Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

EPISÓDIO 2: ROUPA SUJA

ESTAÇÃO MEZZIO

Nova Capenna era um borrão. Elspeth se segurou em um ferro do vagão enquanto ele descia os trilhos, mas isso era desnecessário já que ela estava tão apertada ao lado dos outros passageiros que era impossível se mover. Com um solavanco e um gemido, o trem parou na estação principal para o Mezzio – o coração pulsante da cidade – e exalou fumaça e pessoas.
Arte de Muhammad Firdaus

Desta estação, elevadores dourados em forma de carapaças de besouros gigantes levavam os ricos para os Parques Altos. Os trabalhadores subiam de Caldaia pelas escadarias cheias de vapor. Ela se encaixava mais facilmente nos últimos do que nos hábitos brilhantes do primeiro.

Elspeth avaliou sua roupa. Suas calças eram simples e resistentes, e ela dobrou as mangas e manteve o colete aberto para lutar contra o calor do trem. Embora a cúpula em torno de Nova Capenna mantivesse a cidade consistentemente amena, ela estava sufocando entre todos aqueles corpos. Seus trabalhos também mantinham sua temperatura elevada ao longo do dia. Por mais ansiosa que estivesse para satisfazer os hábitos mais extravagantes de Nova Capenna, sobrevivência era seu primeiro foco.

E sobrevivência significava roupas práticas com as quais ela pudesse trabalhar.

Ela manteve a cabeça baixa e fez bicos por toda a cidade sempre que os encontrava. Na superfície, ela não era diferente de ninguém. E ainda… Elspeth esfregou levemente a barriga. Ainda havia um sentimento de vazio que havia sido esculpido nela pela lâmina da Mensageira dos Deuses quando Heliode a empalou. Ela esperava curar aquela dor em Nova Capenna, mas ainda não se sentia muito bem neste novo lugar.

Ela estava tão perdida em seus pensamentos que não viu o leonino correndo até que já era tarde demais.

O homem foi direto para ela, e ambos ricochetearam no chão. Elspeth piscou, atordoada. Os passageiros ajuntaram-se ao redor deles.

“Pelos anjos! Para de ficar enrolando e preste atenção aonde você está indo!” ele resmungou, alisando seu pelo marrom malhado e recolhendo os rolos de tecido que havia enfiado debaixo do braço antes que pudessem ser pisoteados irreparavelmente.

“Me desculpe.” A julgar por suas roupas, ele não parecia ser afiliado a uma das famílias que pareciam governar Nova Capenna, e por isso ela ficou grata. Qualquer que fosse o governo que estivesse em vigor não era muito eficaz, pois ela não podia nem nomeá-lo, mas podia nomear os Obscura, os Cabaretti, os Maestros, os Mediadores e os Rebiteiros de memória.

Aff, alguém já te falou para manter os olhos na frente?” O leonino se levantou e a deixou para trás.

As palavras soaram em seus ouvidos, pressionando-a. Imobilizando-a. Os passageiros de Nova Capenna continuaram a circular ao seu redor, alguns lançando olhares frustrados ou confusos, outros ignorando-a completamente.

Mas Elspeth mal estava ciente das pessoas. Em sua mente, ela não estava apenas em um lugar diferente, mas em um tempo…

DOMINÁRIA, ANTERIORMENTE

“Você está viva!” Ajani correu até ela. Seu abraço protetor a esmagou.

Elspeth envolveu seus braços ao redor dele, apertando seu amigo em igual medida. O pelo do pescoço dele fez cócegas em seu nariz e bochecha, trazendo um sorriso aos seus lábios. Felicidade. Alívio. Segurança. Fazia tanto tempo que não sentia emoções tão agradáveis que era de se admirar que ainda pudesse senti-las.

“Eu não acreditei que você andava no reino dos vivos até ver por mim mesmo.” Ajani se afastou, colocando as mãos nos ombros dela. Seus olhos brilhavam de emoção.

“Se eu fosse você, também não teria acreditado.” Elspeth deu-lhe um sorriso cansado. “Estou tão feliz por ter te encontrado.” Dominária não era um dos seus lugares habituais. Eles se encontraram aqui uma vez, há muito tempo. Ela estava aliviada que não fazia tanto tempo assim, pois ainda conseguiu rastrear seu velho amigo nesta terra quase desconhecida. “O que o traz aqui? Eu esperava encontrá-lo em Naya.”

“Depois de derrotar Bolas, eu vim aqui para me encontrar com Karn e as Sentinelas para discutir a ameaça phyrexiana. Mas haverá tempo para assuntos sérios mais tarde.” Ajani balançou a cabeça, como se descartasse a ideia. “Como você está aqui?”

