Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

IRMÃS

Leinore encontrou a cobra morta misturada às cinzas de uma fogueira que esfriou horas atrás. Era uma coisa pequena, totalmente carbonizada e cheia de fuligem, mas de alguma forma manteve sua forma. Leinore estendeu a mão e a pegou.

Leinore, Soberana do Outono | Arte de Fariba Khamseh

“Eca…” Sinnia disse, o focinho de sua máscara de raposa balançando enquanto ela falava. “Larga isso.”

Então, como se o toque de Leinore tivesse animado a criatura, ela contorceu seu corpo e sacudiu sua língua bifurcada. Leinore a jogou longe com um grito. Ela caiu de volta na cova de cinzas, imóvel – praticamente como se nunca tivesse se movido.

“Não parece tão corajosa agora,” sua irmã riu.

Sua irmã mais nova sempre a provocava com gentileza. No entanto, Leinore não conseguiu sorrir. Não depois da notícia de outra família desaparecida esta manhã. O antigo Festival da Colheita, agora revivido, deveria trazer esperança ao povo e restaurar o equilíbrio entre a luz e as trevas.

Isso é o que as bruxas do Conventículo do Cervo da Aurora prometeram a ela e ao povo de Kessig. “Ajude-nos a trazer a luz de volta,” disseram aos aldeões. Mesmo que eles usassem caveiras em suas cabeças, lama em seus rostos e parecessem tão ameaçadores quanto os monstros escondidos na floresta, as pessoas concordaram em ajudá-los. “Trazer a luz de volta,” as pessoas sussurravam ao redor. Logo, era mais do que um sussurro. Era uma promessa e uma oração.

Porém, mais pessoas desapareciam todas as manhãs e os dias pareciam mais escuros do que nunca.

Geralmente Leinore não precisava ser animada. Ela era a primeira a se levantar de manhã, para preparar o café para a irmã e o pai antes de ele partir para o campo. Depois, ela percorria a pequena aldeia, visitando os anciãos que viviam sozinhos ou crianças cujas famílias haviam sido destruídas por alguma catástrofe, sobrenatural ou não, e compartilhava os alimentos assados que ela havia feito naquele dia. Dava-lhe paz saber que as pessoas estavam felizes, ou, pelo menos, contentes; um senso de ordem.

Aquela ordem foi perturbada desde as Tribulações. Agora, as noites ficavam mais longas e os dias foram encurtados demais. A geada do inverno veio meses antes do que deveria, cobrindo Kessig como um véu fino.

Katilda, a líder do conventículo, prometeu que poderia consertar o desequilíbrio se o festival fosse um sucesso, e Leinore não queria mais nada. Quando o Conventículo do Cervo da Aurora pediu a ela para supervisionar as festividades, ela sabia o que as bruxas esperavam dela: fazer o que ela sempre fez. Ela manteria as pessoas alimentadas, as decorações brilhantes e a atmosfera festiva. Um trabalho simples e cada vez mais difícil.

Leinore examinou a tenda vazia à sua frente. Um lenhador e sua família se alojaram lá dentro enquanto durasse o festival. Havia vários delas ao redor, espalhados nas clareiras ao redor do Celestus, abrigando viajantes que chegavam de todas as partes de Kessig. O frio terrível tornou-se insuportável nas últimas horas, embora fosse apenas outono.

Com as bênçãos e encantos das bruxas da sebe ao seu redor, as pessoas se sentiram seguras no início. As mais corajosas dormiam ao ar livre, tendo apenas o céu escuro como telhado e suas peles grossas como coberturas. A lua apareceu maior e mais perto do que nunca, mas os festivaleiros tinham menos medo dos perigos que espreitavam no escuro quando os encantos do Conventículo do Cervo da Aurora os protegiam. Ou pelo menos, protegeram. “Talvez eles tenham partido,” murmurou Leinore. “Eles se cansaram do frio, fizeram as malas e foram para casa.”

Sinnia estremeceu, embora Leinore não achasse que fosse por causa do clima miserável. Sua fantasia de raposa estava coberta de folhas de bordo vermelhas brilhantes. Leinore achou que ela parecia mais um pássaro raro e estranho, pronto para voar.

“As coisas deles ainda estão aqui.” Sinnia apontou para um pequeno embrulho de pano ao lado de uma cabana, fácil de perder sob a geada e as folhas que haviam caído durante a noite. “Além disso, quem viajaria no escuro? Eu não gosto disso. Vamos embora. Eles podem aparecer amanhã.”

Ela estava certa, é claro. Esta era a segunda família esta semana. Outra tenda foi deixada intacta. Ninguém poderia estar com tanta pressa a ponto de deixar suas coisas para trás – ou pior, viajar pelas florestas Kessig durante a noite.

Havia algo mais no chão, ao lado do pacote. Parecia pequeno e sinuoso.

