Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

SONHOS DA CIDADE

Texto original
por Ken Troop

Em algum lugar em Meletis

Euneas sonha.

Euneas caminhava entre as colunas índigas da praça de mármore branco no coração da cidade. Leões dourados patrulhavam as bordas exteriores da praça, suas patas metálicas tilintando uma melodia no imaculado chão de mármore. Águas espumantes jorravam de fontes cristalinas, a correnteza era um murmúrio constante sob conversas importantes. Grupos de eruditos e filósofos debatiam na praça ao céu aberto, suas mãos desenhando símbolos arcanos de energia azul em pleno ar. As equações eram lindas, cada uma descrevendo respostas a perguntas que Euneas já não lembrava bem, mas que eram de importância monumental. As mentes mais brilhantes de Meletis reunidas, uma convocação de intelecto e poder sem rivais.

 

Rogo Por Orientação | Arte de Terese Nielsen

Trabalhadores chegaram em uniformes brancos imaculados, erigindo andaimes e arreios em silêncio. Escalaram ao topo das colunas e Euneas viu colunas índigas maiores e novas sendo abaixadas do distante céu azul lentamente, cuidadosamente, pelos trabalhadores acima. Houve uma pequena pausa e as colunas do céu colidiram com um estrondo nas colunas da praça. Os leões pararam sua patrulha, seus pés dourados imóveis; as fontes pararam seu fluxo de água e os eruditos cessaram suas conversas. Cada coluna original afundou cerca de 30 centímetros no chão e um emaranhado de rachaduras apareceu no chão de mármore. Houve outro estrondo e as colunas afundaram outros 30 centímetros, e os leões continuaram sua patrulha, a água seu fluir, os eruditos seus debates.

Houve mais estrondos enquanto as primeiras colunas índigas eram substituídas pela chegada de suas idênticas substitutas. O único vestígio das originais eram tocos comprimidos e enegrecidos, cercados por fissuras negras no mármore. Novas colunas foram abaixadas do céu em cima das substitutas, colidindo na segunda leva de colunas com frequência crescente até que elas fossem toco sobre toco e Euneas podia ver uma quarta leva de colunas sendo direcionada com urgência pelos trabalhadores acima.

As fendas e rachaduras estavam se espalhando, tentáculos negros de sujeira e terra se conectando no pristino mármore branco. Os eruditos e filósofos gesticulavam no ar, gritando entre si, mas agora suas equações eram feitas de pó sujo descrevendo banalidades triviais e assim que apareciam no ar caíam inertes no chão, aumentando a imundície. A água espumante que jorrava das fontes oscilou e cessou, substituída por um lodo oleoso jorrado no ritmo dos batimentos de um coração doente. Um leão dourado pisou com sua pata brilhante no lodo e o leão escorregou e caiu no chão, sua pata sendo arrancada no impacto. O leão metálico levantou-se cambaleando, mancando com suas três patas, uma infindável torrente de sangue saindo de seu membro quebrado.

O sangue misturou-se com a sujeira, a terra e o óleo enquanto mais colunas ainda eram abaixadas de cima e cada coluna colocada até o momento fora esmagada ao tamanho de uma pequena lápide sem inscrições. Centenas de anos, milhares, eram comprimidos nessas colunas batidas, junto com as vidas e sangue e sujeira que esses anos criaram. Em nenhum lugar havia restado o branco puro original, tudo estava maculado pelo avanço da cidade, a contínua necessidade de se reconstruir em cima de corrupção e morte.

 

Pensamentos Atormentados | Arte de Allen Williams

 

Euneas olhou para cima para ver os trabalhadores descendo como um rabisco, seus uniformes antes brancos agora eram uma confusão de farrapos negros e oleosos, seus rostos secos e sem pele, suas bocas escancaradas em um eterno grito mudo. Quando Euneas olhou para baixo ele viu as trevas oleosas o cercando, ameaçando puxá-lo e cobri-lo. Ele tentou fugir e uma língua da mancha negra acariciou seu tornozelo. Os tentáculos de escuridão subiram por suas pernas, sua pele estava rachando e borbulhando ao seu toque. Euneas gritou uma música sem palavras e coçou e se dilacerou para se manter limpo. Pele caía enquanto ele coçava e coçava para remover a mancha oleosa, mas mesmo ao arrancar toda a pele de seu corpo, a mácula permanecia, calcificando-se, prendendo-o ali. Seus olhos foram a última coisa a permanecer livre, procurando por uma escapatória e, quando olharam para cima, viram novas colunas descendo.