“É uma longa história…” Elspeth contou a ele sobre seu tempo no Submundo após sua morte nas mãos de Heliode e como ela enganou o Deus do Sol em outro confronto. Ao fazê-lo, ela deu a Érebo, Deus dos Mortos, a oportunidade de aprisionar Heliode. “Érebo ficou tão grato a mim por ajudá-lo a acertar as contas com seu antigo rival que me deixou sair.”

Ajani ficou em silêncio por um longo tempo depois que ela terminou. Ele olhou intensamente para o nada em contemplação. Ela já tinha visto o olhar em seu velho amigo muitas vezes e sabia que não deveria afastá-lo de seus pensamentos quando ele estava assim. No entanto, geralmente, essa expressão não a envolvia. Por mais emocionante que fosse vê-lo novamente… uma pequena parte dela estava com medo.

Eles estiveram separados por tanto tempo e tanta coisa aconteceu com os dois. Ela havia retornado dos mortos. Ele começou a trabalhar em estreita colaboração com Karn e as Sentinelas investigando uma ameaça iminente. E se ele a enxergasse sob uma perspectiva diferente agora? Será que ele a julgaria pelas coisas que ela tinha feito?

Ele se mexeu no banco em que estavam sentados e lentamente, propositalmente, pegou as mãos dela. Encarando-a bem nos olhos, ele perguntou: “Como você está?”

“Como?” Elspeth sentou-se um pouco mais reta.

“Elspeth, como você está? Você deve ser uma das pessoas mais fortes que eu conheço. Mas eu não posso imaginar o preço pago pelo seu corpo e espírito pelas coisas que você foi forçada a suportar. A reviravolta quando tudo que você queria por tanto tempo era estabilidade. E Daxos… eu sei o quanto ele significava para você.”

Foi a vez dela desviar o olhar. Caso contrário, ele veria através de todos os seus escudos a profunda dor que ela ainda nutria. Elspeth queria ser forte. Ela queria deixar tudo para trás. Mas Ajani a conhecia muito bem para isso. Ele sabia o quão profundamente ela queria que Theros fosse sua casa, sua rocha, alguma estabilidade em um Multiverso de constante agitação. O quanto ela sacrificou por seu amor perdido apenas para que ele voltasse como um homem que ela não reconhecia.

“A parte mais difícil,” ela começou lentamente, “é não ter para onde ir. Calix está me caçando, e apesar de achar que consigo me livrar dele… para onde eu iria depois? Não há futuro com Daxos, não como ele é agora. Nenhum Plano jamais estará seguro.” E sem segurança não há lar. Essa foi uma lição que ela aprendeu desde tenra idade. Essa lição foi o que a levou a procurar Theros – uma terra protegida por deuses. Mas se os deuses não significavam segurança… então o que seria?

Elspeth riu, uma nota amarga rastejando no som enquanto ela pensava em como tudo parecia sem esperança naquele momento. “Eu lutei tanto para escapar das garras de Érebo, e para quê? Alguns dias, eu não sei a resposta.”

Ajani suspirou. “Elspeth, o lar não é um lugar; é um sentimento. São as pessoas que compartilham seus sonhos e aquelas em quem você confia.”

“Isso é fácil para você dizer.”

“Você acha?” Ele parecia levemente ofendido.

“Você está em casa onde quer que vá. Eu sempre tive que caçar e lutar pelo meu.”

“Estou em casa onde quer que eu vá porque estou em casa em minha própria pele. Você deve primeiro-”

“Eu não espero que você entenda,” ela interrompeu e retirou as mãos dele. Ela não podia suportar a conversa por mais um minuto. Era inútil esperar que ele compreendesse a dor de ser uma criança perdida.

“Você está certa,” Ajani admitiu. “Eu não consigo entender a profundidade de sua dor quanto você. Mas você ainda é minha querida amiga, e eu não tenho que conhecer cada nuance do seu sofrimento para ver a ferida e querer ajudá-la a consertá-la.”

“Não há nada que você possa fazer.”

“Posso encorajá-lo a manter os olhos em frente. Olhar para o futuro. Não deixe os demônios do seu passado consumi-la.”

“Eu não tenho demônios.” Dizer isso teria sido muito mais convincente para ambos se ela não soasse tão amarga e defensiva.

“O lar virá de dentro, quando você tiver recuperado seu propósito – olhe para dentro e confie em si mesma. Se não, você nunca se tornará quem você realmente deveria ser. Você nunca encontrará paz e não haverá lar se você não conseguir encontrar contentamento consigo mesma.”