“Eu realmente espero que não seja outra cobra.” Leinore semicerrou os olhos. As brumas estavam ficando mais espessas à medida que a noite se aproximava.

Sinnia passou por cima do pacote e chutou um pouco da geada e das folhas.

“Oh, é lindo!” Sinnia atendeu. Era uma máscara de festival, mas não como as que os habitantes da cidade usavam no Festival da Colheita. Parecia mais com um cocar de bruxa de sebe, elaborado e esquisito. Mas não fazia sentido. A família perdida era apenas um lenhador e sua esposa.

A máscara com crosta de escamas era de ouro profundo. Varas foram fixadas em cima dela como a maioria dos cocares das bruxas, só que em vez de raios de sol ou luar, elas pareciam mais cobras enrolando-se no emplastro. Sob os olhos da máscara, duas longas presas de madeira se projetaram.

“Largue isso,” Leinore disse. Sinnia olhou para ela, mas simplesmente não parecia certo pegar coisas que não eram delas. Mesmo se as pessoas tivessem-

Algo não estava certo. Leinore se virou para a irmã e disse: “Quer saber, devemos sair daqui enquanto podemos. Vá para casa.”

Sinnia tirou sua máscara de raposa e experimentou a nova, fazendo Leinore estremecer.

“Não sabemos o que aconteceu com eles,” Leinore disse lentamente. “E meu pai sempre suspeita de tudo desde-”

Ela parou. Não havia sentido em recordar a mãe. Quando o Calar das Maldições – o feitiço que curou tantos lobisomens – foi quebrado, a sede de sangue e os instintos animais das criaturas levaram todos eles, incluindo sua mãe. Uma pequena bênção: ela nunca machucou ninguém que eles conhecessem, apenas voltou para a floresta. Isso tornava mais fácil para eles alegarem que ela havia sido morta por um urso, mesmo que os aldeões apenas fingissem acreditar nisso por pena.

Sinnia balançou a cabeça. “Você simplesmente não quer que as pessoas estraguem suas comemorações.”

O rosto de Leinore ficou quente. “Por favor, tire essa máscara.”

Mas Sinnia a ignorou. Ela amarrou as fitas da máscara sobre seus cachos negros e fez um pequeno nó. “Tenho certeza de que eles não vão voltar para pedir isso.”

Leinore odiava a máscara. E não foi apenas o fato de que Sinnia a pegou sem permissão. Isso a deixou desconfortável. Ela não queria olhar diretamente nos olhos. Seus olhos. Os olhos dela. Ela afastou o pensamento estranho. Era perturbador, só isso. Não era diferente dos rituais das bruxas.

“Deixe-me falar com Katilda,” Leinore suavizou a voz. Sua irmã podia ser teimosa às vezes, mas, no final das contas, ela a ouvia. “Talvez ela possa ajudar. E, por favor, tire essa máscara?”

“Tá bem.” Sinnia tirou a máscara e colocou a de raposa novamente. Ela tinha feito isso, junto com a máscara de veado de Leinore, e estava orgulhosa de ambas. “Mas vou ficar com ela até que eles voltem.”

Máscara da Bruxa da Sebe | Arte de Ovidio Cartagena

Ela não acreditava que Katilda e o conventículo tinham algo a ver com as pessoas desaparecidas. Havia algo na expressão gentil em seus olhos em que Leinore confiava. E daí se eles fossem estranhos? As bruxas foram eremitas por tanto tempo que era natural serem enigmáticas sobre seus rituais. Talvez elas não quisessem que sua magia caísse nas mãos erradas. E considerando seu poder, Leinore não as culpava. Ela já tinha visto elas dividirem árvores ao meio com um gesto ou conjurar água da terra para os festivaleiros sedentos.

Mas outro pensamento surgiu em sua mente. E se o resto do conventículo não fosse tão inofensivo quanto Katilda? A bruxa estava realmente no controle do que estava acontecendo?

A coisa deslizou nos cantos de sua visão novamente, mas desta vez foi apenas em sua memória. Havia algo nas brumas na noite passada. Ela podia sentir sua presença opressora, inclusive agora, ao seu redor. Parecia que a coisa estava deslizando no alto – escondido em algum lugar na copa espessa – e se mexendo sob seus pés, cobrindo-se com folhas mortas e geada. Leinore estremeceu e tentou convencer a si mesma que não era nada. Amanhã, outro dia de festival começaria, e ela precisaria ser seu rosto brilhante e feliz mais uma vez.

Em uma cidade, todos as estradas levam a uma igreja. Ou, pelo menos, era o que Leinore ouvira as pessoas dizerem. Pessoas que viajaram para lugares como Thraben e viram prédios maiores do que todas as casas de Kessig juntas.

