Mtg Lore
Compêndio da Lore de Magic the Gathering
Fblthp
Texto original
por Matt Tabak
O barulho que saía dos lábios de Fblthp poderia ser melhor descrito como um gemido. Ele não fala nenhuma língua que os cidadãos de Ravnica estivessem familiarizados, mas aquele som agonizante de desespero era instantaneamente reconhecível. Infelizmente, o beco em que Fblthp se encontrava estava aparentemente deserto, exceto por quem causou o gemido inicialmente.
Punhos desgastados agarraram o minúsculo homúnculo pelos braços e o levantaram até ficarem frente a frente com um humano enrijecido. O rosto do humano, severo e cheio de furos, se contorceu em um sorriso escarnecedor. Fblthp ficou em silêncio e imediatamente começou a tremer. Foi o mais assustado que ele já esteve. Era também o mais alto que ele já havia estado do chão. Uma risada, como a raspagem de botas em pedras, veio de seu captor. Após enfiar Fblthp sob o braço, como um mensageiro faz com uma carta, o humano foi em direção a uma região controlada pelo Culto de Rakdos. Não era para ter acontecido isso.
Fblthp começou a gemer novamente.
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Fblthp era imensamente grato por seu serviço ao Senado Azorius, pois raramente o obrigava a deixar a segurança e a relativa simplicidade do Jardim dos Magistrados. Suas funções também eram relativamente simples: remover detritos das passarelas, polir as placas menores que decoravam as estátuas de legisladores notáveis e alertar os agentes de segurança sobre qualquer problema. Como os regimentos proibiam qualquer coisa preocupante, o último dever raramente fora cumprido.
Como muitos outros que prestam serviço ao Senado, Fblthp desfrutava de proteções básicas e subsídios adequados para o seu cargo, conforme previsto em lei. Inclusive ele cresceu acostumado com a maneira como era tratado por seus superiores – ou seja, sendo ignorado. Ele recebeu comida e uma casa modesta. Trabalhar no jardim às vezes agravava suas alergias, então o senado também providenciou um remédio para prevenir as fortes coceiras em seu olho. Era uma existência segura e maravilhosa.
Não é comum quem membros das outras guildas visitem o Jardim dos Magistrados, e o aparecimento dessas pessoas de fora geralmente assustavam Fblthp. Os druidas Selesnya cobertos de folhas não eram muito malvados, apesar de terem tendência a acariciá-lo enquanto proferiam orações indecifráveis. Já os pesquisadores Simic diversas vezes murmuravam entre si sobre cruzar Fblthp com um morcego ou uma anêmona marinha. Nesses momentos, Fblthp geralmente “lembrava” de algum dever esquecido do outro lado do Jardim e escapulia.
Um dia, enquanto recolhia restos descartados de comida e outros lixos do Jardim, ele foi abordado por uma mulher humana. Ele reconheceu a figura imponente por sua vestimenta – armaduras rúnicas e adereços azuis. Ela era uma encarceradora. Isso era estranho, na verdade. A maioria dos encarceradores que visitavam o jardim ignoravam completamente sua presença, muitas vezes até o chutavam sem querer. Ela dirigiu-se até ele e inclinou o corpo de modo a olhar diretamente no olho de Fblthp.
“Você é Thbltpth?”, ela perguntou. A última palavra trouxe uma incontrolável emoção que tornou-se evidente no rosto do homúnculo.
Fblthp piscou duas vezes e balançou a cabeça ligeiramente.
“Eu sou Encarceradora Parisha. Sirvo à Nona Delegacia e, de acordo com a Provisão IV.126.3 do Édito de Isperia, eu requeiro sua ajuda. Por favor, me acompanhe.”
Ela ofereceu a mão. Fblthp gemeu.
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Fblthp nunca tinha entrado em qualquer uma das três majestosas colunas que compunham Nova Prahv. Elas eram incrivelmente altas, reluzentes e impecáveis. Sem dizer uma palavra, ele foi conduzido até uma câmara no primeiro andar por um serviçal vedalkeano. Piscando lentamente, Fblthp nervosamente absorvia seu novo ambiente, as paredes nuas e a inútil mobília que era alta demais para o seu tamanho. Então ele ficou ali e esperou.
