Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

EPISÓDIO 02: LIÇÕES

Tavver não sabia quanto tempo havia esperado naquele túnel apertado sob o Biblioplexo – horas, certamente, embora parecesse muito mais tempo. Ele não se sentia seguro se movendo durante o dia; eventualmente, ele teria que emergir da passagem subterrânea e cruzar a ravina que separa a escola dos bosques circundantes. Depois disso, ele estaria coberto pelas árvores, principalmente, mas mesmo aquilo não seria proteção contra ser visto. Esta era uma escola cheia de magos – malditos! Os melhores magos de Arcávios, não importa o que o outro Oriq dissesse sobre todos serem pirralhos indignos. E se um dos Fundadores sobrevoasse por acaso? Ele não tinha interesse em ser incinerado por chamas de dragão. Não, Tavver sempre se considerou um pragmático. Então, muito pragmaticamente, ele esperou até o anoitecer.

Ele não estava animado com a possibilidade de enfrentar Extus novamente – não depois de falhar em sua missão. Mas ele se preocuparia com isso quando saísse vivo. Tavver tinha visto a verdadeira escuridão nos olhos violetas da professora. Ela queria matá-lo – e por quê? Para que Extus pudesse ter algum livro velho e empoeirado de que ele se lembrava tantos anos atrás?

Finalmente, com o cair da noite, ele pode começar a difícil jornada de volta para casa através da floresta e sobre as falésias rochosas. Seria uma longa noite.

Três semanas atrás, antes de Lukka conhecer os magos Oriq – antes deles o sequestrarem, na verdade – ele apertou os olhos contra a luz, o estômago ainda agitado por causa do transplanar. Nunca era uma sensação agradável. Do outro lado do campo gramado à sua frente havia uma pequena aldeia. Ele podia ver algumas pessoas circulando; uma mulher estava acenando com as mãos sobre uma fileira de terra arada, murmurando um feitiço de crescimento, enquanto outra ordenou que o que parecia ser um construto de lama arrastasse o arado pelo campo.

Ele vagou por estradas de chão até que o cheiro de comida o levou para uma pousada. Ignorando os olhares e sussurros das pessoas sentadas nas mesas atarracadas de madeira, Lukka se sentou ao balcão de madeira.

Procurando por alguma coisa, estranho?” disse o estalajadeiro, um homem redondo com longos cachos.

Uma refeição quente,” disse Lukka. O estalajadeiro hesitou como se fosse dizer algo, depois acenou com a cabeça e dirigiu-se à cozinha.

Nunca vi roupas assim antes,” veio uma voz atrás de Lukka. “Você não é daqui, eu imagino.”

Ele se virou. Um homem alto com as mesmas roupas ásperas que o resto da população havia se levantado de sua mesa e estava se aproximando.

Não,” disse Lukka. “Acho que não sou.”

Sabe quem dizem que se veste de forma estranha e age estranhamente? Vindo a pequenas cidades como a nossa para recrutar? Os Oriq,” disse o homem atrás dele. Seu tom estava longe de ser amigável.

Eu não sei do que você está falando.”

Talvez sim. Talvez não. De onde você é, então?”

Lukka manteve os olhos fixos à frente, sem se importar nem em olhar para o homem tagarela. “Você não conheceria.”

Ele ouviu o homem chupar os dentes. O estalajadeiro ainda não havia voltado da cozinha. Lukka estava começando a duvidar que ele voltaria.

Ok, Oriq, acho que já ouvi o suficiente. Não aceitamos bem os intrometidos nesta cidade, ou aqueles que procuram perturbar a paz. Se fôssemos uma cidade adequada, iríamos ao mais próximo e menos ocupado Guarda Dracônico para lidar com você. Mas nós somos apenas uma pequena aldeia agrícola, então aprendemos a lidar com estranhos nós mesmos.”

Lukka sentiu, em vez de ver, a onda de magia quando o homem começou um feitiço. Todo mundo é um maldito mago neste plano? Ele se virou e, em um movimento fluido, bateu com o punho na mandíbula do homem. O homem caiu molemente, a energia tênue enrolada em torno de uma das mãos se dissipando. Lukka teve um instante para respirar antes que outro homem entrasse pela porta da pousada, uma bola de fogo pairando sobre uma das mãos estendidas. Lukka deu alguns passos antes do raio de fogo espirrar nas costas de seu casaco, jogando-o através do vidro de uma janela próxima e para a rua.

