Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

EPISÓDIO 5: HINO ANGELICAL

RUAS DE NOVA CAPENNA

“O que você acha?” Elspeth perguntou a suas companheiras, erguendo-se na mesma saliência que usara para seguir a informante. Era difícil acreditar que seus testes com Xander já estavam há algumas semanas no passado. De alguma forma, eles pareciam como se fosse ontem e anos ao mesmo tempo.

“É a parte mais tranquila da cidade que vimos até agora,” Vivien admitiu.

Arte de Adam Paquette
“Giada?”

A jovem parecia exausta, então Elspeth não ficou nem um pouco surpresa quando ela disse: “Acho que ficar aqui é uma boa ideia.”

“Cuide dela. Vou dar uma olhada rápida no perímetro,” ofereceu Vivien.

“Obrigada.” Elspeth apontou para a lateral do prédio. “Os guaxinins estavam no beco adjacente; fique de olho.”

Vivien saltou da beirada, descendo na noite escura. Ela continuava a impressionar Elspeth. Cada movimento era certo e deliberado. Mesmo que Nova Capenna também fosse nova para ela, Vivien andava como se fosse dona de cada pedaço de vidro e concreto sem parecer arrogante ou orgulhosa. Ela havia se adaptado à cidade de forma mais perfeita do que Elspeth no que parecia ser a mesma quantidade de tempo, mesmo que aqui supostamente era o lar de Elspeth.

“Elspeth.” Giada quebrou o silêncio, salvando Elspeth de turbulências e dúvidas pessoais.

“Sim?” Quando Giada não respondeu imediatamente, Elspeth voltou o olhar para ela. Giada estava estendida no parapeito, as mãos dobradas sob o queixo, mordendo o lábio inferior entre os dentes. Elspeth já havia sentido aquele nível de insegurança antes e colocou a palma da mão levemente entre os ombros da adolescente para oferecer algum consolo. Giada continuou a olhar para além do horizonte nebuloso de Nova Capenna.

“Eu estou assustada.”

“Do que você está com medo?” Elspeth conseguia pensar em vários milhares de motivos para Giada ficar com medo. Mas ela queria saber qual deles pesava em seus pequenos ombros.

“E se eu não for capaz?”

“Capaz de quê?” Elspeth incitou gentilmente.

“E se eu não puder ajudar Nova Capenna? Será que minha magia será realmente suficiente? O que acontecerá se – quando – ela acabar?” Giada balançou a cabeça. “Eu não sei o quanto mais eu tenho para dar, e eu realmente não sei se vai fazer diferença se eu tentar. Esta cidade está tão… quebrada.”

As palavras saíram como uma lufada de ar. Como se, em algum lugar dentro de Giada, uma barragem se rompesse e essas perguntas que a corroíam lentamente agora encontrassem um momento para liberação. Elspeth ouviu atentamente as perguntas dolorosas de sua companheira. Cada questão coloria uma de suas interações passadas sob uma nova luz – manchando-a com um tom do medo que Elspeth tinha visto em Giada, mas nunca havia entendido até aquele momento.

Tanta coisa foi colocada nos ombros de Giada, sem lhe dar autonomia ou crédito. Os Cabaretti, as famílias, o Adversário, todos a viam como uma solução para seus problemas, uma ferramenta. Eles iriam torcê-la até secar por ser uma solução barata para o suprimento cada vez menor de Halo até que não houvesse mais sangue em suas veias, medula em seus ossos ou magia em sua alma, e eles fariam isso sem pensar duas vezes sobre seu bem-estar.

Elspeth deveria ter feito muito mais por Giada bem antes.

Giada voltou os olhos para Elspeth, que buscava respostas que não sabia se poderia dar. Será que era assim que Ajani se sentia todas as vezes em que ela foi até ele em busca de respostas que ela sabia que, no fundo, ele não tinha. Ela se perguntou se Giada se ressentiria por sua resposta tanto quanto ela se ressentia de seu querido amigo naqueles momentos passados.

“Você está certa,” Elspeth começou suavemente. “Nova Capenna está quebrada, e Halo é um curativo frágil para as feridas desta cidade.” A verdadeira paz, a verdadeira prosperidade, tem que vir de dentro – falando dos demônios que literalmente construíram a cidade e os que figurativamente ainda assombravam suas ruas.

“O que eu faço, então? Eu ainda quero ajudar – eu quero um propósito.”

“Comprometimento… propósito…” Elspeth começou suavemente, perdendo-se em seus próprios pensamentos, como havia feito durante meses sobre este tema. Mas, pela primeira vez, seu peito não doeu. A sensação de vazio não era tão escancarada quanto antes. “Essas coisas têm que vir de dentro de você. Eu não posso te dar. Ninguém pode.”

Giada franziu a testa, apoiando o queixo nas mãos desanimada. Elspeth acariciou levemente entre os ombros dela.

“Mas uma coisa eu te digo, Giada. Você terá a oportunidade de encontrar essas respostas – por si mesma. Você encontrará seu propósito.” Assim como eu. “E eu pessoalmente garantirei que você esteja segura para obter o tempo necessário, não importa quanto tempo que for.”

“Você promete?” Giada voltou os olhos esperançosos para ela.

“Prometo.”

A conversa foi interrompida pelo retorno de Vivien. Ela pousou levemente na plataforma sobre a qual Elspeth e Giada estavam esticadas. “Parece suficientemente abandonado. Nenhum sinal de vida dentro.”

