhor?” Kaito engasgou, punhos tremendo. “Você não tem ideia do que é isso!”

Os olhos escuros de Patas-Leves permaneceram fixos. “O equilíbrio é o único caminho. As máquinas que construímos podem mudar Kamigawa. Esse é um poder que precisa de supervisão.”

“Um único caminho só funciona quando todos são iguais,” Kaito retrucou. “Os Imperiais estão seguros em Eiganjo. Há harmonia com os kami, e a tecnologia está disponível sempre que eles precisam. Mas há lugares em Kamigawa que não têm esses luxos. Pessoas que precisam ultrapassar os limites da tecnologia porque seu mundo não foi projetado para o conforto. E se você desliga – você os controla porque você não pode imaginar um Plano em que um civil precise inventar equipamentos diferentes para se manter vivo e seguro. Você limita o acesso a qualquer pessoa que não tenha as licenças certas, sem qualquer consideração para aqueles que não podem pagar. Onde está o equilíbrio nisso? Você está matando pessoas e—”

“Já chega, Kaito,” Patas-Leves estalou, orelhas dobradas e narinas dilatadas. “Essas licenças e regulamentos garantem que a tecnologia seja segura. Você está usando palavras radicais que não têm lugar no palácio imperial.”

“O que você está dizendo,” Kaito respondeu amargamente, “é que eu não tenho lugar aqui.”

Foi a primeira vez que Kaito deu as costas à sua mentora. Não se sentiu corajoso, poderoso ou atrasado.

Pareceu como cortar algo que talvez nunca seria consertado.

Kaito não conseguiu dormir naquela noite. Ele rolou e se virou por horas, tentando não pensar sobre o que havia desmoronado entre ele e Patas-Leves.

Quando o alarme soou no palácio, ele já estava acordado.

Saindo de sua cama, Kaito pegou seu drone de garça metálico da cômoda. Ele havia sido modificado para uso diário e agora se encaixava confortavelmente em seu pulso. Ele saiu para o corredor; samurais e funcionários imperiais estavam por toda parte, alertando uns aos outros e correndo para seus postos.

Kaito começou a se mover em direção aos aposentos de Eiko quando viu uma das bibliotecárias correndo em sua direção. Ele levantou um braço para detê-la. “O que aconteceu?”

Ela balançou a cabeça para frente e para trás, o terror persistindo em seus olhos. “Há um intruso no palácio. Estão dizendo que os Insurgentes estão aqui!” Afastando o braço dele, ela passou em busca de segurança.

Kaito hesitou. Ninguém procuraria por Eiko. Ela estaria segura com os outros estudantes diplomatas.

Mas a imperatriz…

Kaito se virou, procurando a sacada mais próxima. Samurais vigiariam os corredores, as portas e os portões. Mas Kaito passou anos correndo pelo palácio, entrando e saindo de lugares invisíveis.

E os guardas raramente vigiavam os telhados.

Sob o céu estrelado e aveludado, Kaito tomou o caminho mais rápido para os aposentos da imperatriz. Seu peito queimava enquanto ele voava pelos ladrilhos pretos, os olhos fixos no jardim onde passara tantas tardes. Quando avistou a varanda, não havia luz se espalhando pela grama.

Mas a porta já estava aberta.

Kaito saltou do muro, rolando para uma parada cuidadosa no último degrau. Ele andou na ponta dos pés em silêncio, parando na porta, e removeu o drone de metal de seu pulso. Ele se tornou uma garça de origami e voou direto para as sombras.

Ele pressionou um dedo no chip contra sua têmpora que lhe permitia ver através da câmera do drone. A imperatriz não estava lá, nem o intruso. Mas a porta para a câmara de Kyodai também estava aberta, e lá dentro, o luar varria o chão.

Um som ecoou pela sala — como três vozes chorando ao mesmo tempo. Um grito, uma música e um sussurro, todos com dor.

Kaito não se importou em esperar que o drone lhe mostrasse o que havia atrás da porta. Ele correu para o som. Porque se Kyodai estava com problemas, então a imperatriz…

Ele derrapou quando alcançou a grande câmara, logo que o drone pousou de volta em seu pulso. Uma fonte termal disposta à distância, a neblina cobria a água, fazendo parecer que a sala se estendia por uma eternidade.

Kaito nunca tinha posto os olhos em Kyodai antes. O espírito guardião de Kamigawa só falava através da imperatriz – canalizava-se através da imperatriz de uma maneira que ninguém mais poderia experimentar. Não sem a bênção da grande kami, que só deveria ser dada após a morte da imperatriz.

A kami era enorme, com centenas de braços dourados de tamanho humano formando sua barriga e membros. Esferas douradas percorriam os leques em suas costas, e uma grande esfera preta ficava embutida em sua testa. Uma boca pontiaguda semelhante à de um dragão e três máscaras delineavam o rosto de Kyodai. Elas representavam Michiko Konda – a primeira imperatriz a canalizar com Kyodai.

Kyodai, Alma de Kamigawa | Arte de Daniel Zrom
O olhar de Kaito foi para a enorme máquina central pendurada no teto. Alguém lhe disse que Kyodai se prendia a ela como um enorme cabo, quase como se estivesse se mantendo separada do Plano mortal logo abaixo.