Eventualmente, Parisha abriu a porta de madeira e entrou. Determinada e eficiente, mas sem ser rude, ela se sentou e colocou dois pergaminhos sobre a mesa. Ela olhou com expectativa para Fblthp, e olhou para a cadeira oposta. Percebendo a impossibilidade de seu silencioso pedido, levantou-se e ergueu Fblthp da cadeira. Era o mais alto que ele já havia estado do chão.
“Esse é Vedax Gor”, Parisha proclamou em tom ríspido enquanto desenrolava o primeiro pergaminho. “Há meses, ele associou-se a um certo estabelecimento Rakdos. Um tipo de clube de diversão, como eu soube que é conhecido”. Parisha cuspiu a frase com desagrado. Fblthp tremeu um pouco perante a imagem do estranho humano. Seu rosto era repleto de cicatrizes, piercings e tatuagens. Pedaços rasgados que mal podiam ser qualificados como roupas encontravam-se pendurados preguiçosamente sobre aquela criatura desnutrida. Fblthp nunca tinha encontrado nada parecido com ele. E nem queria.
“Vadax Gor gosta de todos os tipos de depravação”, Parisha continuou, “mas ultimamente seus gostos têm se especializado perversamente. Ele não se satisfaz mais em manter sua tolice contida no Culto. Ele é suspeito do desaparecimento de dois dos nossos cidadãos. Com sua ajuda, não haverá um terceiro. Investigadores ainda não encontraram evidências diretas do envolvimento em Gor nestes sequestros, por isso precisamos pegá-lo no ato.”
O olho de Fblthp se arregalou. Ele brevemente cogitou a possibilidade de sair correndo porta afora e se Parisha poderia alcançá-lo, mas ele sabia que isso era tolice. Ele não teria permissão para voltar para suas funções se desobedecesse uma encarceradora. Além disso, ele ainda estava muito alto naquela cadeira. Ele não tinha certeza se poderia saltar para baixo, sem se machucar. Sem outras opções, Fblthp gemeu baixinho.
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“Os dois últimos sequestros ocorreram próximo desta loja de peles”, Parisha disse, apontando para o segundo pergaminho desenrolado, que era um mapa. “Acreditamos que o proprietário da loja está de alguma forma envolvido. Talvez ele esteja informando Gor quando um provável alvo aparece. Você irá até essa loja para entregar esses formulários de impostos. Eles terão de ser preenchidos de imediato e em três vias. Se nossas suspeitas estiverem corretas, Gor se movimentará assim que você sair de lá.”
Se ela tivesse dito apenas isso, Fblthp certamente teria corrido, mesmo que isso significasse deixar para trás seus deveres no amado Jardim. Mas seu olhos se suavizaram momentaneamente e ela continuou. “Não temas, pequeno. Meus agentes e eu vigiaremos toda a área. Nós nunca te perderemos de vista. Você não ficará em perigo. Gor não colocará as mãos em você. Você estará de volta ao Jardim dos Magistrados em poucos dias. Além disso, o Édito de Isperia não me permite falhar com você.” Ela sorriu um pouco.
Fblthp não tinha certeza se acreditava naquilo, mas ele parou de tremer e assentiu lentamente.
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Fblthp sempre odiou multidões. Ele correu pela movimentada via ravnicana, seu olhar passando rapidamente de transeunte para transeunte. Ninguém lhe dava muita atenção, o que ele gostava. Ninguém estava particularmente fazendo qualquer esforço para contorná-lo também. Ele quase foi chutado uma meia dúzia de vezes antes de chegar ao seu destino.