Em Ulvenwald, todas as estradas levavam ao Celestus. O brilho dourado da estrutura atravessava galhos e folhagens. Seus anéis metálicos alcançavam o dossel e subiam ainda mais. Leinore podia ver o brilho quando ela estava deitada em sua tenda à noite.

Ao redor da máquina, pessoas montaram tendas e barracas para todos os tipos de comércio. Nem mesmo o frio conseguia impedir o saudável apetite por moedas. Armas abençoadas eram trocadas por preciosas heranças de família, pele por couro, poções por pergaminhos mágicos que manteriam seus leitores seguros – pelo menos, era o que os comerciantes prometiam. Se Leinore não conhecesse, ela até poderia ter acreditado naquelas promessas, porém ela tinha visto magia verdadeira nas mãos das bruxas, e não parecia nada com isso.

As pessoas que se sentiam inseguras dormindo na floresta haviam se aproximado do Celestus desde a noite passada, montado suas tendas entre o resto, amontoado-se como coelhos. As luzes e a multidão devem ter feito com que se sentissem protegidos. Ainda havia risos e música no ar, mas agora havia algo mais selvagem na mistura também. Tudo parecia entorpecido e úmido, e a geada pousou em seus ombros como um par de mãos geladas.

Leinore fez o possível para cumprimentar a todos que reconhecia, apesar das máscaras, e deu as boas-vindas aos que não conhecia, entregando galhos de madeira viva para dar sorte. Sinnia estava alguns passos atrás dela, imitando a irmã e sorrindo, embora Leinore pudesse ouvi-la arrastando os pés.

No centro do Celestus, em cima do estrado, Katilda e seu conventículo estavam fazendo mais um de seus rituais. Eles haviam começado de maneira bastante simples, com bastante comida, cerveja e velas brilhantes. Havia danças e cânticos que mais pareciam uivos, mas os habitantes da cidade não pareciam se importar. Muitos deles, incluindo Leinore, tiveram vontade de uivar.

Mas após os primeiros dias, seus rituais se tornaram cada vez mais estranhos. Formas bestiais pareciam dançar dentro das fogueiras com as bruxas. Quando as mulheres abriram a boca para proferir invocações, Leinore pôde ver acúmulos de terra preta agarrados aos dentes e manchando suas línguas. Beijo de Ghrin-Danu, é como elas chamam.

A fantasia de Katilda também estava ficando mais extravagante a cada dia que passava. Hoje, junto com as ombreiras cobertas de grama e o enorme ornamento de cabeça que refletia a glória do sol, ela usava um colar trançado feito com fitas e algum tipo de dente de animal. Duas linhas vermelhas foram desenhadas sob seus olhos, como lágrimas de sangue.

Leinore aumentou seu passo, deixando Sinnia para trás.

Rejuvenescedora Cervo da Aurora | Arte de Darren Tan

Dentes foram agrupados em uma pilha no meio do círculo do conventículo no estrado. Quando Leinore se aproximou, os dentes não pareciam pertencer a um animal.

Eles eram bastante humanos.

Leinore sentiu seu estômago revirar. As bruxas, murmurando um cântico em voz baixa, estavam amarrando os dentes em colares como amuletos e distribuindo ao povo. Alguns hesitaram, olhando uns para os outros, enojados. Outros agarraram os colares e os enfiaram apressadamente nos bolsos ou cuspiram nos pés das bruxas e se viraram.

“O que é isso?” Leinore conseguiu dizer.

Katilda se virou do trabalho. Surpresa escrito em seu rosto.

“São dentes,” ela disse abertamente. “Dentes de lobisomem.”

“Eles não parecem dentes de lobisomem.” Leinore sentiu todos os olhos sobre ela. Ela olhou para a multidão, procurando por Sinnia, mas não conseguiu encontrá-la.

“Bem,” Katilda acenou com os braços, ligeiramente ofendida. “Eles se transformaram para a forma humana após a morte. Mas eles ainda têm a essência do lobo.”

Leinore tentou não pensar em sua mãe. Em vez disso, seus pensamentos foram para sua irmã, seu pai na aldeia, as pessoas reunidas perto do estrado. Ela deveria trazer esperança e luz para os aldeões e aqui estava ela, sentindo toda a luz que ela tinha deixando seu corpo.

Diga alguma coisa, ela disse para si mesma. Qualquer coisa. Mas o que ela poderia dizer?

“Bruxa.”

Leinore reconheceu o homem apenas pelo seu tom de voz. Jagger sempre foi o caçador mais barulhento em sua aldeia – não era uma boa qualidade, para um caçador. Ele se considerava importante, um líder de todos os que haviam se reunido aqui, independentemente de quantas pessoas concordassem com ele. A cada passo, ele parecia chacoalhar. O barulho vinha dos incontáveis amuletos que ele usava. Já era um homem alto, ele tinha dentes de boi, runas e prata abençoada – ou assim ele dizia – sobre seu casaco de pele, para fazê-lo se destacar da multidão. Um homem barulhento e zangado. Ele só pioraria as coisas.