“Eu não vim até você para um sermão.” Ela se afastou do banco, envolvendo os braços em volta de si mesma e se afastando. Olhe para dentro. Encontre a paz, então encontre o lar. Não é um lugar. As palavras ficaram com ela, desconfortáveis. Ela não podia escapar delas com alguns passos; ela não seria capaz de escapar delas nunca. Ela precisava fugir, limpar a cabeça e esperar ganhar uma nova perspectiva à distância.

“Elspeth.”

Ela também podia ouvi-lo ficar de pé sem olhar para trás. “Vou pensar no que você disse, mas não posso falar sobre isso agora. Foi bom ver você de novo.”

Ajani continuou assim mesmo. “Enquanto você estava-” ele claramente lutou com a palavra “morta” e disse em vez disso “…desaparecida, continuei sua busca por lar…” Ele inalou profundamente, como se estivesse se preparando. “Eu encontrei.”

LAVANDERIAS MEZZIO, DIAS ATUAIS

Ela parou do lado exterior do seu local de trabalho. O cheiro de sabão pairava no ar tão brilhante e fresco quanto as roupas finamente passadas nas janelas. Seu reflexo estava distorcido no vidro, quase irreconhecível.

Será que Ajani estava certo sobre tudo o que ele disse? Ela estava confortável em sua pele? Elspeth balançou a cabeça e tentou afastar os pensamentos ao entrar na lavanderia. Ela tinha que sobreviver ao dia-a-dia. O resto viria no seu próprio tempo… ou nunca.

“Você está atrasada,” disse o dono da loja no momento em que colocou os olhos nela. “Este é um bom trabalho e você não vai continuar nele se não chegar na hora.” Elspeth olhou para o relógio na parede, confirmando o que ela já sabia: ela estava aqui exatamente quando deveria. “Não olhe para o relógio. O relógio não vai te ajudar. A única hora que importa é a que eu digo, e digo que você está atrasada. Está atrasada na hora.”

“Desculpas,” Elspeth murmurou. Ela nem se preocupou em saber o nome de seu atual chefe. Seu empregador mudava regularmente nesta cidade. Ninguém a queria por muito tempo quando estava claro que ela não ia jogar seus jogos imprudentes e implacáveis. Parecia inútil se apegar demais. “Não vai acontecer de novo.”

“É melhor não. Eu posso dar utilidade aos seus músculos.” Ele fez um movimento brusco com o polegar em direção à porta dos fundos. “Tem seis malas para você levar para os trens de carga. Leve-as e você receberá o pagamento de hoje.”

Elspeth não perdeu mais tempo ou palavras com o homem e fez o que foi instruído. A sala dos fundos das lavanderias era separada em seis segmentos — um para cada uma das cinco famílias criminosas e outro para a população geral. Porque os anjos proíbem que até mesmo suas roupas sejam tocadas.

Ela colocou uma sobre o ombro e fez seu caminho de volta, carregando-a até a estação central de Mezzio antes de voltar. Durante todo o tempo, Elspeth ouviu os cidadãos ao seu redor. Ninguém prestava atenção nela, mesmo quando ela demorava um pouco demais, ou diminuía o passo quando havia uma conversa particularmente fascinante. Ela usava cada novo emprego como uma oportunidade para aprender tudo o que podia sobre Nova Capenna. Talvez, eventualmente, ela ouviria exatamente o que precisava para ter certeza de que aquele era seu lar.

A porta da loja estava entreaberta em sua última viagem de volta, o suficiente para que ela pudesse ouvir com dificuldade a conversa acontecendo lá dentro.

“…certifique-se de pagar o que você deve,” um desconhecido rosnou.

“Eu prometo, eu vou te passar o dinheiro.” A voz geralmente severa e confiante do dono da loja tremia. “Apenas me dê mais uma semana.”

“Outra semana?” Uma mulher riu. “Você teve um mês. Fomos mais do que generosos.”

“Outro dia – dois dias – por favor, eu imploro.”

Elspeth nunca tinha ouvido o dono da lavanderia soar tão amedrontado. Tão submisso. Um aperto no coração puxou seus ombros para baixo, deixando em seu estômago o leve sabor de nojo do fundo de sua garganta. Essas pessoas estavam atacando os moradores trabalhadores da cidade.

Devo intervir? Não, não era da conta dela. Pelo que ela percebeu, o lojista tinha feito algo para merecer esse destino. Ela deveria simplesmente ignorá-lo e—

“Dois dias? Tenho certeza de que há algum dinheiro por aí.” Sons de esmagamento e quebradeira foram seguidos por risadas rudes.

