Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

O PRIMEIRO MUNDO É O MAIS DIFÍCIL

Quando conhecemos Ob Nixilis, ele era um demônio temível – mas sem asas -, um ex-planinauta que de alguma forma ficara preso em Zendikar. Na próxima vez que o vimos em uma carta, ele havia recuperado parte de seu poder anterior, quando o fragmento de edro embutido em sua cabeça foi removido. Apesar disso, ele permanece incapaz de deixar Zendikar por enquanto, como mostra a história “Sonhos do Amaldiçoado”.

Mas esse é o presente de Ob Nixilis. E quanto ao seu passado? O lançamento de Commander 2014 nos deu um vislumbre de como ele era como um planinauta humano, antes de se tornar um demônio.

Hoje, nós olharemos ainda mais para trás, para ouvir sobre a vida do homem chamado Ob Nixilis em suas próprias palavras…

Chamar o barulho de batalha de rugido é fazer uma injustiça. É um desprezo pela majestade do som. É uma sinfonia. O baixo e grave estrondo das máquinas de cerco, a batida de pedras das catapultas, silenciosas no céu, então esmagando exércitos de homens em sucata e pasta. O estridente, crescente, guincho de aço, homens e bestas, monstros e coisas piores, onda após onda de carnificina.

Acima de tudo, o coro. Gritos de triunfo, de medo, de dor, de raiva. Milhares de vozes prestadas a uma mesma causa.

“Meu senhor, nossos inimigos estão se preparando para recuar. Seus flancos foram rompidos. Quais são as suas ordens?” Meu tenente se curvou. Eu não pude deixar de notar, sem uma pequena quantidade de decepção, o quão limpa sua armadura estava.

“Mande duas divisões para o desfiladeiro, impeça a fuga.”

Ele se encolheu. “Isso colocará duas divisões das nossas tropas mais cansadas contra as menos cansadas deles. Haverá pesadas perdas.”

“E ainda assim, vamos garantir os suprimentos que precisamos. Você sabe onde estamos, Tenente? Olhe ao seu redor. O que você vê?”

Ele examinou o horizonte. “Eu não sei, senhor. Um campo. Pedras. Algumas ruínas.”

Ruína Enterrada | Arte de Franz Vohwinkel

“É verdade – algumas ruínas. As pessoas que viviam neste lugar eram chamadas de keocianas. Seu império durou quase trezentos anos, antes de provocar o Sétimo Cataclismo. Eles eram invocadores de demônios; os melhores que esse mundo já viu. Artesãos de magia e guerra, a língua deles era uma predecessora direta da nossa, apesar de que adotamos nosso alfabeto moderno do Liex. Eles tinham uma palavra que significava ‘vitória a qualquer custo’. Você sabe qual era?”

Ele balançou sua cabeça.

“Vitória. A distinção é para almas menores do que as nossas.” Fiz um gesto para meu escudeiro, que me entregou meu elmo. Fui até a linha de frente para me juntar ao ataque.

Quando o trabalho terminou, olhei para o céu coberto de fuligem. O ar estava seco e sujo, mas parecia maravilhoso quando encheu meus pulmões. A vitória era doce, não importava a circunstância.

Um batedor voltou, parte de sua armadura manchada de sangue. “Dois estandartes se aproximando do noroeste, meu senhor. O de Velanti e o de Raximar.”

Eu franzi a testa. “Os Velanti não informaram que suas forças estariam em nenhum lugar da região. E os Raximar? Quantos e em quanto tempo eles chegarão?”

“Uma legião completa, cavalaria, sem equipamentos para cerco. Nós estamos presos entre a cavalaria deles e os Velanti.”

“Então nós fomos traídos. Interessante.” O olhar de pânico no rosto do batedor me fez sorrir. “Nós fizemos um movimento, e Lorde Raximar fez um melhor. Eu meio que esperava que os Velanti nos vendessem, mas eu não esperava que eles escolhessem um momento tão excelente para fazê-lo.”

“O que nós fazemos?”

