Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

EPISÓDIO 05: UM SUSSURRO AO VENTO

Teferi jogou uma monstruosidade phyrexiana na bancada de Karn e a prendeu com uma faca. A criatura gritou, esguichando óleo preto brilhante de seu corpo octópode, contorcendo-se de raiva. Karn observou impassível o debater da criatura.

“É o segundo sabotador que encontro.” Teferi administrava as tropas, atuando como general e intendente — tarefa nada fácil na nova Coalizão, onde tantas espécies agiam em conjunto como aliadas.

“Quanto de prejuízo ele causou?” Karn perguntou.

“Estava nos depósitos de alimentos,” Teferi disse. “Jhoira está verificando se há corrupção neles, mas até que sejam liberados, o jantar está cancelado. Você pode imaginar como nossas tropas se sentem sobre isso.”

Karn só entendia a relação dos seres orgânicos com a comida em termos abstratos, mas havia testemunhado como perder uma única refeição poderia fazer Jhoira ficar irritada, mesmo quando a fome não estava em questão. Imaginar isso em uma escala maior…

“Isso está atrasando o progresso de Jhoira?” A criatura havia encontrado os depósitos de comida acidentalmente? Ou o espião deu a localização para Sheoldred? Karn foi incapaz de determinar a identidade do espião; Jaya, Jodah e Ajani ainda não haviam chegado, e ele esperava que pudessem ajudar assim que chegassem. Jhoira se ocupou em montar o mecanismo de autodestruição no leme da Plataforma de Mana, uma prioridade agora que as tropas de Sheoldred começaram a se aglomerar. Eles não permitiriam que Sheoldred obtivesse e convertesse a Plataforma de Mana. Se fizesse isso, ela seria capaz de criar pedras de energia e utilizar aço Thran, que era quase indestrutível, em suas criações monstruosas.

Teferi balançou a cabeça. “Está instalado, e agora ela está conectando os canhões à fonte de alimentação da Plataforma de Mana.”

Como a monstruosidade estava presa e se contorcendo, Karn não sabia que informação ela poderia transmitir a Sheoldred. Ele colocou uma mão sobre ela, removeu a lâmina e jogou a criatura em um crisol. Ele se contorcia, sibilando enquanto seu sangue fervia, seu óleo queimava, sua carne cozinhava e seu metal derretia.

“E a situação do sílex?” Teferi parecia preocupado. Ele mexeu os ombros sob o peitoral. Uma fivela havia se soltado, mas devido aos ferimentos que ainda estavam cicatrizando, ele não conseguia ajustá-la.

Concluída. Karn havia entendido como ativá-lo. Mas ele hesitou em dizer isso em voz alta. E se não fosse um espião que Karn precisava encontrar, mas um dispositivo de espionagem, escondido em algum lugar a bordo da Plataforma de Mana? Ele deu um passo à frente e apertou o peitoral de Teferi, feliz por não precisar de tais apetrechos. Os torsos dos seres orgânicos sendo gigantescos baldes para seus órgãos era uma evidente falha de design. “Por favor, fique quieto. Não posso correr o risco de você sofrer algum dano devido a uma armadura mal ajustada.”

“Foi muito fácil pensar em você como uma coisa, enquanto eu assistia você sendo construído.” Teferi inclinou a cabeça. “Se é que tem algum valor, Karn, peço desculpas por como eu tratei você no passado.”

“Eu aceito suas desculpas.”

Uma buzina soou acima do convés, convocando as tropas para lutar.

Teferi começou a correr e Karn o seguiu até o convés superior. Como a oficina de Jhoira estava localizada na proa, daqui Karn podia ver toda a Plataforma de Mana. Os conveses inferiores pareciam um globo dividido; os dois hemisférios se uniram com um conjunto que sustentava as pernas da Plataforma de Mana. Embora Karn não pudesse vê-las de onde estava, ele sabia que elas estavam presas nas rochas vermelhas do deserto, fixando a Plataforma na encosta do penhasco; da mesma forma, o distante hemisfério da popa estava conectado às montanhas de Shiv por uma ponte improvisada. Prédios urbanos erguiam-se de ambos os conveses. Acima dele, os conveses superiores subiam em direção ao leme, localizado em um afloramento que dava para o hemisfério frontal. Goblins e viashinos desmontaram barracas de comida encravadas entre os prédios e estenderam máquinas de cerco para substituí-las: canhões de mana pendurados nas laterais, apontados para o deserto abaixo.

