Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

EPISÓDIO 5: TÃO CRUEL, QUANTO NECESSÁRIO

4562 AR

Teferi estava deitado sem camisa em uma urna de metal frio, contando sua respiração. Quanto tempo ele tinha antes da transmissão? Um minuto no máximo, embora parecesse uma eternidade.

Uma rápida batida na tampa da urna. Era Kaya, perguntando se ele estava pronto.

Tinha se passado um mês e alguns dias de testes, de se aventurar uma hora no passado, um dia, até uma semana, garantindo que nada havia mudado, que as frases secretas que Kaya e Saheeli escreveram e plantaram dias atrás fossem relatadas com precisão ao presente; um mês disso e Kaya ainda perguntava se ele estava pronto. Se ele estava bem. Teferi sorriu dentro da urna, um sorriso suave e triste. Esses novos planinautas eram diferentes dos que ele havia conhecido. Mais humanos – mesmo que não fossem humanos.

Teferi bateu duas vezes no interior da tampa. Ele estava pronto.

Um leve brilho roxo se espalhou diante dele, iluminando sua visão com sombras ultravioleta e sombras cada vez fortes. Uma leveza formigava nas pontas dos dedos, nos dedos dos pés.

Um pensamento reconfortante, caso ele não voltasse: Kaya lideraria todos eles. Ela e Elspeth, e Jace também. Boas mãos. Teferi expirou e tentou ficar confortável. Ele pensou em Wrenn e suas canções.

O metal parecia não se aquecer nunca, não importava quanto tempo ele ficasse sobre ele. Quanto tempo A Guerra das Antiguidades disse que Tawnos ficou em seu caixão? Cinco anos?

“Você pode perguntar a ele,” Kaya disse. A voz dela era fraca, sibilante em sua mente. Ele não podia ouvi-la – ela falava através dele, para ele. Nesse estágio intermediário entre o corpóreo e o insubstancial, havia cada vez menos distinção entre os dois.

Teferi riu, Kaya riu. Eles não conseguiam se conter – os nervos, a fadiga. Kaya era sua médium; ela já estava na cabeça dele. Mais precisamente, ele estava na dela.

“Lembre-se,” Kaya sussurrou. “Concentre-se no céu. Encontre a escuridão mais profunda.”

Foi o que Teferi fez. O zumbido da Âncora Temporal subiu mais um tom.

“O tempo é uma tapeçaria, e você é uma agulha.”

Perfurando. Uivando.

A urna começou a esquentar. A respiração de Teferi ficou mais rápida. Ele não conseguia ouvir nada além dos tons em camadas da âncora se elevando. Ele ouviu Kaya e Saheeli gritando entre si durante a cacofonia, a voz de Kaya ecoando em sua própria mente.

Ele nunca se acostumava com essa parte. Ele odiava este momento, este arrancar da sua centelha e alma do corpo-

“Vai.”

Arte de Kekai Kotaki

Ele sentiu seu corpo escorregar,

e com ele o metal frio

da urna telecópia.

A missão não era o problema. Eles tinham seu alvo identificado e sabiam onde procurar respostas. Eles tinham a energia, as armas, tinham conhecimento e aliados. Essencialmente, eles tinham um novo sílex.

O problema era que eles não sabiam como usar a maldita coisa.

Saheeli havia construído uma réplica basicamente perfeita dos planos e anotações de Karn, mas apesar de todo o seu brilhantismo ela era apenas uma engenheira. O mistério da ativação do sílex não era mecânico – era mágico, um feitiço enterrado na história, e a história não era confiável.

A saber:

O sílex golgothiano foi criado ou descoberto por Feldon, um estudioso de idiomas e geleiras antigas, algumas décadas antes da Guerra dos Irmãos. Além disso, foi criado por Ashnod, esculpido a partir da calota craniana do qadir que seu mestre, Mishra, substituiu. Além disso, ele havia sido retirado do poço de icor mais profundo da Velha Phyrexia por Gix, um demônio que deslizou para Dominária de sonhos de aço e óleo. Além disso, o sílex foi esculpido do dente de um gigante e mantido pelos kobolds das Khers; também era uma das lágrimas endurecidas de Tal, a coroa enfeitiçada de uma estrela cadente, o coração derretido de uma montanha moldada por anões de Sardia, e assim por diante.

Os mitos de criação daquele velho destruidor de mundos enchiam páginas e páginas, e não havia como dizer qual deles era verdadeiro. Da mesma forma, o fim do próprio sílex.

Karn acreditava que o dele era o verdadeiro, mas as histórias que Teferi havia desenterrado falavam do sílex sendo destruído por Urza, ou despedaçado por Jared Carthalion, ou consumido por um grande dragão morto há muito tempo, ou jogado em um lago como tributo a algum deus aprisionado no gelo.

Pelos cálculos de Teferi, havia quatro ou cinco sílexes que valiam a pena seguir, e histórias contraditórias para todos eles: daí a âncora, a agulha e a tapeçaria.

“Então, como vamos encontrá-lo?” Saheeli perguntou. Ela tinha um modo direto e focado em soluções que Teferi apreciava em uma crise.

Teferi olhou para os papéis, pergaminhos, manuscritos, gravuras e tomos antigos espalhados diante dele. Eles cobriram a velha mesa de desenho, uma camada de história que abrangia milhares de anos de lendas dominarianas. Todos eles eram inúteis, ele pensou, exceto por um.

Teferi estendeu a mão e empurrou as histórias de lado, derrubando algumas no chão enquanto procurava. Ele havia lido e descartado no início – não por falta de habilidade, mas por falta de detalhes.

