Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

ODRIC, ESTRATEGISTA MESTRE

Um pregador da cidade gritava as notícias da noite em uma rua de paralelepípedos, sob uma janela aberta. “Execução na Muralha sem Sangue! Amanhã, ao nascer do sol! Os Curandeiros da Garça estarão na Muralha das Crianças amanhã…”

Da última vez que Odric olhou pela janela, era o começo da tarde. Agora uma névoa fria se instalara em Thraben e a cidade estava envolta nas sombras noturnas. Onde está a lua? O braço de Odric estremeceu involuntariamente, quase derrubando o frasco de tinta. Não, ele se lembrou. Isso não importa mais. As fases da lua não eram mais preditoras de vida e morte agora que Avacyn havia retornado e purificado o mundo. Ou pelo menos começado

Ele olhou sobre a mesa de carvalho para Grete, sua tenente, que parecia surpresa com o movimento repentino. Sir Odric, Estrategista Mestre, Comandante dos Cavaleiros de Gavony e Guardião da Lança de Prata, não se assustava facilmente.

“Senhor?” Grete perguntou.

“A escuridão caiu,” ele disse. Ela olhou pela janela, e ele viu emoções semelhantes atingirem suas feições. Nós passamos muitos anos como presas. Muitos anos encolhidos nas sombras.

Arte de Karl Kopinski
“Ainda não há sinal de Ludevic,” continuou Grete, examinando o pergaminho. “Um moleiro o avistou próximo a Estwald, mas ele desapareceu antes que os cátaros pudessem detê-lo. Então a caçada continua.”

Apenas o pensamento do alquimista louco fez sua cabeça doer. Odric recostou-se e pressionou as palmas das mãos contra as têmporas. Esta fora uma tarefa temporária – uma que ele havia solicitado na esperança de obter a atenção do anjo de Innistrad. Cada regimento enviava relatórios diários do que eles encontravam no campo. A partir desses relatórios, Odric estava descobrindo onde o poder da Igreja ainda estava sendo ameaçado. Mas ele não gostava de ficar sentado em uma cadeira de couro em uma sala na catedral. Ele era um homem do campo de batalha, muito mais adequado para manobras de combate do que negociar as políticas da Igreja de Avacyn.

“E seus amigos ao redor de Hanweir?” Odric perguntou e foi recompensado com um pequeno sorriso da sempre séria Grete. Ela havia liderado um ataque contra uma legião de carniçais que estava devastando os pântanos, um sucesso que lhe valeu a promoção de ser a segundo em comando.

Tocha Flamejante | Arte de Michael Komarck

“Estamos caçando os últimos retardatários. Gisa está sendo transportada da Muralha dos Cavaleiros para Thraben na semana que vem.”

“Triplique a escolta,” disse Odric. “Ela causou problemas suficientes na minha vida.”

Grete assentiu e examinou o último despacho. Apenas mais alguns dias e os deveres administrativos de Odric em Thraben estariam concluídos. Seu tempo aqui tinha sido valioso. Ele soube que os demônios ainda estavam à solta, mas a própria Avacyn estava focada nos fugitivos da Câmara Infernal. A atividade necromântica ainda atormentava os pântanos, mas nada como no apogeu da tirania de Gisa e Geralf. As forças de Sigarda estavam caçando os autores do Massacre de Nefália. Os vampiros conseguiram tudo, exceto voltar para Stensia. Algum dia, em breve, eu mesmo expurgarei aquela província, mas primeiro devo me assegurar de que terei as bênçãos de Avacyn.

“O filho do prefeito em Torbach desceu a margem do rio e quebrou a perna.”

Odric suspirou. “O prefeito de Torbach realmente pede a ajuda da Igreja para consertar a perna de um menino?”

“Diz que ele caiu fugindo de um… lobisomem. Mais tarde ele morreu de febre e gangrena.”

Quando Odric se levantou, sentiu como se uma armadilha de aço tivesse se fechado em torno de seu estômago. Todas as manhãs desde que o Calar das Maldições livrara a terra da maldição da licantropia, ele caía de joelhos agradecendo a bênção de Avacyn. Mas, em seu coração, ele duvidava. E se os lupíneos revertessem para um estado assassino? E se as abominações que mataram tantos de seus parentes retornassem?