“Nada. Se Raximar estiver disposto a negociar, nós conversaremos. Se não, nós morreremos.”

A tenda de guerra do Lorde Raximar era uma demonstração de tudo que eu odiava sobre ele. Era uma corte móvel, enorme e opulenta. Penduradas nas paredes havia tapeçarias mostrando relatos de suas conquistas militares. Elas eram bastante verídicas, já que Raximar não era propenso a exageros, mas o talento artístico era ruim. Por que se preocupar em comemorar um momento se você não estiver disposto a gastar tempo e esforço para fazê-lo corretamente? Lorde Raximar estava sentado no topo de um trono real, usando sua armadura de corte. Muitos senhores faziam isso, claro. Funcional até certo ponto, pois nenhum homem ou mulher sã encontraria outro guerreiro sem armadura. Mas era uma declaração sobre o quão seguro você se sentia em sua casa. Frequentemente, uma declaração arrogante.

Raximar era um homem enorme, barbudo e sorridente. “Ah, Senhor Nixilis. É um prazer vê-lo novamente. Minhas desculpas pelas circunstâncias.”

Fui levado para o aposento desarmado, mas eles não me tiraram a armadura. Não seriam poucos os que teriam morrido se tivessem tentado. Inclinei minha cabeça.

Ele continuou. “Meus cumprimentos sobre a condição de suas forças. A maioria disciplinada na renúncia. Você os treinou bem.”

“E meus cumprimentos em escolher Velanti como co-conspirador. Pequeno o suficiente para ser coagido, perto o bastante do meu comando para ter inteligência útil, e eles fizeram uma boa demonstração de lealdade ao longo dos anos – eu nunca suspeitei de sua traição.”

“Você sabe que Earl Velanti ainda o considera responsável pela morte de seu filho. É tudo por causa disso.”

Eu ri. “Eu espero que sim! Eu esperava que o filhote morresse, e ele morreu. O menino era um espadachim terrível.”

Raximar franziu a testa. “Há aqueles de nós que querem algo melhor que isso, Lorde Nixilis. Que querem unir essas pessoas. Acabar com essa luta. Começar a construir novamente.”

“Dito como um homem que nunca estudou nossa história. Sim, houve tempos de paz. Décadas, até. Mas então nós revelamos nossas verdadeiras naturezas novamente. Quanto maior a aliança, mais brutal o colapso. E quando o Cataclismo vem, e sempre acontece, o caos vem com ele. Ruínas. Eu gosto mais do meu plano.”

“Governar cemitérios e campos encharcados de sangue?!”

Eu sorri abertamente.

“Não importa. Seus dias de conquista estão terminados. Eu te ofereço submissão, ou podemos conduzir sua execução pela manhã.”

Eu murmurei sete palavras sob minha respiração. Raximar sacudiu a cabeça enquanto nossas orelhas estalavam.

“O quê? Eu não ouvi.”

Eu estalei meus dedos e um dos guardas de Raximar estremeceu. O guarda deu passos desequilibrados e irregulares em minha direção, puxou sua grande espada e a entregou para mim. Eu estalei meus dedos novamente e os outros seis guardas na sala caíram sem vida no chão. A onda de magia gasta tinha gosto de piche quente no fundo da minha garganta.

Raximar desembainhou sua espada e se levantou, tomando um momento para se orientar. “O que é isso? Guardas!”

Eu sorri. “Nenhum som sairá deste lugar pelos próximos minutos. E sua guarda mais próxima? Eu os amaldiçoei anos atrás. Até este momento, eu não tinha certeza se o encantamento duraria tanto tempo. Sorte minha.”

Raximar olhou em volta freneticamente e não disse nada.

“Eis o que vai acontecer. Você e eu vamos nos confrontar em um rito de desafio, e então eu vou assumir suas forças.”

Ele zombou. “Você nunca pensou por um momento nos códigos antigos! Rito de desafio? Ridículo!”

“Você está certo, é claro. É um absurdo. Mas você tem a reputação de ser um homem honrado. É o tipo de coisa estúpida que você faria. E de qualquer forma, eu vou te matar e contar ao restante dos seus homens que foi isso o que aconteceu. Então nós podemos fazê-lo.”