Saheeli não disse nada. Ela arqueou uma sobrancelha e observou o mago do tempo jogar textos valiosos em cantos bolorentos até que ele se levantou, triunfante, segurando um manuscrito cheio de marcas de mofo.

A Guerra das Antiguidades,” Teferi disse. Ele bateu os papéis na mesa e os abriu. “Aqui,” ele disse, batendo um dedo no épico mofado. “A esposa de Urza, Kayla bin-Kroog, escreveu este épico narrando a história da guerra que ela mesma testemunhou. Existem muitas versões e traduções, mas todas terminam da mesma forma: Urza ativou o sílex em Argoth e encerrou a guerra.” Teferi olhou para Saheeli. “Nós vamos até aqui – a última batalha da Guerra dos Irmãos.”

“É suficiente.” Saheeli assentiu. “Vou começar a trabalhar.”

Arte de Kekai Kotaki

Ele sentiu que ela estava com ele

Ele era a agulha dela através do tempo,

um espírito que ecoou, ecoou,

Ecoou.

Urza, esta urna, o sílex, os phyrexianos – fios suficientes para Teferi ter certeza de que havia alguma arquitetura cósmica maior, alguma lógica animando este momento que nem mesmo ele poderia esperar entender. O ritmo incognoscível do destino movendo não apenas Teferi, mas todos eles em uma grande orquestração ao longo da história. Tudo o que Teferi podia fazer era olhar para trás através de seu caminho sulcado e esperar que algo em seu rastro indicasse o que estava por vir.

Teferi manteve essa preocupação em segredo. Não seria reconfortante para seus amigos e aliados ver o abalizado cronomante tão diminuído. Saber que ele era um capitão de olhos vendados ao leme, apenas um marinheiro pela primeira vez no mar.

À noite ele ficava sozinho em seu quarto perto do topo da velha torre de Urza, olhando para o chão desgastado, incapaz de dormir.

Teferi estava tão perdido quanto o resto deles.

A escuridão era absoluta,

Ele flutuava, s

Sozinho?

A cabeça de Teferi doía. Com toda essa peregrinação temporal, ele não dormia bem há semanas. Ou talvez sim, talvez ele estivesse dormindo esse tempo todo. Ele não se lembrava.

Na urna, Teferi usava uma venda nos olhos e um simples conjunto de roupas de baixo. Uma faixa enrolada em sua cintura. Embora já tivesse passado algum tempo e Elspeth tivesse colocado as mãos e tratado sua ferida com Halo, a criatura phyrexiana o feriu profundamente. Ele sentia a dor quando respirava, embora ele também guardasse isso para si. Fosse a phyresis roendo sua medula ou os phyrexianos ameaçando as portas barricadas desta câmara, a aproximação da morte era constante e imparável. A não ser que-

Ecos. Tempo. A história se repetindo, com variações. Teferi não sabia se a criatura que o retalhou havia deixado óleo brilhante nele. Ele não sabia se Elspeth, Wrenn, Jodah e os outros não conseguiriam segurá-los agora. Tudo o que ele podia fazer era cumprir seu papel.

Teferi controlou sua respiração. Ele não sabia quando era agora.

Ele tinha morrido? Ou havia mais alguém na escuridão com ele?

Conte as batidas

Um, dois, três, quatro,

Porque estava demorando tanto…

Tudo o que Teferi aprendeu com viagem no tempo foi a piada óbvia e verdadeira: só era possível seguir em frente, uma vez, e apenas no ritmo da vida.

Urza quebrou este axioma. Teferi estivera lá e sabia que isso custava quase tudo. Desde seu próprio encontro com o tempo, ele se manteve longe de violar aquela lei. Manipular o tempo era como lançar faíscas em um oceano de grama seca: o incêndio era quase garantido. A única coisa deixada ao acaso era o poder do fogo que se seguiria.

Mas e quando o campo já estava queimando? Quando o fogo já havia engolido tudo?

para ambos

a agulha e sua linha, piscando-

Uma vez colocado em movimento, você não pode pará-la

Prata.

A prata poderia burlar a inflexível lei do tempo. Urza descobriu que a prata poderia viajar fisicamente de volta no tempo, criou Karn e, Teferi supôs, começou todo esse rolo.

A viagem física não era o que Teferi e os outros precisavam ou desejavam. A viagem física seria o mesmo que estar no fogo e se encharcar com óleo de lamparina. Não, eles não precisavam voltar – eles só precisavam ver o que havia acontecido.

Saheeli havia resolvido o problema. Esqueça a prata; se você está indo para um incêndio, vá como uma faísca. Extraindo o próprio espírito e lançando-o de volta, não teria como alguém interagir com o passado porém continuaria capaz de observar – o contrário também deveria ser verdadeiro, ou, pelo menos, não falso.

No papel, isso fazia sentido.

Assim como o plano de Urza, Teferi lembrou a si mesmo – e como isso acabou? Tolária em chamas, fendas rasgadas no tempo, essa demora interminável. Se não houvesse uma ameaça tão grande que justificasse essa empreitada, Teferi nunca teria concordado com essa expedição.

Se não houvesse uma ameaça tão grande, Urza nunca…

Sim, sim, pensou Teferi. É claro.

E no final? O que

ambos diriam de sua atemporalidade?

Era como cair, como dançar.

85 AR

Teferi chegou em um quarto escuro em uma cidade inundada que mais tarde ele descobriria ser Kroog.

