Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

EPISÓDIO 05: PROVAS FINAIS

O grito da coisa no Liame era diferente de tudo o que Will já ouvira. O rugido atingiu seu coração, prometendo todo o tipo de violência e morte. A cada momento que passava, a criatura se arrastava um pouco mais para fora do vórtice de poder. Acima de Will e Rowan, uma viga caiu no chão, quebrando com um som fenomenal a centímetros de seus pés.

Despertar o Avatar do Sangue | Arte de Kekai Kotaki

“Eles pensaram que eu não seria nada – que eu não fazia parte daqui, com todos os seus oráculos elevados e poderosos.” Extus gargalhou. Ele girou, gesticulando descontroladamente para as estátuas que o rodeavam. “Mas onde eles estão agora? Quem os ajudará em sua hora de necessidade?”

A risada de Extus ficou mais enlouquecida quando o machado do Avatar de Sangue atingiu uma das estátuas, dividindo um antigo oráculo pela metade. A cabeça e os braços erguidos tombaram, espatifando-se no chão.

Will ajudou Rowan a se levantar, suas vestes encharcadas com o sangue que enchia a sala – mais sangue do que poderia ter sido derramado em uma centena de batalhas. “Isso vai destruir a escola,” disse Will, tentando evitar que sua voz tremesse.

De alguma forma, porém, Rowan não parecia assustada. Havia um foco em seus olhos que ele nunca tinha visto na sala de aula, na sala de estudos, nem em seu dormitório. Então ele entendeu algo sobre sua irmã pela primeira vez – era ali que residiam os talentos dela. No olho da tempestade.

“Não se pudermos evitar,” ela disse, e ele acenou com a cabeça.

Lá fora, por todo o campus Strixhaven, aquele rugido terrível ecoou. Ele encontrou a Decana Uvilda selando um grupo de alunos fugitivos Prismari em uma dimensão que deveria ser usada apenas para emergências; ela virou a cabeça com o som, estremeceu e acelerou o ritmo de seu feitiço. Ele encontrou Plink e Auvernine, rastejando por um túnel escuro de raízes e lama enquanto o fogo do dragão reduzia tudo na superfície a cinzas. Ele encontrou Lukka, mesmo com toda a concentração necessária para manter os caçadores de magos lutando em várias frentes. Então, está feito, ele pensou.

Lukka sorriu para Mila. “Parece que Extus conseguiu o que queria.”

Ela não olhou para ele, apenas olhou para o céu, os olhos arregalados, os pelos em pé. Um momento depois, ela pulou sob uma marquise desabada. Lukka não viu o que ela viu – não até que fosse tarde demais – mas ele confiou nela o suficiente para mergulhar logo em seguida.

O fogo do dragão varreu os paralelepípedos onde ele estivera um momento antes, carbonizando o lugar. A fileira de caçadores de magos ao lado inflamou-se quase que instantaneamente, guinchando e sibilando enquanto morriam. Flashes de dor lancinante inundaram sua mente de uma vez, e ele cortou o vínculo antes que pudesse ser subjugado.

Intervenção Dracônica | Arte de Johan Grenier

Os caçadores de magos que conseguiram escapar do ataque dos dragões estremeceram e se contorceram quando suas mentes mais uma vez se tornaram suas. Eles bateram seus muitos dentes, abriram aquelas antenas brilhantes e se viraram para a fonte mais próxima de sustento mágico: os agentes Oriq. Novos gritos encheram o ar quando as criaturas atacaram.

Os olhos de Lukka se arregalaram quando ele viu a carnificina. Mila deu um passo à frente, mas Lukka a deteve com um rápido comando mental.

Esta não era mais sua luta.

Chamando Mila para o seu lado, Lukka se virou e correu para a escuridão.

Will se esquivou quando mais destroços choveram ao redor deles. Assim que outra estátua caiu no chão, ele viu: uma abertura no caos. Ele respirou fundo e tentou se lembrar dos detalhes do feitiço de condensação iterada. Com um esforço para se concentrar, ele criou um vórtice giratório de fragmentos de gelo afiados como navalhas e o enviou na direção de Extus, que ainda estava de pé diante do Avatar de Sangue. Os braços do Oriq estavam abertos; ele parecia não estar ciente de nada além de sua própria vitória.