“Ótimo.” Elspeth se levantou. “Então vamos ficar aqui esta noite e recuperar o fôlego.”

ARMAZÉM

Elspeth acordou com um peso em seu ombro. A luz nebulosa do amanhecer, derramando-se através de uma claraboia, lançou um brilho quente no rosto de Giada enquanto ela dormia ao lado de Elspeth. As três estavam amontoadas em um pequeno escritório perto dos fundos do armazém. Havia apenas uma entrada e uma saída, fáceis de proteger. E um espelho na parede oposta à janela apontado para o piso do armazém dava-lhes um campo de visão sem precisarem se expor.

“Devemos nos mover. Eu não acho que estamos sozinhas aqui,” Vivien sussurrou, os olhos correndo para sons que Elspeth não ouvia. Ela estava encostada na parede oposta a elas.

“Provavelmente apenas as criaturas-guaxinim. Dê um pouco mais de tempo pra ela.” Elspeth ainda não tinha se movido. Ela nunca tinha visto Giada parecer tão em paz. Em todas as interações anteriores, Giada estava sendo assombrada por uma turbulência que Elspeth não tinha entendido até as revelações da noite anterior.

Qual era a história de Giada? Ela sempre esteve presa com os Cabaretti? Como ela descobriu seu poder de criar Halo?

Todas as perguntas que Elspeth continuaria se perguntando. Giada já lhe pedira bastante; Elspeth não precisava ser mais alguém exigindo coisas dela. Enquanto fosse capaz, Elspeth manteria seu voto e a protegeria. Isso era o suficiente.

Metal tilintou, afiado e rangente. Giada se levantou e a mão de Elspeth voou para a boca dela. Seu outro braço envolveu firmemente seus ombros, segurando a adolescente perto dela.

“Fique em silêncio,” Elspeth sibilou, seus olhos examinando o espelho em busca de movimento.

Vivien estava de joelhos, pegando seu arco quando a porta se abriu e vidro choveu ao redor delas, sua manhã pacífica destruída com a janela.

Jinnie estava parada na porta. Dois executores Cabaretti estavam atrás dela, brandindo machados. No espelho, Elspeth podia ver mais três com espadas desembainhadas.

Antes que Vivien pudesse sacar uma flecha, Jinnie jogou uma adaga nela. Vivien levantou o braço para bloquear a adaga, que abriu um corte em seu antebraço. Um dos homens correu ao redor de Jinnie, derrubou o arco do braço ferido de Vivien e o reivindicou para si.

“Não é tão durona sem isso, não é?”

Os olhos de Vivien brilharam com um desafio para ele descobrir o quão mortal ela poderia ser, mesmo sem seu arco. Ela sorriu lentamente, quase serenamente. O tipo de sorriso que prometia ser o último que ele colocaria os olhos.

“Você não achou que realmente escaparia de nós, não é?” Jinnie se aproximou, uma faca na mão que ela colocou sob o queixo de Elspeth. Como Jinnie as encontrou? O armazém estava abandonado, a cidade era enorme. Tinha que haver uma explicação, algo que elas ignoraram e que permitiu que Jinnie as rastreasse. “E pensar que eu confiei em você.”

A lâmina era mais quente do que o olhar frio e duro que Jinnie olhava para Elspeth. Mesmo que ainda estivesse respirando, para Jinnie, ela já estava bem morta.

“Eu estava tentando-”

“Poupe-me de suas mentiras,” Jinnie retrucou. “Você está em conluio com o Adversário?” A ponta de sua faca penetrou no pescoço de Elspeth.

“Nunca.”

Jinnie a investigou com o olhar. Finalmente acreditando nela, ela perguntou: “Então, por quê?”

“Eu estava mantendo Giada segura.”

“Mentirosa. Você queria a Fonte para você.” Jinnie empurrou a faca para frente. Um pouco mais, e ela atingiria a artéria do pescoço de Elspeth. Elspeth nem se atreveu a engolir.

“Jinnie, não cabe a Jetmir dizer a forma como lidamos com traidores?” Giada encontrou sua voz. Mágoa e confusão passaram pelo rosto de Jinnie. Elspeth olhou para Giada. Ela sabia o que estava fazendo para defendê-la? Mas Giada claramente havia aprendido com os Cabaretti ao usar habilmente suas palavras. “Deixe-o decidir o que fazer com as duas. Ele sempre tem a cabeça fria. Mas estou tão feliz em vê-la novamente. Obrigada por me salvar.”

O aperto de Jinnie relaxou e a faca se afastou da garganta de Elspeth. “É bom ver você também. Achei que tínhamos perdido a Fonte para sempre.”

“Eu estou bem aqui.” Giada sorriu fracamente.

“Sim.” Jinnie expirou raiva, prevalecendo uma cabeça fria. Mas quando ela olhou de volta para Elspeth, o mesmo ódio ainda ardia. “Algeme-as. Vamos levá-las para Jetmir.”

“Vamos voltar para Vantoleone?” Giada se levantou.

“Não, está comprometido. Vamos para alguns amigos,” Jinnie respondeu ambiguamente. “Nenhuma família quer ver o Adversário tomar Nova Capenna para si. E agora que a Fonte está segura de novo, temos uma moeda de troca para garantir que os outros trabalhem conosco.”

A fonte. Moeda de troca Ela tem um nome, Elspeth queria gritar.

“Todos podemos sair disso vivos.” O tom gentil de Jinnie contrastava fortemente com os homens que algemavam rudemente Elspeth e Vivien.