Lá, ele viu um homem bruto enlouquecer e gritar sobre fantasmas e assassinos. Isso era preocupante: ninguém deveria poder vê-lo. Nenhum dos testes que fizeram indicou que alguém pudesse vê-lo como um espírito.

Teferi partiu; de qualquer forma, este não era o momento que ele estava procurando.

28 AR

Teferi estava em um beco escuro sob um céu ardente. Ele estava de volta a Kroog. Ele a reconheceu imediatamente das torres: durante sua primeira visita, eram ruínas desmoronadas. Agora, elas estavam orgulhosas acima de uma cidade sitiada. Os sinos ressoaram acima de gritos crescentes.

Os mortos estavam por toda parte.

Esta não era a Última Batalha, mas Teferi permaneceu por um momento. Um soldado, um menino com o que Teferi mais tarde aprenderia a ser um uniforme Fallaji, estendeu a mão para ele. Ele disse alguma coisa repetidamente, uma palavra melancólica que, embora Teferi dissesse a si mesmo que não entendia, ele sabia o que ela significava.

“Pai,” o jovem engasgou. O menino morreu.

Teferi se levantou, mandíbula apertada. Seu corpo estremeceu na urna, como se faz quando está sonhando.

“Ainda não,” ele sussurrou.

Kaya, que via tudo que Teferi via, nunca falou desse momento para ninguém.

44 AR

Teferi caminhou por um vale de ossos em algum lugar a sudeste de Tomakul. Esta era a mesma guerra que ele viu dias antes, agora décadas depois. Metastisada pelo seu auge mecanizado.

Trincheiras longas e profundas estriaram a terra. Se Teferi pudesse voar acima dali, ele olharia para um mundo ondulante com cicatrizes lamacentas. Cadáveres de máquinas e humanos eram grossos como colheitas no campo de um fazendeiro, presas em valas e arames, retorcidas e quebradas. Entre elas marchavam colunas de soldados carregados de mochilas sob casacos molhados de chuva. Eram exércitos de homens mais mortos do que vivos, tão espectrais na alma quanto Teferi estava no corpo.

Arte de Sam Burley

Assim que os exércitos passaram, carniçais espreitaram os campos dos mortos, colhendo os corpos que consideravam úteis. Teferi assistiu figuras vestidas de preto e trêmulas carregarem carrinhos rústicos com cadáveres humanos e de máquinas, puxando-os para Tomakul, até que um deles o viu.

Teferi partiu, preparando-se. Se este campo esquecido lhe parecia um círculo do inferno, então que terrores a Última Batalha reservava?

4562 AR

Teferi, Kaya e Saheeli sentaram-se ao redor da urna aberta, Teferi comendo enquanto Kaya e Saheeli bebiam café. Era um momento horrível entre a noite e a manhã. Nenhum deles dormia mais.

Lá fora estava tranquilo. Kaya disse a Teferi que Elspeth havia chegado uma ou duas horas antes dele sair. Ela perguntou sobre o progresso dele e disse a eles que os phyrexianos estavam perto.

“O que significa ‘perto’?” Saheeli perguntou a ela.

“Travem a porta quando eu sair,” Elspeth respondeu. Ela estava na linha de frente com outros planinautas, e sua voz estava rouca de tanto gritar por cima dos sons do combate.

O tempo estava se esgotando. Sucesso ou fracasso, eles estavam presos até o fim.

“Encontrei,” Teferi disse, quebrando o silêncio.

“Quando?” Kaya perguntou.

“Quando eu estava voltando,” Teferi disse. “Eu vi, como uma cicatriz. Parte da tapeçaria borrada, como tinta derramada em uma página. Tempo borrado. Eu ainda não estive naquele ainda.”

Kaya assentiu. Ela não precisava de uma explicação.

“A âncora pode não ser capaz de fazer outra viagem,” Saheeli disse. Sua voz era a mais suave das três, mas soava melhor nesta sala fria e abobadada.

“O que acontece se a âncora falhar enquanto ele estiver dentro?” Kaya perguntou.

“Eu não sei,” Saheeli admitiu. “Eu acho que ele morre. Seu corpo morre, pelo menos. Sua centelha,” ela acenou com a mão, os dedos dançando em direção ao teto. “Nada bom.”

“E ela?” Teferi disse, acenando para Kaya. “Ela é minha médium – ela está lá comigo. O que aconteceria com ela?”

“Teferi, eu só construí a âncora,” Saheeli disse. “Sou engenheira. Eu sei como isso pode falhar. A pedra de energia da âncora pode entrar em erupção ou a ponte temporal entrar em colapso. A urna pode superaquecer e implodir.” Saheeli tomou um gole de café. “Eu sei como as máquinas quebram,” ela disse, “não o que acontece com uma alma quando é separada de seu corpo.”

Eles deixaram as palavras de Saheeli serem as últimas sobre o assunto. Eles terminaram seu café e lanches. Sem dizer nada, Teferi deslizou de volta para a urna e colocou a venda de volta sobre os olhos.

“Pronta?” Kaya perguntou a Saheeli.

“Sim,” Saheeli concordou.

“Teferi?”

“Vamos,” Teferi disse. “Vejo vocês daqui a pouco.”

Kaya fechou a tampa da urna. Na escuridão, Teferi deslizou.

63 AR

Urza estava sentado de pernas cruzadas com a tigela no colo. As runas dentro da tigela espiralaram em direção ao centro. O sangue do ferimento que jorrava em sua testa gotejou na tigela e encheu as runas esculpidas de carmesim.

