Mtg Lore
Compêndio da Lore de Magic the Gathering
OS SOBREVIVENTES DA ROCHA CELESTE
O Portão Marinho, a cidade principal de Zendikar, foi devastado pelos Eldrazi e Gideon se sente parcialmente responsável por sua queda. Ele deixou a batalha brevemente para ir até Ravnica buscar Jace Beleren, na esperança de que o mago mental conseguisse resolver o enigma dos edros e ajudá-lo a virar a batalha. Quando Gideon e Jace chegaram em Zendikar, o Portão Marinho não tinha mais salvação. Gideon ajudou o já ferido Comandante Vorik a fugir com um pequeno grupo de sobreviventes – tudo o que restava da maior cidade de Zendikar.
O grupo montou acampamento sobre um edro flutuante gigantesco, e logo depois Jace partiu com a tritã Jori En em uma jornada até o Olho de Ugin para buscar mais pistas sobre o poder dos edros. Jace tentou persuadir Gideon a acompanhá-lo, mas o soldado recusou-se a deixar o povo zendikari uma segunda vez. A sobrevivência deles é o que mais importa para ele agora – apesar de ele não saber ao certo como irá garanti-la.
Precisamos juntar nossas forças.
Precisamos reagrupar.
Precisamos sobreviver.
Ordens do Comandante-Geral Vorik. As diretrizes pelas quais Gideon jurara servir.
Sobreviver era a mais desafiadora de todas.
A sobrevivência nunca foi algo simples em Zendikar, mas ultimamente é algo cada vez mais esquivo. Sobreviver, neste plano, nesta época, frente a estes monstros requeria patrulhamento, fortificações, armamento, bálsamos curativos, comida, água, calor e abrigo. A lista era longa.
Então, Gideon começou a cuidar de uma coisa por vez.
Agora, ele se dedicaria a conseguir água.
Com a ajuda de uma kor chamada Abeena, ele estava no processo de reposicionar a cachoeira de rocha flutuante mais próxima para que o precioso fluxo de água caísse no outro extremo do acampamento no edro, onde os sobreviventes conseguiriam acessá-la com facilidade e em segurança.
“Tudo pronto!” gritou Gideon para Abeena.
Abeena se equilibrava na beirada da rocha em torno da cachoeira – que estava longe demais e virada para o outro lado; assim a queda d’água descia até uma ravina larga e não poderia ser coletada.
A kor prendera quatro cordas que iam da cachoeira até o acampamento no edro gigantesco. Gideon segurava duas das cordas, uma em cada mão. À sua direita, um tritão e outro kor se apoiavam para manter a terceira corda firme. E à sua esquerda, três humanos agarravam a quarta corda.
“Tudo pronto por aqui!” avisou Abeena.
Gideon confirmou com os outros, com acenos de cabeça. “Certo, vamos lá. Puxem!” Ele carregou as pesadas cordas caminhando para trás, plantando um pé de cada vez.
Os outros puxavam também; juntos, eles arrastaram a pesadíssima cachoeira para mais perto da Rocha Celeste.
“Isso aí,” incentivava Gideon. “Quase lá.” O suor se formava em suas têmporas quando ele deu mais um puxão na grande rocha. A sensação de esforço físico era uma das mais satisfatórias que ele conhecia. E o sopro de uma brisa fria de Zendikar por suas orelhas também não era nada ruim.
Seu apreço por este mundo crescera de maneira imensurável no curto período desde que eles ocuparam a Rocha Celeste. A vista daqui não tinha igual. Em outra vida, Gideon podia se ver morando aqui, passando os dias como aventureiro – escalando, caçando, explorando. Era fácil ver por que tantos amavam este mundo. Por que tantos lutavam por ele.
“Segurem aí!” pediu Abeena. “Eu vou girar agora.”
“Segurem!” ordenou Gideon. Ele se conectou com suas reservas de poder e se ancorou no edro; ele se tornou tão imóvel quanto as árvores mais largas de Zendikar. Os outros seguraram melhor suas cordas e se prepararam enquanto Abeena lançava outra corda com um gancho largo até uma terceira rocha flutuante.
Com os pés separados, Abeena puxou a corda, utilizando a nova rocha como âncora para girar a cachoeira no próprio eixo. Ela alinhou a cachoeira para que o fluxo de água ficasse de frente para o acampamento. Acho que deu!”
Comemorações irromperam ao fundo, e Gideon virou-se para ver que praticamente todo sobrevivente da Rocha Celeste que conseguia se mover tinha se reunido para assistir. Seu desejo era palpável: eles esperavam ansiosamente por aquele primeiro gole de água para matar a sede.
“Temos gente com sede por aqui, Abeena,” gracejou Gideon. “Vamos trazer um pouco de água!”
Mais comemorações.
“Com prazer.” Abeena desprendeu a quinta corda e se ajoelhou para guiar o caminho. “Podem puxar.”
“Isso vai sacudir a gente,” avisou Gideon para a multidão reunida. “Segurem-se!”
Um último puxão içou a cachoeira diretamente sobre a Rocha Celeste. A água bateu no extremo oposto do edro; a rocha inteira se mexeu com o peso do fluxo turbulento. Mas tanto o ruído como as vibrações foram afogados quando os zendikari correram para banhar-se sob o fluxo de água, comemorando, bebendo, cantando.
“Obrigada, Gideon,” disse Abeena enquanto terminava de descer da rocha. “Temos sorte de ter você aqui.”