Elspeth sentiu um formigamento de magia chamuscar seus pulsos quando eles foram aprisionados. Vivien pareceu seguir o exemplo de Elspeth. Ela prestou muita atenção ao homem Cabaretti que pegou sua espada, mantendo seus protestos por trás dos lábios firmemente fechados. Acompanhá-los, por enquanto, era a melhor maneira de permanecer perto de Giada.

“E então você poderá trazer equilíbrio ao nosso Plano,” Jinnie terminou.

Giada assentiu, seus lábios pressionados em uma linha dura. Jinnie agarrou sua mão, e os olhos de Giada voltou-se para Elspeth, que baixou o queixo lentamente.

Manterei minha promessa, Elspeth prometeu silenciosamente. Ela esperava que Giada entendesse. Mas Giada manteve o rosto inexpressivo enquanto Jinnie as escoltava para fora do armazém.

CARTOMANTE

Elspeth e Vivien trocaram olhares cautelosos enquanto eram escoltadas pelo Mezzio. Elspeth não se atreveu a dizer nada com os Cabaretti tão perto. Ela encontraria um momento tranquilo para se reagrupar com Vivien assim que chegassem a este “lugar seguro”.

O aroma de sândalo e laranja fez cócegas no nariz de Elspeth.

“Jinnie,” Elspeth gritou, parando em seu caminho.

“Continuem andando.” Um dos Cabaretti a empurrou. Elspeth cambaleou para frente, tentando usá-lo para esconder os passos largos que agora usava para diminuir a distância entre ela e Jinnie.

“Este é um esconderijo da Obscura,” Elspeth disse.

“Você não acha que eu sei disso?” Jinnie arqueou as sobrancelhas. “Quem você acha que são meus amigos?”

O coração de Elspeth começou a acelerar. “Você estava no Crescendo. Os Maestros, Cabaretti e Rebiteiros — todas as famílias estavam infiltradas. Isso pode ser uma armadilha.”

“Ao contrário de você, alguns são realmente leais.” Jinnie parou diante de uma porta e bateu. Era idêntica à batida que Elspeth usou ao entregar o pacote de Xander.

Elspeth recuou para ficar ao lado de Vivien, olhando em seus olhos. “Fique alerta,” Elspeth murmurou. Vivien assentiu. Elspeth não tinha exatamente muita fé na capacidade de Jinnie de identificar um seguidor leal versus alguém que opera em interesse próprio. Afinal, ela achava que Elspeth não passava de uma puxa-saco ambiciosa.

A porta se abriu antes que Jinnie pudesse dizer mais alguma coisa, revelando uma cefálida em um casaco azul-marinho adornado com ouro. Suas roupas e chapéu cloche tinham uma marca semelhante à Obscura para a qual Elspeth havia entregado o pacote. Os cabelos da nuca de Elspeth se arrepiaram.

“Kamiz,” Jinnie disse com alívio. “Como está Jetmir?”

Arte de Chris Rallis

“Estável, embora doente. Vejo que você conseguiu a Fonte. Excelente, eu sabia que você conseguiria. Entre, antes que alguém a veja.”

“Obrigado por nos oferecer refúgio.” Jinnie entrou, o resto deles seguindo.

“Quem são elas?” Kamiz olhou entre Elspeth e Vivien.

“Traidoras — aquelas que levaram a Fonte. Jetmir saberá como lidar melhor com eles.”

Eles entraram em uma área de recepção com uma mesa e algumas cadeiras. Atrás de uma cortina havia uma mesa quadrada coberta com um pano de seda azul-marinho. No centro da mesa havia uma grande bola de cristal e um baralho de cartas. Kamiz puxou uma cortina para revelar uma porta secreta que dava para uma sala muito maior nos fundos. A julgar pelos caixotes e estantes que, sem dúvida, continham segredos preciosos, era um local de descanso para espiões Obscura.

“Eu vejo que você teve sucesso.” Jetmir estava acomodado em um beliche inferior, com um curandeiro Cabaretti cuidando dele. A mulher deu um passo para o lado quando Jinnie correu na direção dele..

“Pai, como você se sente?”

“Você se preocupa demais.” Foi uma não-resposta. Mesmo do outro lado da sala, Elspeth podia ver que os olhos de Jetmir estavam opacos. Havia um forte cheiro de sangue no ar, um pano encharcado descartado ao lado de sua cama. Ele precisaria de um milagre para sobreviver.

“Giada, venha, vem.” Jinnie acenou para a jovem, mexendo com uma sacola de suprimentos e tirando um pequeno frasco. “Por favor, cure-o.”

Giada pegou o frasco e seus olhos se fecharam. Houve um pequeno clarão de luz, e Giada balançou, estendendo o halo para Jinnie. O frasco nunca teve a chance de trocar de mãos.

Tanto a porta pela qual haviam entrado quanto a porta dos fundos foram arrombadas ao mesmo tempo, revelando uma dúzia de brigões usando aventais e roupas pesadas de trabalho. O caos irrompeu.

“Rebiteiros?” Jinnie se virou, sua expressão se transformando instantaneamente em puro ódio. “Traidores rebiteiros.”

Vivien aproveitou o momento. Ela fechou as duas mãos em punhos e girou em direção ao homem que ainda segurava seu arco – braços retos como um aríete – para acertá-lo no rosto. Seu arco caiu no chão, e ela o pegou. Ainda algemada, ela não conseguia disparar, mas ela podia, e o usou, para acerter o outro Cabaretti na têmpora.