Raximar encaixou seu capacete no rosto vermelho e brilhante. “Você é um covarde, Nixilis. Se é assim que você quer morrer, que seja.”

Eu fiquei em postura defensiva e levantei a ponta da minha espada larga para ele.

“Início.”

A espada larga é uma arma facilmente mal compreendida. Um novato sente o peso e o poder impressionante da arma e conclui que ela recompensa a força pura. Nada poderia estar mais longe da verdade. É uma ferramenta indescritivelmente complexa, uma alavanca e uma cunha para empurrar, especialmente contra um bruto como Raximar, não um grande pedaço de metal para ser girado com toda a força que você puder.

Montante | Arte de Nic Klein

Raximar era maior, mais rápido e mais jovem. Ele poderia praticamente usar sua lâmina com uma mão, e a força esmagadora que ele conseguiria gerar poderia quebrar pedra e osso igualmente. Então eu deixei ele vir até mim. Ele iniciou com uma série de golpes amplos, na diagonal, e eu mantive minha distância, apenas na borda do seu alcance. Eu mantive meu contrapeso baixo, tentando evitar a necessidade de realmente aparar um de seus ataques. Uma aparada difícil é tão ruim quanto ser atingido. Ele fez um corte lateral gigante e eu entrei para encontrá-lo. Quando o corte se aproximou, eu virei a espada para baixo, redirecionando o ataque para cima da minha cabeça. Isso me deixou em posição de dar um golpe esmagador no quadril direito de Raximar; apesar de sua armadura, eu sabia que tinha danificado o osso. Ele se encolheu fortemente, mas, para seu crédito, ele ficou de pé.

Mas isso era irrelevante. Uma ferida assim limitava sua mobilidade e, contra um oponente disposto a lutar pacientemente, isso significava que a luta terminara. Eu o desgastei nos dois minutos seguintes, com um golpe de raspão em seu ombro, depois um corte rápido no joelho esquerdo. Ele tropeçou com um golpe desesperado, e eu golpeei seus pulsos com minha espada, quebrando ambos e jogando a espada para longe.

Raximar caiu de joelhos, mal conseguindo segurar seu corpo no chão. Ele estava ofegante, desesperado por ar, desesperado por uma saída. Eu enfiei a espada na sua nuca, e estava acabado.

As coisas desmoronaram muito rapidamente depois disso.

As tropas de Raximar, por algum motivo, duvidaram da minha versão dos acontecimentos. Eu lutei para abrir meu caminho de volta para minhas tropas, mas todos os meus homens tinham ficado de pé, esperando o resultado das minhas negociações. Alguns dos que me eram leais me ajudaram a sair do campo de Raximar, mas estava claro que seríamos caçados uma segunda vez, desta vez com menos cerimônia do que naa primeira.

Eu fugi para as colinas e ruínas.

Nós lutamos contra uma série de escaramuçadores enquanto nos retirávamos. Muitos das minhas tropas preferiram se render em vez de morrer. Em retrospecto, estou impressionado com o fato de que alguns deles foram tolos o suficiente para entregarem suas vidas por mim. Corremos e corremos, cada vez menos, até que finalmente restaram apenas três de nós para nos escondermos em uma caverna. Ela era profunda e podíamos ouvir a água. Nós selamos a entrada. Aquele seria o nosso fim, mas poderíamos fazê-lo nos nossos termos.

“Devemos descer e continuar lutando,” ofereceu uma capitã que ficou comigo até o fim. Eu não conseguia lembrar o nome dela, mas este não parece o momento certo para falar disso. “Eles terão que pagar pela minha vida na mesma moeda.”

O segundo homem, um soldado comum, sentou-se e soluçou. “Não importa. Morto está morto. E nós estamos mortos. Estamos mortos.”

Mas meus olhos foram atraídos para as paredes da caverna. “Essas parecem pedras trabalhadas para vocês?”

