Mtg Lore
Compêndio da Lore de Magic the Gathering
EPISÓDIO 3: TESTES
MUSEU
Inicialmente, o museu tinha sido tudo o que ela esperava. Estava situado no topo de um dos prédios imponentes de Nova Capenna em Parque Alto. Anhelo tinha-lhe mostrado o seu “quarto”. Parecia mais um alojamento para novos recrutas. Mas ela não se importava.
Elspeth manteve-se contida a maior parte do tempo. Ela não tinha interesse em se aproximar dos Maestros. Anhelo poderia ter dito que agora ela era “parte da família”, mas Elspeth nunca se sentiria assim. Para ela, as brigas eram mesquinhas e os métodos duvidosos. Não eram do tipo com que Elspeth queria se associar.
Mas tudo poderia ser tolerado até que ela encontrasse uma maneira de parar Phyrexia.
A escultura do phyrexiano permanecia sendo o principal pensamento enquanto ela realizava suas tarefas domésticas no museu. Ela viu suas formas monstruosas em todos os lugares. Às vezes, Elspeth não tinha certeza se não estava inventando os contornos sombreados surgindo no fundo de pinturas rachadas de anjos guerreiros. Mas justamente quando sua dúvida se tornava forte, ela se deparava com uma pintura como a que ela segurava agora – uma figura alada, rezando enquanto mãos com garras se estendiam para fora da sombra.
Elspeth virou a obra de arte e fez algumas anotações no livro ao seu lado com um suspiro. Mais um dia de catalogação de arte duvidosamente adquirida. Outro dia sentindo que não estava mais perto das respostas que precisava. Elspeth passou os polegares pelas ranhuras da moldura ornamentada. Havia segredos aqui, presos nessas relíquias dos dias passados de Nova Capenna. Mas os capenenses que vieram antes esconderam bem seus rastros, e ela ainda não tinha acesso a informações suficientes para começar a montar esse mistério centenário.
Mas ela tinha quase certeza de que conhecia alguém que conhecia: o curador. O líder dos Maestros não estava coletando todas essas relíquias por acaso. Ele sabia de alguma coisa, e era por essa teoria que Elspeth continuava apostando seu tempo com os Maestros.
É só falar do demônio…
A porta da sala de catalogação se abriu. Um vampiro com chifres entrou – Xander, líder dos Maestros. Um homem e uma mulher de cada lado, ouvindo atentamente suas palavras sussurradas.
Ela encontrou rapidamente o curador e chefe dos Maestros quando chegou. Após a apresentação por Anhelo, ela só o tinha visto de longe. Embora suas interações tivessem sido limitadas, Elspeth tinha certeza de que ele sabia alguma coisa sobre as verdades de Nova Capenna e dos phyrexianos. Por que mais ele acumularia esse tipo de conhecimento e relíquias?
A atenção de Xander voltou-se para ela, sem dúvida estimulada por seu olhar atento. Elspeth não desviou o olhar. Ela vinha mantendo a cabeça baixa há semanas, trabalhando duro e fazendo o que lhe mandavam. Mas ela não se permitiria ser esquecida em algum quarto dos fundos, relegada a bibliotecária do museu para sempre.
“Saiam,” Xander disse para o homem e a mulher ao seu lado, alto o suficiente para Elspeth ouvir. “Vocês já sabem o que fazer.” Então ele acenou para ela.
Elspeth passou pelos caixotes empoeirados, esculturas embrulhadas em estopa e pinturas cobertas de musseline para ficar diante dele. Ela fez uma pequena reverência com a cabeça. O suficiente para ser educada e dar-lhe o que era devido. Mas não o suficiente para ser subserviente. Os Maestro valorizavam soldados leais, não lambe-botas.
“Caminhe comigo.” Xander bateu sua bengala no chão para dar ênfase, os punhos peludos de suas mangas abauladas quase cobrindo suas mãos completamente. Ele a levou para fora da sala e para o museu propriamente dito. “O que você achou da família?”
“Boa o bastante.”
“Não ouço reclamações sobre você. Seu trabalho é obediente, habilidoso e atende às expectativas. No entanto, também não há menção de você procurar fazer mais.”
“Estou aqui para aprender, não para sujar minhas mãos de sangue,” ela respondeu honestamente.
“Mas o preço do conhecimento muitas vezes é encontrado nas veias dos outros.” Os olhos de Xander brilhavam como o ouro que cobria um dos chifres que enfeitavam sua testa tal qual uma coroa de marfim. Os outros vampiros dos Maestro não tinham aquela característica, então não era uma peculiaridade da variação de Nova Capenna.