Elspeth canalizou a energia em suas mãos. Ela cintilou o ar ao redor de suas algemas. Com um pensamento, sua magia rompeu as algemas, e o metal caiu no chão com um tinido. Balançando a mão, ela lançou o feitiço na direção de Vivien, as algemas de sua aliada também caíram.

“Onde você está escondendo esse truque?” Vivien avaliou, recolhendo a espada de Elspeth do homem caído e jogando-a.

Elspeth pegou a lâmina pela bainha. “Tentei manter discrição e guardar minhas habilidades para quando eu realmente precisasse delas. Agora parece ser a hora.”

“Que bom que você finalmente se juntou à luta adequadamente.” Vivien transferiu sua pegada no arco, alcançando uma flecha em sua aljava. “Pegue Giada. Vou abrir caminho.”

“Obrigada.” Elspeth avançou, desembainhando sua espada enquanto a luz verde brilhava.

Giada estava encurralada com Jinnie e Jetmir. Jinnie estava lutando bem, mas estava em grande desvantagem numérica contra os assassinos Maestro e os lutadores rebiteiros.

Esses brutos iam matar Giada? Eles não queriam a Fonte?

Elspeth não ia esperar para descobrir.

Ela avançou pela direita, girando sua espada para o Rebiteiro que levantava seu martelo. A lâmina dela encontrou seu ombro, e ele derrubou a arma antes que pudesse atacar. Ao seu redor, mais um avançou na direção dela. Ela pegou seu braço e o desarmou. Após prender a adaga dele na ponta do sapato, ela a jogou para cima, agarrando o cabo a tempo de aparar uma segunda adaga. Um terceiro elemento estava se lançando sobre ela, e Elspeth se esquivou, afundando o cotovelo em seu estômago enquanto ela recuava para golpear com a lâmina, afundando-a entre as costelas do primeiro atacante.

A luta estava claustrofóbica. Cada movimento que Elspeth fazia tinha que considerar as ações de vários outros. Além disso, ela tinha que ficar de olho em Giada. Elspeth havia feito uma promessa de que manteria Giada segura até seu último suspiro.

Mas havia muitos, e ela mal conseguia distinguir amigo de inimigo. Era apenas uma questão de tempo até que Elspeth cometesse um erro. Ela se esquivou do golpe de um homem, recuando para obter distância suficiente para girar sua lâmina pesada. Ela não viu o martelo até que já era tarde demais.

Ele se chocou contra suas costelas enquanto Elspeth se esforçava para erguer sua espada, tirando o fôlego dela. Ela podia sentir seu peito se comprimir, os ossos se quebrarem. Elspeth tossiu sangue. Uma adaga trespassou seu ombro. Os gritos de Giada ficaram distantes.

Ela conhecia aquele frio. O rastejar do dedo frio e ossudo de Érebo subindo por sua espinha. Ele o enrolaria no pescoço dela e a seguraria até que o último suspiro a deixasse.

Giada, me desculpe. Eu tentei te proteger.

Assim que sua visão ficou turva, o homem que estava recuando para dar o golpe final em Elspeth desmoronou. A roupa do trabalhador foi substituída por um verde-escuro, o casaco prático que Vivien usava. Uma nova figura apareceu enquanto os sons da batalha diminuíam.

Um braço envolveu os ombros de Elspeth, levantando-a. Um familiar conjunto de olhos escuros olhavam preocupados.

“Giada?” Elspeth piscou, tentando entender o que viu.

“Tome isso.” Giada enfiou algo na boca de Elspeth, deixando-a sem escolha a não ser engolir.

Calor irradiou através dela. Seus ossos se moveram, entrelaçando. Feridas se remendando. Mãos invisíveis colocaram seu corpo quebrado de volta no lugar, restaurando lentamente a consciência e a clareza e afastando o aperto de Erebos. O mundo nunca esteve mais nítido. As luzes estavam mais brilhantes e-

“Giada…” Elspeth tocou levemente na bochecha da jovem. “Você está radiante.”

Os lábios de Giada se abriram ligeiramente com surpresa. “Você também consegue ver?” ela sussurrou.

“Eu…” Elspeth não teve chance de perguntar se “aquilo” era a aura nebulosa que cercava Giada.

“Por aqui!” gritou Kamiz.

Jinnie agarrou Giada, levantando-a pelo braço. “Não ajude elas, temos que fugir.”

“Espere.” Elspeth estava de pé novamente, o Halo passando por suas veias tornando-a ágil e forte novamente. “Nós também vamos.”

“Você acha-” A raiva de Jinnie foi interrompida quando ela teve que se esquivar de um ataque. Ela xingou em voz alta e olhou entre Elspeth e seus soldados Cabaretti caídos. “Tudo bem. Você é muito boa de briga. Continue, e não tente nada engraçado.”

Liderados por Kamiz, elas escaparam para um beco, Rebiteiros e Maestros correndo atrás delas. Elspeth e Vivien ficaram na retaguarda, afastando os atacantes. Eventualmente ninguém mais as seguia.

“Acho que os despistamos.” Jinnie deu um suspiro de alívio.

“Rápido, aqui.” Kamiz abriu uma porta e todos mergulharam na escuridão quase total. “Estes são os túneis Obscura,” ela explicou enquanto se arrastavam para cima, serpenteando por Nova Capenna. “Nós os usamos para nos locomover sem sermos vistos.”

“Como você sabe que elas não estão comprometidos?” Vivien roubou a pergunta de Elspeth.