Antes que o gelo pudesse alcançá-lo, um relâmpago rachou os fragmentos, detonando-os e lançando os raios em direções aleatórias. Rowan também tinha visto a abertura. “Fique fora disso!” ela gritou.

“Precisamos trabalhar juntos!” ele gritou de volta. “Tudo o que precisamos fazer é-”

Ele foi interrompido por um pedaço de entulho que caiu, que o atingiu no ombro e o jogou no chão.

“Will!” gritou Rowan, correndo em sua direção.

Era impossível ver se seu irmão estava ferido – havia sangue por toda parte, cobrindo o chão, suas vestes, respingando nas paredes e sobre as estátuas.

Ela quase o alcançou quando a enorme espada da criatura se fincou na pedra à sua frente. Estava perto o suficiente para que ela pudesse ver a ferrugem nela, o ferro furado de batalhas travadas eras atrás. Com seu próprio grito furioso, ela pressionou as mãos contra ela, lançando uma grande carga pela espada, como se ela fosse um pára-raios, para a mão da coisa. O monstro apenas puxou sua espada, jogando Rowan para trás.

Arrastando-se contra a parede, o olhar de Rowan oscilou entre Extus, a criatura que ele invocou, e Will, que agora estava muito quieto no chão. Era demais. Piscando contra as lágrimas que brotavam de seus olhos, Rowan sentiu uma raiva intensa crescendo de algum lugar dentro dela – raiva, sobrepondo o medo e a dor. Ela não conseguiria vencer, porém ela conseguiria ferir quem fez aquilo.

Mas antes que ela pudesse enviar um raio nas costas do líder dos Oriq, seu olhar mudou. O Liame pairou no ar, ainda brilhante, mesmo em vermelho. Ainda ondulando com poder.

Rowan respirou fundo, fechou os olhos e estendeu a mão.

O prédio tremeu ao seu redor, o Avatar de Sangue do velho mundo rugiu com uma fúria incomparável, e para Extus, tudo estava finalmente correto com o mundo. Ele se virou lentamente, assistindo o Salão das Oráculos desmoronar. Eles foram tolos em ignorá-lo. Pode ter demorado anos para provar isso, mas quando outra estátua caiu no chão e se espatifou em mil pedaços, ele disse a si mesmo que a espera tinha valido a pena.

Seu sorriso vacilou quando a voz do Avatar de Sangue quebrou, o rugido furioso de repente foi interrompido. Extus virou-se e congelou. A criatura estava se movendo em espasmos, a luz vermelha do Liame piscando freneticamente atrás dela. Ele tinha visto esse efeito antes, em seus muitos fracassos. Não pode ser.

Ele tinha verificado os cálculos. Isso tinha que funcionar – havia energia mágica suficiente em um dos Liames de Arcávios para alimentar qualquer feitiço conhecido pela criação. Como não era suficiente? Então ele avistou: uma espiral de vermelhão fantasmagórico saindo do nexo, como se estivesse sendo puxada para fora. Uma gavinha errante de poder.

Ele a acompanhou, até a jovem loira no canto da sala, olhando para ele agora com olhos arregalados e odiosos. Relâmpagos começaram a brilhar e crepitar sobre o cabelo e a pele da garota enquanto a energia do Liame a invadia.

Extus encontrou o olhar dela, perplexo demais para se mover.

Não era possível que alguma caloura desprezível seria a única a arruinar todos os seus planos.

Ou era?

Estalar de Poder | Arte de Micah Epstein

Rowan lutou para respirar enquanto o ar ao redor dela faiscava e assobiava com energia. Ela sentiu o poder correndo por ela, um poder como ela nunca tinha sonhado. Sentia, naquele momento, que poderia fazer qualquer coisa; montanhas desmoronariam diante dela, cidades arderiam, oceanos ferveriam. Ela abriu os olhos e ofegou ao ver a sala através de uma névoa vermelha. Seu olhar caiu sobre Will, que ainda estava deitado no chão, imóvel. Uma nova onda de raiva e tristeza a inundou quando ela se virou para Extus.

O líder dos Oriq estava diante do estremecido Avatar de Sangue, observando-a. Esperando.