O deserto fervia. Os phyrexianos sob a Plataforma de Mana eram tão numerosos que pareciam uma piscina iridescente na luz brilhante de Shiv. Sua superfície se movia como um mar prestes a ser rompido por uma baleia, ondulava e depois quebrava quando uma imensa monstruosidade surgia de suas profundezas.

Não havia outra saída.

Teferi rugiu, “Status dos canhões?”

“Não estão prontos!” uma mulher gritou.

A primeira onda de phyrexianos escalou as laterais da Plataforma de Mana. Os combatentes da coalizão empurraram suas escadas para trás, cortaram ganchos e espetaram lanças nas feras retorcidas.

Um couraçado phyrexiano ergueu-se da horda, semelhante a uma baleia em sua imensidão – só que nenhuma baleia que Karn jamais tinha visto possuía pernas ou mandíbulas de centopeia. Pedras tilintavam de seu corpo negro brilhante e pequenas fibras se contorciam da couraça de placas como se sentissem o gosto do ar. Ele se arrastou na direção da Plataforma de Mana, suas mandíbulas batendo.

“Pelos Nove Infernos,” Teferi murmurou. “Mirem no couraçado, no tórax dele! Segurem até estar pronto para ativar os canhões.”

Jhoira emergiu dos conveses inferiores, dois tecnólogos humanos em seus calcanhares. Ela correu para os canhões e se ajoelhou, verificando as conexões finais. Seus assistentes posicionaram-se atrás dos canhões, girando-os para enfrentar o couraçado. Os canhões acumulavam poder, suas aberturas envoltas em energia azul ardente.

Jhoira acenou. “Fogo!”

Arte de Sidhart Chaturvedi

Os canhões lançaram uma explosão crepitante que atingiu o tórax do phyrexiano, carbonizando o metal e balançando-o de volta para seu próprio exército. A energia azul queimava entre sua couraça de placas. Jhoira acenou novamente, e os canhões atingiram o couraçado pela segunda vez, rasgando sua armadura enfraquecida. Ele desmoronou sobre suas próprias tropas, esmagando-as.

“Bem,” Jhoira disse, “esses estão funcionando.”

Uma sombra passou pelos decks da Plataforma de Mana. A Bons Ventos voou acima e, por um momento, Karn sentiu alívio – até que a viu disparar uma salva em um grupo de viashinos, jogando-os para longe.

“Ah, não,” ele murmurou. Agora, olhando mais de perto, ele podia ver que as espirais e cordas que antes serviam de camuflagem não estavam mais mortas e inertes. Até a cabine estava coberta de crostas, sangue e tripas em um revestimento de couro sobre o que antes era vidro brilhante. Os phyrexianos haviam completado a Bons Ventos.

Arte de Adam Paquette

A embarcação mergulhou baixo, lançando horrores retorcidos de seus conveses – alguns pequenos como gatos, outros pesados e semelhantes a ursos em seu volume, intercalados com os humanos completados. Sheoldred deve estar esperando para dominá-los, pensou Karn, antes que Jhoira terminasse de instalar o mecanismo de autodestruição na Plataforma de Mana. Se esses phyrexianos atacassem Teferi e os viashinos pelas costas, os canhões ficariam indefesos.

Karn se moveu para encontrá-los. Um humanoide phyrexiano saltou do convés da Bons Ventos para a Plataforma de Mana, uma silhueta estranha mas familiar. Ele caminhou em direção a Karn, seus braços duplos erguidos. Seu cabelo claro, cheio de pontas de metal, estava penteado para trás, e seus olhos escorriam óleo preto pelas bochechas. Ele esticou a boca em um sorriso dirigido a Karn. “Já faz tempo, velho amigo.”