“Levante o nosso regimento,” ele disse a Grete. “Parece que nossos dias em Thraben chegaram a um abrupto final.”

Odric, Estrategista Mestre | Arte de Michael Komarck

O prefeito de Torbach era um administrador pomposo e de rosto vermelho que assumiu o poder depois que Avacyn retornou. Uma ovelha com roupas extravagantes, pensou Odric. Não é um líder durante as horas mais sombrias. O prefeito estava tagarelando com eles desde que chegaram aos seus aposentos. Grete se mexia desconfortavelmente ao lado de Odric, sem dúvida se perguntando por que ele deixava esse discurso prolongar-se por tanto tempo.

“Eu exijo saber! Que nova demonologia é essa? Lobisomens caminham mesmo durante a lua minguante? Você não garantiu que essa maldição foi tirada de nós? Esses lupíneos podem nos matar mesmo durante a luz do dia?”

“Senhor, não há razão para acreditar que um lupíneo -” Odric disse.

“Matou a viúva da colina do Coração Amargo!” o prefeito interrompeu. “Destruiu sua cabana na noite passada! E ficou um longo tempo embaixo de seu teto. Talvez tenha dormido um pouco? Cozido um pouco de carne em sua lareira?”

“A criatura estava na cabana dela?” Odric perguntou.

“Esta criatura vil está aterrorizando minha aldeia. Onde estão os anjos? Os cátaros perdem tempo construindo pontes e aparando macieiras e…”

“Mais uma pergunta,” Odric interrompeu. “Ela atacou outras cabanas? Ou apenas a da viúva?”

“Cabanas, não. Mas meu filho! Ele era apenas um menino…”

Odric colocou a mão no ombro do prefeito. Ao seu toque, o homem parou abruptamente de falar e lágrimas brotaram em seus olhos castanhos.

“Vamos encontrar o monstro que matou seu filho e colocar sua cabeça em uma lança,” assegurou Odric ao prefeito, que perdera sua arrogância e parecia não ter mais palavras para eles. Odric e Grete voltaram para a rua, onde seus cavalos esperavam.

“Ele agiu como se tudo fosse culpa nossa,” disse Grete com raiva.

“Ele é um homem de luto,” respondeu Odric. Um homem que perdeu um filho para um lobisomem, ele pensou. Assim como eu.

Desgraça de Hanweir | Arte de Wayne Reynolds

Enquanto cavalgavam em direção à orla da aldeia, o sol vermelho se punha no horizonte. Acima, uma lasca de lua pálida apareceu nos céus índigo. As fases da lua já foram a mão orientadora de Odric. A forma da lua figurava em suas táticas de batalha tanto quanto as rotas de suprimento e o moral de seus cátaros. Odric passou anos observando o céu noturno, observando como a lua tocava o mundo de maneiras inesperadas. Algumas pareciam triviais. As folhas do ácer se curvaram para baixo durante a lua cheia. Outras foram cruciais para a sobrevivência. Carniçais se moviam mais rápido durante a lua nova. Uma lua crescente trazia brigas sobrenaturais entre as fileiras. Com o Calar das Maldições de Avacyn, Odric sentiu secretamente que perdera uma de suas vantagens táticas. A lua estava jogando novos jogos e Odric ainda precisava aprender as regras.

“O que você acha?” Grete perguntou acima do baque dos cascos dos cavalos.

“Eu sabia sobre a viúva que foi morta. Eles a chamavam de Bruxa do Coração Amargo. Lembra como ele disse que a coisa ficou na cabana dela? Alguma coisa nela atraiu o monstro. Vamos colocar uma armadilha lá perto.”

Enquanto aceleravam os cavalos e se encaminhavam para o acampamento, os olhos de Odric fixaram-se no padrão de névoa ao redor do pequeno manto no céu. Qualquer que fosse o mal que agora se manifestasse, ele pararia na sombra da cabana da viúva. Odric fixaria sua cabeça nos portões de Thraben.

À meia-noite, não havia nenhuma lua. Ele e Grete estavam na vegetação à beira de uma clareira. A única luz vinha do orbe espanta-bruxa, uma proteção mágica contra maldições que pairavam na borda das árvores. O feitiço era criação da viúva, de um tempo antes de ela ter sido expulsa pelos aldeões como uma bruxa. Odric derramara o sangue da viúva no chão abaixo do orbe. Sangue que ele tirara de seu cadáver sem vida nas catacumbas da igreja local.