“É por termos você que temos sorte”, retribuiu Gideon. “Bom trabalho com as cordas! Acho que você merece isso.” Ele lhe entregou uma caneca.
“Saúde!” Ela ergueu a caneca e caminhou até a água.
Ótimo. Isso era muito bom, pensava Gideon. Agora, eles tinham água. Eles precisavam de água para sobreviver. Então, isso queria dizer que eles estavam mais perto de conseguir.
“Ele não quer que você perca tempo com isso.” A voz de Tazri veio detrás. Ela deve ter vindo da tenda de Vorik; era lá onde ela passava a maior parte do tempo, conversando e planejando com o comandante enquanto três curandeiros cuidavam dele. O propósito da vigilância de Tazri lhe era óbvio. Se a tosse persistente que Gideon ouvia no comandante significava o que ele temia – corrupção Eldrazi –, então, logo Tazri, a conselheira mais fiel de Vorik, tomaria o lugar dele como comandante. Isso resultaria em muitas mudanças para os sobreviventes da Rocha Celeste. E para Gideon.
Tazri agira friamente com ele desde que Vorik ouviu a sugestão de Gideon em detrimento da sua, durante a evacuação. Era ideia de Gideon que os sobreviventes se retirassem para o edro flutuante; Tazri queria evacuar mais para longe. Gideon ainda acreditava que esta era a melhor ação possível, mas não queria mais discutir com Tazri; ele precisava ganhar a confiança dela.
“Tazri.” Gideon se virou, mantendo o sorriso. “Tenho outra caneca. Quer um pouco de água fresca?”
“Eles usariam melhor o tempo se estivessem se preparando pra continuar a evacuação.”
“Eles estão se preparando,” respondeu Gideon. “Isso aqui vai ajudar. Vai ser mais fácil para encher os cantis.”
“Eles não tinham problemas em encher os cantis no rio lá embaixo. Você usou o quê? Seis pessoas fortes e saudáveis que poderiam estar lá fora, caçando. Eles podiam ter derrubado um baloth, ou até dois, a essa hora. Precisamos coletar rações. São ordens do Comandante Vorik.”
“Precisamos de água também.”
“Não para brincar com ela.” Tazri fez um gesto para indicar os zendikari que ainda dançavam no fluxo de água. “Isso é uma perda de tempo.”
Gideon não conseguia fechar um sorriso largo com a visão. “Manter o moral alto nunca é perda de tempo.”
“Eu sei o que você está fazendo.” Tazri semicerrou os olhos. O brilho do halo que ela tinha em torno do pescoço parecia ter ficado mais intenso. “Você está tentando fazer este lugar ficar confortável. Tentando encontrar desculpar para ficar. Está esperando que ele volte. O outro estranho. Aquele que é igual a você.”
Jace. Ela estava falando de Jace. Esta não era a primeira vez que Tazri insinuava que sabia que Gideon era um planinauta.
“Eu ouvi vocês discutindo,” continuou Tazri. “E ouvi você perder a discussão.”
Gideon se eriçou. Ele não tinha perdido. Ele queria que Jace resolvesse o enigma dos edros; ele preferiria que Jace tivesse esperado para ir ate o Olho de Ugin depois que as coisas estivessem mais estáveis aqui, mas ele havia concordado com a ideia geral.
“Você não pode fazer essas pessoas esperarem aqui até que ele volte,” avisou Tazri. “É perigoso demais. Você tem alguma ideia de quanto tempo ele vai levar? Você sabe onde fica Akoum?”
Gideon sabia, mas ela não lhe deu tempo de responder.
“Não, você não sabe,” acusou Tazri. “Você não é daqui. Eu sei de você, sei dele. Nenhum de vocês é de Zendikar, e não têm o direito de vir aqui e colocar nesse povo – o meu povo – em perigo.” Nesse ponto, ela terminara de se inclinar na direção dele com o dedo em riste, já cutucando o peitoral da sua armadura.
Gideon ergueu as mãos. Ele não mentiria para ela; não era assim que ela confiaria nele. “Você tem razão. Eu não sou deste mundo.” Ele deu um passo para trás e deu mais espaço para Tazri. Esta era a chance dele para se explicar, e ele precisava que ela o entendesse. “Mas eu conheço Zendikar. Eu conheço bem. Já cruzei seus mares e subi suas montanhas. E eu vou continuar a lutar.” Ele a olhou nos olhos. “Eu me importo muito com esta terra, e muitos mais com seus povos. Só estou aqui para ajudar.”
Tazri o analisava meticulosamente, como se o visse pela primeira vez – olhando cada detalhe. Gideon, com postura ereta e expressão zelosa, queria que ela visse como ele sentia cada uma daquelas palavras.
Ela inspirou fundo. “Então, você vai parar de interferir. Vorik sabe o que é melhor. Eu sei o que é melhor. E não é aquilo ali.” Tazri gesticulou na direção da cachoeira novamente. “Isso e ruim, Gideon. Você não vê? Dá uma falsa sensação de segurança. Os faz pensar que podem chamar este lugar de lar, quando não podem. Eles não estão seguros aqui. A qualquer momento o enxame no Portão Marinho pode descer até aqui. A qualquer momento, pode ser que nos forcem a lutar por nossas vidas mais uma vez. Tão poucos sobreviveram da primeira vez. Quantos você acha que sobreviverão a um segundo ataque?”