Não podia ser, mas era. Ertai.

Karn pensou que ele estava morto. Quaisquer que fossem as técnicas que os phyrexianos usaram para revivê-lo depois de todos esses séculos, deixaram o que fazia ele ser ele intacto: como ele endireitou os ombros, como estreitou os olhos para Karn, como flexionou as mãos; esses maneirismos permaneceram os mesmos.

Bem acima, manchas escuras no azul se transformaram em dragões, mergulhando para a Bons Ventos completada. A aeronave girou e ganhou altitude para enfrentar os dragões, evitando por pouco um jato de fogo. Darigaaz se jogou no casco da Bons Ventos, agarrando-se à aeronau de modo que ele se revolveu no céu. Ele usou suas garras traseiras para raspar os cabos intestinais da Bons Ventos como um gato eviscerando um coelho.

Karn enfrentou Ertai.

Ertai abriu os braços dobrados em falsas boas-vindas. “Faz tanto tempo desde que a Bons Ventos me deixou para morrer. Todos vocês poderiam ter voltado para me buscar. Mas não. E agora olhe para quem é o capitão – uma bela reviravolta do destino.”

“Não é o destino,” disse Karn, secamente. “É o plano dela.”

“Ela pode pensar que você é especial, Karn,” Ertai disse, “mas eu sei a verdade. Qualquer coisa que foi construída pode ser desmontada.”

Ertai sorriu e desenhou arcos duplos com as quatro mãos, inscrevendo o ar empoeirado com magia brilhante. Karn avançou sobre ele, e Ertai, com um movimento de seus pulsos, lançou o feitiço mais rápido do que arremessar facas. A luz brilhante atingiu Karn. Ele esperava que ela saltasse de seu corpo, repelido pelas proteções cuidadosas com as quais Karn se encantou, mas parecia que ele estava enferrujado, suas articulações ficaram repentinamente inoperantes.

“Tive tempo para pensar sobre isso durante meu renascimento,” Ertai disse. “Tempo para planejar, para me redesenhar para que eu pudesse lutar contra… você.”

“O – que – você – fez?” Karn raspou.

Ertai ergueu seus duplos braços, puxando Karn para ar como se Karn não pesasse mais do que um dente-de-leão. Aquele aperto se intensificou, espremendo. Se Karn fosse um ser com pulmões, ele teria desmaiado. Ele apertou a mandíbula, mas isso não lhe deu alívio da agonia que pulsava através dele, emanando de seu revestimento. Seu corpo de metal fez um som de amassado, torcendo-se sob a pressão. Ertai abriu as mãos lentamente — dedo por dedo, abrindo os punhos, mas não soltou Karn.

“Você ficará irreconhecível,” Ertai disse. “Lindo e novo.”

Uma geada floresceu sobre o corpo de Karn, um brilho branco que cobria seu metal. Ele esfriou. Ele podia sentir o metal se contraindo, estressado pela diferença de temperatura entre o calor do deserto de Shiv e o gelo mágico. Ertai torceu as mãos, um gesto de torção, depois as separou. A tensão mudou de compressão para alongamento quando Ertai afastou os membros de Karn de seu corpo. Ele estava separando Karn, membro por membro, como uma criança cruel torturando um inseto. As juntas de Karn se torceram sob a pressão. O metal cedeu nos ombros e joelhos de Karn, as articulações dobradas e mutiladas.

Como será que é morrer?

Karn nunca tinha pensado nisso – não como uma opção realista para ele. A morte era algo que acontecia com outras pessoas, uma tragédia à qual ele inevitavelmente sobreviveu e pensou que sempre sobreviveria. Ele não tinha como lutar contra isso, não conseguia pensar em nenhuma maneira de parar Ertai – e a Plataforma de Mana estava sendo invadida.

Ele não gostaria de morrer.

Ertai sorriu. A pressão se intensificou.