“Você roubou isso dos aldeões desaparecidos?”

O estômago de Leinore se contraiu. Alguns dias atrás, ela teria defendido as bruxas sem a menor dúvida. Mas não importava o quanto ela queria revirar os olhos para Jagger, ela não tinha certeza se ele estava errado. Não completamente.

“Desaparecidos?” outra bruxa perguntou como se a notícia não tivesse alcançado todos.

“Nós não somos seus inimigos,” Katilda desceu do estrado para enfrentar Jagger. “O Festival da Colheita não será bem-sucedido apenas com bruxas. Devemos fazer isso juntos.”

“Eu não confio em quem não me diz nada,” cuspiu Jagger. “Você nos trouxe aqui, pedindo nossa ajuda. Mas você nos mantém no escuro.”

“Não confie nas bruxas! Diga-nos onde estão os desaparecidos!” As vozes vinham de todos os lados. Elas exigiam respostas. Leinore podia ver os aldeões ficando cada vez mais inquietos, prontos para explodir de raiva. Eles tinham vindo aqui para a salvação, mas apenas encontraram a mesma escuridão encontrada em qualquer canto de Innistrad.

“Espere um minuto!” Leinore gritou com Jagger. “Elas não fizeram nada. Você não tem provas.”

Jagger zombou gesticulando para os dentes. “Isso não é prova suficiente?” Agora ele estava dando um show. “O que vem depois? Elas nos alimentam com a carne dos mortos?”

“Elas estão aqui para nos ajudar,” Leinore fez um esforço patético. Sua preocupação estava em outro lugar agora. Onde estava Sinnia?

“Sacrificando pessoas!” Jagger se moveu em direção a Katilda. Ele elevou-se sobre ela, apesar de seu imponente cocar. Ele poderia facilmente afastá-la com um movimento de seu braço. Leinore podia sentir a bruxa e o resto do conventículo se preparando para uma luta.

“Ninguém está sacrificando pessoas,” disse Sinnia. Sua voz veio de algum lugar próximo.

Leinore olhou em volta, mas não conseguiu encontrá-la. Não foi possível rastrear a máscara de raposa entre o resto das máscaras coloridas de outono. Ela tinha certeza, porém, de que aquela era a voz de sua irmã.

No meio da multidão, Leinore distinguiu o vestido de Sinnia com folhas vermelhas e alaranjadas. Seu longo cabelo encaracolado balançava para a esquerda e para a direita enquanto a irmã de Leinore caminhava em sua direção. Pelo menos essas características permaneceram as mesmas – sua máscara de raposa não estava mais lá. Em seu lugar, Sinnia usou a nova máscara.

“Você fala como se a floresta não estivesse cheia de perigos desde que nascemos,” disse Sinnia enquanto subia no estrado.

Todos pararam, até Jagger e Katilda. Como se alguém os tivesse enfeitiçado, a raiva desapareceu tão rapidamnente quanto surgiu.

“Qualquer coisa poderia ter atacado. Tantas coisas famintas espreitam no escuro. Espíritos vingativos, vampiros, carniçais, lobisomens.”

Houve vozes de concordância na multidão, agora. Todos olharam para a pilha de dentes como se os estivessem vendo pela primeira vez. Seus olhos estavam vidrados, mas eles ouviam o que Sinnia tinha a dizer como se ela fosse a única que importava agora. Leinore estava olhando para a irmã sem acreditar. Seu estômago se revirou de um pavor repentino que ela não conseguia explicar.

“No mínimo, a morte deles deve nos tornar mais humildes. Não podemos fazer nada enquanto a escuridão cresce. Traga a luz de volta.” Sinnia gesticulou para as velas flutuantes, e elas pareciam queimar mais brilhantes, uma nova faísca nasceu dentro delas.

“Traga a luz de volta!” Pessoas gritaram.

Algumas pessoas aplaudiram. Uma música se ergueu de algum lugar no fundo da multidão. Jagger abriu a boca para falar, mas ninguém estava prestando atenção nele. Nem para Katilda nem para o conventículo. Os aldeões circulavam Sinnia, tocando suas mãos com adoração, puxando-a gentilmente para perto deles, de sua música, de suas danças.

Todos estavam felizes e esperançosos, assim como no primeiro dia. Até o frio parecia menos agressivo agora.

Então, por que Leinore estava tremendo de medo?

Quando voltaram para a tenda naquela noite, Sinnia trouxe uma pele que um caçador tinha dado a ela de presente e jogou em Leinore. Ela ainda estava usando a máscara.

“Aqueça-se,” ela disse. “Vai demorar alguns dias.”