O gemido de um homem, interrompido por um baque surdo e mais gargalhadas.

Elspeth era um borrão quando empurrou a porta, vendo a carnificina que os estranhos haviam causado. Manequins estavam sem cabeça e quebrados no chão. As roupas que antes usavam estavam amontoadas. A caixa registradora estava esmagada perto do corpo ensanguentado e quebrado do dono da lavandeira, três homens e uma mulher pairando sobre ele.

Os olhos pálidos dos quatro assaltantes se voltaram para ela.

“O que temos aqui?” disse um homem de cabelo escuro. Ele foi a primeira voz que ela ouviu. O líder, Elspeth assumiu.

“Ela é… ela é apenas uma cliente.” o lojista lutou para pronunciar cada palavra. Ele era a última pessoa que ela esperava tentar protegê-la.

Elspeth nivelou os olhos com o líder do grupo. “Saiam.”

“Muito ousada para alguém que é ‘apenas’ uma cliente.” Sua boca se curvou em um sorriso sinistro. “Por que você se importa com o velho?”

Era uma boa pergunta, uma que Elspeth não tinha dúvidas de que faria a si mesma mais tarde, enquanto cuidava de quaisquer feridas que estivesse prestes a sofrer. Mas, por enquanto, ela estava focada apenas em afastar essas pessoas do lojista ferido. Isso já tinha ido longe demais; eles iriam matá-lo se continuassem.

“Qualquer um que tenha prazer sádico em espancar um homem desarmado se torna problema meu.”

“Ela acha que somos sádicos.” A mulher riu e estalou os dedos. “Talvez devêssemos mostrar a ela como o sádico realmente se parece.”

“Palavras ousadas para dizer sobre os executores Maestro,” disse um homem com os lados da cabeça raspados.

Os Maestros. Elspeth sabia pouco sobre a família além de que sempre que eram mencionados pelos cidadãos, era no contexto de arte ou de morte, e suas roupas sempre tinham um cheiro metálico de sangue.

Arte de Jodie Muir

“Estou me sentindo generoso hoje.” O líder se afastou do lojista. “Eu vou perdoá-la por essa má escolha de palavras e não vou deixar que seja o último erro que você cometerá nesta terra se esvaziar o conteúdo de seus bolsos.”

“Engraçado, estou me sentindo generosa também. Estou pronta para deixar vocês saírem daqui com os joelhos intactos se forem agora,” retrucou Elspeth. Pessoas assim só entendiam a violência. Então, se ameaças fossem o suficiente para atraí-los, então ela seria a isca.

“Por que você-” rosnou um homem usando luvas vermelhas.

“Já chega.” A mulher avançou, mas o líder agarrou seu ombro e a segurou para trás.

Ele a encarou, inclinando-se para sua subordinada, seus narizes quase se tocando. “Eu estou no comando aqui e não atacamos as pessoas a menos que eu diga.”

“Mas-”

“E eu estou dizendo que vamos pintar as ruas de vermelho com ela.” Ele soltou a mulher, e Elspeth não esperou o ataque. Eles tinham cedido à sua provocação. Ela os distraiu o suficiente do dono da loja, e agora era hora de salvar sua própria pele. Quatro oponentes normalmente não seriam um problema para ela, mas dado que eles estavam armados até os dentes, uma retirada tática era a melhor ideia.

Elspeth correu para a rua, os quatro Maestros logo atrás dela. Ela se abaixou e ziguezagueou pelas ruas lotadas de Mezzio. A maioria disparou seus olhares de reprovação, mas continuou com seus próprios negócios, lutas e derramamento de sangue eram uma ocorrência muito comum para os cidadãos de Nova Capenna.

“Você acha que pode nos superar?” A mulher a alcançou, empurrando um casal para o chão em sua perseguição. “Nós treinamos para isso, e você é apenas uma ajudante de lavanderia.”

Ela puxou uma espada de seu quadril, fazendo um amplo arco na direção de Elspeth e quase acertou três espectadores. Elspeth se esquivou, abaixando-se para deixar a lâmina voar sobre sua cabeça. O braço da mulher estava sobre seu corpo, o impulso ainda carregando a lâmina. Elspeth deu um passo à frente e preencheu o espaço, levando o punho ao estômago da Maestro.

Mas foi Elspeth quem soltou um grunhido de dor e surpresa.

Seus dedos acertaram metal. Uma placa protegia o abdômen da mulher, escondida sob os casacos de corte fino que ela usava. A Maestro sorriu amplamente, colocando suas presas à mostra. E ainda por cima, vampiros. Perfeito.

“Já se arrependendo de suas escolhas de vida?” ela zombou.