Meus companheiros não pareciam me ouvir. Mas eu estava certo. O chão da caverna certamente tinha sido alisado, e as paredes também eram lisas demais para serem naturais. Eu queria uma pequena luz e caminhei profundamente para a escuridão.

Demorei algum tempo para limpar o túnel desmoronado, mas do outro lado havia uma pequena câmara. Eu a reconheci imediatamente de minhas pesquisas. Era uma câmara de invocação keociana e estava inteiramente intacta.

Sem meus materiais de referência, as inscrições levaram algum tempo para serem decifradas, mas o ponto crucial era bastante simples. Dois pedestais, cada um com uma grande tigela de obsidiana. Você enche cada tigela de sangue e coloca uma mão em cada uma. A partir disso, a câmara faria o resto. E aconteceu de eu ter duas vidas comigo para encher as tigelas.

Conluio de Sangue | Arte de Seb McKinnon

Meus companheiros conseguiram seus desejos. Um morreu lutando. O outro morreu uma morte sem sentido. Eu enchi as duas taças de pedra com seu sangue vital, e quando terminei, você não poderia dizer qual era qual.

O resto do ritual foi risivelmente fácil. Seres de poder querem ser chamados. Eles querem servir ao seu propósito. Tenho certeza de que cometi um erro ou dois na pronúncia, mas não importava nem um pouco. As portas que seguravam os seres que invoquei eram finas e, quando as abri, empurraram do outro lado. Uma criança poderia ter feito isso. Eles queriam vir.

Eu os senti em minha mente. Eles procuraram mais ou menos pelos meus desejos. Eu tentei direcioná-los, focá-los no problema em questão, para limpar as forças que me cercavam. Mas eles sabiam melhor. Eles sabiam o que eu realmente queria. Eles fizeram como eu pedi.

Eles acabaram com o mundo.

O processo foi completamente mundano. Nenhum vento uivante, nenhuma erupção de fogo e sangue, nenhuma decapagem da terra por coisas voadoras vorazes. Apenas acabou. Toda alma vivente simplesmente caiu e morreu. Daqueles que escavavam através do desmoronamento para me alcançar, até um fazendeiro em um distante continente. Eles simplesmente morreram. Todos eles.

Exceto eu.

Eu andei sobre a paisagem arada por dias para ter certeza. Acampamentos cheios de carne podre. Fortificações guarnecidas apenas por cadáveres. No décimo dia, notei a criatura me seguindo. Naquela noite, ela se juntou a mim na fogueira.

Ela assumiu minha forma, até o mais ínfimo detalhe, mas sua voz era como um vazio.

“Parabéns, Senhor Nixilis. Você conseguiu. Você trouxe a paz para este mundo.”

“Paz. Sim, suponho que consegui.”

“O Oitavo e Último cataclismo. Você desempenhou bem o seu papel.”

“Séculos de guerra. Possivelmente milênios. Para isso?”

“Mundos são criados e destruídos como brinquedos para seres maiores do que nós. Fomos feitos para entregar uma recompensa a um preço.”

Eu sorri. “Aqui senta Ob Nixilis, único sobrevivente de um mundo que só conheceu a guerra, é isso? Muito bem. É um destino melhor do que o resto deles teve.” Eu puxei um frasco de água do meu pacote. “Um brinde para mim, então.”

Tomei um gole e olhei em volta. Eu estava completamente sozinho.

Ob Nixilis of the Black Oath | Arte de Daarken

O absurdo daquilo tudo me inundou como uma onda. Uma vida inteira lutando por poder e controle, quando o tempo todo eu estava dançando em outro palco. Toda a minha ambição, todo o meu desejo, todo o meu estudo, trabalho e dor. Tudo por nada. Era o fim do mundo. Era o que eu sempre quis. Era uma armadilha feita para mim, milhares de anos antes do meu nascimento.

Eu ri até engasgar. Eu caí no chão, de mãos e joelhos, lamentando e ofegando. O fim do mundo.

Ficou muito escuro.

Quando abri os olhos novamente, olhei para um novo mundo.

Ele caiu muito mais facilmente do que o primeiro.

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