“Ainda não.” Ele cantarolou para si mesmo. “Enviar alguém que não está disposto para tirar uma vida geralmente termina em desastre. Mas eu não sou uma instituição de caridade. Se você quer mais do que tem agora, deve trabalhar para conseguir.”
Sua bengala batia no mármore, ecoando pelo salão principal do museu. Pilares se erguiam na forma de anjos que sustentavam o teto de vidro em suas costas. Elspeth imaginou que as próprias fundações da cidade pareciam assim: criadores esquecidos se esforçando excessivamente para sustentar um templo.
“O que eu preciso fazer?”
“Alguns trabalhos.” Xander parou. “Mas saiba que escolher isso a colocará no caminho para se tornar uma verdadeira membra da família. Você estará nos Maestro por toda a vida. Então, pense com cuidado se é realmente isso o que você quer. Pois, se não for…” ele apontou para a entrada principal do museu. “Fique à vontade para sair agora. Nenhum rancor nosso irá assombrá-la.”
Elspeth olhou entre ele e as pesadas portas do museu. Ela não tinha chegado tão longe para se afastar agora. Além disso, se a morte não podia segurá-la, Xander certamente também não conseguiria. Não importa o que ele dissesse, ela não estava prestes a ficar presa em lugar nenhum.
Ela olhos nos lhos dele. “Estou pronta.”
RUAS DE MEZZIO
Simples assim.
Elspeth tomou um dos elevadores da cidade da plataforma em frente ao Museu até outro centro. Dali, ela continuou sua descida. O tempo todo ela agarrava a bolsa que carregava o pacote com força. Mas ninguém lhe deu atenção.
Ela esperava que haveria alguma resistência. Mas ela se movia sem esforço pela cidade. Saindo de uma estrada principal, descendo uma rua lateral, virando à esquerda na bifurcação, atravessando um beco, entre dois prédios… Elspeth repetiu as instruções de Xander, seguindo-as ao pé da letra.
Isso a levou a uma porta modesta, pintada de azul-marinho, tão escura que era quase preto na luz sombria do beco. No lugar de uma aldrava ou maçaneta havia um pequeno emblema que parecia a palma de uma mão, levemente delineado em carvão que era apenas um tom mais escuro que a própria porta. O símbolo era tão sutil que provavelmente era ignorado todas as vezes, caso a pessoa não soubesse o que estava procurando.
Obscura, Elspeth percebeu. Suas malas de roupa suja a lembravam vagamente do incenso que queimava no templo de Heliode. O cheiro trazia consigo uma dor de nostalgia, e Elspeth se concentrava para banir Daxos de sua mente quando ele se aproximava.
Sem palavras, a mulher estendeu a mão. Elspeth colocou o pacote na palma da mão e saiu imediatamente.
ESCRITÓRIO DE XANDER
Todo o museu era luxuoso, mas ficava sem graça quando comparado com os aposentos privados de Xander. Lustres brilhavam no alto. A sanca era ricamente esculpida com representações de anjos chorando e demônios rindo. Tudo que brilhava era ouro.
“Nenhum problema.” Elspeth se absteve de perguntar como ele já sabia que tinha sido entregue. Ela voltou direto. Então, novamente, ele tinha seus meios. E essa informação não era o motivo pelo qual ela firmou esse acordo. “Agora, sobre a história de Nova Capenna?”
“Acho que se deve começar do começo ao discutir essas coisas.” Xander se levantou lentamente, favorecendo ligeiramente o joelho esquerdo. Mas ele não pegou a bengala. Ela só o viu usar o apoio fora de seus aposentos pessoais. “Nossa querida cidade foi fundada por um acordo improvável, intermediado entre arcanjos e senhores demônios.”
“Trabalhando juntos?” Elspeth o seguiu até uma pintura pendurada sob um refletor. Sem dúvida, retratava um anjo alado e um demônio com chifres apertando as mãos.
“O inimigo do meu inimigo é meu amigo, e isso não foi mais verdade do que durante a construção de Nova Capenna.”
“Quem era o inimigo deles?” Elspeth teve um palpite.
“Um mistério para o qual ainda procuro as respostas.” Ele esfregou as têmporas como se estivesse tentando se lembrar de algo há muito esquecido, a frustração nivelando seus lábios. “Mas foi uma ameaça grave o suficiente para que os anjos fossem consumidos na defesa do Plano. Embora os detalhes daquela época muitas vezes sejam diferentes, dependendo de quem você perguntar.” Os olhos de Xander brilharam. “A história mais comum é que ficou claro que os demônios também precisavam entrar na briga. Quando o fizeram, os demônios nomearam cinco famílias para tomar a cidade em seu nome, elaborando um pacto com o chefe de cada família.”