A resposta de Elspeth veio na forma de se afastar e correr novamente. Ela massageou a mão, examinando a multidão em busca de uma rota de fuga. Houve uma pequena explosão e um flash de luz. Magia atravessou o ar como a cauda de um cometa furioso. Acertou a pedra sob os pés de Elspeth com uma pequena explosão, deixando uma marca fumegante para trás.

Olhando por cima do ombro, ela viu um dos homens abaixando o dedo e xingando. Eles estavam dispostos a atirar nela com magia no meio de uma rua movimentada. Essas pessoas não se importavam nem um pouco com os outros. O que significava que se eles continuassem aqui, havia a chance de um espectador inocente se machucar.

O homem de luva vermelha levantou o dedo, apontando para ela. Elspeth se abaixou, deslizou e se arrastou para um beco quando outro raio de magia disparou sobre sua cabeça. Ela passou por alguns trabalhadores que lançaram xingamentos em suas costas. Eles foram rapidamente silenciados pelos quatro que estavam na cola dela.

Elspeth fez outra volta difícil, e outra. Mas não importa quantas vezes ela virasse ou quantas paredes ela saltasse, eles não desistiam da perseguição. Elspeth olhou por cima do ombro enquanto virava outra esquina e derrapou até parar.

O vento uivou no vazio diante dela.

A rua em que ela estava correndo acabou abruptamente, uma ponte semiacabada estendendo-se no espaço aberto. Outras construções estavam do outro lado da lacuna entre os edifícios. Mesmo que não fosse muito longe para ela pular, o equipamento de construção em frente não lhe dava nenhum lugar onde ela pudesse cair com confiança. Uma névoa vermelha e raivosa subia do abismo abaixo dela, os níveis mais baixos da cidade submergindo no que parecia ser um mar de fogo e sangue.

“Ora, ora. Encurralada, então.” O líder apareceu. Seus lacaios estavam ao seu lado, sem fôlego e parecendo ainda mais zangados pela perseguição que ela os fez passar. “Para onde você vai correr agora?”

Lugar algum. Ela não tinha nenhum lugar para onde ir. A única saída estava atrás deles, ou para baixo. Ela olhou mais uma vez a névoa e a poluição de Caldaia, sem enxergar nada que pudesse amortecer sua queda.

“Eu estava me sentindo generoso,” disse o líder. “Eu só ia bater um pouco em você, quebrar alguns dentes, ter certeza que você não poderia dizer mais nenhuma palavra inteligente. Se você tivesse, pelo menos, ficado parada.”

Ele estava mentindo, é claro. No entanto, a culpa a inundou do mesmo jeito. Ela colocou todas aquelas pessoas em perigo enquanto corria pelas ruas. Quantas pessoas se machucaram porque ela não aceitou uma surra? Ou pior?

O líder levantou a mão, dois dedos apontados para ela. Faíscas se acumularam ao redor do seu pulso enquanto o próprio ar se contorcia com um calor invisível. “Prepare-se para encontrar sua morte.”

Ela soltou um bufo de diversão. “Infelizmente para você, eu já a encontrei.”

Ele disparou.

Elspeth se esquivou, rolando. Ela tinha que voltar para a segurança do prédio e da estrada que o cortava. A vampira empunhando a espada golpeou. Desta vez ela agarrou o braço armado da mulher, usando seu impulso contra ela para girá-la contra a parede. Metal tilintou no concreto quando a cabeça da Maestro estalou para trás.

“Como você ousa!” Luvas Vermelhas avançou sobre ela, levando-a ao chão. Elspeth levantou uma perna e girou para afastá-lo. Mas ela mal teve a chance de ficar de pé antes que o outro homem estivesse sobre ela. E o ar ao redor do líder já estava brilhando com magia novamente.

Ela estava obstruída e em menor número. Elspeth trocou golpes com eles, esquivando-se e agachando-se. Eventualmente, eles a desgastariam e ela cometeria um erro por exaustão. Ela tinha que se desvencilhar antes disso.

Ou encontrar uma arma.

Uma pilha de longas hastes de aço chamou sua atenção. Elas eram idênticas ao metal que se projetava da beirada da ponte inacabada. Ela saltou, outro tiro passou zunindo por sua cabeça enquanto suas mãos se fechavam em torno de uma das hastes.

Elspeth ergueu sua arma improvisada. Estava muito longe da lança divina com a qual ela se acostumara. Mas era a vantagem que ela estava procurando.

“O quê? Você vai nos atacar com-” o homem não terminou a frase antes de o aço atingir a lateral de sua cabeça e ele desabar.