O fedor de couro carbonizado encheu seu nariz, misturando-se com a dor lancinante em seus ombros. Lukka rosnou e projetou seus sentidos sobre a aldeia, encontrando todas as mentes vulneráveis que pôde. Ele chamou por eles, tropeçando em seus pés.

O atirador de bolas de fogo havia deixado a estalagem e se juntou a dois outros cidadãos de aparência corpulenta do lado de fora. “Onde estão seus amigos? Nós sabemos que sua escória Oriq gosta de viajar em bandos.”

Ah, eles chegarão a qualquer minuto,” disse Lukka.

O homem ergueu a mão e começou a enchê-la mais uma vez com fogo. Antes que ele pudesse terminar, um cachorro saltou no ar, seus dentes afiados brilhando enquanto afundavam no braço dele. O homem gritou, as chamas se apagando enquanto ele lutava para se libertar. Ele conseguiu soltar o braço no momento em que um cavalo investiu contra ele. Ele e seu companheiro pularam para fora do caminho, mas o cavalo os seguiu, impulsionado pela fúria de Lukka. Ele empinou, depois desceu os cascos com força.

O sorriso malicioso de Lukka desapareceu quando a fome atingiu seu estômago. Ele cambaleou pela estrada, sua mente distraidamente seguindo a luta entre as feras, até que o barulho desapareceu atrás dele.

Normalmente, refletiu Liliana, não se entra voluntariamente no covil de uma dragoa – ou se o faz, é com um desejo de morte e algumas lâminas muito afiadas. Ela não tinha nenhum dos dois enquanto se aproximava do bosque emaranhado onde Beledros Murchaflor definiu como moradia. Tudo o que ela trouxe foram perguntas que precisavam de respostas.

Ela afastou um galho baixo, tentando fazer o máximo de barulho possível. Aproximar-se de um dragão era uma ideia ainda pior do que visitar um. Mas o ninho estava vazio, apenas uma grande área de folhagem pressionada contra a terra, e Liliana se sentiu aliviada, apesar de tudo. Nicol Bolas se foi. O que estou realmente evitando?

O covil era cercado por árvores de folhas escuras inclinadas sobre o buraco na terra como jurados. O cheiro de decomposição se misturava com terra fresca, mas Liliana sabia que Beledros tinha uma coleção formidável de escritos arcanos escondidos. Esferas brilhantes de vários tamanhos se acomodavam em estruturas de raízes massivas, protegendo seu conteúdo do ar úmido. Talvez houvesse algo nos livros e pergaminhos que pudesse ajudá-la a trazer Gideon de volta. Liliana olhou para um dos globos, com cuidado para não ficar presa na lama espessa sob os pés.

Ela estava olhando através da quinta esfera quando o som de asas chamou sua atenção para o céu. Liliana respirou fundo e lembrou-se de ajeitar o uniforme de professora quando a sombra de Beledros Murchaflor passou por ela.

Arte de Raymond Swanland

Beledros circulou o local duas vezes antes de pousar com um tremor. Ela dobrou para trás suas asas de penas pretas enquanto estudava Liliana com aqueles olhos brilhantes e misteriosos. “Taiva pode ser duro às vezes, mas certamente lidar com ele não é tão problemático quanto caminhar até aqui, Professora.”

O que eu preciso não é algo com que o diretor possa me ajudar.”

Beledros lançou um olhar que Liliana achou curioso.

Eu encontrei alguns dos seus trabalhos sobre reincorporação etérica.” Liliana puxou um pedaço de metal pontudo do bolso. Era o único pedaço de Gideon que ela tinha, uma ponta de uma das lâminas de seu sural. “O que seria necessário para esses métodos funcionarem em humanos?”

Beledros fez um barulho estrondoso, o som vibrando no chão abaixo dela. “Isso cheira a uma espécie de intromissão perigosa para mim. É melhor deixar algumas perguntas sem resposta.”

Não vim aqui para uma palestra. Só quero uma resposta simples.”

Quando se trata de éter, não existem respostas simples.” Beledros passou por Liliana, abrindo caminho para uma cavidade mais profunda na lateral da cratera. Ela se virou e se deitou, envolvendo a cauda em torno de sua forma maciça. “Você fala da própria essência da vida. Ela não pode ser treinada como um animal de estimação. Ressurreição – além da necromancia mais básica, você sabe – é algo terrivelmente difícil, até para mim.”