Nos dias atuais, Kaya sussurrava seu diálogo com Teferi, retransmitindo tudo o que ele via. Sua voz tinha uma ressonância mais profunda, uma camada que colocava a voz de Teferi sob a dela. Saheeli, embora estivesse ocupada com a âncora, não pôde deixar de ouvir.

“O sangue do corte na testa de Urza está caindo na tigela, preenchendo as runas. Ele está sentado de pernas cruzadas com a tigela no colo,” Kaya murmurou. Ela balançou, suando, as mãos colocadas na urna.

A máquina Mishra havia se recuperado da avalanche e agora estava subindo a colina, sua cabeça de dragão gritando. Urza olhou para cima e viu o rosto de seu irmão, meio rasgado pelo crânio metálico embaixo, e chorou por ele.

Arte de Chris Rahn

“Seu irmão está perto. Pode ter desencadeado uma espécie de ressonância empática entre os dois. Talvez seja preciso mais de uma pessoa focada, algum estado emocional elevado – ou pode ser a proximidade da tecnologia phyrexiana,” Kaya disse.

“O que mais?” Kaya perguntou.

“Lágrimas. Muitas lágrimas. Urza nunca chorou. Ele está tão… humano aqui,” ela respondeu.

A máquina Mishra havia alcançado o topo da colina, e sua cabeça de serpente pairava acima deles. Mishra estava sorrindo, o sorriso meio carne e meio aço. Era o sorriso de um homem triunfante.

Mishra estava gritando alguma coisa.

Um flash na base da tigela—

Um flash na base da tigela—

Um flash na base—

Um flash-

“PARE!”

4562 AR

Teferi voltou ao presente.

Ele mal conseguiu sair da urna antes de vomitar, tossindo uma mistura fina de água e bolachas salgadas no chão de pedra fria da câmara. Ele tremeu, a ferida em seu lado doendo. Atrás da venda que ele usava contra o brilho do mundo real, um caleidoscópio de cores girava.

“Eu quase consegui,” ele mentiu enquanto Kaya o ajudava a sair da urna. “Acho que tem a ver com o sangue, ou talvez com a profundidade dos sulcos. Saheeli,” gritou Teferi. “Seu sílex espirala? As runas?”

“Claro que sim,” Saheeli gritou da base da âncora, onde estava ocupada fazendo pequenos ajustes e reparos.

Kaya pressionou uma toalha fria na testa de Teferi. “Ouça,” ela disse, firmando-o enquanto ele balançava. “O que estamos vendo lá atrás – ao que seu espírito está exposto – é brutal.”

“Temos tempo para descansar?” Teferi perguntou.

“Coma,” Kaya disse, ignorando a pergunta.

Teferi comeu uma pequena quantidade, tanto quanto seu estômago aguentou. Ele tomou um gole de água e voltou para dentro da urna. O som da luta do lado de fora da câmara passou despercebido.

“Depressa,” Kaya disse. “Por favor. Isso é difícil para mim também.” Seu comportamento habitual, sua atitude despreocupada se fora.

Kaya estava certa e Teferi sabia disso. Como sua médium, ela poderia muito bem estar ali com ele toda vez que ele voltava.

“Dê-me o máximo de tempo que puder,” Teferi disse.

Kaya olhou para a barricada que eles haviam empilhado contra a porta da câmara, depois de volta para Teferi. “A última vez,” ela disse. Ela fechou a tampa da urna e travou os trincos.

No silêncio da urna de estase, Teferi sentiu que poderia estar em qualquer lugar. Estava quente agora, confortável e fedia a seu suor. Ele expirou e esperou Kaya fazer seu trabalho.

Duas batidas suaves na tampa do caixão – suas mãos. Uma espiral roxa, espalhando-se como fogo silencioso pela tampa interna, brilhante através de sua venda.

Seu corpo caiu. Ele estava em qualquer lugar.

Uma divisão entre o tempo real – isto é, o que Teferi pensava ser o presente, que ele não conseguia ver além – e aquela época. Com a ajuda da Âncora Temporal de Saheeli e a extração e mediunidade de Kaya, era uma tarefa bastante fácil para Teferi transitar entre o tempo real e o passado; a dificuldade era a fadiga e a navegação. Ele poderia voltar a qualquer ponto de que pudesse se lembrar, mas primeiro tinha que descobrir o momento. A viagem o deixava exausto e fraco.

Teferi, da melhor forma que pôde, deixou seus medos de lado. Ele tentou deixar a tarefa atual substituí-los. Um mês de busca meticulosa, e ele finalmente encontrou o momento que precisava quando era mais desesperador. Os phyrexianos estavam, literalmente, na porta.

Sozinho, Teferi ficou sob um firmamento que sua mente lhe disse que era um céu noturno e procurou a nebulosa escura que ele sabia ser a Guerra dos Irmãos. Ele a encontrou e deu um passo para dentro, seu espírito cruzando milênios com um pensamento. Dentro daquele espaço havia uma escuridão múltipla, um nada estampado com texturas que Teferi tinha apenas começado a compreender.

Ele encontrou o curioso borrão infernal que ele esperava ser a Última Batalha, e – como uma agulha atravessando o tecido – mergulhou dentro.

Um céu negro. Uma praia chuvosa. Ruínas de metal tiquetaqueando e se contorcendo, ainda se arrastando em direção a seus inimigos. Dois constructos titânicos desmoronaram um sobre o outro no antigo campo selvagem. Atrás dele, ondas de manchas oleosas batiam e rugiam, arrastando cadáveres para cima e para baixo na areia manchada.

Argoth. A última batalha. Momentos antes do fim do mundo, novamente.