Os outros dois ficaram paralisados por um instante e simplesmente olharam. O erro deles. Elspeth varreu a arma pelo chão. A mulher pulou; Luvas Vermelhas foi acertado nos tornozelos. Ela puxou e então golpeou, acertando a ponta contundente do aço na têmpora dele.

Apenas o líder agora.

“Não sejamos muito apressados.” Ele ergueu as mãos, mas desta vez elas tremiam um pouco. “Nós podemos falar como civiliz-”

Ele atirou ao movimento repentino dela, mas telegrafou sua mira. Elspeth se esquivou, diminuiu o espaço entre eles e o deixou inconsciente com uma pancada. A agitação da luta começou a diminuir, e Elspeth relaxou sua postura, verificando cada um deles. Ela não invejava a dor que eles sentiriam quando a consciência voltasse… mas, pelo menos, todos estavam respirando. Ela realmente não queria matar ninguém, e a última coisa que ela precisava era que os Maestros se vingassem dela.

Eles podem ter treinado para serem os braços fortes de uma família. Mas Elspeth lutou com deuses. Eles não tirariam o melhor dela tão facilmente.

Assim que ela foi devolver a haste para onde estava, um lento aplauso a alertou para a presença de outra pessoa.

Elspeth girou, brandindo a lança com um impulso. Chegou a um fio de cabelo do queixo de um homem. Ele tinha pele clara e cabelo escuro penteado para trás perto da cabeça e enrolado em torno de sua gola alta. A barba por fazer cuidadosamente cuidada delineava sua mandíbula e sua boca, acentuando um sorriso malicioso. Sua armadura era muito parecida com as pessoas que ela acabara de derrubar para ser apenas uma coincidência.

“Seus amigos estão apenas tirando uma soneca.” Ela o olhou diretamente em seus olhos pálidos. “Eu não quero mais problemas.”

“Parece que o problema encontrou você hoje.” E isso a assombrava onde quer que ela fosse. “Eles não são meus ‘amigos’. Uma responsabilidade na melhor das hipóteses. Claramente, eles não estavam prontos para serem executores. Peço desculpas pela falta de elegância deles.” Ela não sabia se ele tinha se desculpado por eles não a matarem mais rápido. Seus olhos brilharam com o que pareceu ser divertimento com o ceticismo dela. “Diga, se você é tão mortal com uma vara de metal, o que você poderia fazer com a coisa real?”

“Suas ‘responsabilidades’ tiveram sorte, tudo o que eu tinha era esse bastão.” Ela o manteve em sua garganta. Um golpe em sua traqueia, e ele desmaiaria. Embora Elspeth tivesse o mesmo interesse em matá-lo do que teve com os outros.

“Eu posso ver isso claramente.” O homem ergueu os dedos, empurrando levemente a ponta de sua vara. “Por que não colocamos isso de lado e conversamos?”

Elspeth segurou firme. “Não tenho interesse em falar com você. Quero cuidar dos meus negócios em paz.”

“E se eu tiver negócios para você?”

“Não estou interessada.”

“Ah? Já está alinhada?” Ele a olhou da cabeça aos pés, batendo o queixo na arma pela qual ele claramente não se sentia ameaçado.

“Não tenho lealdade a ninguém e não tenho interesse em fazê-lo; só estou tentando me acomodar. Então, você me deixa sair?”

Ele suspirou, um pouco dramaticamente. “Tudo bem, embora seja uma pena ver seus talentos desperdiçados.”

Ela manteve os olhos fixos nos dele enquanto se afastava. Mas o homem não fez nenhum movimento. Elspeth caminhou para trás na direção da pilha de barras de aço. Ainda sem movimento. Ela devolveu lentamente o aço ao seu lugar, bastante consciente de que estava desistindo da sua única arma contra um inimigo em potencial ainda diante dela.

Ele colocou as mãos nos bolsos de forma não ameaçadora. Elspeth o olhou de lado ao passar. Ele deixou ela partir.

Ela estava de volta à sombra do prédio quando ele falou novamente.

“Sabe, se você estiver interessada em ‘se acomodar’ de forma um pouco mais fácil… há um bom dinheiro pelo trabalho.” Elspeth o encarou, mas ele continuou assim mesmo. “Tudo bem, não é motivada por dinheiro. Halo, então?”

Ela parou.

“Ah, sempre Halo, não é?”

Elspeth tinha ouvido a palavra Halo ser mencionada, mas ainda não havia encontrado nenhuma informação sólida sobre o que era. “E o que tem isso?”

“Você poderia obter uma dose regularmente, se esse for o seu desejo. Podemos não ser os Cabaretti, mas isso não significa que nossos depósitos estão secos.”