Seus olhos se ergueram até os chifres dele. Xander não perdeu o olhar e riu sombriamente.
“Sim, eu sou, de fato, um desses signatários originais e voluntariamente me tornei parte demônio, além de meus outros dons sanguíneos.”
“Então você estava lá antes da fundação?” Ela perguntou. “Mas você não sabe contra quem eles estavam lutando?”
“Faz tanto tempo que assinei o contrato, o tempo e a magia do pacto distorceram minhas memórias. Também não estive presente nas grandes batalhas que aconteceram…” Xander parou, perdido em pensamentos por um longo minuto. “É parte do motivo pelo qual eu procuro a informação agora – preencher as lacunas das minhas memórias que ameaçam me engolir por inteiro.”
Elspeth teve pena do vampiro e não insistiu mais no assunto. Em vez disso, ela adotou uma abordagem diferente, lembrando os sentimentos amargos de Anhelo sobre a partida dos anjos. “Depois que os anjos e demônios desapareceram, a ameaça desapareceu também? Eles venceram?”
“Ainda estamos aqui, não é?”
Isso era obviamente verdade. Mas Elspeth esperava algo mais concreto para levar de volta a Ajani. Xander falou antes que ela pudesse formular outra pergunta.
“Acho que já é história suficiente por um dia.” Xander voltou para sua mesa, ainda esfregando a cabeça com uma mão. “Aguarde minhas próximas ordens, e falaremos novamente.”
ARMAZÉM MEZZIO
A informante sairá do cabaré aproximadamente duas horas após o anoitecer e então seguirá para a próxima localização. Você a reconhecerá quando a vir — ela é uma das nossas. Você deve observá-la sem ser vista, certificando-se de que ela não seja incomodada, Xander instruiu.
Já se passaram alguns minutos da hora marcada, e ainda não havia sinal de nenhum vampiro Cabaretti-
A porta envernizada de verde do cabaré se abriu e saiu uma jovem com a saia balançando nos joelhos. Ela sorria, acenando para as pessoas que ainda estavam lá dentro. Mas no momento em que a porta se fechou, seu sorriso desmanchou e sua expressão se intensificou. Ela desceu a rua com um objetivo.
Esta era a informante que Elspeth estava esperando.
Elspeth agarrou-se às sombras enquanto seguia a mulher; saltando com os pés leves ao longo da decoração ornamentada dos edifícios, ela atentava às luzes acima e como elas poderiam revelar sua sombra. A informante parou de repente, deixando Elspeth agarrada às costas de uma estátua.
A vampira fez uma curva fechada. Elspeth franziu os lábios. Problemas? Talvez a mulher tivesse avistado algo – ou alguém – que ela precisava evitar.
Elspeth a seguiu até um pequeno túnel que atravessava os prédios e se conectava a um grande armazém. “Onde você está indo?” Elspeth murmurou, saltando da estátua para um arco que conectava os dois prédios. Ela se moveu rapidamente, agachando-se e ficando perto do telhado. Qualquer um nos prédios que circundavam este armazém poderia vê-la, e ela não tinha dúvidas de que parecia muito suspeita. Ela precisava chegar à rua rapidamente para evitar a atenção.
Correndo para uma claraboia, Elspeth olhou para baixo, vislumbrando sua informante passando por um armazém vazio. Ainda sem problemas. Parecia que a mulher se dirigia para uma porta oposta a que ela entrou. Elspeth correu para a extremidade mais distante do telhado; um beco serpenteava os dois prédios com fachadas majoritariamente lisas – nenhum lugar para ela seguir de cima.
No entanto, ao lado havia outro beco…
Pode ser que sirva.
Elspeth correu para o lado direito do armazém, pisando com cuidado para não alertar a mulher abaixo de sua presença. Com certeza, haveria outra rua estreita que corria paralela àquela para a qual a informante estava indo. Se o que ela viu estava correto, então ela poderia passar por uma pequena brecha nos prédios para alcançar a informante dando a volta pela frente.
Ela se prendeu nas fendas de pedra. Com um pé e uma mão em cada parede para se apoiar, Elspeth desceu com cuidado e rapidez até o chão, balançando um lado de cada vez. Ela estava tão concentrada em não cair que não ouviu o chiado e a correria até que uma sombra violenta se lançou sobre ela da escuridão de uma alcova próxima.
“O que temos aqui?” a besta rosnou, o focinho peludo perto de seu nariz. “Carne fresca?”