A cidade o havia reclamado por inteiro, outra pilha de sedimentos para as ruas que os futuros habitantes pisariam em suas breves e condenadas horas.

Euneas acordou gritando.

 

Em algum lugar em Ácros

Pollio sonha.

Pessoas se aglomeravam nas ruas. Pollio nunca tinha visto as empoeiradas ruas de Akros tão cheias. Soldados, padeiros, velhas, gladiadores, fazendeiros, meninos, escravos, os filhos de Pollio, sacerdotes, seus filhos, seus filhos, onde estavam seus filhos? Ali, bem na frente dele, a pressão da multidão os mantinha junto dele.

Pollio pegou dois longos fios de barbante, barbante azul, e amarrou uma ponta em seu pulso e a outra ponta de cada barbante no pulso de seus filhos. Pollio respirou profundamente, contente. Seus filhos estariam a salvo, os barbantes os manteriam perto e protegidos. Ele pegou mais alguns barbantes, verdes desta vez, e amarrou da mesma maneira que fizera com os azuis. Agora seus filhos estariam alimentados. Barbante vermelho foi entrelaçado entre seu pulso e o de sua esposa, sinal de seu matrimônio.

 

Festival do Mercado | Arte de Ryan Barger

 

Ao encontrar seus clientes na rua, e havia muitos que valorizavam o trabalho de Pollio como ferreiro, eles eram conectados com barbantes amarelos. O pulso esquerdo de Pollio estava adornado com muitas dezenas de braceletes de tonalidades diferentes, cada linha um relacionamento, uma conexão com as muitas faces da cidade. E no seu pulso direito havia mais braceletes o conectando a vários soldados que protegiam Akros; a Tomakri o padeiro, que fazia os pães de canela que sua esposa amava; a Kopaknios o entregador de lingotes, que o supria de preciosos metais que Pollio transformava em espadas e armadura; e outros, tantos outros.

Pollio fora capaz de se mover facilmente com as primeiras conexões, mas agora cada nova conexão era mais difícil. O barbante podia se esticar, esticar bastante, mas não poderia se esticar para sempre. Cada um seguia seu caminho na cidade; as centenas de pessoas com as quais Pollio estava conectado tinham centenas de conexões próprias e quando as pessoas cruzavam caminhos na cidade mais conexões eram feitas o tempo todo. Os movimentos de Pollio tornaram-se lentos e então trabalhosos enquanto ele lutava contra os barbantes de cores vibrantes em todas as direções. Ele tentou romper os barbantes, mas não podia, não importava quanto seus formidáveis músculos forçavam. Quanto mais lutava, maior e mais forte o barbante se tornava até que se tornou em uma corda grossa.

Logo todo o movimento na rua cessou, cada pessoa lutando contra as conexões constritoras. Pollio não podia mais ver seus filhos nem sua esposa, pois a corda friccionava contra sua cabeça e pescoço e ele não conseguia mover-se nem um centímetro. Tudo o que podia fazer era ficar ali parado lutando contra o peso de todas as pessoas ao seu redor. As cordas apertavam cada vez mais e todos ficavam cada vez mais próximos. Carne era prensada contra carne e as cordas continuavam se apertando mais e mais.

A bochecha de alguém foi pressionada contra a de Pollio e o cheiro de desespero humano encheu as narinas de Pollio. Ele não podia se mover, preso como estava por outros corpos. E as cordas, aquelas conexões que a cidade demandava em um mundo sem liberdade e sem espaço. Ele sentiu uma coceira onde a bochecha do homem seguinte encontrava a sua, e percebeu que suas bochechas estavam se unindo, sua carne costurando-se juntas enquanto as cordas os apertavam mais e mais. Pollio tentou gritar, mas sua boca estava coberta com as cordas e a carne de outras pessoas e o único som que emergiu foi a ausência de esperança.

 

Lançar na Escuridão | Arte de Clint Cearley

 

Então, Pollio era parte de uma massa amorfa de carne humana fétida e cordas queimadas, uma massa reconhecida como a latrina decrépita que chamavam de lar. Este era o destino daqueles que viviam na cidade.

Pollio acordou gritando.

 

Em algum lugar em Meletis

Melantha sonha.

Ela sentava à cabeceira da mesa de jantar. Este não é meu lugar. A toalha de mesa era impecavelmente branca e as luzes tremeluzentes das tochas dançavam ao longo das paredes brancas e azuis iluminando dois lugares postos na longa mesa – o dela e um à sua esquerda.

Passos ecoaram ao longe no salão, mas na escuridão adiante ela não conseguiu imediatamente descobrir sua fonte. Os passos se aproximaram e havia um rosto na frente do dela, um rosto que não ela via há vinte anos. “Melantha! Posso me juntar a você?”