Se ele fosse morrer, ele primeiro protegeria o sílex. Karn alcançou as Eternidades Cegas, no zumbido que ele associava com sua magia, e extraiu partículas do material mais duro que ele poderia gerar. Ele visualizou o sílex distante, na oficina de Jhoira. Ele nunca gerou material a uma distância tão grande de seu corpo. Mas ele forçou, esperando que ele acertasse. Ele girou os filamentos de carbono mais densos que pôde do éter e prendeu o sílex em seu cofre de titânio. Ele teceu os filamentos ao redor do cofre em uma massa impenetrável. Desta distância, foi necessária uma tremenda força de vontade. Ele se concentrou muito no ato de criação ao invés da sensação de torção em seu corpo.

Um rugido — como uma escavadeira quebrando pedra.

O Argosy Dourado varreu as montanhas vermelhas da Shiv, pedras se agitando em seu rastro, e se aproximou da Plataforma de Mana.

Ajani saltou do convés do Argosy, caindo logo atrás de Ertai. Em um movimento suave, ele puxou seu machado de lâmina dupla de suas costas e golpeou Ertai. O mago phyrexiano cambaleou para trás, sua concentração quebrada – e com um grito, caiu para o lado da Plataforma de Mana.

A magia que prendia Karn diminuiu, e ele caiu de pé. Seus joelhos cederam e ele caiu. Ele estava muito machucado para ficar de pé.

Ajani, com os dentes à mostra, abaixou o machado em uma pequena saudação. “Voltei para lutar ao seu lado, meu amigo.”

Karn, rangendo com as pressões intensas, inclinou a cabeça. Ele estava feliz por poder ter suportado tudo aquilo: ele não estava mais em condições de lutar. “Estou feliz por isso. Devemos defender a oficina de Jhoira.”

“A oficina?” Ajani perguntou. “E o leme?”

“Jhoira pode segurá-lo.” Karn acenou com a cabeça para o leme, onde dava para os conveses, bem acima e a uma boa distância da luta. “O sílex. O sílex está na oficina.”

Com um grunhido selvagem em resposta, Ajani se virou e deitou nos phyrexianos.

Ganchos foram lançados do Golden Argosy quando ele se aproximou da Plataforma de Mana. Os phyrexianos ainda subindo pelas laterais foram esmagados quando o Golden Argosy se posicionou ao lado da seção da popa da Plataforma. A tripulação do Argosy jogou tábuas para preencher a lacuna, e Jaya liderou o ataque, seguida por Danitha Capashena com as cores de sua casa e Radha com o grito de guerra de seu povo nos lábios. Guerreiros de Keldon e cavaleiros de Benália saíram do Argosy para os decks da Plataforma de Mana. Eles atacaram os phyrexianos com suas lâminas maciças, dividindo as criaturas em várias partes.

Arte de Zoltan Boros

Jaya ergueu uma cortina de chamas e a lançou ao longo do convés, conduzindo os phyrexianos em direção ao Argosy e suas tropas. “Karn! Como você gosta de cozinhar seus pesadelos interplanares?”

“Eu não preciso de alimentação nutricional,” Karn disse.

Ela revirou os olhos e desenhou arcos de fogo. “Eu sou desvalorizada na minha geração.” A chama escarlate girou ao redor dela como lâminas, cortando monstruosidades phyrexianas. Ela ergueu a mão, os dedos se fecharam com o esforço, e eletricidade começou a se aglutinar ao seu redor. Com um grande estrondo, um relâmpago percorreu as fileiras inimigas. Aparentemente, Karn estava olhando; quando ela se virou para ele, ela sorriu. “O quê? Eu aprendi alguns truques novos.”

Atrás deles, na beira da Plataforma de Mana, uma forma viridiana grande e lustrada erguia-se das areias do deserto lá embaixo. Aquele rosto, aqueles chifres ramificados – Karn os conhecia muito bem. Sheoldred, agora afixada em algum construto dos pesadelos das antigas guerras de Dominária. Aquilo ergueu o pequeno torso humano à altura da Plataforma de Mana.

“Karn.” Quando Sheoldred falou, seu corpo inteiro ressoou e sua voz encheu o campo de batalha, melodiosa, com estranhas harmonias. “Você trouxe o sílex para mim.”