Liliana apertou a mandíbula. “E o caso do filho do Professor Gladefell?”

A dragoa ficou imóvel, cada enorme olho roxo um poço sem fundo. “Não. Isso foi… algo que não se repetirá. Para o bem de todos.”

Eu não sou um estudante rebelde, Beledros.” Liliana deu um passo em direção à dragoa, a lâmina fria de Gideon em sua mão. “Eu não preciso ser mimada e nem da sua proteção.”

Talvez não,” Beledros disse. “Mas não é você que eu protegeria.”

Por que você se importaria com os humanos, afinal? Eu imagino que somos pouco mais do que insetos para você. Nenhum dos Fundadores vai à universidade há anos.”

A dragoa virou a cabeça e fechou seus enormes olhos pálpebras pesadas. “Os decanos são mais do que capazes de manter a ordem e a paz. Assim como os Guardas Dracônicos e o Oráculo.” Ela soltou uma pequena risada, mexendo a camada nas folhas em decomposição e palha morta sob elas. “Até os Arcaicos fazem sua parte.”

Liliana cravou as unhas em sua palma. A dragoa tinha que saber mais do que estava demonstrando. E esta era sua última esperança. A última esperança de Gideon. “Por favor. Ele morreu em meu lugar. Ajude-me a trazê-lo de volta à vida.”

Beledros abriu um olho e olhou para ela por um momento. O vento soprava por cima das paredes da cratera, agitando as árvores escuras que cercavam o covil. Finalmente, ela fechou os olhos novamente. “Não posso.”

Um espasmo de dor na mão de Liliana anunciou que ela havia agarrado o pedaço do sural um pouco mais apertado. Ela olhou para sua palma sangrando, tentando acalmar a tempestade de suas emoções. Esta não era uma luta que ela poderia vencer com força ou vontade absoluta. Liliana colocou a lâmina de volta no bolso e se virou para sair. Ela estava na metade da cratera quando Beledros falou.

A dor pode ser insuportável às vezes. Mas, no final, a forma como honramos os mortos se reflete na maneira como tratamos os vivos.”

Liliana olhou para trás, mas a dragoa ainda estava enrolada do lado da cratera, lentamente caindo no sono.

Lukka tropeçou enquanto se movia por uma saliência de pedra, cuidando de seus passos ao longo da borda de um penhasco íngreme. Bem abaixo, a grama curta e as árvores secas resistiam amargamente à vida. Sua fome piorou, apertando seu estômago mais e mais a cada passo trêmulo. A pouca comida que ele conseguira caçar havia acabado, e ele ficou sem água horas atrás.

Arte de Kieran Yanner

A saliência de repente cedeu sob ele, desintegrando-se em pedra solta. Lukka gritou quando seu tornozelo torceu. Ele estendeu as mãos, alcançando qualquer coisa para salvá-lo da longa queda, e seus dedos se prenderam na ponta de uma pedra plana e afiada. Rangendo os dentes, ele subiu pela encosta do penhasco, as pernas lutando para se apoiar, e finalmente se jogou de volta na plataforma de pedra. Ele ficou lá pelo que pareceu uma eternidade, seus pulmões queimando enquanto ele respirava fundo.

Os pensamentos de sua quase morte se desvaneceram quando seu olhar se fixou na rocha que o salvou. Ela flutuava no ar, a extremidade voltada para ele lisa e curva. Lukka se levantou, encontrando mais das rochas estranhas pairando ao redor do lado do penhasco. Juntos, elas formaram um semicírculo, como se o resto delas estivesse perdida dentro do próprio penhasco.

Um pequeno ruído chamou sua atenção. Lukka ficou tenso, preparado para problemas – mas, quando reapareceu, parecia um som de lamento, suave e fraco.

Lukka o seguiu até encontrar uma pilha de pedras. Ele caiu de joelhos, afastando uma das pedras para longe. Um par de olhos dourados olhou de volta para ele. A criatura deu um grito miserável, piscando contra a luz. Enquanto Lukka empurrava o resto das pedras para o lado, ele viu que seu pelo cinza estava sujo, cobrindo as manchas que corriam em um padrão de camuflagem ao longo de suas costas. Um longo corte percorria o focinho da criatura, e algo havia arrancado um pedaço de uma de suas orelhas pontudas e de ponta preta.