Sobreviver não era fácil.
“Se você quer o melhor para essa gente como diz, ajude-os a caçar. Ajude a coletar rações. Ajude o preparo para continuarmos a evacuação. É a única chance de eles sobreviverem.”
Uma crise de tosse vinda da direção da tenda de Vorik chamou a atenção de ambos.
“É o que Vorik quer.” Tazri virou-se bruscamente e marchou a passos largos para dentro da tenda do comandante.
Gideon caminhava pela ponta norte da Rocha Celeste, e o ruído da cachoeira mal se ouvia ao longe. Ele esperava pelo restante da sua equipe de caça; os mesmos seis que o ajudaram a puxar a cachoeira, agora o ajudariam a perseguir um gnarlid – ou um baloth, se tivessem sorte.
Ele estava impaciente.
Eles estavam perdendo a luz do sol.
E Tazri estava errada sobre a cachoeira.
A cachoeira era algo bom.
Água é algo bom.
A diretriz era sobreviver e Gideon atuara de acordo. A água ajudaria os Zendikari a sobreviverem, seja por mais uma noite, uma semana ou um mês.
Quanto mais tempo, melhor.
Ele discordava de Tazri, e do Comandante Vorik também.
Ele acreditava que eles deviam ficar.
Não só por causa de Jace, apesar de Tazri não ter errado que Gideon queria esperar Jace voltar. O mago mental não demoraria tanto quanto Tazri imaginava; sem dúvida, seria uma jornada longa até Akoum, mas Jace provavelmente transplanaria de volta até o acampamento depois que descobrisse o que precisava no Olho de Ugin. Isso cortaria a distância total, e o tempo, pela metade. E com a informação que Jace encontraria, Gideon esperava que as chances de eles sobreviverem decolariam. A promessa do poder dos edros era a esperança onde ele se segurava. Se os Zendikari conseguissem manipular aquele poder, talvez eles realmente conseguissem sobreviver à evacuação que Vorik e Tazri queriam liderar.
Gideon não conseguiria protegê-los aqui na terra selvagem do mesmo modo que conseguiria protegê-los sobre o edro flutuante. Pelo menos aqui estavam todos no mesmo lugar, e ele sabia onde estavam. Pelo menos aqui eles tinham acesso a comida e estavam construindo abrigos – e agora tinham água.
Se o objetivo era sobreviver, Gideon não acreditava que deviam ir embora.
Então, por quanto tempo eles poderiam ficar?
Ele olhou para o norte, na direção do Portão Marinho. Apenas o topo do farol era visível dali.
O que será que os Eldrazi estavam fazendo? Será que ainda escalavam as paredes e espalhavam sua corrupção para todas as rochas? Ou será que se deslocavam, como Tazri sugeriu?
Com que velocidade conseguiam viajar? Quanto tempo levaria até que alcançassem este edro flutuante?
Quantos viriam?
Quantos Gideon conseguiria segurar?
Se eles viessem aos poucos, ele conseguiria despachar um por um antes que alcançassem o acampamento.
Ele conseguiria sozinho.
Ninguém mais precisaria arriscar a vida.
Ele lutaria contra todo o maldito monte deles, um por um, se fosse necessário.
Mas se eles viessem em grupo… “Anda, Jace,” sussurrou Gideon.
“Gideon!” a voz veio de cima, assustando Gideon – por uma batida do coração apenas ele pensou, esperou, rezou para fosse Jace. Mas era cedo demais. É claro que não era Jace.
“Gideon!”
Gideon deu um passo para trás quando uma arraia azul e branca enorme desceu do céu e pairou a um côvado dele. A elfa montada na arraia parecia ligeiramente fora do lugar, mas não estava desconfortável. Ela se ajoelhava com postura perfeita. Seu braço estava erguido, segurando uma lança.
“Sybil,” disse Gideon. “O que houve?”
“Problema. Sobe aí!”
Gideon não fez mais perguntas à cavaleira celeste; ela era a única patrulheira dos ares, e ela dera o alarme que os salvara de um potencial ataque de Eldrazi mais de meia dúzia de vezes.
Ele montou na arraia.
“Tem um grupo vindo do sul,” disse Sybil por cima do ombro, enquanto a arraia tomava os céus. “E eles estão sendo seguidos por um Eldrazi.”
Gideon expirou aliviado. Se eles vinham do sul, então o Eldrazi que os seguia não era parte do enxame do Portão Marinho. Ainda havia tempo.
“É um voador,” disse Sybil. “E é um dos grandes, Gideon.”
Gideon se concentrou. Mesmo que não fosse do enxame, ainda era um Eldrazi – e um que ele teria de destruir. “Me leve ate lá.” Ele se segurou no cinturão de Sybil quando a arraia acelerou.
“Acho que são mais refugiados,” disse a elfa. “Eles pareciam bem abatidos, pelo que vi.”
“Então, vamos garantir que a última parte da jornada seja o mais agradável possível,” disse Gideon.
Este seria o segundo grupo de refugiados que a Rocha Celeste recebera nestes dias. O último grupo de refugiados eram kor que foram encontrados por uma equipe de caça, andando a esmo e em choque apos terem visto o Portão Marinho destruído. Eles vieram de Akoum; eles atravessaram dois continentes e o mar porque o Portão Marinho devia ser um santuário. Era isso que estava sendo espalhado pelo mundo todo, de acordo com os kor. Eles garantiram que havia mais gente chegando, vindo de todos os lugares. E aqui havia mais uma prova disso.