Rowan deixou a energia do Liame correr por ela, preenchendo cada veia vívida com poder. Ela mal percebeu quando seus pés deixaram o chão, o vento girando como se o próprio ar a temesse. E deveria, pensou Rowan. Tudo deveria temê-la. Ela respirou fundo, transformando o ar em seus pulmões em fogo incandescente, então abriu a boca e gritou. O fogo avançou em direção a Extus como uma estrela, como um raio do céu. Ele estendeu a mão, murmurou algumas palavras, mas o que quer que ele fizesse não era suficiente; o feitiço se chocou contra ele, fazendo-o voar pelo ar, as vestes se enrolando em fumaça. Ele bateu contra a parede oposta e escorregou, parado e quieto.

Rowan voltou sua atenção para o Avatar de Sangue em seguida. A criatura ainda se sacudia no lugar em que estava, furiosa por seu massacre ter sido interrompido. Centímetro por centímetro, uma de suas espadas ergueu-se em sua direção, mas não importava. Com o poder da ponta dos dedos, ela poderia destruí-lo, e Extus junto com ele, e quem mais viesse depois. Qualquer um que tentasse machucá-la, todos que feriram Will – todos queimariam.

Ela recorreu ao poder do Liame novamente, e foi como beber água limpa e fresca. Arcos de eletricidade chamuscaram seus braços e rosto, enviando choques de dor por seu corpo, mas ela não se importou. Por que ela deveria se importar? Ela era a coisa mais poderosa na sala, na escola, talvez em todo o plano. Ela estendeu a mão em direção ao Avatar de Sangue, lançando o conhecido relâmpago, e uma onda de agonia de repente a atravessou.

Seus suspiros foram recebidos com risos. Com os olhos semicerrados por causa da dor, ela observou Extus de alguma forma se levantar.

“Você realmente achou que era forte o suficiente para segurar todo esse poder?” Extus zombou. “Você achou que era digna?”

Rowan ignorou o Oriq. Na verdade, ela mal podia ouvi-lo – toda ela estava focada em controlar o poder que se enfurecia dentro dela agora. O ar ao redor dela sibilou e se retorceu como um ninho de víboras.

“Eu treinei minha vida inteira nas artes arcanas,” murmurou Extus. “Você não passa de uma criança. Uma tola arrogante. E agora, uma mariposa para a chama.”

A gavinha de poder que ela tirou do Liame ondulou novamente, e a visão de Rowan brilhou branca com agonia. Toda a força deixou abruptamente seus membros e ela caiu fracamente no ar, aterrissando com uma pancada no chão de pedra ensanguentada.

Extus riu. “Sua ambição é admirável. Mas eu cheguei muito longe para ser impedido por gente como você.” Ele se virou, nem mesmo se preocupando em terminar o trabalho, e pegou o pesado livro que carregava antes.

O tempo se estendeu em torno de Rowan; ela se sentiu aberta, oca, esvaziada. O poder do Liame ainda ondulava por ela, fazendo seus membros dançarem e sacudirem enquanto ela estava deitada lá. Sua consciência parecia pairar fora de seu corpo – perto de seu irmão, que estava rastejando em sua direção, arrastando-se pelo chão ensanguentado. Will estava vivo.

“Rowan,” ele sussurrou com os dentes cerrados. “Levante-se.”

Ela tentou se lembrar de como falar, mas só conseguiu deixar escapar um pouco de ar.

“Por favor,” ele disse, estendendo a mão para tocá-la. Ele puxou a mão quando uma faísca errante subiu de sua pele. “Você tem que se levantar.”

Rowan tossiu e abriu os olhos. “Sinto muito.”

“Está tudo bem, Rowan. Apenas levante-se.” Will se aproximou, colocando um dos braços dela ao redor do seu pescoço. Ele estremeceu quando as faíscas saltaram e o atingiram, mas não a soltou. “Nós vamos ficar bem.”

“Sinto muito pela briga. No jogo da Torre dos Magos. E no Ponta de Arco. Realmente sinto muito.”

“Eu também sinto muito,” Will disse. Com um grunhido, ele a pôs de pé e se encaminhou para a porta. Atrás de seu irmão, Rowan viu o líder Oriq segurar um pesado livro manchado de sangue e começar a entoar.

Juntos, eles mancaram em direção às portas, apenas para Will desacelerar e parar. Ele se voltou bruscamente para ela. “É como um mascote.”

“O que você está falando?” A careta de Rowan se aprofundou.

Mas Will balançou a cabeça enquanto olhava para Rowan. “É como um mascote! Só temos que – interceptá-lo.”