O plano de Karn de usar o sílex para atrair Sheoldred havia funcionado.

“Jaya, vá para a oficina e pegue o sílex,” Ajani disse. “Devemos tirá-lo de lá.”

Jaya assentiu. Cobrindo sua própria retirada com labaredas de fogo, ela voltou para a oficina. Ajani e Teferi flanqueavam a porta.

Sheoldred avançou, quase sem caminhar com suas muitas pernas, mas nadando através de seu exército, reunindo monstruosidades em seu corpo e incorporando-as a si mesma à medida que avançava. Ela se aproximou da Plataforma de Mana pelo lado. Tiros de canhão choveram contra sua carapaça de ferro, mas cobriram seu corpo. Não a feriu.

Ela estava indo para a junção entre as seções da Plataforma de Mana?

Mas Sheoldred abriu as mandíbulas em seu corpo de dragão mecânico e bateu com o peito na área da proa da Plataforma de Mana como um aríete. O baque ressoou através da Plataforma. Do casco, metal raspando em metal, as vibrações passando por toda a plataforma. Ela estendeu as pernas para o exército phyrexiano. Suas fibras contorcidas se retraíram enquanto seu exército enxameava seu corpo, usando suas pernas como escadas e seu corpo de dragão mecânico como uma rampa para o convés superior da Plataforma de Mana.

Karn se agachou em frente à porta da oficina. Por que Jaya ainda não havia saído com o sílex? Os dedos danificados de Karn estavam dobrados demais para ele fechar os punhos, então ele esmagou phyrexianos entre as palmas das mãos, ciente de dois planinautas lutando atrás dele. Ele tinha que proteger Ajani e Teferi o melhor que pudesse. Ele não podia deixar de admirar como Teferi lutava: não apenas com a determinação de um planinauta, mas com a determinação de um pai. Ele era um homem que decidiu salvar o Plano de sua filha e o seu próprio. No entanto, mesmo quando Karn jogou de lado uma monstruosidade que parecia um mosaico de humanos, cavalos e lulas, ele também permaneceu ciente de Ajani. Ele teve que ficar longe o suficiente para ficar afastado dos golpes de arco de Ajani. Ajani podia girar aquele machado de duas pontas e varrê-lo através de metal e carne tão suavemente que os phyrexianos demoravam um tempo para considerar o que, exatamente, tinha acontecido antes de se dividirem ao meio. Da retaguarda do exército phyrexiano surgiram reforços — não que eles precisassem deles, pensou Karn: mais dois couraçados. Imensas placas de metal cobriam seus cabos, órgãos pulsantes e carne, eriçados com espetos grandes o suficiente para atravessar três pessoas. Os couraçados avançaram pesadamente em suas pernas robustas.

“Infernos…” Teferi respirou, atrás de Karn. Ele gritou: “Preparem os canhões!”

“Não sei como sairemos vitoriosos dessa,” Ajani disse.

No horizonte, uma sombra se adensou — uma linha de um verde súbito e imponente. Para Karn quase parecia a beira de uma floresta.

Bem acima, Darigaaz liderava seus dragões em um rasante nos couraçados. Darigaaz atirou seu corpo contra um deles e começou a separá-lo, placa por placa. A Bons Ventos girou para persegui-los, suas velas-morcegos habilidosas nos ventos de Shiv, atormentando os dragões com rajadas doentias de luz verdes.

A Plataforma de Mana estremeceu, depois zumbiu. Karn podia sentir a pedra do coração em seu núcleo zumbir em resposta, um chamado e uma resposta, como o início de um dueto. Jhoira devia ter concluído seu trabalho, e ela acordou a Plataforma. Então ela parou: lenta, inexorável.