Livre agora, a criatura semelhante a uma raposa passou mancando pelas pedras que Lukka havia movido, aumentando o espaço entre eles. Ele se sentou desajeitado, a força em suas pernas finalmente se esgotando. Ele se sentiu fraco. “Vá em frente, então. Pegue.”

A raposa se virou e disparou ao redor da curva do penhasco no momento em que a consciência se dissipou.

Quando ele acordou, a primeira coisa que registrou foi a presença dela. Ele ficou quieto, abrindo lentamente um olho. Ela sentou-se sobre os calcanhares a alguns passos de distância, olhando para ele. Então seus olhos pousaram no chão ao lado dele.

Lukka seguiu seu olhar. Uma pilha de frutas e nozes estava ao lado de sua perna. “Obrigado.”

A raposa ficou tensa, levantando-se.

Lukka começou a levantar a mão, mas se conteve. Ele a encarou, o silêncio se estendendo quando o primeiro sol começou a se erguer ao longe. Finalmente, Lukka respirou fundo e projetou seus sentidos de vinculador.

O toque quente do pelo acariciou sua mente quando a ligação entre eles se estabeleceu. Já fazia um tempo desde que ele usava essa magia mais gentil – não para ter um servo, mas um parceiro. Ele nem tinha percebido o quanto sentia falta disso.

Arte de Kieran Yanner

Liliana empurrou a lateral da enorme tocha de metal e continuou sua jornada de volta a Strixhaven de mãos vazias. Ela já havia partido há dias a esta altura – dias de aulas que não foram ministradas, reuniões que não foram atendidas, deveres de professora que não foram cumpridos. Após a recusa de Beledros em ajudá-la, ela seguiu os rumores de um Arcaico até as ruínas de Caerdoon. Mas ela não encontrou nenhum gigante enorme e místico cheio de segredos arcanos. Na verdade, ela não tinha encontrado muita coisa. Tinha sido em vão – e agora ela seria questionada pelos outros professores. Ou pior, pelos decanos Valentin e Lisette.

Um grito de animal soou à distância. O grito estrangulado veio de algum lugar à frente, fora da estrada, embora Liliana não pudesse ver além da densa copa das árvores. Ela entrou na vegetação rasteira, mantendo-se abaixada.

Em uma clareira não muito longe do caminho, sete pessoas estavam em um círculo. Magia roxa chamejava em torno de suas mãos estendidas, a mesma cor da luz que serpenteava em trilhas de fumaça ao redor de suas máscaras. Liliana se encostou no tronco nodoso de uma velha árvore e observou enquanto o bando de agentes Oriq cercava um grande cervo branco.

A besta se debatia e recuava, golpeando um dos agentes com seus cascos. Um agente caiu de costas, mas os outros empurraram o cervo, forçando-o na direção da jaula de metal que estava aberta atrás dele. Centímetro por centímetro, o cervo recuou para dentro da caixa, seus gritos rasgando o ar – então cortados bruscamente quando a porta da jaula de metal se fechou.

Liliana observou, em silêncio e imóvel, enquanto eles carregavam o cervo capturado em uma carroça que esperava nas proximidades. Eventualmente, o rangido das rodas do vagão desapareceu na distância.

À distância, Lukka pôde distinguir a cauda ondulante de fumaça de uma chaminé em algum lugar além da floresta. Em outro mundo, em outro plano, ele teria sentido alívio. Finalmente, algum lugar macio para descansar a cabeça. Um lugar para conseguir uma refeição decente onde não precisasse controlar a mente de coelhos para deixá-los quebrar seus pescoços. Mas aqui, em Arcávios, ele sabia que seria tratado com a mesma suspeita que tinha sido em todos os outros lugares. As pessoas deste plano odiavam tudo que era novo, tudo que não entendiam. Como aqueles Oriq, os magos mascarados que usavam magia “proibida pelas faculdades de Strixhaven”, o que quer que isso significasse. Cada aldeão parecia pensar que havia um agente Oriq escondido debaixo de sua cama. De certa forma, isso o lembrava de casa, da maneira como o General Kudro o olhou quando Lukka mostrou pela primeira vez sua magia vinculadora. Este era um lugar dominado pelo medo.