Todos esses zendikari fugiam para um santuário que não existia.
Quando a arraia fez a volta sob um edro grande e partido, Gideon viu de relance o Eldrazi gigante que Sybil avisara. Ele voava baixo, tinha tentáculos de um azul impressionante, e ondulava logo acima das copas das árvores, serpenteando entre as vinhas dependuradas dos edros acima.
Ele seguia na direção de um grupo ao longe, como Sybil relatara. Eles não pareciam perceber o perigo que corriam.
“Quão perto você pode me deixar?” clamou Gideon para Sybil.
“Quão perto você quer ficar?” Sybil esporeou a arraia para mergulhar em um ângulo que iria direto para o Eldrazi.
Enquanto a arraia passava, Gideon desenrolava seu sural.
Sybil passou perto o suficiente para que ela pudesse estocá-lo firmemente com sua lança. Quando a ponta da lança perfurou o corpo do Eldrazi, as quatro lâminas do sural de Gideon cortaram suas costas, abrindo quatro cortes.
Mas não foi dano suficiente para fazê-lo ir mais devagar.
“Tem algo vindo!” uma voz em pânico gritou lá embaixo. Era um dos refugiados – uma mulher humana, com cabelos longos cor de prata. Ela viu o Eldrazi.
A agitação da mulher pareceu atrair a monstruosidade, que os seguiu mais rápido.
Os refugiados começaram a correr.
“Passe de novo,” gritou Gideon para Sybil. “Rapido!”
No segundo voo rasante, Sybil voou ainda mais perto da criatura. Tão perto que Gideon sentiu o cheiro das entranhas recém-expostas do Eldrazi.
Ele chicoteou com seu sural e entranhas pularam de dentro de mais quatro cortes ao longo do corpo. Mas os ferimentos não o atrasaram.
Ele tinha de ficar mais lento.
Ele chicoteou o sural novamente – desta vez, para prender, em vez de cortar. Com um movimento de pulso, as lâminas da sua arma se enroscaram em tornos dos tentáculos do Eldrazi.
Gideon deu um puxão, tirando o Eldrazi do seu caminho – puxando-o para longe dos refugiados…
Mas ele não havia considerado a física de batalhas celestes. Sem ter algo para compensar a força do golpe, Gideon, Sybil e a arraia foram atirados pelo ar na direção oposta.
Eles mergulharam, vacilantes; Sybil se atrapalhava tentando recuperar o controle. “Largue!” ela gritou para Gideon.
Gideon moveu seu sural para tentar soltar do Eldrazi, mas duas lâminas se engancharam e prenderam; ele não conseguia se soltar.
O Eldrazi deu um coice e a arraia foi atirada para longe.
“Solte!” gritou Sybil.
Gideon notou que era para soltar o sural – mas era tarde demais. Ele escorregou da sua sela, deslizando pelo ombro curvilíneo da arraia.
Por um momento, ele tombou do céu. E, então seu sural o puxou, e ele ficou pendurado nas costas do Eldrazi – vendo Sybil e a arraia mergulhando até o chão.
Todo aquele trabalho não ganhou tempo algum. O Eldrazi ainda estava no caminho. Pendurado lá, Gideon conseguiu discernir ferimentos e cicatrizes nos braços e pernas dos refugiados.
“Fique longe deles!” usando seu sural como gancho, do jeito que ele vira Abeena fazer, Gideon puxou-se pelos tentáculos do Eldrazi e chegou às placas ósseas das suas costas.
A coisa bestial se debatia e retorcia, tentando alcançá-lo com quatro braços que se dobravam para trás de modo antinatural, ainda mantendo o equilíbrio.
Gideon canalizava sua magia, ativando suas proteções luzidias, primeiro em suas costelas, depois na frente do tórax e, em seguida, em sua perna, bloqueando todos os golpes dos membros e tentáculos enquanto escalava a cabeça do Eldrazi.
Ele segurou os tentáculos mais finos detrás da cabeça da criatura, que pareciam vagamente com antenas, e os usou como rédeas, puxando a cabeça do monstro para trás. Então, ele empurrou para a frente, colocando todo o seu peso e forçando o Eldrazi a dar de cara no chão.
A coisa deu um espasmo e se retraiu, debatendo seus tentáculos a esmo, mas Gideon não soltou. “Eu disse para se afastar!”
Com mais um empurrão poderoso, ele lançou o Eldrazi ao chão, ativando sua camada de proteção reluzente bem a tempo de se proteger do impacto.
Seu sural se soltou dos tentáculos na queda, e Gideon o puxou de volta. Ele saltou de cima do Eldrazi, e com seu próximo fôlego ele já golpeava a monstruosidade uma, duas, três vezes. Cortando um tentáculo após o outro, arrancando as partes macias da sua carne.
A coisa guinchava e trepidava; os ruídos antinaturais apenas incentivavam Gideon a continuar. Ele faria um corte nesse Eldrazi por cada Zendikar perdido à raça dele. E mais um corte por cada um dos que ainda serão perdidos. Tudo o que os povos faziam era tentar sobreviver, mas havia monstros demais – que continuariam a aparecer, espalhando-se por toda a terra. Para sempre. Não acabaria nunca.
Os zendikari nunca estariam a salvo.