Todos no convés — até os phyrexianos — pararam de lutar para recuperar o equilíbrio, balançando quando a Plataforma de Mana se levantou. Karn podia sentir seu corpo pressionando com mais força no convés, o fluxo de ar chiando por suas articulações danificadas, limpo e quente em comparação com a imundície da batalha. Aquilo machucou seu chapeamento de metal amassado. Os restos da ponte que ligava a Plataforma de Mana ao deserto se separou. As mandíbulas de Sheoldred guincharam por toda a Plataforma, e Karn pôde sentir toda a estrutura cambalear quando ela perdeu o controle sobre seu casco.

A Plataforma de Mana estava livre.

Sheoldred tombou, seu equilíbrio foi interrompido.

A Plataforma avançou ao longo do deserto rochoso, nada graciosa, mas eficiente, bem equilibrada, esmagando phyrexians abaixo dela. Ela recolhia rochas e cuspia lava derretida em todo o exército phyrexiano em ebulição. Karn não podia ver os detalhes, mas podia ver os resultados: massas decrépitas, encolhendo à medida que queimavam, logo afundadas sob grossas ondas de rocha derretida.

O exército phyrexiano começou a recuar, mas a nuvem escura que Karn avistou no horizonte se transformou em folhagens e árvores: fileiras e mais fileiras de magnigotes marcharam para frente, escurecendo os desertos de Shiv com suas sombras frescas e folhagens verdejantes. A lava da Plataforma de Mana levou os phyrexianos pra baixo dos galhos dos magnigotes. Os magnigotes os atacaram – e os elfos yavimayanos, vibrantes como bromélias em cima dos membros dos magnigotes, choveram flechas nas monstruosidades abaixo.

Um kavu planador deslizou para o convés e Jodah saltou de suas costas. Uma elfa de pele pálida e manchas nas bochechas caiu atrás dele. Meria. Jodah tinha falado sobre ela. “Tantos planinautas,” ela disse. “É uma honra lutar ao lado de todos vocês. E a Plataforma de Mana é ainda maior do que eu imaginava!”

Por todo o convés, mais kavus planadores caíram, elfos yavimayanos em suas costas. A luta reacendeu quando os elfos de Yavimaya atacaram os phyrexianos, lançando-os e libertando os defensores sitiados. Jodah levantou uma luz branca abrasadora, envolvendo os canhões e seus operadores em escudos protetores para ganhar o tempo que precisavam para trabalhar com suas armas. Canhões explodiram os phyrexianos maiores, nocauteando-os antes que pudessem tentar violar as defesas da Plataforma. Meria caiu ao lado de Radha e Danitha, coordenando suas tropas para que os arqueiros de Yavimaya ficassem de forma atrás dos guerreiros benalianos e keldonianos. Ondas de flechas arquearam sobre os keldonianos e benalianos, cravejando as monstruosidades que se aproximavam.

“Nós estamos… salvos,” Teferi murmurou.

Pelo tom de sua voz, ele não havia pensado que o adiamento fosse possível. Nem Karn.

Jaya saiu da oficina de Jhoira, entrando no espaço entre Teferi e Ajani. Em seus braços, ela segurava a massa de titânio que Karn havia gerado ao redor do sílex. Seus dentes estavam cerrados enquanto ela o puxava para fora. Não havia ocorrido a Karn que um objeto daquele tamanho e peso poderia ser difícil para um humano manobrar.

“Eu não consigo levá-lo pelas Eternidades Cegas sozinha,” Jaya admitiu. “É muito pesado para transplanar com ele.”

Karin assentiu. Ele passou as mãos dobradas sobre o estojo, tirando o revestimento de metal protetor. Então ele acenou novamente, e o baú sem fechadura se abriu. O sílex brilhava em sua caixa. Só ele seria leve o suficiente para Jaya carregar.

“Finalmente.” A voz de Ajani soou distorcida, não com o rosnado de sede de sangue, mas… mecânico.

Karn virou-se para seu amigo.

Ajani arreganhou os dentes em uma careta de agonia. Ele achatou as orelhas e cerrou o olho bom. Sua pele ondulava, como se vermes rastejassem sob a superfície de sua pele.