O som de vozes elevadas tirou Lukka de seus pensamentos. Ele as seguiu até o outro lado de uma colina. Lá embaixo, ele podia ver uma mulher vestindo mantos imaculados enfrentando um grupo de indivíduos mascarados. Uma fumaça roxa e fina ondulava e dançava em suas feições cobertas; todos usavam capuzes, tornando sua silhueta estranha e não-humana.

A mulher não parecia preocupada em estar em desvantagem numérica de quatro para um. Costurada em suas vestes, Lukka podia distinguir a forma estilizada de um dragão. Ah, a Guarda Dracônica de que tanto ouvi falar. Magos de elite que estudaram sob os cuidados e garras daqueles répteis escamosos.

Esta é sua última chance,” dizia a mulher. “Entregue-se e—”

As figuras mascaradas não esperaram que ela terminasse. Um apontou a mão, uma espiral de energia roxa gotejante estalando em sua direção. A Guarda Dracônica sacudiu seu pulso sem esforço; houve um clarão brilhante e de repente a espiral de magia negra estava voando—

Na direção de Lukka.

Ele se abaixou bem a tempo, o feitiço sibilando horrivelmente enquanto voava sobre sua cabeça e atingia uma árvore à sua direita. Imediatamente, o tronco começou a escurecer enquanto a podridão se espalhava a partir do ponto de impacto. Pedaços de folhas mortas choveram na clareira, e o som de madeira quebrando sinalizou um colapso iminente. Lukka saltou para fora do caminho no momento em que o topo da árvore se separou e caiu onde ele estava.

Aquilo poderia ter me matado. Ele não conseguia decidir com quem ficar com raiva – aquele que lançou o feitiço ou aquela que o redirecionou para ele. Ele decidiu que seriam ambos.

Lukka lançou seus sentidos para a floresta, agarrando-se a um urso com as garras enterradas em um arbusto de frutas silvestres. E mais: seus sentidos agarraram os lobos cochilando enquanto esperavam pelo anoitecer, e ele os despertou. Mais ainda, ele sentiu o estranho fervor de uma criatura que já vinha rastejando em direção à clareira, atraída pela… magia? Lukka franziu a testa, mas manteve o foco. Conectando-se com as feras próximas, ele convocou todos para a clareira.

Os agentes Oriq, enquanto isso, se espalharam para cercar a Guarda Dracônica. Um deles jogou uma bola de chamas negras crepitantes em sua direção; com um gesto, ela o transformou em pedra e ele caiu do ar sem causar danos. Outro conjurou o que parecia uma cobra feita de um líquido brilhante e prateado; com uma palavra expressa, a Guarda Dracônica forçou um enorme torrão de terra e grama – surpreendentemente com a forma de um mangusto – a se libertar do solo antes de atacar a serpente arcana. Até Lukka ficou impressionado com a facilidade com que ela parecia responder a quaisquer feitiços que eles pudessem lançar contra ela.

Atrás dela, um lobo saltou da linha das árvores, os dentes à mostra selvagemente. Este quase pareceu pegar a mulher de surpresa – mas antes que pudesse alcançar sua garganta, ela selou a besta em uma bolha esverdeada. Ele flutuou no ar, enfurecendo-se impotentemente contra sua contenção.

Então é verdade,” disse a Guarda Dracônica, virando-se para olhar para ele no cume. “Ouvimos falar de um Oriq com suas habilidades.”

Pela última vez, não sou um maldito Oriq!” rosnou Lukka.

Como se quisesse provar seu ponto, o urso irrompeu das árvores ao lado das figuras mascaradas, fazendo-as cambalear enquanto golpeava violentamente com as enormes garras assassinas. Um deles lançou um feitiço sobre seu ombro enquanto fugia, secando o braço do animal e fazendo-o rugir de dor.

O som foi acompanhado por um som muito menos familiar. Lukka olhou para ver a estranha criatura com quem ele havia se conectado irromper da linha das árvores. Ela deslizou pela clareira com seis pernas, perturbadoramente rápida. Gavinhas brilhantes ondulavam de sua cabeça como se estivessem debaixo d’água. Com um alvo único, foi direto para a Guarda Dracônica.