Xenócrates fora um de seus primeiros mentores no templo de Efara quando Melantha havia chegado, muitos anos atrás. Para o mundo externo, o sacerdócio de Efara era gentil e hospitaleiro. Por dentro, a verdade revelada era mais sombria. Melantha lutou para encontrar seu lugar, para equilibrar as exigências do serviço de sua deusa com a busca pela aceitação de seus iguais. Xenócrates a protegeu, a defendeu, proveu um ombro amigo onde pudesse chorar. E houve muito choro naqueles primeiros anos. Ela olhou para o redondo e bem barbeado rosto dele, aquele rosto que não via há tanto tempo, e não se surpreendeu por chorar novamente. Se lhe parecia suspeito, se seu coração estava batendo mais rápido, o que tinha de errado? Ela estava com seu amigo novamente.

 

Radiância de Efara | Arte de James Ryman

 

“Melantha, não fique triste. Vamos comer e beber. Eu estou com muita fome.” Comida e bebida apareceram na frente deles e Xenócrates avançou na comida com vigor. Não beba! Melantha não estava com fome, então ela estudou seu amigo em vez de comer. Embora seu rosto fosse redondo, o resto de Xenócrates era magro e longe de ser o homem barrigudo e animado que ela conhecera tantos anos atrás. Xenócrates pegou o cálice que estava à sua frente e Melantha quis gritar, avisá-lo, mas ela ficou quieta enquanto ele levou-o aos seus lábios e bebeu um grande gole.

“Eu te contei, Melantha, minha nova teoria sobre os deuses?” Xenócrates olhou para ela e sorriu, e havia desagradáveis manchas azuladas nos seus lábios e dentes. Do vinho, Melantha pensou. Provavelmente.

“Eu não acho que devemos falar sobre isso Xenócrates. Não é correto. Conte-me sobre você, como está? Como andam as coisas?”

Xenócrates tomou outro gole generoso de seu vinho e Melantha estremeceu. Xenócrates tossiu antes de responder. “É bom comer. Comer verdadeiramente. Sentir a comida na sua boca esmigalhar-se e mudar e decair, segurá-la ali, o sabor e o caos, a morte da vida que lhe dá vida. Sim, é bom comer. Mas eu estava falando sobre os deuses, Melantha. O que eles são, o que eles realmente são.”

“Não temos permissão de discutir isso. É proibido.”

Houve mais tosses, longas e duradouras, antes que Xenócrates falasse novamente. “Proibido? Eu ouvi que você está no alto conselho agora. Estou orgulhoso de você, Melantha, por ver quão longe você chegou. Você pode determinar o que é proibido, não? O que é aceitável? Nós gastamos muitas horas discutindo a natureza dos deuses. O que é mais uma hora entre amigos?” Outra tosse forte e Xenócrates levantou as mãos para limpar sua boca. Havia um borrão de sangue nos seus lábios e bochecha.

“Você está machucado. Deixe-me

“Não, eu estou bem, Melantha. Estou bem. Uma pequena tosse não vai me machucar. Eu não sou eterno. Ambos sabemos a veracidade desse fato. Apenas os deuses são eternos, dizemos. Apenas os deuses são constantes. E ainda assim é estranho, certamente, ler os escritos antigos sobre Heliode e Thassa e os outros, ver quão diferentemente aquelas versões de nossos deuses agiam quando comparados a agora.”

“Koblios, em Meditações, disse ‘Os deuses são simplesmente padrões personificados’ antes de ser apedrejado por heresia. Dito isto, apesar do preço que pagou, ele ainda estava errado. Deuses são padrões que nós reconhecemos personificados. A diferença está no criador. Através do poder de Nyx, nós somos responsáveis por nossos deuses. Talvez sejamos responsáveis até mesmo por Nyx

“Cale-se!” Melantha levantou-se, furiosa. Ela não permitiria tal blasfêmia no seu templo. Mesmo depois de todos esses anos, Xenócrates insistia em acreditar naquelas horríveis mentiras. Xenócrates tossiu, tossiu e um grande coágulo de sangue caiu no pano branco da mesa, manchando-o de vermelho e rosa. Quando Xenócrates olhou para cima, sorriu um sorriso cadavérico, seus dentes manchados de um azul enegrecido, sangue escorrendo de sua boca.

“O que você vai fazer, Melantha? Me matar?”

A raiva deixou Melantha e, com ela, sua habilidade de permanecer de pé. Ela despencou no banco. “Eu não Eu não te matei, Xenócrates.” Eu os vi colocarem no cálice. Eu podia ter-lhe avisado. Eu podia ter-lhe dito.