“Por que você acha que eu iria querer isso?” Elspeth perguntou cuidadosamente, tentando formular a pergunta para entregar o mínimo possível. Se seus olhos se estreitando ligeiramente ou seu olhar se tornando mais curioso do que conivente ou faminto fosse qualquer indicação, ela falhou.

“Você não é daqui.”

“Claro que sou.” Elspeth deu de ombros e continuou andando.

Seus passos eram apressados atrás dela. “Não, não… qualquer um de Nova Capenna sabe exatamente por que eles querem Halo. Sempre há uma razão para cobiçá-lo.” Ele a olhou com novos olhos. “Você tem os costumes de Nova Capenna, mas claramente não é uma de nós.”

Não é uma de nós. Quantas vezes ela seria identificada como a estranha? Como aquela que não pertencia? Nunca ficava mais fácil. A cada vez, o sentimento cortava mais profundamente do que antes.

“Está tudo bem!” Ele deve ter visto sua expressão enquanto acompanhava seu ritmo acelerado. “Todos começamos em algum lugar. Por que você não começa com os Maestros? Nós não temos uma oportunidade para novos recrutas de fora das ruínas com frequência – me surpreende que alguém ainda viva lá, francamente – e se você estiver curiosa sobre a história de Nova Capenna, então você ficará emocionada ao saber que todos os jovens membros da família começam no museu nos Parques Altos.” O homem parou, estendendo a mão. “Espere, onde estão meus modos? Perdoe-me. Eu sou Anhelo.”

Arte de Aurore Folny

Elspeth olhou a mão com cautela. Ela imaginou que balançá-la seria como se ela estivesse fazendo um acordo – um que ela ainda não conhecia os termos. Em vez disso, ela ignorou, continuando a andar. Mas disse: “Elspeth”.

“Elspeth, hein, você está algumas gerações desatualizada para ter um nome como esse.” Ele riu e continuou a segui-la enquanto a rua se abria para uma praça entre os prédios. Uma fonte borbulhava em seu centro. Elspeth desacelerou até parar, olhando para as figuras que coroavam as esculturas da fonte.

“Ah, curiosa sobre isso?” Anhelo riu. “Eles estão por toda a cidade, não é?”

“Eles?” Ela incitou levemente, vendo o quanto ele estava disposto a dar informações para ela. Para sua surpresa e deleite, ele continuou.

“Os anjos.” Ele acenou para as duas figuras, travadas em batalha. Uma mulher alada segurava uma espada triunfante sobre um inimigo caído. Mas não foi ela que chamou a atenção de Elspeth. Era a criatura curvada e espinhosa erguendo a mão para a mulher de pedra com suas garras, dedos ósseos e boca aberta. Uma criatura de ângulos agudos e pesadelos. “Há esculturas de anjos por toda a cidade, como se devêssemos reverenciá-los por uma batalha ancestral ou algo assim. Mas a única coisa que eles fizeram que mais importa foi desaparecer e deixar o que sobrou para lutar.”

Uma batalha ancestral. Anjos. Elspeth olhou para a criatura com a qual o anjo estava travado em uma batalha. Anhelo podia não saber o que era, mas, com certeza, ela sabia.

Um phyrexiano.

DOMINÁRIA, ANTERIORMENTE

“Enquanto você estava…” Ajani claramente lutou contra a palavra “morta” e disse em vez disso “-desaparecida, continuei a busca pelo seu lar. E encontrei.”

“O que?” Elspeth se virou, seu único foco era ele novamente. Seu coração disparou. Lar. O lugar que ela deixou quando era criança e nunca mais conseguiu encontrar.

“Chama-se Nova Capenna.”

“Nova Capenna,” ela repetiu como se experimentasse as palavras para ver se elas se encaixavam na imagem sombria e obscura que ela tinha em sua mente sobre lar. “Por que você não me contou antes?”

“Eu estava mais focado em ver como você estava.”

“Isso me deixa excelente. Nova Capenna? Sério?”

“Sim, e de acordo com Karn pode haver mais para a história do que apenas a sua,” disse Ajani com uma nota pesada. “Há planos para atacar Nova Phyrexia, mas não queremos fazer nenhum movimento antes de estarmos prontos – antes de sabermos que podemos vencer.”

“O que Nova Capenna tem a ver com os phyrexianos?” A preocupação ameaçou estrangular sua alegria. Phyrexianos semeiam destruição onde quer que passam. Havia mesmo um lar para ela voltar?