Leinore não se mexeu no seu canto da cama. Cada vez que a máscara olhava para ela, ela sentia outra presença na tenda com elas. Não é a máscara, ela disse a si mesma. Sinnia. Cada vez que Sinnia olha para mim.

“Achei que você tivesse dito que deveríamos ir embora,” murmurou Leinore.

Sinnia tirou a fantasia. Pedaços de folhas secas caíram no chão, como uma cobra trocando de pele. Ela deixou a máscara. Ela se agachou no chão a alguns centímetros do rosto de Leinore. Seu hálito cheirava a coisas mortas, cinzas e ferrugem. “Eu não quero mais ir embora. O Enrolado falou comigo hoje, irmã.” Sua voz saiu mais grave, áspera. Como se vinda de outro lugar. De outra pessoa. Quando ela sorriu, Leinore pensou ter visto uma língua bifurcada espiar pela fenda entre os dentes. “A luz vai voltar para Innistrad.”

A opressão que Leinore sentiu na noite passada voltou, só que desta vez pior.

“Você também sente isso?” perguntou Sinnia, quase maravilhada demais para se conter. “O Enrolado está emergindo.”

O ar foi espremido para fora do peito de Leinore por uma presença crescente dentro da tenda. Isso deixou sua mente confusa. As folhas farfalharam levemente nas árvores, como se algo estivesse se escondendo, bem acima de suas cabeças. Quando olhou para Sinnia novamente, ela estava deitada em seu saco de dormir, a máscara ainda no rosto. Não estava dormindo, Leinore tinha certeza. Estava mais para fingir que estava dormindo.

Fazia duas noites desde que encontraram aquela máscara. Pela décima vez naquela noite, Leinore prendeu uma cobra sob sua bota. Era pequena como um dedo humano, marrom e coberto de bile, como as anteriores. Ela se mexeu um pouco sob seu calçado, apenas o suficiente para fazê-la estremecer, e então ficou imóvel. Ela já deveria estar acostumada com elas, mas não estava. Essas não eram cobras comuns.

De alguma forma, nos últimos dias, Sinnia substituiu Leinore como a Soberana do Festival da Colheita aos olhos dos frequentadores. Ela se deleitou com a atenção quando eles a olharam ao acender a primeira lanterna da noite, para fazer um brinde ao sol do meio-dia. Ela não só estava mais confiante do que antes, mas também tinha um efeito estranho nas pessoas. Usar aquela máscara fazia com que as pessoas a ouvissem de uma forma que não ouviam Leinore ou mesmo Katilda. Se Leinore não conhecesse sua irmã, ela poderia jurar que ela era uma das bruxas, e uma muito poderosa.

As mudanças na personalidade de Sinnia, por mais anormais que possam ter sido, não eram nada comparadas ao que ela podia fazer às pessoas agora. A primeira vez que Leinore assistiu, ela ficou horrorizada: ela tocava alguém na testa, sussurrava algo sob sua respiração, e o aldeão começava a sufocar. Seus olhos rolavam para trás até que tossissem uma pequena serpente se contorcendo. Era um pesadelo – e ainda assim os outros pareciam se alegrar como se cada nova cobra fosse motivo de comemoração.

Celebrate the Harvest | Arte de Eelis Kyttanen

Os gritos “Traga a luz de volta!” levantaram-se da multidão. Os rostos das pessoas estavam contorcidos por uma alegria tão selvagem que Leinore achou os aldeões mais aterrorizantes do que qualquer lobisomem. Eles não conseguiam mais dizer o que era natural e o que era amaldiçoado, e Leinore não tinha certeza se ela também conseguia.

Leinore usou todo o poder que uma irmã mais velha tinha sobre uma mais nova para consertar as coisas. Ela gritou com ela, ameaçou contar ao pai, tentou agarrar Sinnia e arrastá-la de volta para a tenda. Mas é claro, os aldeões sempre se interpunham entre elas. Uma onda de corpos se chocando contra ela e circulando s de sua irmã. Implorando a Sinnia por mais milagres, mais cobras. Mais luz. Para eles, agora ela era mais do que a Soberana; ela era sua salvadora. Desta vez ninguém parecia muito preocupado com o grupo de pastores de cabras que desapareceu durante a noite. Se Sinnia disse a eles que estava tudo bem, então estava.

Leinore precisava de sua irmã mais do que nunca, mas a Sinnia que ela conhecia se fora. O último olhar que Leinore arrancou dela naquela noite foi quando Katilda ofereceu a ela um cocar do seu conventículo em troca de sua máscara. O cocar tinha chifres de veado em vez de varas sinuosas e foi pintado com sangue misturado com lama e folhas. Leinore não estava perto o suficiente, então ela não podia ouvir o que as duas mulheres diziam uma à outra. Mas Sinnia riu na cara de Katilda e se virou.