 

Reivindicação de Érebo | Arte de Zack Stella

 

Sangue começou a escorrer de seus olhos. “Talvez não tenha, Melantha.”

Você disse coisas tão horríveis. Coisas tão falsas. O que mais poderiam fazer? O que mais eu poderia ter feito?

“Você sabia, Melantha, que existem várias formas de apodrecimento antes de morrer? Tantas formas de degenerar e ser degenerado, tantos ferimentos e debilitações a experimentar antes de dissolução final. Eventualmente, você está tão corrompido que não pode mais se lembrar de como era a inocência. Tantas maneiras de apodrecer. E você conheceu apenas algumas. Você tem tanto a experimentar antes de morrer.” Xenócrates escancarou sua boca e sangue fluiu livremente dela, jorrando e jorrando

Melantha acordou gritando.

 

Em algum lugar em Nyx

A cidade sonha.

A cidade aproveitava seu descanso pacífico. Suas longas avenidas brancas estavam limpas e brilhando, feitas de pedras fortes que absorviam a quente luz do sol. Tinha muitas construções maravilhosas cheias de colunas lindas e intrincadas obras de pedra entalhada. Por muito tempo, a cidade não conhecera nada além de descansar ao sol, e era feliz.

Eventualmente, uma pequena e peluda criatura entrou na cidade. Ela caminhava sobre duas pernas, era muito pequena, e a cidade achou o animal intrigante. O animal parecia se divertir brincando na cidade e a cidade estava alegre em ter o animal explorando. Logo, um segundo animal pequeno e peludo juntou-se ao primeiro e, enquanto eles caminhavam lentamente pela cidade, a cidade criou pequenos parques e lagos para os animais brincarem e fez pequenas construções para que dormissem e proveu árvores para que colhessem frutas, e a cidade era feliz.

 

Templo da Iluminação | Arte de Svetlin Velinov

 

No dia seguinte, a cidade acordou e encontrou muitas das criaturas pequenas e peludas nas suas ruas e construções. Havia centenas deles e a cidade queria ter certeza que todos estariam alimentados e protegidos e providos, e nunca a cidade sentiu-se tão necessária, quista e ocupada. As ruas da cidade não eram mais brilhantes e limpas, mas ao dormir naquela noite a cidade pensou em todas as criaturas para as quais proveu tudo que necessitavam e estava feliz.

No próximo dia, a cidade acordou com uma coceira desconfortável. As criaturas estavam em todo lugar. Havia milhares delas, muitos milhares, e caminhavam e rastejavam e escalavam por toda a cidade. Em todo lugar, as criaturas deixavam pelos e manchas e as ruas da cidade que já foram lindas estavam entulhadas de sujeira, imundície e lama.

Os vermes continuavam a se espalhar e suas pequenas bocas primatas mordiam as árvores da cidade e lambiam a água da cidade e sua fome voraz os levava a morder até mesmo as construções de pedra e ruas. Cada avenida e estrutura da cidade estava coberta com as pragas peludas, mordendo o corpo da cidade, e a cidade começou a se balançar e chacoalhar para se livrar da horda pestilenta.

VOCÊ DEVE SE LEVANTAR.

A cidade não reconheceu a voz, nem podia ver de onde vinha.

VOCÊ DEVE ACORDAR.

A cidade percebeu que nunca ouvira outra voz antes, mas a verdade das palavras era evidente. A cidade precisava se levantar. A cidade precisava acordar. Havia outro mundo a alcançar.

Cacofonia, o deus das cidades, levantou-se. Olhou ao redor para os pequenos macacos agarrando-se ao seu corpo. Viu sua fome e seu medo e ficou feliz. Cacofonia esticou suas recém-formadas mãos e agarrou milhares das criaturas primatas peludas, esmagando-as e atirando seus corpos no chão abaixo. Não destruiria todos os macacos, apenas alguns, apenas o suficiente para os sobreviventes viverem suas curtas vidas de macaco em agonia e medo, e então

Que monstruosidade é essa?” Era a segunda voz que o recém-acordado deus ouvia naquele dia apesar de que, diferentemente da primeira, esta voz Cacofonia já havia ouvido antes – apesar de não se lembrar onde. Uma alta mulher de pele escura caminhou para dentro do campo de visão do deus das cidades, sua pele coberta das estrelas de Nyx e, abaixo dessa pele, para aqueles com os sentidos para ver, pulsos de energia azul e branca resplandeciam como o sol.