O proprietário e guasqueiro era humano, mas apenas tecnicamente. Corpulento como um ogro e duas vezes mais feio, ele se elevou sobre Fblthp e grunhiu. Fblthp apresentou humildemente uma pasta de documentos. O homem grunhiu novamente e abriu-a. Pedaços de comida caíram de sua barba desgrenhada enquanto ele começava a leitura – um feito impressionante, considerando todas as coisas. Um fungar ensurdecedor retumbou do nariz daquele homem pela sala enquanto ele seguia para o depósito. Fblthp piscou e olhou para a comida no chão, desconfiado.
Depois de um tempo, o proprietário apareceu e jogou os formulários preenchidos para cima de Fblthp. O homúnculo curvou-se e virou-se para sair. O homem fez um barulho ensurdecedor de novo, mas Fblthp não entendeu o motivo. Conforme instruído, ele foi em direção às ruas atrás da loja. Parisha, disfarçada como cliente no mercado de frutas ali perto, fez rápido contato visual com o homúnculo enquanto ele desaparecia no beco. Isso fez com que ele se sentisse melhor.
Fblthp desceu o beco lentamente, mas com crescente confiança. Ele imaginou que Parisha e seus companheiros fariam prisões a qualquer momento e que ele poderia voltar para o jardim. Ele pensava nas águas mansas dos lagos nos canais do jardim quando um som terrível surgiu atrás dele. Virou-se rapidamente, esperando ver Parisha ou um dos outros encarceradores. Ao invés disso, a forma terrível de Vadax Gor emergiu das sombras. Fblthp deixou cair sua pasta e gemeu.
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A confiança e a velocidade de Gor cresceram assim que ele deixou a cena do crime para trás. Fblthp fechou seu olho, não querendo ver o destino que o aguardava. Ele sentiu Gor virar à esquerda em um cruzamento. Depois à direita. E então, sem aviso, parou. Fblthp abriu um pouco o olho ao sobressalto. Ele se contorceu para dar uma olhada em Gor, que agora estava paralisado. Ele abriu o olho um pouco mais, sem compreender o que estava acontecendo.
Parisha aproximou-se por trás deles depois da perseguição. “Vadax Gor”, ela gritou entre respirações pesadas, “você está preso”. Enquanto ela o prendia, ela soltou Fblthp das garras do detido. Fblthp notou um brilho azul ao redor de Gor, que ainda estava imóvel.
“Minhas desculpas, pequenino”, Parisha murmurou. “O guasqueiro da loja deve ter suspeitado de algo e atacou um dos meus agentes, antes que pudéssemos começar a nossa busca. Foi um ligeiro atraso, mas você não estava em perigo.” Eles rapidamente se reuniram com outros encarceradores, que arrastaram o peso morto conhecido como Vadax Gor pelo beco em direção à praça.
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Fblthp estava em uma antecâmara no sexto andar da Coluna Lyev. Era o lugar mais alto que ele já havia estado do chão. Parisha estava ao lado dele. Silenciosamente, ela se virou, ligeiramente curvada, e acenou para ele. Fblthp não tinha percebido a porta de mármore até que um oficial atarracado e robusto entrou na sala.
Parisha o saudou. “Senador”, ela cumprimentou reverentemente. Fblthp piscou.
“Encarceradora. Parabéns pela missão bem sucedida. Este é quem você mencionou no seu relatório?” Ele olhou para baixo enquanto lia um pedaço de pergaminho. “Cthillcip?”
“Sim, Senador.”
“Muito bem”. O ancião burocrata voltou seu olhar para o homúnculo de meio metro de altura. “Nos termos da Portaria III.875.2b Édito de Isperia, por favor, aceite meus agradecimentos em nome do Senado e dos cidadãos de Ravnica. Embora recompensa monetária não seja permitido, seus descendentes podem solicitar ao Senado o fornecimento de uma placa contando seus feitos honrosos para ser colocada em sua lápide após morte”. Ele virou-se e saiu da sala.
Parisha acenou para a saída sul da sala. “Venha! Já está na hora de você retornar aos seus deveres.” Fblthp praticamente saltou em direção à porta, ansioso para ver o Jardim novamente.
“Pelo menos, até a próxima missão.”
Fblthp gemeu.
Traduzido por: Lamazuus
Revisado por: Blackanof
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