Como eles conseguiriam sobreviver?
Como?
Uma pilha de tiras de carne e órgãos de Eldrazi estava aos pés de Gideon. Não havia mais nada para destruir. Ele descansou o braço e seu sural caiu ao lado do corpo.
Eles não poderiam se retirar para Zulaport.
Não importa o que Vorik disse.
Não importa o que Tazri queria.
O povo da Rocha Celeste nunca sobreviveria a isso. Eles nunca conseguiriam atravessar Tazeem, quanto mais o mar.
Eram muitos os Eldrazi.
Eles tinham de ficar. Se eles queriam sobreviver, eles tinham de ficar aqui.
Mas e se eles quisessem fazer mais do que sobreviver?
Uma lufada de vento e o bater de asas de couro chamou a atenção de Gideon. Ele se virou e viu Sybil pairando no ar perto dele, com uma pergunta no olhar.
“Eles conseguiram chegar ao acampamento?” ele perguntou.
Ela assentiu com a cabeça.
“Me leve de volta.”
Ela desceu a arraia para que Gideon conseguisse montar.
Antes que Gideon descesse das costas da arraia, ele ja conseguia ouvir a voz elevada de Tazri. Ela discutia com o novo grupo de refugiados. Gideon correu até lá.
“O Portão Marinho não pode ser derrubado,” grunhiu um kor do grupo como se a ideia fosse absurda.
“Ele caiu,” disse Tazri. “Evacuamos há alguns dias. Ele foi perdido.”
“Não.” A senhora com cabelos longos e prateados que Gideon vira antes agarrou o braço de Tazri. “Não.” Ela balançou a cabeça. “Isso.” Ela ergueu a outra mão e levantou um dedo ossudo e enrugado. “Foi por isso que lutamos. Foi por isso que…”, ela mordeu as costas da mão para evitar soluçar. “Você não faz ideia.” Sua voz embargou, mas ela não chorou. “Você sabe de onde viemos? O Turbilhão, quatro vezes. Aquele Eldrazi monstruoso. O enxame deles no rio. Tho, Zuri, Daye, Itri – todos caíram pelo caminho, sabendo o que iríamos encontrar – não. Foi por isso que viemos.” Ela tinha o dedo em riste na cara de Tazri. “Este é o Portão Marinho. O Portão Marinho é a única esperança de Zendikar. O Portão Marinho é tudo o que nos resta. Nós viemos para o Portão Marinho.”
Os outros atrás dela também erguiam seus dedos. Gideon reconheceu o gesto. O primeiro grupo de refugiados fizera o mesmo. Seus dedos eram um sinal para o farol. Portão Marinho. A esperança deles.
“Sinto muito,” disse Tazri. “O Portão Marinho foi destruído. Vocês podem vir conosco para Ondu.”
“Ondu!” uma jovem no grupo se frustrou. “Não sobrou quase nada de Ondu.”
“Todo o povo de Ondu esta vindo para o Portão Marinho. E todo o povo de Akoum também. Até mesmo alguns dos vampiros de Guul Draz. E agora você nos diz, a todos nós – depois de tudo o que perdemos e de tudo o que lutamos – que não há mais nada? Que não acaba nunca?” Ela olhou de Tazri para Gideon. “Isso não pode ser verdade. Por favor. Isso não pode ser verdade.” Lágrimas desesperadas rolavam pelas faces dela.
Gideon sentia seu desespero.
Isso não pode ser verdade.
“O comandante!” A voz apressada de Abeena cortou o assunto, vinda detrás. Gideon se virou. “Ele chama por você.” Ela olhava para Tazri.
“Sinto muito,” disse Tazri aos refugiados. Ela já estava correndo na direção da tenda de Vorik. “Tenho de ir.”
“Vocês dois,” disse Abeena. “Gideon, ele chamou você também. Agora.”
Gideon viu nos olhos dela que Vorik não veria outro sol.
“Fiquem com eles, Abeena,” disse Gideon.
A kor assentiu solenemente.
Gideon deixou o pequeno grupo de refugiados e correu atrás de Tazri.
Ela olhou para ele. “Não temos provisões,” ela disse às cuspidelas. “Você não foi caçar.”
“Não.” Gideon a alcançou, erguendo a aba na entrada da tenda de Vorik. “Não tive oportunidade.” Agora não era hora para Vorik morrer. Gideon não estava pronto para responder a Tazir.
A tenda do comandante estava abafada e tinha cheiro de fungos podres e secos – o cheiro da corrupção Eldrazi. Ele vinha do hálito de Vorik.
Três curandeiros estavam de pé no outro extremo da tenda, em vigília silenciosa.
Gideon ajoelhou-se ao lado do leito do comandante e Tazri ficou de pé atrás dele.
“Senhor, estamos aqui,” ela disse.
Vorik abriu os olhos; eles estavam vermelhos e pareciam vidro rachado. “Soube que chegou mais gente.”
“Sim,” disse Tazri.”É um grupo pequeno.”
“Refugiados. E tem mais chegando todo dia,” disse Gideon. Eles estavam a caminho do Portão Marinho.”
Vorik meneou a cabeça, arrependido. “Portão Marinho.” Sua voz era pouco mais do que um suspiro.