Leinore voltou para a tenda, escondeu-se sob as peles e esperou. Sinnia estava tramando alguma coisa. Todas as noites, após ela ter encontrado a máscara, ela deixava a cama e voltava apenas quando a primeira luz fraca espiava dentro da tenda. Não muito tempo depois, ela ouviu folhas congeladas sendo esmagadas sob os passos de alguém. Ela poderia dizer que era Sinnia pela forma como a atmosfera mudou, espremendo o ar para fora de seus pulmões. Ela se enrolou e fez o seu melhor para desaparecer sob as cobertas.

Quando Sinnia entrou na tenda, ela foi direto para a cama dela. Leinore estava com os olhos fechados, mas sentiu o olhar escrutinador de sua irmã sobre ela. Ela manteve a respiração regular e o rosto relaxado, rezando para que seu batimento cardíaco não a traísse. Foram apenas alguns momentos de agonia, mas pareceram horas. Quando Sinnia teve certeza de que Leinore estava dormindo, ela saiu da tenda. Então ela lentamente deslizou por baixo das peles e se levantou, ainda vestida.

Leinore seguiu Sinnia noite adentro. A única coisa que Leinore deixou para trás foi sua máscara.

Rastrear os passos de sua irmã foi mais difícil do que ela pensava. Talvez ela tivesse esperado muito tempo até Sinnia desaparecer atrás das altas árvores, e agora sua chance se foi. Leinore arrastou os pés ao redor da vegetação rasteira congelada por um tempo, sua única luz vindo do brilho distante e desbotado do Celestus no horizonte, as velas e uma ocasional lanterna.

Então ela ouviu o rastejar novamente. Seja lá o que fosse, estava se materializando. Era mais do que uma sensação. Tão tangível que agora ela podia ouvir. Parecia distante, mas não havia como negar que era a mesma coisa que ela ouvia há dias, e vinha do noroeste, na direção do centro da floresta. Leinore lambeu os lábios secos e seguiu o barulho.

Não muito tempo depois, ela entrou em um pequeno acampamento composto de cinco tendas, um sinal de que a maioria dos solitários deve ter acampado lá. Antes mesmo de chegar perto, ela ouviu alguém fazendo um som gorgolejante, como se sua cabeça estivesse mergulhada na água. O pânico lutou contra qualquer desejo de ajudar; ela se escondeu atrás de uma tenda quando duas figuras surgiram à distância. Uma que ela tinha certeza que pertencia a sua irmã, Sinnia. A máscara a denunciou mesmo no escuro. Mas o jeito que as duas formas estavam não fazia sentido. Parecia que Sinnia segurava um homem pelo pescoço tão facilmente como se ele fosse um guaxinim morto. Ela estava o arrastando sobre as folhas e a geada, para longe do pequeno acampamento e para o meio da floresta.

Ela seguiu as figuras até uma clareira estranha coberta por uma copa espessa de galhos. Leinore parou em seu caminho enquanto sua irmã arrastava o corpo daquele homem em direção a uma rocha oval na borda da clareira.

Não, não era uma rocha. Um ovo.

Era pelo menos tão grande quanto o homem que ela carregou e estava ao lado de muitos outros. Eles eram verdes claros e iridescentes, brilhando no escuro como pequenas bolas de luz. Sinnia tocou o ovo e ele cedeu ao seu toque, abrindo-se como uma dormideira. Para horror de Leinore, ela assistiu sua irmã empurrar o homem inconsciente para ele. O ovo se fechou em torno dele, envolvendo-o como um útero.

Leinore tentou se mover, mas seus membros pareciam dormentes e pesados. Ela teve que se esforçar para não deixar seus joelhos cederem. Tarde demais, ela percebeu que sua irmã não estava sozinha: uma mulher estava nas sombras atrás dos ovos enormes. Com um gesto, ela pareceu dispensar Sinnia, para trazer o que Leinore imaginou ser a próxima vítima.

Leinore sentiu alguém agarrando seu ombro. Ela tentou gritar, mas antes que qualquer ar pudesse deixar sua boca, uma mão segurou seu rosto. Em seu ouvido, uma voz familiar sussurrou severamente: “Não se mova. Aí vem ela.”

Por um momento, Leinore pensou que Katilda se referia à mulher nas sombras, mas, em vez disso, Katilda apontou o bastão para sua irmã com serena determinação. A ponta de madeira chiou com uma luz sobrenatural, e Leinore pôde sentir o calor em seu rosto quando o cajado começou a concentrar sua energia assassina. Sem pensar, Leinore mordeu a mão de Katilda. A bruxa uivou de dor e largou o cajado.

“Sua estúpida!” Katilda rosnou enquanto se agachava na vegetação rasteira, procurando seu cajado. “Eu poderia ter nos salvado.”

Foi quando a mulher deixou as sombras e se aproximou, seus olhos brilhando verdes.