Arte de Chris Cold

63 AR

A máquina Mishra havia alcançado o topo da colina, e sua cabeça de serpente pairava acima deles. Mishra estava sorrindo, o sorriso meio carne e meio aço. Era o sorriso de um homem triunfante.

Mishra estava gritando alguma coisa.

Um flash na base da tigela-

Tudo parou.

Aquilo não era totalmente preciso. Tudo desacelerou. Com um gesto, Teferi dividiu a progressão do tempo pela metade até um número infinito. O tempo, tanto quanto Teferi pôde observar, congelou.

O comando sobre o tempo era um poder incrível. Divino. Teferi sabia que era desastroso, então ele era um praticante cuidadoso. Ele pensou que a resposta estava na observação, em tomar um cuidado especial com este momento para observar cada detalhe dos movimentos, emoções e palavras de Urza. Havia tanta coisa que ele não sabia, então ele tentou observar e relatar cada coisa – até mesmo a chuva, no caso de ser um componente do feitiço.

Todo esse cuidado o recompensou com nada. Nada do que ele viu aqueceu a tigela da telecópia do sílex de Saheeli. Ele tinha que encontrar uma maneira de ir além.

Teferi pensou em um jeito. Era um risco. Isso já não era um risco? Tudo poderia dar errado, sim, mas em seu tempo tudo já estava dando errado: Karn se foi, os phyrexianos estavam em Dominária novamente, Jaya estava morta, seu último reduto estava prestes a cair. Qual era a pior coisa que poderia acontecer? pensou Teferi. O fim do Multiverso?

As circunstâncias o levavam a ser imprudente. Aquela redução infinita que o protegia também o distanciava; ele precisava alinhar seu tempo com o de Urza.

Era um risco terrível. Teferi pesou o que sabia: Urza não morreu quando o sílex detonou. Ninguém sabia como ele voltou ou quando, mas Teferi o conheceu quando ele era jovem. Ele havia estudado com ele na Academia Tolariana. No entanto, só porque Urza viveu isso não significava que Teferi – mesmo como um espírito – poderia resistir à explosão do sílex. Aquele artefato era mais do que apenas uma bomba: o Fragmento dos Doze Mundos, a Era Glacial, todos os eventos importantes dos últimos quatro milênios — tudo veio depois desse momento. Sua família veio depois deste momento. Se Teferi pudesse respirar fundo, ele o faria. Um pensamento, enquanto ele agia: a existência não é garantida.

Teferi parou de segurar o tempo.

O Multiverso se dilacerou.

Tudo aconteceu.

Arte de Joseph Meehan

??????

O que restava de Urza estava sentado de pernas cruzadas em um pedaço de terra argothiana. O sílex estava equilibrado em seu colo, cheio de luz branca e corrosiva congelada em um desabrochar.

Teferi estava a uma curta distância, um espírito em matizes suaves. Ele podia ver pouco de Urza atrás da luz emitida pelo sílex, mas o suficiente para ver a silhueta do planinauta dentro da detonação.

Juntos, os dois estavam sozinhos em um vazio empíreo. O chão embaixo deles era um pequeno pedaço de Argoth, e então um nada inexistente em todas as direções. Para Teferi, parecia que eles estavam dentro da barriga de uma nuvem.

Urza. Quanto tempo fazia desde que Teferi o viu pela última vez? Quantas existências, quantas vidas? Teferi caminhou até Urza e sentou em frente ao sílex. Ele limpou a garganta.

“Eu preciso te contar algumas coisas sobre o futuro,” Teferi disse para Urza. “Seu futuro, meu presente. É do interesse de tudo e de todos.”

Urza olhou para cima, seu rosto era uma crânio bruto e sorridente. “O que?” ele disse, sua voz livre de queimaduras.

“Não serão coisas boas,” Teferi enfatizou.

“Curioso,” Urza disse. Ele olhou para o sílex, para a luz saindo de um ponto iluminado no ponto mais baixo da tigela, depois para o espaço que os cercava. “Não se espera notícias felizes em um vazio disforme,” ele murmurou. “Esta é a vida após a morte?”

“Não,” Teferi disse. “Espero que não.”

“Tudo bem, então,” Urza disse. “Quem é você?”

“Em um instante – eu preciso da sua ajuda.”

“Você disse que é do meu futuro,” Urza disse, ignorando a insistência de Teferi. “Que você precisa da minha ajuda. Como você sabe se falar comigo vai mudar alguma coisa?” Urza acenou para a vastidão da eternidade. “Ou pior – talvez isso mude tudo.”

Teferi hesitou. “Não tenho certeza,” ele disse. “Nós tivemos que aproveitar essa chance.”

“Nós,” Urza disse. Uma pergunta, colocada como um comentário. “Ou o que você vai me dizer importa muito, ou não importa nada.”

“Parece que sim,” Teferi murmurou. Os dois homens ficaram em silêncio. Eles olharam mais uma vez para o sílex, aquela coisa ruinosa.

“Primeiro você deve saber que é um grande homem agora,” Teferi disse. “Mas você não é nada parecido com o que você se tornará.” Ele bateu na beirada do sílex. O núcleo sólido da luz, tenso como água borbulhante na borda da tigela, oscilou. Aquela luz era a destruição, Teferi pensou. Ele estava olhando para o fim de uma era e o alvorecer de outra.

“E o que é isso?” Urza perguntou. Ele embalou a tigela em seu colo. A maior parte dele foi queimada pela detonação do sílex, mas ele não parecia estar com dor. A carne enegrecida se soltou para expor o osso esfolado, e onde não havia nada havia uma luz mais brilhante — uma centelha, coalescendo.