“Saia de cima de mim, rato!” Elspeth grunhiu e empurrou a criatura para longe. Na verdade, parecia mais um guaxinim do que um rato. Mas Elspeth não estava disposta a se corrigir enquanto aquilo rosnava.
“Não somos ratos, vamos mostrar pra ela, galera!” A criatura-guaxinim puxou uma adaga da cintura. O beco era frustrantemente estreito, dificultando o combate. Um feito que se tornou ainda mais difícil quando três outros semelhantes se lançaram sobre ela.
Elspeth desviou da lâmina e pegou a criatura pela nuca. “Eu não tenho tempo para você!” ela girou e o usou como um aríete para derrubar os outros. Para sua surpresa, funcionou. Enquanto estavam atordoados, ela aproveitou a oportunidade para se desvencilhar, correndo pelo beco e içando-se por cima de um muro baixo e para a abertura entre os prédios que ela tinha visto antes.
Ela ouvia atentamente enquanto observava e esperava a informante. As criaturas-guaxinim estavam começando a acordar, mas parecia que eles não tinham visto onde ela tinha ido. Soltando um suspiro de alívio, Elspeth continuou rastejando para longe, congelando quando a informante passou por ela, e então continuou.
Não houve mais incidentes. Elspeth permaneceu longe de vista durante todo o caminho até a alcova sombreada onde a informante parou. A vampira bateu na porta e esperou. Houve um flash de magia, e a porta se abriu, revelando uma estranha luz roxa.
Elspeth não conseguiu entender as palavras que foram trocadas, mas não pareceram hostis, e a mulher foi convidada a entrar.
ESCRITÓRIO DE XANDER
“Por que, você pode me dizer?” Xander estava sentado atrás de sua mesa, como sempre, debruçado sobre tomos empoeirados que Elspeth não tinha visto antes. Ela passou bastante tempo catalogando tudo o que entrava e saía do museu dos Maestro para que pudesse identificar algo diferente apenas com o olhar. Especial. Foi mais uma confirmação de que os supostos arquivos dele estavam em algum lugar perto do escritório. Provavelmente interligados. Esse era o verdadeiro tesouro que ela procurava.
“Você ainda não sabe?” Ela arqueou as sobrancelhas.
“Ao contrário da crença popular, não sei tudo o que acontece nesta cidade.” Xander ainda não tinha olhado para ela.
“Poderia ter me enganado.”
“Bom. Isso significa que estou fazendo meu trabalho direito.” Ele fechou o livro, finalmente olhando-a nos olhos. “A informante?”
“Chegou ao seu destino sem problemas. Embora o mesmo não possa ser dito de mim.”
“Hein?”
“Fui atacada por guaxinins.”
“Nada que você não possa lidar, eu presumo?” Ele arqueou as sobrancelhas.
“Estou bem.” Elspeth se serviu de uma das duas cadeiras em frente à mesa dele. Xander pareceu mais divertido do que incomodado pela sua ousadia. “Mas eu posso não ter tanta sorte da próxima vez que algo me atacar das sombras. Eu preciso de algo melhor do que meus punhos para me proteger.”
Ele juntou os dedos e a olhou pensativo. “Você terá uma arma quando merecer uma e for uma oficial entre nós. Até lá, você precisará se virar.” Um sorriso malicioso formou um arco em sua boca. “Talvez, você possa encontrar mais alguns vergalhões para usar?”
Elspeth não tinha certeza se achou seu comentário engraçado ou insultante. Ela optou por ignorá-lo e, em vez disso, seguiu em frente, dizendo: “Eu mantive minha parte do acordo, agora a sua.”
Ele riu, deslizando um pingente ao longo da corrente em seu pescoço. “Isso tem que ser sempre sobre negócios? Aqui estava eu, prestes a lhe oferecer uma bebida.”
Xander tirou uma pequena garrafa e duas pequenas taças de uma das gavetas da sua mesa. Dentro da garrafa havia uma substância levemente brilhante. No topo, brilhava como a luz do sol. Dourada. Brilhante. Então ela desceu com um laranja bem forte e depois um roxo tão escuro quanto a meia-noite. A solução parecia como se o cosmos tivesse sido destilado e passado por uma peneira, deixando apenas os elementos básicos da existência em uma solução que não era líquida, sólida ou gasosa – era mais como pura magia condensada.
“Halo,” Xander afirmou. Ele removeu a rolha de cristal, e a garrafa exalou um suspiro cintilante que formou anéis no ar antes de desaparecer. “É uma pena que você tenha ficado tanto tempo na cidade sem experimentar.”