Saryth, a Presa da Víbora | Arte de Igor Kieryluk

“Katilda,” a mulher soava como se estivesse se divertindo. “É você?”

“Por que você não mirou nela?” Leinore gritou, gesticulando para a mulher desconhecida.

“Não é Saryth quem está usando a máscara,” Katilda disse, pegando seu cajado. “É sua irmã que está. Todo o poder de Saryth está naquela máscara. Sinnia está consumida por ela. Não há esperança para ela agora.”

O chão sob seus pés começou a tremer e se agitar, e Leinore se viu lutando para ficar de pé. Ela podia ver as copas das árvores balançando para frente e para trás como dançarinos bêbados.

“O que está acontecendo?”

“É o Enrolado. Saryth o chamou para afugentar a escuridão e o tem alimentado com aqueles habitantes da cidade enfeitiçados durante dias.” Katilda riu amargamente. “Eu fui uma tola por não ver isso antes. Ela vai destruir todos nós.”

A terra abaixo de sua irmã se dividiu, revelando solo negro como sangue em uma ferida. Leinore queria ir até ela, mas era difícil se equilibrar, muito menos andar em linha reta. Onde as fissuras se encontraram, terra e árvores afundaram e desapareceram de vista. Logo, havia um buraco a centímetros de onde Sinnia estava.

Os ovos brilharam mais intensamente, e a mulher a quem Katilda chamava de Saryth ergueu seu cajado, mirando em Leinore e Katilda.

“É a hora!” Saryth gritou.

Um feixe de energia brilhou na frente dos olhos de Leinore e, por um instante, ela viu apenas o verde. Ela pensou ter ouvido Sinnia gritar em algum lugar não muito longe, e uma onda de desespero a atingiu. E se o buraco tivesse engolido sua irmã e já fosse tarde demais?

Quando sua visão clareou novamente, ela o viu saindo do buraco – ou parte dele. Uma parede de carne escamosa se contorcendo na frente de sua irmã. A mente de Leinore congelou tentando entender tudo aquilo, mas não conseguiu. Não importava o quanto ela esticasse o pescoço; seus olhos humanos não eram suficientes para perceber. Uma sensação nauseante cresceu em seu peito. Ela não conseguia se mover, seus músculos paralisados de medo.

“Não olhe para ele!” ela ouviu Katilda gritar. “Ouça-me: se ele a comer enquanto ela usa a máscara, estamos condenadas. Preciso da sua ajuda.”

A bruxa estava segurando seu braço, ferido pela magia de Saryth. Havia uma ferida feia onde a manga de sua blusa foi rasgada. O pano estava encharcado de sangue e pus escorria da carne crua por baixo.

“Precisamos destruir Sinnia. A máscara não vai sair sozinha.”

Leinore se endireitou. Todos os músculos de seu corpo se contraíram.

“Não se atreva a tocar na minha irmã. Vou tirar a máscara dela.”

“Ela já se foi, Leinore!”

“Deixe-me tentar. Você tem que distrair Saryth para mim.”

Katilda acenou com a cabeça.

“Uma chance.” Ela ergueu seu cajado e faíscas verdes voaram da ponta.

Leinore tropeçou na terra trêmula, indo na direção de sua irmã. Quando olhou para a criatura, dois grandes olhos negros emergiram da superfície das escamas, impossivelmente grandes.

Não olhe para ele, ela pensou. Prepare-se.

Leinore tocou o braço da irmã para acordá-la de seu estupor. A mão de Sinnia estava gelada e seus olhos ardiam com uma luz forte e terrível, um brilho que Leinore acreditava ser insuportavelmente ancestral. Quando ela olhou para Leinore através dos olhos da máscara, não havia medo, apenas êxtase.

Mas quando Leinore se aproximou, ela ouviu um sussurro fraco dos lábios de Sinnia.

“Me ajude.”

Um grave som estrondoso veio do abismo, e Leinore percebeu que ainda não tinha visto a boca da criatura. Ela agarrou o braço frio de Sinnia e puxou. Sinnia deixou Leinore conduzi-la passivamente. Enquanto corriam em direção a um aglomerado de árvores, ela podia sentir o chão cair a poucos centímetros deles. Com o canto do olho, ela viu Saryth apontando seu bastão para Katilda. Trepadeiras saltaram das árvores, como serpentes vorazes, e se enrolaram na garganta da bruxa. Katilda ergueu a mão livre e o xisto explodiu do solo em direção à outra mulher em rajadas irregulares e ondulantes. Uma parte atravessou o grupo de árvores pelas quais Leinore estava correndo; ela se jogou com Sinnia para o lado.