Este era um inimigo que ela parecia levar a sério. Lukka a observou firmar os pés e contorcer as mãos em uma posição arcana. Ela falou uma palavra, e raízes tão grossas quanto o braço dele explodiram do chão, envolvendo as pernas quitinosas da criatura. Ele ouviu o estalar de membros quando a criatura foi arrastada para a terra, guinchando o tempo todo, até que o solo cobriu a coisa-inseto com uma terrível definitividade.

Lukka ficou tão atraído pelo espetáculo que não percebeu a raiz rastejando ao redor do seu próprio tornozelo até que o puxou para o solo até a cintura. Ele pressionou os seus dois lados, tentando se libertar, mas sem efeito. A Guarda Dracônica caminhou até ele, claramente sem pressa.

Belo truque. Mas, no fim do dia, você não é nada além de um mago errante destreinado, como qualquer outro Oriq.” Ela estendeu a palma da mão aberta em direção a ele.

Algo apareceu turvo no limite da visão de Lukka. Um segundo depois, a Guarda Dracônica gritou. Houve uma explosão de calor e uma onda brilhante de chamas, e ele se virou, protegendo o rosto com uma das mãos. Quando ele olhou para trás, uma forma familiar estava sobre o corpo imóvel da Guarda Dracônica, sua cauda de fogo se contorcendo enquanto farejava seu oponente caído. Quando ela ficou satisfeita, a criatura-raposa se virou e olhou para Lukka, seus grandes olhos estranhamente conhecedores.

Lukka sustentou o olhar da fera por um momento antes de olhar ao redor da clareira. Os agentes Oriq haviam partido. Se ele não estivesse lá, não teriam durado mais do que um minuto. Sem disciplina, sem estratégia. Apenas um monte de fantasias assustadoras.

Lukka se levantou e examinou o terreno próximo. Obviamente, os agentes Oriq deixaram um rastro na pressa de fugir; ele facilmente localizou os sinais que os magos mascarados haviam deixado em seu rastro. Se todo mundo que não segue as regras aqui é um Oriq, talvez eu seja um deles afinal.

Ele estava prestes a começar a seguir a trilha quando um ganido suave o fez parar. Lukka se virou para encontrar a criatura-raposa sentada na clareira. Ela piscou e inclinou a cabeça para o lado.

Lukka se virou e balançou a cabeça, resignado. “Está bem.”

Ele fechou os olhos e a alcançou com a mente. A própria mente da raposa parecia saltar para encontrar a dele, e o vínculo suavemente deslizou de volta. Lukka se permitiu reviver a sensação de alívio e gratidão que sentiu quando a viu voar em direção à guarda.

Ele abriu os olhos para encontrar a criatura olhando para ele, sua língua pendurada ao lado de sua mandíbula manchada de sangue. Ela trotou até a trilha do Oriq e farejou uma das pegadas.

Bem. Se você vai ficar, então vou precisar te chamar de uma coisa. Que tal Mila?” Ele sentiu o agradável toque de reconhecimento em sua mente e acenou com a cabeça. “Tudo bem então. Será Mila.”

Extus prendeu a respiração enquanto derramava o líquido vermelho cintilante na tigela rasa. Ele circulou na poção brilhante, luz arcana brotando em estranhas bolhas e lançando estranhas sombras nas paredes da caverna. O vermelho clareou até ficar quase branco – então o violeta se espalhou pela mistura e a poção esmaeceu até se tornar nada mais do que uma lama escura e inerte. Ele lançou a tigela na sala, e ela se espatifou contra a parede, deixando a poção defeituosa espalhada pela pedra. Essa foi a quarta falha.

Um movimento chamou sua atenção, e Extus olhou em direção à entrada da caverna. Um de seus agentes Oriq estava lá, a magia negra queimando em torno de sua máscara era como um lembrete desagradável.

Por que você está parado aí? Traga-me mais essência cervidar!”

O agente saltou como se fisicamente atingido e recuou da caverna, desaparecendo no túnel que conduzia à caverna principal.

Sozinho, Extus desabou sobre sua mesa de trabalho. Ele olhou para os livros abertos diante dele. Nenhum deles tinha sido útil. Nenhum deles o mostrou como obter o poder de que precisava. Seu olhar vagou pela lateral da mesa até o chão, onde os outros componentes do ritual ainda estavam. As pernas do mago caçador ainda estavam penduradas, presas pelos agentes Oriq que agora jaziam mortos ao redor dele. Todas as ferramentas valiosas, sacrificadas por nada – até a última gota de vida drenada de seus corpos, e não era o suficiente.