Ele encheu os dois copos até a borda. Mesmo completado, era pouco mais que um gole. Elspeth levou o copo aos lábios, estudando a estranha mistura. Um momento de hesitação. Então ela engoliu.
Ela não esperava que fosse quente. Tinha o gosto das tardes alegras, longas e preguiçosas com Daxos. Tinha gosto de sentimentalismo e lares que existiam apenas em suas memórias e imaginação. Consumi-lo não era tanto beber, mas sobre absorver. O Halo a encheu de força, de propósito. Seus músculos não estavam mais exaustos e seus sentidos estavam mais aguçados. Mas o mais impressionante era a onda de magia correndo por ela, exigindo liberação.
“Eu consigo entender o apelo,” ela admitiu, abaixando o copo de volta.
“É o suficiente para os homens lutarem. E nós temos lutado.” Foi um fato amargo e trouxe o fantasma de um rosto carrancudo ao rosto de Xander. “Halo foi o último presente dos anjos.”
“Por que conceder tal presente?” Uma possível conexão estava implorando para se formar no fundo de sua mente. Mas ela precisava de mais informações para confirmar.
“Quem sabe? Talvez assim Nova Capenna seria para sempre uma grande festa.” Xander riu e balançou a cabeça, como se nem ele conseguisse acreditar naquela explicação.
Elspeth não acreditou nem um pouco. Algo tão poderoso e raro como Halo não era uma diversão barata. Tinha que ter um propósito. E ela estava começando a suspeitar que o propósito poderia ter sido apenas ajudar a derrotar os phyrexianos.
CENTRO - PARQUE ALTO
O trabalho desta noite foi bastante fácil. O frasco de Halo estava quente no bolso do peito. Elspeth não sabia dizer se estava quente ou se apenas segurá-lo trazia de volta as sensações de absorvê-lo. Ela só tinha que levá-lo para uma das áreas de encontro arborizadas de Parque Alto, deixá-lo e ir embora. Sem perguntas. Sem demora. Chegar e sair.
Comparado com as outras tarefas que Xander havia lhe passado, isso era – literalmente – um passeio no parque.
Claro, havia um saco de papel marrom ao pé de um banco do parque como o almoço esquecido de alguém. Ela deu uma olhada rápida nos arbustos e árvores próximos e então foi direto para ele.
Uma mão se fechou ao redor de seu pulso quando Elspeth pegou a bolsa.
Seus olhos dispararam pelo braço ofensor e encontraram o olhar esmeralda de uma mulher humana. Metade de seu cabelo era preto, a outra metade branca e firmemente trançado do lado de sua cabeça. Ela estava tão bem vestida quanto Xander, embora talvez um pouco mais prática em seu estilo. Elspeth não ignorou os símbolos de ponta de flecha em sua roupa, provavelmente devido à aljava em suas costas, e o que parecia ser um arco encaixotado ao seu lado.
“Eu estava imaginando quem viria para cobrar.” Sua voz era um contralto bem interessante.
“Eu esqueci mais cedo,” Elspeth disse. Essa mulher não parecia ser a que supostamente pegaria o Halo que Elspeth estava entregando. Algo nela parecia diferente das outras de Nova Capenna. Ela cantarolava com uma vibração natural diferente da maioria.
Ah, ela era como Elspeth, uma planinauta.
“Não minta,”, a mulher disse com um sorriso. “Você não parece ser desse tipo.” Seus olhos percorreram Elspeth, sem dúvida avaliando as cores do Maestro. “Você também não parece do tipo que trabalha para uma dessas famílias.” As palavras eram mais curiosas do que críticas.
Elspeth riu baixinho. “Tenho meus motivos.”
“Tenho certeza que sim.”
“Estou tentando aprender mais sobre a história deste Plano”, Elspeth admitiu, decidindo que tinha mais a ganhar do que perder ao divulgar essa informação. Talvez uma colega planinauta pudesse ajudar sua causa. Ou talvez essa mulher já soubesse alguma coisa sobre a história de Nova Capenna.
“Por que?”
“Talvez seja o meu lar,” ela disse suavemente. Pode ser. Mas provavelmente não era. O lugar que ela construiu como lar em sua mente desde seu tempo nas masmorras quando menina provavelmente não existia. Ela estaria para sempre à deriva. “Mas, mais importante, acho que uma ameaça está se aproximando e estou tentando obter informações sobre ela.”
“Certamente está, e nós compartilhamos motivações. Eu sou Vivien, a propósito.”