Katilda se levantou e se virou para Saryth. A seu sussurro misterioso, uma rajada de vento chicoteou pelas árvores, reunindo um enxame de folhas que parecia girar com uma lâmina afiada, atacando Saryth. Ela mudou de posição para anular o número de cortes profundos em sua pele, perdendo o equilíbrio no processo. Por um momento, Leinore pensou que Saryth encontraria seu equilíbrio e contra-atacaria; o cajado de Saryth zumbia de energia novamente. Mas ela havia se esquecido das muitas fissuras boquiabertas ao seu redor. Em vez de pousar em chão sólido, seu pé esquerdo foi direto para uma delas.

Os olhos de Saryth se arregalaram de surpresa quando ela abriu os braços, desesperada para agarrar algo, seu cajado caindo de sua mão. Mas não havia nada em que se agarrar, nenhuma videira sobrando. E em um instante, Saryth se foi – engolida pelo abismo.

Leinore agarrou Sinnia, que lutava fracamente em seus braços. A máscara parecia ter se fundido em sua pele. Leinore tentou encontrar uma ponta para arrancá-la, mas não havia nem começo e nem fim.

O chão estremeceu novamente enquanto a enorme serpente se movia. Seu movimento parecia o fim do mundo, e estava vindo na direção de Sinnia. Muito, muito acima de todos eles, o Enrolado abriu uma boca tão larga quanto qualquer abismo, pronta para engolir as duas.

Temos que destruí-la. As palavras de Katilda ecoaram na mente de Leinore. Ela podia ver a bruxa em algum lugar do outro lado do buraco. O rosto de sua irmã estava tão calmo que a deixou enjoada. Ela nunca tinha visto ninguém parecer tão em paz, mesmo quando a criatura monstruosa continuava a se aproximar. Sinnia estava sussurrando algo. No que ela tinha certeza que seriam seus momentos finais, Leinore se inclinou mais perto para ouvir.

“Arranque-a…”

Leinore estendeu a mão para a máscara e tocou a pele da irmã. Ou o que parecia ser sua pele. Sem pensar, ela começou a puxar o mais forte que podia. Suas unhas se afundaram na bochecha de Sinnia e pela primeira vez ela gritou.

Está funcionando.

Ela puxou com mais força.

A máscara começou a rasgar como um pedaço de pergaminho molhado. O bafo do Enrolado estava quente e úmido acima delas, vindo em ondas horríveis e podres enquanto curvava aquela cabeça tremenda na direção delas.

Uma última puxada.

Sinnia gritou, ou era a besta?

Quando a máscara foi retirada, ela voltou a ser uma coisa dura feita de gravetos e folhas. O rosto de Sinnia estava tão vermelho e na carne viva que Leinore quase não a reconheceu. Mas aquele brilho terrível havia deixado os olhos de Sinnia.

“Sinnia?” Leinore olhou para o rosto dela por um minuto difícil, procurando por sua irmã.

“Obrigada,” Sinnia disse, com a voz fraca. Ela piscou algumas vezes, e então seu olhar se concentrou em Leinore.

Eles foram interrompidos por um som semelhante ao de um furacão, um urro de raiva primitiva da criatura gigante que Saryth havia libertado. Leinore cobriu os ouvidos por reflexo, mas parecia estar no meio de algum tipo de dor. Estava recuando – recuando mesmo – para baixo, para as profundezas, para o abismo de onde tinha vindo. Com um último sibilo, o Enrolado arrastou seu corpo para as entranhas da terra, puxando para baixo os ovos e a folhagem ao redor. O chão tremeu mais uma vez antes que Leinore e Sinnia o perdessem de vista.

Leinore largou a máscara. Enquanto descia pelo buraco cavernoso, ela puxou a irmã com toda a força que lhe restava e, com Katilda, elas mancaram de volta ao assentamento. Ruídos vinham de diferentes partes da floresta; gritando, chorando e até mesmo algumas risadas.

Logo, elas encontraram pessoas aos tropeções, se perguntando como haviam chegado lá e em que dia do festival estava. Os membros do Conventículo do Cervo da Aurora estavam conduzindo gentilmente as pessoas de volta ao Celestus. Ninguém estava vomitando cobras, e também não havia nenhuma na vegetação rasteira. Apenas folhas e gelo sob seus pés. Ninguém parecia se lembrar daquilo, e nenhuma alma perguntou sobre os ruídos guturais que sacudiram a floresta. Se ainda não tivesse tantos desaparecidos, seria como se nada tivesse acontecido.

Porém, Leinore sabia que aquilo não era verdade. E pela expressão no rosto de Sinnia, ela sabia que sua irmã se lembraria do que aconteceu nesta noite para sempre. Antes que os participantes do festival a envolvessem completamente, Leinore se virou e olhou para trás, para a floresta. Ela sentiu apenas fracamente – o farfalhar nas árvores, sob a terra, como se uma presença estivesse passando por ela.

A Soberana do Festival da Colheita teve um calafrio e se virou.

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