“Como na Torre dos Magos?” Talvez o Liame ainda estivesse mexendo em seu cérebro, mas ela não tinha ideia do que ele estava falando.

“Como na Torre dos Magos,” Will disse. “Apenas confie em mim.”

Rowan começou a responder, mas as palavras sumiram quando o rosto de Garruk surgiu em sua mente. Ela não fora capaz de ver o que Will podia, naquela época. E foi Will quem finalmente encontrou uma maneira de libertar Garruk e conquistá-lo como um aliado. Will, seu Will – seu irmão quieto, inteligente e rabugento. Ele estava certo tantas vezes. Talvez ele também estivesse certo desta vez.

“Rowan?”

Fazendo uma careta com as novas punhaladas de dor, Rowan puxou as últimas faíscas de magia dentro dela. “Sim. Ok. Mostre-me o que todo esse estudo pode fazer.”

Will sorriu e se virou para Extus e o Avatar de Sangue, a luz vermelha girando em torno de suas mãos. Não era magia de gelo que ele estava manipulando – ela sabia disso, pelo menos – mas o ar ao redor dele caiu alguns graus de qualquer maneira. A luz vermelha se formou entre suas mãos em um círculo vibrante de poder, e com um último esforço, ele lançou o feitiço.

De repente, um halo de luz vermelha estalou ao redor da cabeça do Avatar de sangue.

Culminância dos Estudos | Arte de Bryan Sola

“Pode ser grande,” disse Will com os dentes cerrados, as mãos tremendo com o esforço. “Mas é uma criatura convocada. O que significa que com esse feitiço, podemos controlá-la!”

Mas a criatura não parecia muito controlada. Ela berrou novamente, forçando as mãos de Rowan aos ouvidos. Abaixo do Avatar de Sangue, Extus contorcia suas mãos em garras, sua própria magia saindo dele em fiapos como névoa negra. O halo vermelho ao redor da cabeça do Avatar de Sangue parecia piscar. Era Will contra Extus, Rowan percebeu. Cada um deles despejava seu poder no feitiço, e Will estava perdendo. Mas seu irmão não estava sozinho.

Ela colocou a mão em seu ombro e ele olhou para cima, surpreso. “Rowan, o que você…?”

“Você se concentra no feitiço. Acerte todos os detalhes. Eu farei o resto.”

Talvez a magia deles fosse muito diferente para se fundir perfeitamente agora, como costumavam fazer. Mas se Will tinha ficado mais preciso, mais controlado – bem, ela tinha ficado muito mais forte. Rowan derramou o resto de sua energia mágica em seu irmão, faíscas tremeluzindo e saltando em sua mão enquanto seu poder fluía para ele. Ele ofegou, mas apenas por um segundo. Então, Extus soltou um grito estrangulado, e o halo vermelho estalou ao redor da criatura, totalmente solidificado.

“Seus moleques!” gritou Extus. “Como ousam-”

Ele foi interrompido quando uma das enormes mãos do Avatar de Sangue se fechou em torno dele com um som terrível de trituração. Depois disso, Extus ficou em silêncio.

“Funcionou!” gritou Will. “Rowan, funcionou!”

Rowan estava balançando no lugar, no entanto. Ela estava com dificuldade de ficar de pé; toda a sala parecia girar. Ela estava esgotada, totalmente esvaziada de poder. Tudo parecia acontecer em câmera lenta – o halo vermelho desapareceu. O Avatar de Sangue rugiu furiosamente quando uma mão foi puxada de volta para o Liame, seu corpo encharcado de sangue se esticando e se projetando de forma sobrenatural, a convocação chegando a um fim violento. Com mais um berro aterrorizante, ele balançou aquela enorme espada de ferro. Os olhos de Will se arregalaram e Rowan estava fraca demais para impedi-lo de empurrá-la para fora do caminho.

A espada caiu no chão com uma força terrível, provocando um estremecimento na câmara. Com um som como um trovão, o Avatar de Sangue foi puxado de volta para o Liame, a espada arrastando de volta através da pedra – e do outro lado estava seu irmão, caído mole e atordoado. A alegria de Rowan por ver seu irmão vivo, e não esmagado ou dividido em dois, de repente balançou e se esvaiu em choque: abaixo do joelho, sua perna direita tinha se perdido.