“Elspeth.” Ela não viu nenhuma razão para enganar. Elspeth sempre se considerou uma juíza de caráter decente, e Vivien parecia confiável.
“Para quem você está coletando informações?” Vivien perguntou. Elspeth debateu sua resposta por tempo suficiente que Vivien dissesse: “Deixe-me adivinhar, as Sentinelas?” Vivien já tinha o interesse de Elspeth, mas agora tinha toda a sua atenção.
“Você também está aqui em nome delas?”
“Originalmente, não. Mas você sabe como essas coisas acontecem. Podemos ser capazes de-” Vivien sacudiu a cabeça para a direita. Seus olhos se estreitaram ligeiramente. “Os capangas que te seguem estão se aproximando.”
Não é à toa que Xander sempre parecia saber onde ela estava e como as coisas estavam indo. Ele enviaria pessoas para segui-la.
“Eu devo ir antes que eles façam perguntas sobre mim.” Vivien a soltou. “Mas talvez eu tenha algumas informações relevantes sobre esta ameaça para te passar.”
“Tem?” Elspeth deu um passo à frente, a voz caindo para um sussurro. Ela não se atreveu a dizer muito abertamente.
“Eu tenho uma pista que pode ser interessante. Você pode vir comigo e-”
“Não posso,” Elspeth disse apressadamente. “Eu tenho uma oportunidade de aprender como os Novos Capenenses derrotaram-” ela não ousou dizer ‘phyrexianos’ abertamente “-a ameaça anterior. Eu não posso sair até que eu consiga essa informação.”
“Está bem.” Vivien não insistiu no assunto, pelo que Elspeth ficou grata. Ela precisava de um pouco mais de tempo, não apenas para a missão que Ajani lhe deu, mas também para si mesma. “Vou analisar melhor esses assuntos também e entrarei em contato com você quando tiver mais informações.”
“Por que você está me ajudando?” Elspeth estava em Nova Capenna há muito tempo. A ideia de uma estranha fazer algo por ela por puro altruísmo tornou-se estranha.
“Antes que você se envolva demais nos assuntos deste Plano, você deve conhecer todos os detalhes,” ela disse com um tom grave. “Até a próxima.”
“Quando?” Elspeth perguntou para a mulher, sem ousar levantar a voz.
“Quando eu tiver algo que valha a pena.” Vivien deu um pequeno aceno de cabeça. “Foi um prazer conhecê-la.”
A folhagem parecia se mover ao redor de Vivien, para Vivien, criando um caminho limpo pelo mato. Magia? Ou um truque de como ela se movia – confiante e sem hesitação.
Agora ela também podia ouvir os movimentos dos homens de Xander no caminho. Elspeth se agachou e colocou o frasco de Halo na bolsa. Mantendo a cabeça baixa, ela voltou para o museu.
ESCRITÓRIO DE XANDER
“Sem problemas.” Ele parou diante da janela alta atrás de sua mesa. Elspeth começou a imaginá-lo como uma grande ave de rapina. Estoico quanto uma estátua, mas capaz de fazer chover morte do alto, caso presas fáceis cruzassem seu caminho.
“Obrigado por esperar.” Ela parou ao seu lado.
“Eu tenho assuntos importantes para discutir com você.” Ele olhou em sua direção, um sorriso enfeitando seus lábios. “E, como eu já disse, sem problemas.”
Ela riu baixinho com um aceno de cabeça. Ela pode nunca entender completamente este lugar ou seu povo. E ela certamente duvidava se chegaria a concordar com Xander na maioria das coisas. Mas ele nunca foi indelicado e, na melhor das hipóteses, ela se viu pensando em um improvável parentesco com o velho filósofo-assassino. Não, parentesco era algo muito generoso… um entendimento, talvez?
“O que são esses assuntos importantes?” Elspeth perguntou, grata por ele não parecer interessado em bisbilhotar o motivo do seu atraso.
“O que você sabe sobre o Adversário?”
“Menções já foram feitas.” Ela havia ouvido o indivíduo sombrio sussurrar no alojamento algumas vezes. Sempre calado. Como se simplesmente dizer seu nome muito alto pudesse invocá-lo.
“Ele é uma ameaça para o próprio tecido desta cidade.” Xander apontou para a janela, para o outro lado da paisagem irregular do horizonte, empalidecida pelo luar. “Há paz em Nova Capenna porque há um equilíbrio – um entendimento – entre as cinco famílias. Temos respeito, confiança e competição cooperativa.”
“Cooperativa?” Elspeth arqueou as sobrancelhas.
“Todo mundo opera dentro dos orçamentos de todos os outros, por assim dizer.”