“Eu não sei,” Kamiz respondeu honestamente. “É por isso que precisamos continuar em movimento.”

“Para onde estamos indo?” Jinny perguntou.

“Parque Alto. A principal fortaleza dos Obscura, a Torre das Nuvens. Se não for seguro lá, não estaremos seguras em lugar nenhum.”

Arte de Sam White

CATEDRAL DE PARQUE ALTO

Enquanto continuavam a subir, Elspeth agarrou a mão de Giada e deu-lhe um leve aperto. Obrigada por me salvar, Elspeth murmurou, torcendo que Giada pudesse ver na luz azulada emitida em faixas ao longo do topo das paredes. Os lábios da jovem se curvaram em um sorriso cansado, e ela assentiu. Quando os dedos de Elspeth escorregaram dos dela, a atenção de Giada permaneceu em sua própria mão.

Giada lentamente deslizou uma pulseira de seu pulso e olhou entre Jinnie e Elspeth. Depois de confirmar que o foco de Jinnie estava à frente, ela jogou o bracelete no chão e apontou para ele, murmurando três palavras, magia de rastreio.

Elspeth apertou o bracelete sob a bota. Giada vinha fazendo as mesmas perguntas que atormentavam Elspeth sobre como Jinnie as encontrara. Uma onda de orgulho percorreu Elspeth. Giada era inteligente, e se tornava mais forte e mais confiante a cada momento. O movimento para se livrar do bracelete também foi toda a confirmação de que Elspeth precisava para saber que Giada ainda queria ir com ela. Na primeira oportunidade, Elspeth a levaria embora novamente.

A passagem chegou a um beco-sem-saída.

Kamiz abriu uma porta e os aromas familiares de Parque Alto os receberam. Elspeth piscou para a luz da tarde, já ficando zangada com um crepúsculo que prometia ser tão sangrento quanto Nova Capenna.

“Estamos perto,” Kamiz disse, liderando entre as sebes cuidadosamente arranjadas. “Bem por aqui.”

Vivien parou. Elspeth ouviu passos e o retinir de armas.

“Espere, é um armad—”

Giada e Jinnie já haviam dobrado a esquina das sebes.

“O que está acontecendo?” Jinnie gritou.

Vivien preparou seu arco, virando-se para os executores da Obscura que os cercavam por trás. Elspeth confiou a ela a sua vigilância enquanto corria à frente.

Mais executores da Obscura estavam esperando em uma clareira. Jinnie já estava em combate contra eles quando Kamiz, ferida, tentou rastejar para longe de Jinnie. Jinnie não teve dúvidas ao focar sua raiva em Kamiz assim que percebeu a farsa.

Tudo havia sido uma armação. Os Obscura estavam tão comprometidos quanto os outros. A briga no esconderijo tinha sido apenas uma desculpa para separá-las dos outros Cabaretti e atraí-las para uma armadilha. Mas ela apostaria que Kamiz não contava com Elspeth e Vivien ainda por perto.

“Vamos.” Elspeth agarrou Giada.

“Mas Jinnie-”

“Ela fez a escolha dela.” Elspeth praticamente puxou Giada. “Temos que sair ou vamos morrer.”

Giada obedeceu.

Arte de Ekaterina Burmak
Vivien estava atrás logo atrás, elas correram pelo parque, galhos se estendendo, arranhando seus rostos e braços enquanto disparavam em busca de um alívio. Tomara que haja um lugar seguro nesta cidade, um santuário, Elspeth implorou silenciosamente aos deuses cruéis e indiferentes. Elas emergiram nos fundos de um caminho que se conectava a uma catedral próxima, erguida sobre estátuas de anjos.

“Ali.” Elspeth decidiu, correndo para a antessala. Seus passos diminuíam enquanto ecoavam na ala central.

A catedral era uma obra-prima. Incontáveis estátuas de anjos se alinhavam nos corredores que levavam ao transepto. Cada uma delas tinha as mãos para cima, alcançando as claraboias que as destacavam com uma coluna de luz do sol cortando a relativa sombra da própria catedral.

Elspeth piscou várias vezes. Não era um truque da luz. Essas estátuas emitiam seu próprio brilho. Muito parecido com Giada. Como-

Ela olhou para as palmas das suas mãos. Como ela não tinha visto isso antes? Mais escuras que o resto… mas Elspeth também estava emitindo uma tênue neblina dourada.

“Você está ouvindo isso?” Giada sussurrou.

“Estou.”

O coro ressoava do fundo de cada estátua. Ele reverberava em torno do coral e do ambulatório e enchia toda a catedral com um solene réquiem. Não havia palavras, apenas som, forjado na agitação e uma dor tão profunda que fez os olhos de Elspeth formigarem. Uma alta soprano sobrepunha o restante, cantando notas em uma linguagem de ousada esperança, uma que todos precisavam desesperadamente.

Era calor e bondade. Era satisfatória, ainda que saudosa. Era…

“O que é isso?” Elspeth sussurrou.

“Minha família. Estou em casa,” Giada disse com reverência, como se tivesse recebido uma clareza inesperada.

Arte de Eric Deschamps
De repente, a palavra “casa” passou a ter significado. Elspeth compartilhou um longo olhar com Giada, que exibia um sorriso enigmático. Ela irradiava como os anjos da catedral. Sua própria forma parecia pertencer a esse lugar, como se fosse uma obra de arte devolvida ao seu ponto.