Sua centelha. Neste momento, Urza estava se tornando o que ele se tornaria.

“Alguns provavelmente o chamariam de deus.” Teferi pensou em seus dias de escola. “Outros o chamariam de maldição. Eu o chamei de meu professor; a maioria o conhece como ‘Planinauta’.”

Urza não conseguia mais sorrir – seu crânio havia enegrecido e desmoronado, seus ombros e costelas queimadas em cinzas. E, no entanto, sua voz era forte como quando ele estava inteiro.

“Não há nada que eu possa fazer para mudar isso, não é?” Urza perguntou. Ele parecia exausto, e não melancólico. Cansado como um homem que passou décadas sem dormir.

“Se estou aqui agora,” Teferi sussurrou, “acho que não há nada que você ou eu possamos fazer para mudar o que vai acontecer. O tempo não passa como o ponteiro de um relógio: já está acontecendo.”

“Então o que é isso,” Urza disse, gesticulando para o vazio sem forma que os cercava. Ele ficou de pé, cambaleando, todo o seu torso caindo em pedaços escuros de cinzas.

“Permita-me fazer uma palestra por alguns momentos?” perguntou Teferi.

“Gaste todo o tempo que precisar,” Urza disse, um sarcástico rosnado surgindo em sua voz.

Teferi, ainda sentado, recostou-se, descansando como se faz em um campo macio de grama, como se estivesse tomando sol. “Existem muitas metáforas para o tempo,” Teferi começou Teferi. “Todas são verdadeiras, até certo ponto. Juntas elas formam um mosaico de compreensão.” Teferi observou enquanto Urza se aproximava da beira do chão. Se ele ainda tivesse traços, Teferi imaginou que ele estaria olhando para o vazio.

“Há algo lá fora,” Urza sussurrou. “Rápido.”

“As pessoas dizem que o tempo flui como um rio,” Teferi disse. “Mas isso só abarca o avanço do tempo.”

Apesar de sua evidente frustração, Urza estava curioso. Ele escutou enquanto Teferi falava.

“Isso não está totalmente errado nem totalmente certo. É apenas limitado pela nossa perspectiva. Humanos, quero dizer. Temos um ângulo no prisma da existência: só vemos o tempo indo em uma direção, então imaginar o tempo como um rio não é errado. E já que todos somos parte disso,” Teferi acenou com a mão para o vazio ao redor deles, “nossa metáfora contém um pouco da verdade. Rios são agentes da passagem do tempo. Eles existem em uma escala maior do que nós. Eles também guardam mistérios: se caminhássemos ao longo de qualquer rio – o Mardun, talvez – encontraríamos lugares onde ele se transforma em espirais e redemoinhos, dispara em pequenas ramificações que não levam a lugar algum, ou se junta a outros rios, ou é cortado por seus próprios lagos. Esses lagos são lugares de paradas do rio; se o tempo é um rio, então esses lagos são momentos em que o tempo para.” Teferi disse: “Acho que estamos em um desses agora.”

Após um momento de pausa, Urza finalmente falou. “Por quê?”

Teferi sorriu e balançou a cabeça. “Não faço ideia. Eu arrisquei com base no que eu sabia ser verdade – estou tão surpreso de estar aqui quanto você.”

“Você diz que no futuro eu vou me tornar um professor?”

“Daqui a muitos milhares de anos,” Teferi disse.

Urza zombou. “Preciso trabalhar minha pedagogia,” ele disse. Rude, mas não cruel. Teferi conhecia Urza de sua própria juventude em Tolária bem o suficiente para saber que o velho bode aprovava sua decisão. “Então o que vem depois?” Urza disse. “O que eu preciso saber para que eu possa dizer o que você precisa saber?”

“Você vai encontrar mais deles,” Teferi disse. Ele não precisava explicar; Urza entendeu quem “eles” queria dizer. Seu irmão e o demônio de Koilos.

“Você vai passar sua vida tentando lutar contra os phyrexianos. Primeiro pelo que fizeram com seu irmão, e depois pelo que farão com você.”

“É assim que essa coisa é chamada?” Urza murmurou. “Uma raça inteira deles…” Ele estava muito insubstancial para se emocionar, mas Teferi viu a luz rastejando nas bordas cruas onde o corpo de Urza estava, entrelaçando-se através do vazio queimado. Nas órbitas vazias onde antes estavam seus olhos, uma nova luz começou a brilhar: uma vermelha e uma verde.

Urza estava sendo refeito. Costurados em outra coisa.

Planinauta.

“Você perde,” Teferi disse. “Os phyrexianos vencem. Você os combate por milênios, mas eles sempre vencem. Você descobre que há mais mundos do que um, mais do que você pode contar. Cada um ocupa um plano de existência, e juntos eles estão ligados em um espaço chamado de Multiverso. Você viaja nesses planos por séculos e descobre que há outros que podem viajar por eles também. Eventualmente, você estabelece uma escola – é onde nos encontramos pela primeira vez, nesta escola – e você tenta desvendar os mistérios do tempo. Você consegue, mas descobre que você não pode voltar.”

“Então como você conseguiu?”

“Com grande dificuldade,” Teferi disse com um sorriso cansado.

Pele encheu o crânio de Urza, crua e jovem, sangrando para preencher suas feições como um pêssego esmagado em um lençol branco. Seus lábios se formaram novamente a tempo de ele franzir a testa.