Como se a presença daquela monstruosidade fosse a última coisa que mantinha a câmara unida, tudo começou a desmoronar. As vigas balançaram para o chão como tacos, o teto de pedra que elas sustentavam quebrando no chão em blocos irregulares. O chão abaixo deles tremeu e balançou descontroladamente enquanto Rowan tentava alcançar seu irmão. Ela estava tão perto – podia ver seus olhos vítreos e distantes – quando o chão desabou completamente. Rowan e Will tombaram e caíram para frente, caindo através do espaço, até que de repente um toque leve e gentil os pegou. Rowan girou descontroladamente; de alguma forma, uma nuvem de névoa parecia segurar os dois no alto.

“Dali,” disse Will fracamente, apontando para a porta da sala. Rowan olhou em direção à fonte da magia, onde as Decanas Nassari e Lisette estavam na entrada destruída. Sobrancelhas franzidas em concentração, elas enviavam jatos de magia pelo ar, explodindo pedras rolantes e destroços. A névoa os carregou para cima, em direção à mão estendida da Decana Lisette. Rowan estendeu a mão para pegá-la, segurando Will envolto em seu outro braço, mas não conseguiu alcançá-la – até que uma videira serpenteou para fora da manga de Lisette, apertando firmemente em torno do pulso de Rowan.

Grunhindo, ela puxou os dois para a porta. Todos os quatro conseguiram passar pela porta no momento em que a sala desabou completamente, enchendo-se com uma nuvem de pedra, poeira e entulho.

“Conseguimos,” murmurou Will. “Conseguimos, Ro.” Seus olhos se fecharam. Ele parecia terrivelmente pálido.

“Fique quieto,” disse Lisette, agachando-se sobre ele. “Você está em choque.”

“Ele vai ficar bem?” perguntou Rowan.

A decana não parecia ouvir. Ela mordeu um pedaço de algum tipo de raiz, cuspindo em uma pequena casca e pressionando com o polegar. Quase imediatamente, ele começou a brilhar em uma estranha cor verde.

“Ele vai viver,” disse Nassari, colocando a mão no ombro de Rowan. “Depois do que vocês dois passaram, você deveria estar grata.”

O que eles passaram. Rowan olhou para trás, através da parede de destroços agora enchendo as portas do Salão dos Oráculos. Não havia nenhum sinal do brilho do Liame, mas ela podia jurar que ainda o sentia chamando por ela.

Cinco semanas depois, quando o sino tocou no campus para sinalizar o fim do primeiro período, Will quase sentiu como se as coisas estivessem voltando ao normal. Ele estava se acostumando a navegar pelos corredores da escola um pouco mais devagar entre sua bengala e a treliça de gelo e aço que agora se estendia logo abaixo de sua rótula envolta em tecido. Ele recusou as ofertas da Decana Lisette de uma prótese de madeira viva. Sua perna nunca mais voltaria, e isso parecia mais uma parte dele. Era uma boa prática; durante todo o dia, uma parte de sua mente tinha que se concentrar em moldá-la e recongelá-la em torno da estrutura de metal. Uma boa distração também dos alfinetes e agulhas que ainda pareciam rastejar sobre seu coto.

A história da luta dele e de Rowan contra Extus e o Avatar de Sangue se espalhou pelo campus, e de repente, Will estava recebendo muito mais atenção. Os outros alunos se pressionaram contra a parede quando ele passava, seus sussurros e olhares o seguindo. Quase o lembrava de casa – ele muitas vezes sentia falta do anonimato de seus primeiros dias na escola.

Por fim, ele alcançou seu dormitório. A porta se abriu quando ele alcançou a maçaneta, e Rowan parou bruscamente, quase batendo nele. Ela deu um passo para trás para deixar Will entrar.

Will pigarreou. “Como você está se sentindo?”

Rowan encolheu os ombros. “Ainda não totalmente recuperado, mas melhor. E você?”

Will bateu com o dedo no cabo da bengala. Resumidamente, as runas que Quint o ajudara a colocar no lugar – as básicas, para estabilidade e força, ao contrário da variedade mais elaborada que seu amigo havia proposto – ganharam vida brevemente, percorrendo todo o caminho até o pé aberto no base. “Estou me ajustando,” ele disse, sorrindo.

“Como está a dor?”

“Um pouco melhor a cada dia.” Embora o membro fantasma doesse, aparentemente vindo de músculos que não existiam mais, ainda parecesse assustador.