“Casa,” Elspeth repetiu. Casa era propósito. Ela defendia aqueles que precisavam dela. Ajani estava certo; lar nunca tinha sido sobre um lugar. E pela primeira vez, Elspeth sentiu como se tivesse encontrado um lugar ao qual pertencia – ela tinha encontrado um propósito, alguém e algo em que acreditar e defender.

Um grave estrondo preencheu a catedral e interrompeu a música, seguido por passos estrondosos. Elspeth virou-se para ver um homem corpulento e com chifres. Duas asas membranosas, da cor de sangue velho, esticadas atrás dele.

O Adversário.

“Fique atrás de mim, Giada.” Elspeth puxou sua espada.

“Você realmente achou que poderia escapar de mim?”

“Que bom que você se mostrou, Ob Nixilis.” Vivien não esperou por uma resposta. Ela disparou a primeira flecha.

Ob Nixilis deu um soco direto no rosto do lobo fantasmagórico. Ele se dissipou com um grito. Vivien teve duas novas flechas derrubadas quando mais executores se alinharam na catedral atrás dele.

“Cuide dele, eu trato dos outros. E tome cuidado, ele é como nós!” Vivien gritou. Um planinauta, ela quis dizer. Elspeth agarrou sua espada com mais força.

“Corra,” Ob Nixilis rosnou quando Vivien passou. Sua voz era lixa e fogo. “Brinque com meus agentes até que eu esteja pronto para te atormentar.” Ele manteve seu foco apenas em Elspeth e Giada, com um sorriso cruel. Satisfação. Como se tudo estivesse acendendo para ele queimar. “Você achou que poderia me derrotar? Vou lhe mostrar o que acontece com as pessoas que ousam me contradizer – que pensam em ficar no caminho do meu poder. Quando a Fonte estiver em minha posse, vou acabar com vocês duas, uma de cada vez, lentamente.”

Arte de Slawomir Maniak
Elspeth podia sentir o imenso poder irradiando dele. “Giada, se isso der errado, corra. Corra antes que eu caia,” Elspeth sussurrou. “Eu vou segurá-lo enquanto puder, mas você deve fugir enquanto eu conseguir distraí-lo.”

Ob Nixilis se movia com a velocidade de um homem muito ágil. Elspeth tinha assumido incorretamente que todos os seus músculos salientes iriam atrasá-lo. Mas usando suas asas para se equilibrar, ele podia se impulsionar para frente em velocidades alarmantes.

“Eu vou gostar de te destruir!”

Elspeth se concentrou em ataques defensivos. Ela tinha que desgastá-lo. Ele a tinha derrotado em força e velocidade, e sua única chance era usar isso contra ele.

Sempre que via uma abertura, ela espetava ou cortava. Mas ela não acertou nada além de golpes de relance. O suficiente para sobrecarregar e frustrar. Mas não o suficiente para desacelerar ou parar. A espada era grande demais para ela e difícil de empunhar. Ela teria que esperar a abertura certa se apresentar.

Cansado de tolerar as gracinhas dela, Ob Nixilis desencadeou uma explosão de poder. Ela disparou dele, empurrando Elspeth voando pelos ares. Sua cabeça bateu contra a pedra, e tudo girou. Náusea disparou de seu estômago.

“Giada,” Elspeth ofegou. Ela inclinou a cabeça para trás, mas isso só fez mais estrelas aparecerem em sua visão. “Corra.”

“Não, não tenho para onde correr.” Giada pairava; sua forma estava ficando nebulosa, brilhando ainda mais forte do que antes.

Os passos retumbantes de Ob Nixilis se aproximaram. Sua risada áspera sacudiu os ossos de Elspeth. “Primeiro, você. Depois a Fonte. Depois a outra planinauta… e então nada vai me deter.”

“Corra,” Elspeth implorou, os olhos ardendo. Ela jurou que protegeria Giada. Ela havia encontrado dever e propósito e apenas entregou mais fracassos.

“Não tema mais por mim, Elspeth. Há mais para mim lá fora, vou ficar com minha família agora.” Giada virou-se para o lado de Elspeth, ajoelhando-se. Ela era mais um contorno de magia cintilante do que um ser físico.

Família era algo que Elspeth uma vez conheceu através de Ajani, Daxos… As palavras de Giada acenderam algo dentro dela. Uma vela bruxuleante de esperança, não mais brilhante do que o brilho fraco que ela viu cobrindo-a mais cedo. Os passos de Ob Nixilis pararam. “O que você pensa que está fazendo?”

O foco de Giada permaneceu apenas em Elspeth. “Obrigada, por tudo. Encontrei minhas respostas. Deixe-me protegê-la agora.” Ela inclinou o queixo para cima e se parecia com o resto dos anjos esculpidos. “Estou pronta,” ela sussurrou para ouvidos invisíveis.

A luz encheu o lugar. Ela disparava de todas as direções do corpo de Giada, a força da explosão forte o suficiente para jogar Ob Nixilis para longe. Elspeth, no entanto, não foi afetada. Ela olhou com admiração quando Giada foi transformada na magia radiante do Halo.

Arte de Eric Deschamps
Elspeth a inalou, permitindo que ela cobrisse sua carne como uma armadura e afundasse em seus ossos. A música voltou, um coral completo em que cada parte estava em perfeita harmonia. Alcanou um verdadeiro crescendo de alegria, como que para sobrescrever os gritos da festa Cabaretti que ousara levar o mesmo nome.