“Vá direto ao ponto,” Urza disse. “Apesar de tudo, eu não paro os phyrexianos. Você está aqui tendo viajado no tempo de uma maneira que eu não consegui. Por quê?”

Teferi podia ouvir a dor na voz de seu antigo instrutor. Aqui estava ele, preso no momento da sua morte com um homem desesperado do futuro que lhe disse que sua guerra não terminava aqui. Que seu ato final não lhe concedeu nenhuma paz, mas apenas destrancou uma porta que impedia uma guerra ainda maior, uma cujo rastro de ruína era inevitável, que se estenderia por milhares de anos e ceifaria inúmeras vidas. Se ele fosse um homem mais gentil, Teferi teria parado de falar. Ele não teria contado a verdade a Urza.

Eu sou tão cruel quanto ele? Teferi se perguntou. É necessário? O tempo vai dizer.

“Os phyrexianos estão de volta,” Teferi disse. “No meu tempo eles ameaçam todo o Multiverso. Enquanto falamos, meu corpo está em sua torre, cercado por outros planinautas como nós. Os phyrexianos estão atacando; eles estão tentando nos impedir de aprender como detê-los antes que a invasão comece.”

Urza estava quase inteiro. “Por que não voltar para quando eu – quando nós – vencemos os phyrexianos pela primeira vez?” Ele perguntou. “O que aconteceu depois que é muito pior do que agora?”

“Não,” Teferi disse. Ele pensou em Zhalfir. Em Shiv. Na Guerra da Miragem. Do tempo dilacerado e da fúria de Urza. “Depois não. Nunca.”

“Então por que agora?”

“O sílex,” Teferi disse. “Em nossa época, temos uma cópia deste. Saheeli – uma mulher brilhante de um Plano que você pensaria que é o paraíso – ela recriou esse mesmo dispositivo: tudo o que precisamos saber é ativá-lo.”

“Você vai usá-lo contra os phyrexianos?”

“Sim.”

“E assim vai acabar com isso?”

“Sim.”

Urza assentiu. “Dê-me algum espaço,” ele disse, acenando para Teferi se afastar. Urza se aproximou do sílex e parou sobre ele. A luz obliterante logo cresceria para eclipsar o sol poente. Ele sentou. Ele agarrou a borda da tigela e a colocou de volta em seu colo. Mais uma vez seu corpo começou a arder, transformando-se em cinzas, desta vez revelando a estrutura de luz por baixo.

Teferi se recordou de como era o poder antes da Emenda. O corpo era apenas um vaso: a centelha era maior.

“Eu segurei assim,” Urza disse. Ele estava contemplativo. Sua voz falhou por um momento enquanto a parte superior de seu corpo queimava novamente – e ainda assim, embora a luz do sílex fosse avassaladora, Teferi ainda podia ver a silhueta de Urza dentro dele, uma luz mais brilhante de alguma forma. Um ser que recusa a morte.

“Eu deixei o sangue do corte que meu irmão fez cair nele,” Urza disse. “Senti o peso de Terisíare no meu coração,” pensou por um momento. “Eu podia ouvir o mundo inteiro gritando – eu não precisava ler as runas para entender o que elas significavam.” Ele traçou um dedo solar pela circunferência da tigela. “Havia uma mulher durante a guerra – Hurkyl, da Faculdade de Lat-Nam.” Urza falou em voz alta, mas não para Teferi.

Teferi ouviu – qualquer coisa que Urza dissesse poderia ser a chave.

“Diziam que ela podia usar magia,” Urza balançou a cabeça. “Eu não acreditei nas histórias, mas estava errado. A meditação de Hurkyl era real: um método pelo qual alguém poderia se tornar um canal para a… alma da terra: amor, dor, alegria, medo, emoção e memória. Tudo isso, canalizado através de um único ponto. Através de uma única pessoa, que poderia atrair esse poder e projetá-lo no mundo. Foi isso que eu invoquei quando usei o sílex. Eu não tinha mais nada, e quando segurei isso em minhas mãos, despejei tudo nele. Então tudo acabou.” Urza olhou para Teferi. “Assim que eu o segurei, eu sabia o que fazer. Isso é tudo que eu posso te dizer.”

Teferi entendeu. Com horror, ele entendeu. Não havia nenhum feitiço desconhecido para descobrir, nenhum mecanismo secreto pelo qual Urza ativou seu sílex. As meditações de Hurkyl estavam bem documentadas. As esculturas rúnicas no sílex foram moldadas e refeitas, gravadas em uma réplica perfeita na cópia de Saheeli. Tudo estava conhecido e entendido. Eles tinham tudo o que precisavam, menos a pessoa. O gatilho para detonar o sílex não foi um feitiço ou um artefato – foi uma pessoa.

“Eu acho que nosso tempo acabou,” Urza disse, apontando para o vazio acima da cabeça de Teferi.

Eles olharam para a distância empírea. Rachaduras se espalhavam pelo infinito, silenciosas e penetrantes. Contra o espaço vazio e insondável, incontáveis dedos escuros começaram a sondar. Sombras, pressionando contra este enclave. Eles estavam demorando demais nessa estadia. Algo estava vindo para eles.

“Eu vou me lembrar disso?” Urza perguntou.

“Não, eu acho que você não,” Teferi respondeu. “Nosso lago – ele se tornará parte do rio novamente.”

“Foi o que pensei.” Urza se levantou. “Milhares de anos disso,” ele sussurrou. “Pelos deuses, eu não estou pronto.”

“Você está,” Teferi disse. “Tem que estar.”

Urza olhou para Teferi, seus olhos brilhando com facetas de rubi e esmeralda. “Você não me disse,” ele falou. “Qual seu no-”

O vazio se quebrou.