“Pode não ser do seu jeito, mas funciona.” As mãos de Xander pousaram no topo de sua bengala. “Criamos ordem a partir do caos. Uma estrutura da qual as pessoas podem depender e prosperar… e ter um pouco de diversão enquanto fazem isso.”
“Diversão,” Elspeth zombou baixinho.
Xander a ouviu. “Sim, diversão. Você deveria tentar aproveitar esta vida um pouco. É emocionante – contanto que você esteja no topo.”
“Eu não teria muitas esperanças,” Elspeth disse, inexpressiva.
“Não se preocupe, não tenho.” Ele sorriu, brevemente, mas sua expressão rapidamente se tornou séria mais uma vez. “O Adversário é uma ameaça para todos. Ele está estrangulando o comércio de Halo e desestabilizando o equilíbrio que conseguimos manter por séculos, deixando as pessoas desesperadas. Se o Adversário controlar a maioria de Halo, o resto de nós lutará por restos. Isso significará guerra.”
“O que você quer que eu faça sobre isso?” Ela foi direto ao ponto.
“Você parece competente, engenhosa, inteligente e diligente. E, talvez o mais importante, você ainda é desconhecida nesta cidade. Não se preocupe, não vou pedir que você enfrente o Adversário. para se infiltrar nos Cabaretti.”
“O que os Cabaretti tem a ver com isso?”
“Os Cabaretti alegam ter uma maneira de contornar o Adversário – a Fonte, uma maneira de eles fazerem Halo ilimitado.”
“E você quer que eu a roube?”
“Não, claro que não. Eu quero que você descubra se os rumores são verdadeiros e, se forem, me diga onde a Fonte está guardada e deixe uma porta destrancada. Eu cuidarei do resto.”
“Você tem certeza sobre isso?” Elspeth perguntou, estudando seus olhos opacos. “Isso não é uma afronta ao equilíbrio entre as famílias?”
“Se você fizer seu trabalho direito e manter sua lealdade aos Maestros em segredo, os Cabaretti não serão conhecedores desse descuido. Mas a percepção deles do meu engano é um risco que devo correr. Os tempos mudam, e estes são desesperadores. Se eu jogar apenas pelas velhas regras, morrerei com elas. Se a guerra estiver vindo, eu serei o primeiro a atacar,” ele prometeu, quieto e mortal. “E por falar em…” Xander pegou uma faca na mesa. Não era bem como as outras que ela tinha visto os Maestros usarem – seu cabo era normal, em vez de uma empunhadura horizontal perpendicular à lâmina. Mas era uma arma fina e funcional. “Isso é para você.”
“Uma faca?” Ela aceitou.
“Você queria uma, e a mereceu, como uma oficial dos meus Maestros.”
Mesmo que ela não estivesse procurando um lugar nesta família, Elspeth não conseguia parar a pequena onda de orgulho que a percorria pela noção de um trabalho bem executado. “Obrigada.”
“Agradeça-me provando que você é digna. Se você tiver sucesso, eu posso te presentear com uma lâmina melhor do que essa quando você voltar.”
“Eu vou, mas quando eu voltar…”
“Sim?” A determinação dela sempre parecia diverti-lo.
“Eu não quero outra lâmina; eu quero acesso aos seus arquivos. Eu faço este último trabalho para você, e chega de informações pingadas. Eu preciso de tudo. Há uma ameaça lá fora maior do que o Adversário. Eu sei que poderei identificar essa ameaça se você me der as informações que procuro.”
Xander estava imóvel como uma estátua. Mas ela podia sentir o peso de ser avaliada em seus ombros. Ela se perguntou se os rastreadores tinham ouvido sua conversa com Vivien. Se ele sabia que ela levaria a informação para os outros.
“Muito bem,” ele disse, ao final. “Faça isso por mim, e todo o conhecimento em meus arquivos será seu.”
“Ótimo.” Elspeth se virou para sair, mas ele a impediu.
“Ah, ainda não terminamos.”
“Perdão?”
O rosto de Xander se alargou em um sorriso divertido. “Você não vai entrar em nenhum cabaré Cabaretti vestida assim.”
EPÍLOGO - CABARÉ
Depois de uma rápida varredura da sala lotada, Elspeth foi direto para o bar.
“Halo?” a elfa atrás do bar perguntou, colocando um pequeno guardanapo estampado com o selo Cabaretti na frente dela.
“Eu não estou aqui para isso. Estou aqui para um trabalho,” ela tentou dizer casualmente.
“Não tenho trabalhos aqui, apenas Halo.” Eles riram.