“Há rumores de uma incursão passada lá, e como Nova Capenna ainda está de pé, isso significa que eles derrotaram a ameaça anterior.”

“E você quer que eu descubra como,” Elspeth supôs.

“Exatamente.” Ajani agarrou seu ombro enquanto ela se movia para sair. “Antes de ir… me prometa que vai pensar no que eu disse. Eu sei que esta missão será parcialmente pessoal, e espero que você encontre o que está procurando – o que você precisa – em Nova Capenna. Mas, por favor, Lembre-se de que nenhum lugar será realmente um lar até que você tenha feito as pazes com seu passado. Você matou um deus, superou a morte, você fez tanta coisa, Elspeth. Se você pôde lutar contra tudo isso, também pode lutar por si mesma e encontrar a segurança que procura dentro de você.”

“Eu vou fazer o meu melhor.” Era verdade, e o máximo que ela podia oferecer a ele agora.

“Eu sei que você vai, e tenha cuidado,” Ajani puxou-a para perto para um abraço final. “Nunca mais me faça ver ou ouvir falar de sua morte.”

“Eu gostaria de evitar isso também, meu amigo,” Elspeth disse com uma risada suave. Leveza a enchia pelo que parecia ser a primeira vez em anos. Ela não olhou para trás enquanto se afastava, indo para o que ela esperava que fosse seu lar.

PRAÇA MEZZIO, DIAS ATUAIS

“De qualquer forma. O que você diz?” Anhelo pressionou novamente. “Bom dinheiro. Alojamento e alimentação. E tudo o que você precisa fazer são alguns trabalhos aqui e ali.”

Alguns trabalhos. Ela sabia exatamente o que isso implicaria. Elspeth não queria ter as mãos ensanguentadas nas guerras territoriais de Nova Capenna. Mas se o que ele estava dizendo era verdade, então esta era a melhor oportunidade que ela encontrou até agora para aprender mais sobre este lugar estranho e descobrir suas verdades. Para descobrir se Ajani estava certo e este era realmente seu lar.

“E o museu dos Maestros tem mais informações sobre esculturas como essa?”

“Mais informações?” Ele riu. “Melhor ainda. A família possui centenas de esculturas como esta, graças ao nosso curador.”

“Certo,” Elspeth concordou com relutância. Ela não queria trabalhar com uma família, mas era um meio necessário para um fim. No mínimo, eles poderiam ter as informações sobre os phyrexianos que Ajani e as Sentinelas precisavam.

“Você não vai se arrepender.” Anhelo passou o braço pelo ombro dela, guiando-a. “Os Maestros se orgulham de conhecer Nova Capenna melhor do que ninguém. Se é informação que você quer, isso pode ser dado em abundância.”

Ele tinha uma expressão presunçosa. Ele pensou ter encontrado a recompensa que ela seguiria cegamente. E ele estava certo, em parte. Mas Elspeth estava entrando nisso com os dois olhos abertos. Ela não ia ser usada pelas forças no poder.

EPÍLOGO - UMA SALA NOS FUNDOS

O Adversário estava sentado em uma sala espelhada, sua entrada escondida atrás de uma estante de livros. Para entrar no estabelecimento era preciso conhecer uma batida secreta e um toque mágico. Para entrar nesta sala, era preciso estar disposto a jogar com suas vidas.
Arte de Vincent Proce
Seus tenentes leais e oficiais o cercaram. Meios para um fim, todos eles. Ele os usaria enquanto tivessem fôlego e se mostrassem úteis. Uma luz púrpura doentia pairava no alto.

“… e isso é o que a Fonte realmente é,” disse o mais bem ranqueado entre eles.

O Adversário considerou isso e soltou uma gargalhada. Sério. A Fonte era isso? Patético. Tanto poder, tão pronto para ser tomado, e os Cabaretti estavam praticamente pedindo para serem roubados.

“Você sabe o que isso significa, não é?” ele perguntou, abrindo uma garrafa de Halo. Os outros o observavam com olhos famintos enquanto ele servia os copos. “Significa que vamos fazer do Crescendo uma festa infernal.” Ob Nixilis passou os copos para cada um, depois ergueu o dele em um brinde. “Pela dominação do Plano.”

Comentários

Review Text

Testimonial #1 Designation

Review Text

Testimonial #2 Designation

Review Text

Testimonial #3 Designation

Magic the Gathering é uma marca registrada pela Wizards of the Coast, Inc, uma subsidiária da Hasbro, Inc. Todos os direitos são reservados. Todas as artes e textos são de seus respectivos criadores e/ou da Wizards of the Coast. Esse site não é produzido, afiliado ou aprovado pela Wizards of the Coast, Inc.