A escuridão entrou apressada.

Arte de Liiga Smilshkalne

64 AR

E houve silêncio em Terisíare.

69 AR

O que antes era um litoral verdejante agora estava inundado de escombros. Os destroços de grandes árvores e os refugos de enormes rochas haviam sido lançados a quilômetros, criando uma região devastada ao longo da costa, desprovida de vida.

Entre os destroços havia uma grande caixa de metal, com dois metros de comprimento, um metro de largura e altura. Ela resistiu à destruição e parou entre os outros restos distantes do que havia sido Argoth.

Urza parou ao lado da caixa e pressionou sua mão contra a tampa.

Arte de Slawomir Maniak

A tampa da caixa deslizou ao longo de seus rolamentos, revelando a forma adormecida de seu ex-aprendiz. Tawnos respirou fundo, então se sentou ereto, ofegante. Seu rosto estava pálido e ele estava coberto de pele morta que havia descascado, mas não teve para onde ir dentro de seu confinamento.

Urza esperou que Tawnos recuperasse a compostura, permanecendo tão paciente quanto uma estátua. Tawnos respirou fundo, prendeu o ar, então respirou novamente. Então ele olhou em volta para a devastação que os cercava.

“Acabou,” disse Urza, sentando na beirada da caixa.

Tawnos engoliu em seco e olhou ao redor. “Este foi o esconderijo mais seguro que eu poderia pensar,” ele disse. Urza não respondeu. Tawnos disse, “E seu irmão?”

“Morto,” disse Urza. “Eu…” Ele balançou a cabeça. “O demônio, o phyrexiano, matou meu irmão há muito tempo. Eu nunca percebi isso.”

“Onde estamos?” perguntou Tawnos.

Urza olhou ao redor e suspirou profundamente. “Na costa sul de Yotia.”

Tawnos piscou. “Está diferente.”

“O mundo mudou,” disse Urza, “por causa do que nós fizemos. Por causa do que eu fiz.”

Tawnos saiu da caixa, e Urza o ajudou. Tawnos se sentia fraco de seu encarceramento e esfregou seus braços e pernas, tanto para sacudir a pele morta quanto para restaurar a circulação. Estava frio nesta costa, mais frio do que Tawnos se lembrava quando jovem.

“Eu tenho uma última tarefa para você, meu ex-aluno,” disse Urza.

“Diga,” disse Tawnos.

“Eu quero que você vá para o oeste. Encontre os restos da União, os estudiosos das torres de marfim. Conte a eles o que aconteceu aqui. Diga a eles o que fizemos e o que deixamos de fazer. Assegure-se que eles não façam o mesmo. Eu confio em você para fazer isso.”

Tawnos olhou para o homem mais velho, mas lhe pareceu que Urza não era mais velho. Seu cabelo estava loiro novamente e seus ombros retos. Mas seus olhos eram antigos além dos anos e dolorosos além da dor mortal.

“Você sempre pode confiar em mim,” disse Tawnos. “Aonde você está indo?”

Urza se afastou de seu ex-aluno. “Para longe,” ele disse depois de um curto período de tempo. “Eu estou indo… embora.”

“Parece que poderíamos usar sua ajuda aqui,” disse Tawnos. Urza fez um barulho que Tawnos pensou ser uma risada nervosa. “Eu não acho que a terra poderia sobreviver mais com a minha ajuda. Eu preciso… eu preciso ir embora. E pensar por mim mesmo. Onde eu não vou prejudicar os outros.”

Tawnos assentiu e disse, “Eu não sei se existe algum lugar tão longe.”

Urza balançou a cabeça e disse, “Existem lugares muito além da terra de Terisíare, muito além do mundo de Dominária. Quando eu derramei minhas memórias no sílex, eu as vi. Eu vejo muitas coisas que eu nunca tinha visto antes.”

Ele se virou para Tawnos, e o Mestre Sábio viu os olhos de Urza. Não eram mais olhos humanos, mas duas pedras preciosas, irradiando uma cascata de tons multicoloridos: verde, branco, vermelho, preto e azul.

Pedra da Força e Pedra da Fraqueza, finalmente reunidas, dentro do irmão sobrevivente.

Arte de Ryan Pancoast

A imagem durou apenas um instante; então os olhos de Urza estavam normais novamente. Urza sorriu. “Eu devo ir embora,” ele repetiu.

Tawnos assentiu lentamente, e o homem com olhos cristalinos humanos continuou parado. “Você foi um estudante por muito tempo,” disse Urza. “Agora vá ser um professor.”

Enquanto falava, Urza começou a sumir de vista. Lentamente, a cor se esvaiu dele, deixando apenas contornos; então eles também desapareceram. “Ensine-os sobre nossos triunfos e nossos erros,” disse uma voz distante. “E diga a Kayla para não se lembrar de mim…”

“Como você era, mas como você tentou ser,” finalizou Tawnos, mas ele estava falando para o espaço vazio. Urza havia passado do mundo para mundos maiores que apenas seus olhos cristalinos podiam enxergar.

Tawnos olhou ao redor, mas não havia sinal de vida. Ele partiu para o interior, na esperança de superar o pior da devastação antes de ter que viajar para o oeste. Não reconheceu nenhum ponto de referência familiar e teve a sensação de que não reconheceria por muito tempo. Tawnos se perguntou o quão ruim a devastação realmente era.

E enquanto Tawnos caminhava para o interior, ele foi saudado pelos primeiros flocos de neve flutuando em um vento frio.

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