Elspeth já estava falhando em sua tentativa; ela podia sentir isso. Ela limpou a garganta e tentou uma abordagem diferente. “Sei que o Crescendo está se aproximando rapidamente e os Cabaretti devem estar procurando ajudantes extras para auxiliar. Eu gostaria muito de trabalhar para a família.”
“Você acha que eu posso tomar essas decisões?” elu perguntou incredulamente.
“Acho que você conhece as pessoas que podem.”
“Por que eu arriscaria meu pescoço por alguma estranha aleatória?” Ê Bariste prontamente se virou para uma leonina que chegou à esquerda de Elspeth. “O de sempre, rouxinol?”
“Você me conhece tão bem, Rocco,” ela disse sem tirar os olhos da partitura que estava segurando. Era impressionante que ela conseguisse enxergar os empregados entre aqueles grossos punhos emplumados e a gola de seu vestido. “Só o suficiente para aliviar a tensão antes do meu grupo começar, não muito, por favor.”
“Beleza.” Elu colocou um tiquinho de Halo para a musicista e se virou para sair.
“Sobre o trabalho-” Elspeth começou, tentando chamar sua atenção novamente.
Rocco lançou-lhe um olhar que dizia, Quem você pensa que é? e se afastou prontamente.
Elspeth mordeu o lábio, cutucando levemente as costuras de suas luvas. Ela foi direta demais, não é? Muito atrevida. É por isso que ela—
A leonina riu, e Elspeth levou um momento para perceber que era às suas custas. “Você quer tanto trabalhar assim, hmm?” Sua voz era lírica, quase como uma canção.
“Quem está perguntando?” Elspeth tentou controlar seus nervos. Não funcionou.
“Estou surpresa que você não me conhece.” Ela passou as mãos pelas lantejoulas de seu vestido. “Certamente, você deve ter ouvido falar da grande cantora, Kitt Kanto?”
“Peço desculpas, não posso dizer que sim.” Elspeth imediatamente se perguntou se deveria ter mentido por causa do ego de Kitt.
Felizmente, Kitt não parecia muito perturbada. “Então você terá um verdadeiro deleite. Me apresento em menos de uma hora, então não deixe de ouvir, senhorita…?”
“Elspeth.”
“Elspeth? Sério?”
“Sim.” Elspeth não sabia por que seu nome fazia as orelhas de Kitt se contraírem.
“Agora você tem que vir comigo de qualquer jeito. Conheço alguém que vai adorar um nome como esse.” Kitt assumiu a liderança, e Elspeth relutantemente a seguiu até um camarote decorado como as paredes do cabaré onde duas outras mulheres estavam sentadas.
“Kitt, quem é essa?” A mais velha das duas levantou uma única sobrancelha. Um cachorro enrolado na frente da mesa levantou a cabeça ao mesmo tempo.
“Diga para ela.” Kitt cutucou Elspeth de brincadeira antes de deslizar para o banco.
“Elspeth.”
“Elspeth,” a mulher sentada repetiu achando graça. “Nunca conheci uma Elspeth que não estivesse gravada em uma lápide. Bem-vinda aos dias modernos, bonequinha. Amei o vestido, estou feliz por você não ter deixado os fantasmas costurarem algo que combinasse com o nome. Eu sou Jinnie.”
Jinnie. A mão direita de Jetmir, o chefe dos Cabaretti. O destino sorriu para Elspeth, ao que parecia.
“Muito prazer.” O olhar de Elspeth desviou-se para a jovem à mesa. Ela parecia pouco arrumada em comparação com o resto deles. Suas roupas eram um tamanho muito grande para seu corpo, como se ela estivesse tentando se esconder dentro delas.
“Esta é a Giada,” Jinnie falou pela adolescente enquanto acariciava lentamente o gato ronronante em seu colo.
“Prazer em conhecê-la, Giada,” Elspeth fez questão de falar diretamente com ela. Giada apenas assentiu.
“Elspeth estava procurando trabalho, especificamente para ajudar com o Crescendo,” Kitt disse. “Ela me pareceu alguém que você gostaria. Com um nome como o dela e um senso de moda como esse, ela poderia ser uma adição valiosa para a equipe da pista.”
“Você geralmente tem um senso melhor para essas coisas do que eu,” Jinnie admitiu. Ela olhou para Elspeth. “É verdade?” Elspeth assentiu. “Então acho que tenho alguns trabalhinhos para você. Se jogar as cartas certinho, você poderá estar com os Cabaretti a tempo do Crescendo. Acredite em mim quando eu digo, será uma festa que você não vai querer perder.”
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