Os olhos da mulher, orbes repletos de estrelas, escureceram-se e tornaram-se vermelhos enquanto olhava para Cacofonia. “Tu ousas existir? E quem ousou criar-te? Onde estás, mortal? Eu te encontrarei. Tu não podes esperar esconder-te de alguém como eu.”

Enquanto falava, a mulher estendeu suas mãos, mergulhando-as em Cacofonia. “Eu sou Efara e você não deveria existir, não mais que um dedo separado de sua mão. Adeus, pequenino.” Sua voz soou quase gentil, no final.

 

Iluminação de Efara | Arte de Wesley Burt

 

Cacofonia não sabia o que estava acontecendo, não podia entender porque sua vida estava sendo drenada, sua consciência adormecida. Ao cair de volta na não-existência, a cidade-sonho uma vez conhecida como Cacofonia nunca teve um momento com coerência o suficiente para conhecer o arrependimento.

Cacofonia, o deus das cidades, nunca acordou novamente.

 

Em algum lugar em Theros

Os roncos da terra desapareceram enquanto os últimos resquícios do dom de Fenax se dissolviam ao redor de Ashiok. Ashiok levitava no ar, silente e imóvel, antes de expandir seus sentidos para as áreas vizinhas para ter certeza que estava só e nenhum deus vingativo estava em seu alcanço.

Ashiok escolhera especificamente o templo abandonado de Efara numa cidade deserta nos arredores das civilizações de Theros. Muitas pequenas cidades desertas podiam ser encontradas como esta, um testemunho da futilidade da permanência em um mundo controlado pelos caprichos dos deuses.

Um desses caprichos permitiu a Ashiok ser invisível e indetectável por qualquer força em Theros, exceto uma.

“Então qual a dádiva que desejas de mim?” o deus Fenax perguntara a Ashiok, não havia muito tempo, para retribuir um favor que o Planinauta fizera pelo deus. O fato de que Ashiok deleitou-se imensamente em fazer tal favor não influenciava em nada a necessidade de pagamento. Deuses não suportam ficar em débito com mortais por muito tempo.

Eu desejo esconder-me dos deuses.

Ashiok contava com o fascínio de Fenax pela ideia de enganar todos os outros deuses, e Fenax provara que Ashiok estava correto. A benção era temporária e Fenax foi muito específico quanto ao destino de Ashiok se ele usasse sua benção na tentativa de ferir ou assassinar um deus.

Mas Fenax nunca dissera nada sobre tentar criar um deus.

A tentativa nunca fora bem sucedida. Mas era linda. Beleza importava muito – não era o valor mais importante para Ashiok, mas, ainda assim, algo para se estimar. Além disso, sucesso nessa área parecia problemático de qualquer jeito. A aparente fascinação de Xenagos em ser um deus confundia Ashiok – uma das poucas coisas que não faziam sentido para Ashiok. Xenagos era um Planinauta. Que melhor oportunidade para beleza e criação poderia existir?

 

Ashiok, Tecedor de Pesadelos | Arte de Karla Ortiz

 

Xenagos provou que tornar um mortal em um deus era difícil, mas possível. Mas tornar uma ideia em um deus era muito mais fácil. E para aqueles com a habilidade de controlar sonhos, era ainda mais simples. Ashiok suspeitava que ideias tomavam forma e tornavam-se protodivindades em Nyx o tempo todo, mas eram provavelmente assimiladas pelas divindades existentes sem ninguém, incluindo os deuses, estarem cientes do que estava acontecendo. Mas se esse processo fosse guiado, esculpido, se a conexão dos humanos aos seus deuses fosse atacada, se sua conexão com seus padrões fosse atacada, enquanto um novo caminho para esse padrão fosse criado bem, Cacofonia poderia levantar-se novamente.

Como o artista escaparia da detecção dos deuses enquanto permitisse que o deus criado tivesse tempo o suficiente para sobreviver e fortalecer-se seria difícil. Mas esses eram detalhes para algum técnico no futuro executar. Quanto às consequências deste dia deixe Efara se perguntar sobre as maquinações que levaram àquela demonstração. Deixe os outros deuses investigarem e preocuparem-se com o que aquilo predizia.

Mortais não eram as únicas criaturas inclinadas a procurar padrões onde nenhum existia.

Ashiok já estava contemplando a próxima sinfonia. Havia sempre demonstrações mais maravilhosas para criar, aqui no fértil mundo de Theros.

Pequenos pedaços da bochecha de Ashiok dissolveram-se em fumaça. Novos sonhos nasceram.

 

 

 

 

Traduzido por: Magic the Gathering History

Revisado por: Blackanof

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