Tazri lançou um olhar gélido a Gideon, como se dissesse para ele parar de falar – mas o soldado sentia necessidade e urgência para dizer algo. Vorik precisava saber a verdade – agora, antes de falecer. Agora, enquanto ele ainda podia decidir o destino do povo daqui. “Estão vindo do mundo todo, senhor. De todos os outros lugares que caíram nas mãos dos Eldrazi: Akoum, Guul Draz… e Ondu.”
“O Portão Marinho não devia ter caído nunca.” Vorik anda meneava a cabeça, perdido em seus pensamentos. Ele não parecia ter ouvido Gideon. Ele olhou para Tazri. “E como estão os preparativos para a evacuação?”
“Dentro do planejado, senhor,” disse Tazri. “Os novos números significam que vamos precisar coletar mais provisões. Mas poderemos partir esta semana ainda, se todos fizerem sua parte.” Ela lançou outro olhar gélido para Gideon. “Eu tracei uma rota por Tazeem e…”
“Uma rota que vai estar repleta de Eldrazi,” interrompeu Gideon.
“É a rota mais segura que encontramos,” contra-atacou Tazri.
“Não existe uma rota segura que atravesse Tazeem,” Gideon elevara a voz para silenciar o protesto de Tazri; ele tinha um argumento a fazer, e ele iria fazê-lo. “Não há nenhuma rota segura em toda Zendikar.”
“Nossa jornada será perigosa, sim,” disse Tazri. “Mas nós sabíamos disso. E nossos batedores garantiram que ao chegarmos à costa, há barcos esperando para atravessarmos o mar.”
“Barcos que acabaram de aportar,” respondeu Gideon. “Barcos que trouxeram refugiados de lugares como Akoum e Ondu. Porque esses lugares foram devastados.”
As narinas de Tazri mexeram e o halo em torno do seu pescoço incandescia. Ela se virou para Gideon. “Eu ouvi, já! Todo mundo já ouviu! Você não quer evacuar. Você não quer que a gente vá até Zulaport.”
“Não, não quero,” disse Gideon.
“Então, o que você quer que a gente faça? Fique aqui? Sentandos nessa rocha exposta e vulnerável, esperando que eles venham nos pegar? Esperar para morrer?”
“Não.” Gideon notou que ele realmente tinha outro plano. Em algum tempo entre abater o Eldrazi voador, falar com os refugiados e ver as rachaduras nos olhos de Vorik, ele entendeu o que precisava ser feito. Ele olhou para o comandante, encontrando os olhos dispersos de Vorik. “Eu voltaria para o Portão Marinho.”
“O quê?!” gritou Tazri. “Impossível!”
“O Portão Marinho foi derrubado, Gideon.” Vossik tossiu e uma nuvem de poeira se elevou da boca, flutuando no ar entre eles. “Ele foi invadido. Ele foi perdido.”
Parte de Gideon queria virar o rosto e não ver a fumaça, ou o comandante moribundo – mas ele respeitava e se importava demais com o homem; ele nem piscou. “Ele pode ser ocupado novamente, senhor,” disse. “Podemos retomá-lo. Nós juntamos um exército aqui na Rocha Celeste – já estamos na metade do caminho, com todos os refugiados chegando. Quando tivermos soldados suficientes, nós o cercamos como eles fizeram, e retomamos o que é nosso. Você mesmo disse que é o local mais estratégico de toda Zendikar. Nós precisamos do Portão Marinho, senhor, precisamos para…”
“Você está louco,” Tazri o interrompeu, “Você estava lá, Gideon – na maior parte da batalha, pelo menos. Você viu o nosso povo morrer. Você viu os enxames de Eldrazi. Como você pode achar que temos uma chance?”
“Os Eldrazi não vão ficar lá por muito tempo”, disse Gideon. “Eles não funcionam como os exércitos sencientes que conhecemos. Eles não tem interesse algum em ficar com o Portão Marinho. Eles vão se alimentar do que puderem e depois seguir em frente, como fizeram em qualquer outro lugar.”
“Eles vão seguir direto para cá!”, disse Tazri. “Temos de sair daqui o mais rápido possível.”
“Não tem mais para onde ir, Tazri!” Gideon tinha os punhos cerrados. Como ela não enxergava isso? “Você só diz que precisamos ‘evacuar’, mas não tem para onde ir.”
“Zulaport”, disse Tazri. “Vamos para Zulaport, são ordens do comandante.”
“E quem sabe se Zulaport também não vai estar destruída quando chegarmos lá? Quem sabe se já não está agora? Acabou. Os Eldrazi estão tomando tudo. Se não enfrentarmos agora, toda Zendikar vai ser destruída.”
“Chega!” gritou Vorik, e com o grito veio um acesso de tosse. Nuvens de poeira subiam ao ar com cada tosse seca.
Os três curandeiros empurraram Gideon e Tazri.
Gideon ficou de pé, se afastando do leito do comandante.
“Tolo,” disse Tazri, às cuspidelas. “Você é um tolo. Você marcharia essas pessoas, o meu povo, o povo de Vorik, para a morte!”
“Não, eu daria a eles uma chance de viver.”
“A chance de sobreviver está em Zulaport. Você sabe disso tanto quanto eu.”
“Sobrevivência não é mais o suficiente, Tazri,” respondeu Gideon.
“Como você pode dizer uma coisa dessas? É a única coisa suficiente.”