Jaya fez um ruído de descrença. Teferi deu um passo à frente. Não—Ajani não poderia ser—

O olho bom de Ajani se arregalou de horror. Ele balançou a cabeça em negação e murmurou não, não, não segurando seus próprios braços como se pudesse conter as fibras phyrexianas sob sua pele e impedi-las de emergir. Mas elas incharam, rasgando músculos e pelos, para revelar uma musculatura phyrexiana lustrosa e densa que havia sido instalada sob a dele.

Arte de Victor Adame Minguez

Ajani tinha sido completado. Ele era o espião, o traidor. Ele os traiu para Sheoldred.

Jaya apertou o sílex protetoramente contra o peito. Ainda atordoada, ela deu um passo para trás, recuando em direção à oficina. Fogo incendiou ao redor dela, cercando-a. Esse movimento pareceu provocar Ajani. Ele levantou seu machado e acertou o corpo dela. As costas de Jaya se arquearam, e sua boca se abriu de dor. Ela caiu.

Teferi ergueu as mãos, sua magia retardando o ataque de Ajani. Karn correu para o leonino, colocando-se na frente de Jaya, esperando que alguém, qualquer um, pudesse lançar um feitiço de cura em seu corpo caído. Ajani acertou o machado no torso de Karn. Karn esperava que a lâmina escorregasse de seu corpo de metal, mas ela o cortou profundamente, como se ele não fosse mais do que carne. Dor irradiava da ferida. Karn agarrou o cabo do machado e tentou soltá-lo, mas a lâmina havia se cravado nele. Ajani passou por ele sem esforço, Teferi estava muito esgotado para retardá-lo por mais tempo.

“Sheoldred calculou bem sua força.” A voz mecânica que emanava da garganta de Ajani não soava como seu rosnado habitual. “O sílex e Karn: dois dos artefatos que a Sussurrante desejava obter em Dominária.”

“Você-tem-que-me-matar,” Jaya ofegou, “antes que eu deixe que você…”

“Sim,” Ajani disse, simplesmente, levantando-a no ar com uma mão. “Você está morrendo.”

Jaya tossiu. “Talvez. Mas não sozinha.” Fogo saiu do corpo de Jaya, uma conflagração branca e escarlate; Ajani rosnou e se inclinou para trás, sua pele queimando e expondo fios e cabos enegrecidos debaixo da pele, o ar se enchendo com o cheiro de óleo carbonizado. Com um golpe de sua mão arruinada, ele arremessou Jaya da beirada da Plataforma de Mana.

Arte de Ekaterina Burmak

Teferi engasgou. Jodah deu um grito sufocado.

Karn tentou remover o machado de Ajani de seu corpo, mas suas articulações danificadas dobraram sob a pressão e a lâmina não se moveu. O sílex estava tão perto – bem na frente dele, onde Jaya o havia deixado cair. Ele a vingaria, ele… mas Ajani estava certo: Sheoldred havia calculado sua força perfeitamente. Talvez ele tenha dado mais de si nas Cavernas de Koilos do que imaginava. Ajani colocou o braço em volta de Karn em uma paródia de amizade, trazendo Karn para si. Com a outra mão, ele ergueu o sílex – e o amassou em sua mão, como se o artefato antigo fosse feito de papel. Karn só pôde assistir horrorizado enquanto as intrincadas runas que revestiam o dispositivo piscavam brevemente, depois morriam.

Sheoldred bateu na Plataforma de Mana, interrompendo seu avanço e esmagando-a entre ela e uma montanha, o impacto chacoalhando por todo o casco do artefato maciço. A maré da batalha virou mais uma vez quando os phyrexianos desceram da encosta da montanha para os conveses. Benalianos, keldonianos, elfos yavimayanos, goblins, humanos e viashinos agora lutavam pressionados.

Karn lutava contra o aperto de Ajani. Jodah e Teferi estavam atordoados. Tudo aconteceu em segundos.