Mas agora Kyodai se contorcia na água, açoitando a neblina como se estivesse machucada e confusa.

A imperatriz não foi encontrada em nenhum lugar.

Kaito estava pronto para chamar os guardas – gritar para eles virem rapidamente e ver o que havia de errado com Kyodai – quando viu um homem estranho surgir da neblina ao lado do corpo da kami.

Um homem vestido com armadura cromada diferente de tudo o que Kaito já tinha visto, e um braço de metal que pulsava com energia roxa, as pontas formando uma garra monstruosa.

Quando ele travou os olhos em Kaito, eles brilharam em um rosa sobrenatural.

Com um sorriso de escárnio, o homem saltou do nevoeiro para a varanda aberta. Kaito não tinha arma, mas não importava; ele não deixaria o intruso escapar, não importando o que custaria.

Ele o perseguiu pelos telhados. As telhas quebraram sob o peso do estranho. Ele era muito rápido e muito determinado.

Mas Kaito também estava determinado.

Olhando para uma telha solta, Kaito jogou a mão para frente e lançou o objeto pelos ares. Ele se estilhaçou contra a lateral da cabeça do estranho.

Mas mal pareceu machucá-lo. O homem com o braço de metal se virou, os dentes à mostra, e então baixou o olhar para o pulso de Kaito. Um sorriso de sarcasmo se formou em sua boca, e ele sacudiu os dedos no ar.

Kaito sentiu um puxão no pulso, e então ele foi arrancado do telhado, debatendo-se enquanto tentava agarrar as beiradas – de qualquer coisa – antes que seu corpo caísse no ar.

Suas costas acertaram o jardim de areia com um baque. Kaito estremeceu, arrancando o drone de metal de seu pulso como se não tivesse certeza se estava comprometido, e mancou de volta para o muro, subindo o mais rápido que seu corpo ferido permitia.

Quando ele alcançou a inclinação do telhado, o homem já tinha ido embora.

Quando voltou aos aposentos de Kyodai, onde todos os guardas e conselheiros de alto escalão estavam esperando, ele percebeu que a imperatriz também havia partido.

Os imperiais conversavam uns com os outros, tentando descobrir o que fazer — o que havia acontecido. Eles mal prestaram atenção a Kaito, muito ocupados tentando culpar os Insurgentes pelo ataque.

“Eu o vi,” Kaito argumentou. “A pessoa que fez algo com a imperatriz. Ele tinha um braço de metal e olhos brilhantes – ele não era um insurgente.” Ele não poderia ser. Não com aquelas roupas estranhas e um poder sobre a tecnologia que Kaito nunca havia testemunhado antes.

Patas-Leves apareceu com todas as sete caudas atiçadas. “Um braço de metal?”

Kaito assentiu, aliviado. Patas-Leves acreditaria nele. Ela iria ouvi-lo. Ela entenderia que—

Ela se virou para os outros conselheiros. “Talvez os Futuristas sejam responsáveis por isso. Eles podem ter usado um dispositivo protético não regulamentado para sequestrar a imperatriz, para tentar forçá-la a mudar as leis.”

“O quê? Não! Não foi isso que aconteceu,” Kaito suplicantemente. “Não foram os Futuristas. Eu sei o que vi!”

Mas Patas-Leves não estava ouvindo. Ela estava ocupada se reunindo com os imperiais, descobrindo quem culpar e como retaliar.

Kyodai estremeceu ao longe, tremendo como se não entendesse o que estava acontecendo ou onde estava.

Talvez até quem ela era.

Será que em algum lugar lá fora, a imperatriz estaria assustada e confusa do mesmo jeito?

O rosto de Kaito queimou. Havia fúria bruta em sua voz. “Vocês estão olhando na direção errada. Vocês estão tentando culpar os Futuristas em vez de perseguir o homem que eu vi – o homem que eu identifiquei é o responsável por isso.”

Ninguém parou para ouvir. Não para ouvir Kaito.

Ele gritou por cima do barulho e da neblina. “Ele está fugindo. Se alguém não fizer algo, talvez nunca mais vejamos a imperatriz!”

Patas-Leves se virou, olhos de repreensão. “Vá para o seu quarto, Kaito. Este é um assunto imperial.”

Então Kaito sentiu — o que ele sempre soube.

Ele não pertencia a esse lugar.

Nunca pertenceu.

Afastando-se do templo, ele não impediu que as lágrimas de raiva caíssem por suas bochechas. E quando chegou ao seu quarto, ele sabia o que tinha que fazer.

Partia seu coração deixar Eiko, mas ela tinha um lugar em Eiganjo. Ela tinha um propósito.

E mesmo que não fosse o que ele queria, agora Kaito também tinha um propósito.

Ele procuraria em Kamigawa pelo homem com o braço de metal. Ele encontraria sua amiga e a traria para casa. E enquanto pudesse evitar, nunca mais pisaria no palácio.

Naquela noite, Kaito escalou sua última muralha em Eiganjo e não olhou para trás.

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