Lentamente, quando as luzes rodopiantes começaram a desaparecer, Elspeth sentou-se. Ob Nixilis gemia, ainda de bruços. Vivien e os homens do lado de fora também estavam de costas. Elspeth se perguntou se a transformação de Giada havia atordoado toda Nova Capenna.

Elspeth, a voz de Giada sussurrou de uma grande distância, quase inaudível sobre o refrão desvanecente. Ela estava desaparecendo, mas não estava sozinha. Giada estava enquadrada pelos contornos brilhantes de outros como ela. Acabe com isso, proteja Nova Capenna. Você tem a arma que precisa. Esteve ao seu lado o tempo todo, seguindo você, esperando até que você estivesse pronta.

Eu não sou forte o suficiente.

Você é, Giada insistiu. Suas falhas não te definem. Não desista agora, não quando está tão perto de tudo que sempre quis. Lute!

Elspeth ouviu Ajani nas palavras de Giada. Seu amigo ainda falava com ela, através do tempo e do lugar. Seus olhos se fecharam e ela suspirou suavemente.

Lar era dever.

Família eram aqueles que ela escolheu para defender.

Ela sempre teve tudo o que sempre precisou.

Elspeth abriu os olhos e se levantou. Em um movimento fluido, ela ergueu a espada ao seu lado. A arma não era mais uma espada larga desajeitada. Tinha sido transformado em uma arma mais fina, muito mais adequada em comprimento e peso para sua estrutura. O punho não era uma guarda de aço prático, mas um orbe de Halo, brilhando com cores que mudavam com tanta frequência, que era de todas as cores ao mesmo tempo.

O Halo infiltrava na lâmina, percorrendo os espaços ao máximo. Do meio para as bordas, a arma brilhava com a mesma luz fraca de Giada. Elspeth levou o cabo ao nariz, lâmina erguida, sabendo que de alguma forma, em algum lugar, Giada assistia à saudação e poderia concluir sua metamorfose agora que Elspeth cumpriria seu voto.

Elspeth defenderia Nova Capenna.

Arte de Volkan Baga
Ela se lançou para frente, empunhando sua nova espada com as duas mãos. Ob Nixilis mal teve tempo de rolar para longe de seu ataque. Enquanto se esquivava, ele levantou a mão, apontando para ela. Ela podia sentir a magia se acumulando no ar e evitou por pouco seu tiro.

Alimentada por Halo e propósito, empunhando a lâmina presenteada por Giada, Elspeth poderia enfrentar o poderoso Adversário frente a frente. Seus golpes não eram mais desajeitados e rasteiros, mas decididos e habilidosos.

Ela se sentia como antes. Não. Esses não eram os movimentos da mulher que ela havia sido. Estes eram os movimentos de alguém mais forte, melhor. Quem ela fora pouco significava quando comparada a quem ela se tornaria.

Ob Nixilis ficava cada vez mais frustrado cada vez que ela acertava um golpe nele. Ele rugiu, se esquivou e tentou levantar a mão para mais um ataque. Elspeth não permitiu. Ela fechou o espaço entre eles, apontando direto para o queixo dele.

No último segundo, ele tentou sair do caminho, mas não foi rápido o suficiente. O aço encontrou a carne, e ela roçou o lado de seu pescoço. Ob Nixilis ofegou, embora só piorasse o ferimento. O sangue escorria de seus dedos enquanto ele fazia uma inútil compressão. Elspeth recuou, determinada a golpear novamente. Ela cortaria seus dedos se fosse necessário para terminar o trabalho.

Mas Ob Nixilis cambaleou para trás. O ar oscilou, distorcendo tudo ao seu redor. Ele se dobrou sobre si mesmo, colapsando a forma de Ob Nixilis além do reino da percepção. Em um piscar de olhos, ele se foi, transplanando para longe.

Elspeth olhou para o local agora vazio onde Ob Nixilis estava. Vários xingamentos estavam prestes a escapar de seus lábios quando um gemido a trouxe de volta à realidade. Vivien! Elspeth correu até a entrada, ajudando a amiga a se levantar. Vivien massageava sua cabeça.

“O que aconteceu?”

“Giada salvou a todos nós. Mas Ob Nixilis escapou. Isso está longe de terminar.”

EPÍLOGO - MUSEU

Elspeth e Vivien subiram os degraus do museu. Sem surpresa, as cinzas já haviam sido limpas. Mas ainda havia marcas no mármore do salão principal. Os Maestros trabalharam arduamente para reconstruir o museu.

“Eu estava te esperando.” Anhelo atravessou de onde vinha dando ordens a alguns membros mais jovens da família que agora estava bem menor.

“Esperando por mim?” Elspeth perguntou, a mão descansando levemente no punho da espada Halo enrolada em seu cinto. Ela não veio aqui para lutar. Mas não estava disposta a aceitar um não como resposta quando chegou a hora de finalmente ter acesso aos arquivos de Xander.

“Sim. Encontrei isso preso no meu casaco na noite do Crescendo. Assim que li, voltei direto para cá, mas já era tarde demais… embora tenha me poupado do banho de sangue no Vantoleone.” Anhelo tirou do bolso uma carta. Trazia o selo de Xander. Elspeth a desdobrou, lendo seu conteúdo:

Anhelo,

Agradeço por seus anos de serviço obediente. Você é um homem tão bom quanto é um assassino. Mas, meu amigo, temo que seja aqui que nos separamos.

Os Maestros estão agora em suas mãos, e confio que, após a longa noite pela frente, você os ajudará a inaugurar uma nova era. Tudo o que coletei ao longo dos anos deve servir bem a você. Faça da nossa família a sua como achar melhor. Já passou da hora de ter a visão orientadora de um líder mais jovem.