O estranho era que, quando ele viu seu cadáver, não notou sinais de violência. Não havia evidências de que ela tivesse sido morta por um ataque de lobisomem, o que Odric assumira depois de conversar com o prefeito. Ela parecia tranquila o suficiente para ter morrido de velhice.

Orbe Espanta-Bruxa | Arte de John Avon

Um assovio interrompeu o silêncio da noite. Ele o reconheceu como o sinal de um cátaro de que algo passara pelo perímetro de batedores que ele colocara ao redor do bosque. Ele olhou para Grete, e ela silenciosamente se levantou e desapareceu nas sombras. Odric se moveu agachado, esperando pelo segundo sinal, que confirmaria se era natural ou não…

O sinal veio de novo, com urgência. Sobrenatural, então.

Odric a viu antes de ouvi-la. Uma sombra – muito mais alta do que um homem comum – se estendia pela clareira. Ele lutara contra inúmeros lobisomens e nenhum se movera com tal deliberação silenciosa. Odric olhou para o céu escuro, subitamente duvidando de sua estratégia. Mas a monstruosidade havia entrado na clareira e se lançava ao cheiro do sangue da viúva. O que quer que estivesse se aproximando, não havia tempo para questionar o plano. O medo não tem lugar no plano de batalha da fé.

Odric gritou para os cátaros nas copas das árvores, que derrubaram a pesada rede, jogando o enorme corpo da criatura no chão da floresta. Odric correu em direção a ela enquanto lutava sob as cordas. Ele desembainhou a espada enquanto corria, pronto para atravessar as cordas e a garganta com um só golpe.

“Espere!” Grete gritou, tentando interceptar seu comandante. “Espere! Ela está com um machado!”

Cruzado de Odric | Arte de Michael Komarck

Odric congelou, vendo a enorme arma no chão atrás do monstro. Então ele viu o braço – um braço humano – uma mão e olhos humanos, olhando de um rosto abatido riscado por veias negras adoecidas.

“Em nome de Avacyn,” Odric trovejou. “O que você é?”

“Estou enfraquecido, amaldiçoado e não sou ameaça para você,” ele disse. “Eu sou Garruk Falabravo…”

Garruk, o Amaldiçoado pelo Véu | Arte de Eric Deschamps

A voz gutural enfureceu Odric. Todo cadáver que havia sido mutilado por um lobisomem passou pela sua memória. Ele nunca esqueceria a carnificina crua dos ataques e a raiva sem sentido que deixava corpos humanos em farrapos ensanguentados. A única maneira que Odric poderia compreender esses assassinatos era se eles fossem feitos por bestas irracionais. Bestas irracionais não têm linguagem ou voz para falar. E jamais um nome. Garruk Falabravo. Mesmo quando Odric matara lobisomens em forma humana, eles nunca falaram seus nomes. Em sua mente, a maldição despojou-os de qualquer identidade humana que eles possuíssem.

Odric bateu com a ponta grossa da espada contra a têmpora do monstro, ouvindo o estalo do crânio quando ele se partiu sob o peso do golpe. Ele caiu no chão. Ele arrancou a rede do monstro e pegou um punhado de seu cabelo comprido e emaranhado. Ele puxou para suas costas, para expor a garganta nua, onde a força vital ainda pulsava através de suas veias artificiais.

“Espere!” Grete disse em seu ombro.

Odric levantou a espada. Um golpe para separar a cabeça do corpo.

“Não é um lobisomem! Senhor, as bênçãos de Avacyn não nos desapontaram.”

Ele queria a cabeça. Vou jogá-la aos pés de Avacyn e gritar o nome de cada pessoa assassinada em sua ausência.

“Vamos levá-lo para Thraben – vivo. Deixe os dias de chacina para trás. É um novo dia em Innistrad.”

Ele queria gritar com ela também. Ela lutou as mesmas guerras e viveu no mesmo mundo medonho que ele. Mas, ao contrário dele, sua consciência estava imaculada. Ela ainda está esperançosa. A compaixão de Grete a mataria algum dia. Algum dia, em breve. Odric soltou o monstro e embainhou sua espada.

“Drogue-o e amarre-o. É um longo caminho de volta para Thraben. Deixe Avacyn medir o valor de sua vida.”

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