“Eu também não via. Não até agora há pouco. Eu olhava só o que estava na nossa frente. Todos nós. Mas temos de ver o panorama da situação.” Gideon reconheceu as palavras de Jace saindo da sua boca. Nesse caso, o mago mental estava certo. “Não é só o Portão Marinho que foi tomado. Os enxames de Eldrazi estão tomando tudo. Estão em todos os lugares. Eu mesmo já vi. Se não agirmos agora, se não enfrentarmos, perderemos esse mundo. Tudo e todos aqui serão destruídos.”
Os olhos brilhantes de Tazri perfuraram Gideon. “Menos você. Você só vai embora.”
Gideon piscou, surpreendido pela acusação – mas antes que ele pudesse retrucar, a voz de Vorik soou. “Atenção!” Por um momento, pareceu que o comandante havia recuperado suas forças, como ele gritava suas ordens no campo de batalha. “Parem como a algazarra e se afastem, agora. Deixem um homem velho e moribundo respirar.” Ele falava com os curandeiros. “Seu trabalho aqui acabou.” Ele assentiu para eles com um olhar firme. “Agradeço por tudo o que fizeram, mas acabou.” Ele olhou alem dos curandeiros. “Tazri, Gideon. Venham. O tempo está acabando.”
Quando os curandeiros se afastaram solenemente, Gideon e Tazri se aproximara.
“Estou morrendo, e vocês discutindo.”
“Senhor…” Tazri começou, mas Vorik falou mais alto.
“Agora não é hora de discutir. Agora é hora de ouvir. Ouvir uns aos outros. Vocês são os bens bélicos mais valiosos um do outro.”
Gideon lançou um olhar para Tazri, mas ela continuou a encarar Vorik, impassível.
“Se vocês não ouvem um ao outro, então pelo menos me escutem.” Vorik tentou se erguer brevemente. “Tem algo importante que eu devo dizer.” Ele tentou umedecer a boca seca, mas sua língua estava mais seca ainda. Caíram flocos, de ambas. Ele pigarreou. “Quando eu estava encurralado no campo de batalha, quando aquela monstruosidade Eldrazi me perfurou com sua essência corrompida, foi a coisa mais terrível que eu já passei.”
Gideon ficou tenso.
“Mas naquele momento, não foi terror o que eu senti. Nem arrependimento. Não. O que eu senti foi alívio. Vergonha dizer isso, mas é verdade. Senti alívio porque teria a saída mais fácil; eu não teria de ficar e enfrentar o que vinha depois.”
Tazri mudou o peso do corpo.
“Mas, então, pensei no meu povo,” disse Vorik. “Eu pensei em todos os zendikari, e senti remorso. Eu parto e eles ficam aqui, vocês ficam aqui, vocês têm de assistir o fim do mundo.” Vorik pausou e engoliu a tosse. “Mas agora tenho esperança,” e sua voz estava embargada. “Tenho esperança de que não seja verdade. Esperança de que ainda tenha uma chance para Zendikar. Gideon Jura, você me deu esperança.” Ele ergueu um dedo.
Gideon pensou que o comandante indicava para que eles esperassem, que ele lutava contra a tosse… Mas então, ele viu o sinal.
“Portão Marinho,” disse Vorik, com o dedo erguido. Depois, ele apontou para Gideon. “Estas pessoas precisam da inspiração que você me deu. Precisam encontrar esperanças, como eu encontrei. Precisam de um líder que vê a vitória em toda circunstância. Quando eu me for, você liderará este povo. Você retomará o Portão Marinho, Comandante-Geral Jura.”
“Senhor.” Gideon gaguejou. “O título…”
“Não.” Tazri perdeu o fôlego.
“Tazri.” Vorik olhou para sua conselheira. “Você é forte e corajosa, e foi minha conselheira mais leal. Mas você está próxima demais. De mim, das minhas ideias, de Zendikar. Este mundo precisa de uma perspectiva nova; esse povo precisa de um novo motivo para acreditar.”
“Mas…”
“Você conhece Zendikar melhor do que qualquer um – talvez até melhor do que eu. É por isso que o comandante vai precisar da sua ajuda. Você vai apoiá-lo como me apoiou.”
“O senhor não pode fazer isso,” disse Tazri. “Ele nem é zendikari.”
Vorik tossiu novamente. Uma tosse dura e dolorosa que o fez cuspir um pedaço de corrupção do tamanho de uma moeda. Ele lutava para conseguir respirar, e meneou a cabeça novamente. “Não importa de onde ele veio, Tazri. Ele tem o ânimo teimoso de um zendikari.” Vorik estendeu a mão para Gideon.
Gideon fechou seus dedos enormes em torno da mão mirrada do comandante.
“Não perca esse ânimo,” disse Vorik. “Não perca esta terra.”
“Não vou, senhor,” jurou Gideon.
“Deixo Zendikar em suas mãos, Gideon.” As palavras saíram com uma tosse que rasgou as entranhas do comandante. Seu corpo convulsionou e, então, sua mão caiu inerte ao lado da de Gideon.
O funeral foi realizado ao nascer do sol, na beirada do edro, com todo o terreno como vista.
Os zendikari cantaram hinos; suas vozes começaram graves e fortes, escalando até algo tumultuoso e ousado.
Gideon se unia ao canto quando podia, mas os olhares de lado que Tazri lhe dava confirmavam que ele estava desafinado.
O corpo do Comandante Vorik foi enrolado cuidadosamente em uma mortalha, e os zendikari do acampamento fizeram um círculo em torno do seu falecido líder. Cada um se ajoelhou e, usando um pedaço de carvão, desenhou uma marca na mortalha, sussurrando uma mensagem cantada.