Finalmente, caso ela sobreviva à noite seguinte, o que não tenho dúvidas, Elspeth virá buscar meus arquivos. Dê acesso a ela e tente não fazer muitas perguntas.

Pela última vez,

Seu,

Xander

“Ele sabia que eu viria.” Elspeth examinou a carta mais duas vezes antes de devolvê-la a Anhelo.

“Xander sempre soube o que aconteceria em Nova Capenna, geralmente antes de qualquer um de nós.” Anhelo cruzou as mãos nas costas. “Por aqui.”

Ela seguiu Anhelo pelo museu até o escritório de Xander. Ele puxou uma cortina no canto mais distante da sala para expor uma porta. Desbloqueando-a, ele fez sinal para que Vivien e Elspeth entrassem.

“Qualquer coisa nos arquivos de Xander é seu. Venha quando quiser.” Anhelo as deixou a sós.

Elas passaram o dia procurando e vasculhando. Nenhuma página foi deixada de lado. Anhelo teve a amabilidade de lhes trazer o almoço… e jantar, enquanto o crepúsculo descia sobre a cidade.

Relatos de Capenna escondidas no escritório de Xander explicavam a história: No passado distante, os phyrexianos fizeram uma tentativa neste Plano. Os anjos tentaram impedir a invasão, mas a ameaça era grande demais para eles enfrentarem sozinhos. Em desespero, eles formaram uma aliança com os Lordes Demônios. Diante dos phyrexianos, as rivalidades de Capenna eram mesquinhas; no entanto, essas rivalidades não seriam esquecidas. Os demônios finalmente traíram os anjos, aprisionando-os em uma espécie de estase, de onde eles poderiam converter os corpos dos anjos em Halo, uma essência que – como Xander havia dito a ela – poderia ser usada para ajudar a proteger a cidade. Era confuso, mas funcionou. Os Lordes Demônios usaram Halo para derrotar os phyrexianos e depois desapareceram.

Halo tinha sido a chave. Se manteve os phyrexianos à distância aqui… essa poderia ser a resposta que Ajani buscava, mesmo que o suprimento de Halo estivesse diminuindo. Por sorte, entre os arquivos havia um pequeno esconderijo de Halo que Xander sem dúvida estava guardando para um dia chuvoso. Isso parecia ser o mais chuvoso que as coisas poderiam ficar. Elspeth levaria tudo e todas as informações de volta para Ajani e as Sentinelas.

Elspeth e Vivien estavam lado a lado, olhando pela janela enorme no mesmo lugar que Xander. Elas não tinham dito uma palavra há horas. O silêncio foi preenchido com revelações e conhecimento.

“Nova Capenna continuará a lutar por Halo,” Elspeth disse por fim. “O suprimento está quase esgotado e, se secar, eles vão se despedaçar.” Sua mente vagou brevemente para Giada e as figuras brilhantes com as quais a jovem havia partido. Será que os anjos retornariam a Nova Capenna para inaugurar uma nova era se a cidade estivesse em extrema necessidade? Ou eles teriam ido para algo maior?

“Há mais neste plano do que só uma cidade. Se o destino de Nova Capenna é destruir a si mesma, então a natureza a recuperará. A vida persistirá neste plano.” As palavras de Vivien não foram frias, mas pensativas. Talvez até pretendessem assegurar que algo prosperaria muito depois da queda da cidade.

“Mesmo assim, eu não posso virar as costas para eles.”

“Você nunca será capaz de garantir a segurança deles se ficar. Os phyrexianos agora são uma ameaça para todos.”

“Eu sei,” Elspeth disse.

“Mas agora podemos lutar contra eles,” Vivien disse, com um aceno para a espada de Elspeth e depois para o esconderijo de Halo de Xander. “E se devemos acreditar em Urabrask…”

“O que ele te falou?”

Vivien cruzou os braços. “Revolução.” Ela franziu a testa em intenso pensamento. “Em Nova Phyrexia. Isso pode nos dar a janela que precisamos para detê-los.”

Para detê-la. O ricto de porcelana da Grande Cenobita – sua antiga prisão e capital phyrexiana – era grande e assombrava a memória de Elspeth. Afastar-se de Nova Capenna significava entrar mais uma vez naquele inferno metálico. Koth, Melira, Karn voltar significava enfrentar seus pesadelos e confrontar seu tempo lá quando era uma garota. Significava outra batalha, outra guerra.

Ela era forte o suficiente? Ela tinha escolha? Alguém tinha? Tudo o que ela queria fazer era descansar, mas como ela poderia se afastar da batalha agora? Ela tinha que voltar para Dominária e contar a Ajani tudo o que havia aprendido, mostrar a ele o Halo e se preparar.

Havia muito a ser feito. Elspeth assentiu, a garra a alimentava tão ardentemente quanto o Halo girando na espada em seu quadril. Se ela tivesse propósito e pessoas para defender, ela encontraria seu lar ao longo do caminho. Aquele era o melhor caminho para ela seguir adiante.

“Devemos partir,” Elspeth declarou.

“Para onde?”

Elspeth ficou satisfeita por parecer que Vivien estava pronta para continuar esta jornada com ela. Se a guerra estava chegando, ela precisaria de aliados mais poderosos.

“Dominária.” Elspeth se virou do horizonte da cidade de Nova Capenna. “É hora de encontrar alguns velhos amigos.”

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