Alguém entrou na câmara atrás dele e Extus se endireitou. “É o restante dos meus suprimentos?”

Houve um atraso. Eles encontraram uma Guarda Dracônica,” disse o agente.

Atrás de sua máscara, Extus cerrou os dentes. Ele reservava um ódio especial pela Guarda Dracônica. De todos os intrometidos que se colocaram em seu caminho, eles eram de longe os piores. Tão arrogantes, tão seguros de si. Ele estava ansioso para mostrar a eles como toda aquela confiança estava perdida – a Guarda Dracônica e o resto da elite de Strixhaven com eles.

Não se passava um dia em que ele não pensasse naquele lugar. Ele ainda se lembrava de ter caminhado pelo Salão dos Oráculos. Ele ainda podia ver o espaço onde sua estátua deveria estar. Bem à esquerda do…

Do Liame.

Extus olhou para a lama, agora seca na parede. Se mais poder era o que ele precisava, aquele emaranhado de poder oculto abaixo da escola ofereceria mais do que o suficiente, embora alcançá-lo não fosse uma tarefa fácil. Aquele nexo de energias antigas não era um livro empoeirado sentado em uma estante no Biblioplexo; seria guardado pelas forças mais formidáveis que Strixhaven pudesse reunir. Constructos, elementais, professores – Guarda Dracônica.

Havia outra pessoa lá,” disse o agente, tirando Extus de seus pensamentos. “Alguém interferindo.”

Ela contou a ele sobre o homem que parecia capaz de chamar as feras da floresta para cumprir suas ordens. Quando ela terminou, Extus estava mais do que intrigado.

Disseram que ele está os seguindo agora” disse o agente. “Devo dizer para se livrarem dele?”

Não.” Extus pigarreou. Ele olhou para os corpos ao lado de sua mesa, então ergueu o olhar em direção às sombras acima. A luz da tocha brilhou sobre os exoesqueletos rígidos dos caçadores de magos adormecidos enquanto eles pendiam do teto rochoso. “Deixe-o vir.”

Atrás de sua máscara, Extus sorriu.

Liliana abaixou o livro que estava estudando e esfregou os olhos. Mais um dia de pesquisas infrutíferas. Ela havia feito tudo o que podia pensar, e nada funcionara. Não havia um livro, pergaminho ou feitiço em Strixhaven que pudesse trazer Gideon de volta. Além disso, com os Oriq em movimento, havia assuntos mais urgentes em questão. Ninguém mais parecia levá-los a sério.

Confrontar o Passado | Arte de Kieran Yanner

Ela olhou pela janela atrás de sua mesa. À distância, os sóis começaram sua lenta descida em direção ao horizonte. A luz cintilou nas pedras flutuantes de Dawnbow. Liliana olhou para o arco estrelado, seu olhar traçando sua curva em direção aos prédios do campus principal.

Ela tinha vindo aqui para encontrar uma maneira de trazer Gideon de volta. Nada mais e nada menos. Mas se não estivesse aqui, ela não teria visto aquele agente Oriq no Biblioplexo. Liliana odiava a ideia de destino. Ela sempre pensou nisso como alguém dizendo a ela o que fazer; apenas outro mestre sem coração. Gideon, no entanto, acreditava muito em estar no lugar certo, na hora certa. Talvez fosse hora de ela aprender uma lição com ele. Espero que não seja tarde demais.

Porém, não havia muito que ela poderia fazer sozinha. Mesmo que os magos estudantes passassem seu tempo livre atacando uns aos outros pelo campus, eles não estavam preparados para o que estava por vir. Ela precisava de ajuda. Ela precisava de poder.

Um flash dourado do lado de fora de sua janela chamou sua atenção. Liliana se inclinou para frente.

Um grupo de jovens estudantes passou por seu escritório. Uma delas se destacou, seu cabelo loiro brilhando na penumbra ao cair sobre os ombros de seu uniforme Prismari. Rowan Kenrith prendia a atenção de suas amigas Murchaflor enquanto gesticulava freneticamente, sua espada saltando contra sua perna enquanto ela conduzia o grupo na passarela e para longe de vista.

Liliana recostou-se em sua cadeira. Talvez seja hora de levar meu papel como professora um pouco mais a sério.





Traduzido por Blackanof
Revisado por Sophia

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