Era um por vez, e chegou a vez de Gideon.
“Você não sabe o que dizer, então não diga nada,” sussurrou Tazri, enquanto ele caminhava até o corpo de Vorik.
Gideon se ajoelhou. Ele pegou o pedaço de carvão e fez a marca, em silêncio.
Tazri estava certa – ele não sabia as palavras funerárias. Mas ele sabia o que dizer.
Ele ficou de pé, inspirando o ar zendikari e deixando o aroma do terreno selvagem preenchê-lo. Ele fitou cada pessoa da Rocha Celeste – o seu povo. “Hoje, nós perdemos muito,” começou ele. “Mais do que nosso comandante. Estamos sem nosso líder, nosso campeão, nossa estrela-guia. Assim como o farol do Portão Marinho, o Comandante-Geral Vorik era o baluarte de pé frente a maior das adversidades. E mesmo que ele tenha partido, temos de fazer como ele, porque agora nós enfrentamos a maior adversidade que Zendikar já enfrentou.”
“Do mesmo modo que a corrupção Eldrazi se espalhou para tomar o corpo do nosso amigo, os monstros se espalham para corromper a terra. A cada dia fica pior. A cada dia há mais deles. A cada dia eles tomam mais de nós. Não podemos deixar que isso continue.” Ele olhou para o corpo de Vorik. “Nós vimos o que acontece quando eles têm permissão de destruir à vontade. Não podemos deixar que o que aconteceu com o nosso líder aconteça com este mundo.”
Ele pausou e viu as faces cabisbaixas e desesperadas. “Nós temos uma escolha hoje. Podemos escolher deixar a Rocha Celeste. Estaremos prontos para evacuar esta semana. Temos provisões e suprimentos. Há barcos esperando no porto. Podemos nos retirar para Zulaport.”
O povo se inclinava na direção dele, curioso.
“Mas se escolhermos isso, muitos de nós não conseguirão chegar lá. A jornada será perigosa. Vamos encontrar números enormes de Eldrazi por toda a terra, e nas águas. Eu já estive em outros lugares. Já vi Eldrazi em Ondu, Kabira, no Forte Keff e em todos os lugares entre eles. Estão em todos os lugares. E todo dia aparecem mais. Eles podem já estar em Zulaport. Quem conseguir chegar em Zulaport pode encontrar apenas mais Eldrazi.”
Tazri fez menção de argumentar a favor, mas Gideon ergueu a mão e continuou. “Ou talvez vamos encontrar um lugar seguro. Mas se for, por quanto tempo? Por quanto tempo qualquer coisa vai durar?” Ele deu uma olhadela para Tazri. “Não temos como saber, mas em algum ponto depois de escolhermos Zulaport, Zulaport vai cair. Igual ao Portão Marinho, igual a qualquer outra parte de Zendikar que está caindo. Se escolhermos a retirada, seremos destruídos junto com este mundo.”
Era uma verdade inconveniente, mas era uma verdade, e essas pessoas mereciam saber a verdade. Eles tinham de saber a verdade.
“Mas temos outra escolha,” continuou Gideon. “Podemos escolher lutar. Podemos escolher parar de correr. Podemos escolher a ofensiva. Enfrentar com verdade e altivez a maior das adversidades. Eu me coloco à frente de vocês hoje como comandante, e peço que vocês escolham lutar. Peço que me ajudem. Ajudem a reunir todos os zendikari de todos os cantos do mundo, de cada continente, cada zendikari que queira lutar. Vamos nos reunir aqui mesmo, na Rocha Celeste. Todas as forças de Zendikar irão convergir para um só lugar, e vamos lutar com essas forças. Com o poderio do mundo conosco, não podemos perder. Vamos usar esse poder e retomar o Portão Marinho.”
Um burburinho subia da multidão ali reunida, mas Gideon continuou. Eles tinham de ouvir mais. Ele tinha mais a dizer. “O Portão Marinho é o coração deste mundo. É o local mais estratégico, com armamentos, alimento e suprimentos. Fortificado e defensível. Retomá-lo é só o primeiro passo. De lá, nos fazemos nosso próprio ataque. Nós passamos ao papel de predadores. Nós caçamos os invasores. Nós acabamos com os corruptores. Nós nos espalhamos pela terra e retomamos o que é nosso.” Ele chicoteou o ar com seu sural. “Nós retomaremos Zendikar!”
Ele olhou para todos os zendikari ali reunidos. “Quem vem comigo?”
Após um longo momento, Sybil ergueu o punho. “Por Zendikar!”
“Por Zendikar!” Abeena também bradou.
Os brados emergiam da multidão reunida com tanta força, que as vozes faziam o chão do edro tremer. “Por Zendikar!”
Gideon olhou para Tazri. Ela estava de pé ao lado dele, de braços cruzados.
“Não vou partir,” jurou Gideon. “Estou aqui até o fim.”
Tazri encontrou o olhar de Gideon.
“Você tem a minha palavra,” ele disse. “Eu vou participar da batalha por Zendikar.”
O halo em torno do pescoço de Tazri brilhou intensamente, sua luz refletida nos olhos marejados dela. Ela assentiu com a cabeça.
“Por Zendikar, Comandante, eu também entrarei na batalha.”
Traduzido por Meg Fornazari
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