“Eu fico pensando no que eles vão dizer sobre isso em casa. Você consegue imaginar?”

“Na verdade não. Mas talvez devêssemos fazer uma visita quando o semestre acabar.”

“Por que esperar? Podemos ir agora.”

“Ainda temos aulas.”

“Derrubamos um Avatar de Sangue,” Rowan disse. “O que mais eles poderiam nos ensinar aqui?”

“Nós derrubamos um Avatar de Sangue com um feitiço que aprendemos aqui,” Will rebateu. “E ainda não sabemos por que nossos feitiços não estão sincronizando. Ou por que só podemos transplanar juntos. Há muito mais coisas que eles poderiam nos ensinar.”

Rowan revirou os olhos e sorriu. “Tudo bem. Eu acho que seria bom não ter que arrastar você pelo resto da minha vida. Agora, se você me der licença…”

“Sim, sim”, disse Will. “Diga olá para Plink e Auvernine por mim.”

Ela se esgueirou, parou no corredor e se virou para ele. Ocorreu a Will, então, o quanto ela parecia mais magra; como suas bochechas pareciam muito mais finas do que antes, como se algo vital tivesse sido sugado de sua irmã. Mas o sorriso que ela deu a ele foi caloroso e verdadeiro. “Você sabe que eu te amo, certo?”

“Sim,” ele disse. “Eu também te amo.”

Quando ela saiu apressada, Will fechou a porta atrás de si e se sentou na cama. Ele estava cansado. Já fazia muito tempo que ele não tinha uma boa noite de sono. Outro semestre aqui? Outro ano? Quem sabia o que mais o futuro reservava? Ele fechou os olhos e estendeu seus sentidos mágicos, rastreando as gotas de umidade se formando em sua prótese congelada. Primeiro princípio – redirecionamento termodinâmico. Encontre o calor e redistribua…

A coruja de Kasmina sobrevoou para longe da janela e sobrevou Strixhaven. O dano do ataque foi quase apagado; a calçada substituída, cercas vivas cresceram novamente. O único sinal de que aquilo havia acontecido era o Salão dos Oráculos, que ainda estava em ruínas, e o pequeno monumento que agora estava no patamar do Biblioplexo, uma estátua de pedra que mudava de rosto a cada hora. Abaixo havia uma inscrição: Conhecimento nunca se perde em Strixhaven. Eles não serão esquecidos. Este lugar tinha sobrevivido a coisas piores no passado. Sobreviveria a coisas piores no futuro, Kasmina não tinha dúvidas.

A coruja a encontrou no limite do campus. Ela olhou para o deserto à frente, sua mente fluindo para o pássaro que havia seguido Lukka. O vinculador estivera vagando pela terra com Mila e alguns dos Oriq restantes, sem dúvida conspirando enquanto procuravam comida e abrigo.

Mas ele não valia mais a pena observar. Era Rowan – ou, talvez, os dois gêmeos – que agora exigia sua atenção.

Liliana terminou de se vestir em seu escritório. Levou dias para ela voltar para Strixhaven do que acabou por ser uma floresta perto da beirada do continente, mas ela conseguiu, e depois que os decanos admitiram que deveriam ter ouvido seus avisos, eles a convidaram para permanecer como professora na universidade por tempo indeterminado – sem mais nenhuma maldita reunião de professores.

Ela concordou, mas com uma pequena ressalva.

Agora, enquanto se olhava no espelho e ajustava o uniforme, ela achava difícil de acreditar. Provas. Alunos. Não havia mais demônios, tramas sombrias, não havia mais morte. Seu olhar mudou para sua mesa, onde seus diários de pesquisa estavam abertos. “Parece que é aqui que finalmente nos separamos, velho amigo.”

Liliana fechou os diários e os colocou na estante ao longo da parede. Considerando tudo, ele estaria orgulhoso. O pensamento a fez sorrir.

Quando finalmente conseguiu chegar à primeira aula, Liliana parou por um momento para se recompor antes de entrar. Os alunos correram para seus lugares quando ela chegou, os sons de papéis se mexendo e conversas inúteis desaparecendo enquanto eles se viravam para ela.

Liliana parou na mesa da frente da sala. “Bem-vindos ao curso introdutório de artes necromânticas, alunos,” ela disse, a voz ressoando na sala de aula. “Meu nome é Professora Liliana Vess.”

Traduzido por Blackanof
Revisado por Sophia

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