Sheoldred se separou, sua pequena metade humanoide saltou de seu enorme corpo hospedeiro de dragão mecânico, revelando uma espinha semelhante a uma cobra que ela usou para a inserção em seu corpo hospedeiro maior. Sua parte humanoide deslizou por seu torso maciço e mergulhou nos decks da Plataforma de Mana. Ela se moveu na direção dos planinautas. Seu elmo com chifres dobrados para trás – não mostrava o sangue e o metal que Karn esperava, mas a pele pálida. Sheoldred revelou um nariz fino, lábios carnudos e grandes olhos escuros e tristes, como os de uma corça. Sem dúvida, ela havia colhido o rosto de alguma pobre mulher, morta há muito tempo.

Ela pressionou uma mão pequena e pálida no peito de Karn. “Eu tenho a Plataforma. Eu tenho você. Dominária é vulnerável à invasão. Todas as maravilhas do meu povo se tornarão suas maravilhas. Toda a nossa beleza se tornará sua beleza. Só existe uma verdade. O próximo passo na evolução será completado.”

Por todo o campo de batalha, os phyrexianos murmuravam: “Só existe uma verdade.” O murmúrio se erguia das fileiras, mais suave que um vento de bocas distorcidas, e muito mais sinistro.

“Não aconteceu como eu planejei, Karn, graças aos seus esforços.” Ela agarrou a corrente no pescoço de Karn que segurava seu dispositivo de clarividência, localizador e o dispositivo que ele usou para se comunicar com a Bons Ventos. “Não, isso é melhor. Eu tenho um plano, Karn. Um plano para você e para Dominária. Para todos os Planos.”

“Acho que você vai se decepcionar,” ressoaram as palavras de Jhoira, amplificadas pela estrutura da plataforma, “porque você não vai conseguir o que quer hoje.” Uma longa pausa — como se Jhoira tivesse que se forçar a fazer o que sabia ser certo. Mas Karn acreditava nela. Então, um tique-taque sinistro emanou da estrutura central. Jhoira havia acionado o mecanismo de autodestruição da Plataforma de Mana.

O Argosy Dourado se separou, flutuando para as areias.

“Jodah,” Jhoira gritou, “teleporte todos para fora daqui! Agora!”

Jodah se pôs de pé. Ao redor dos conveses da Plataforma de Mana, portais surgiram, engolindo as tropas próximas. Os soldados boquiabertos que não foram sugados foram empurrados pelos amigos mais rápido do que entenderam o que estava prestes a acontecer. Jodah abriu um portal e jogou Danitha, Radha e Meria nele, deslocando-as para um local seguro longe do raio da explosão. Ele até garantiu que o precioso kavu de Meria não fosse deixado para trás, envolvendo-o em um portal giratório. Por fim, Jodah olhou para Karn. Seus olhos brilhando com arrependimento, ele deu um passo para trás através de seu último portal.

Os conveses ficaram assustadoramente silenciosos: Sheoldred com seu rosto roubado imóvel, Ajani controlado, seu braço um desastre esquelético e carbonizado onde Jaya o havia queimado.

Karn esperou.

“Adquiri os alvos. Estou pronta para retornar.” Sheoldred expirou – Karn não sabia dizer se ela suspirou com decepção ou satisfação – e uma luz escarlate, a princípio apenas do tamanho de uma pérola, materializou-se no ar atrás dela. Um relâmpago a atravessou enquanto aquela luz se expandia em um globo escarlate brilhante e rodopiante. Ele rugiu com poder, tragando o ar e o ambiente ao seu redor. Cresceu em direção a eles, roendo a atmosfera.

Sheoldred inclinou a cabeça e tocou seu rosto. “Que pena. Eu gostei deste.”

Karn lutou contra o aperto de Ajani, mas entre seu corpo danificado e a força aumentada de Ajani, ele não conseguiu se libertar. A horrivel luz vermelha engolfou Sheoldred. Ela virou o rosto para seu poder com um pequeno suspiro quando a inundou. Sua chama queimou sobre Ajani e Karn. Extremamente quente, Karn podia sentir como ela o puxava, a própria essência do que o fazia dele Karn, e aquilo… o roubou.

Como se ele não fosse nada além de um artefato. O alvo de um roubo.

Enquanto a noite esfriava o ar do deserto, Jhoira e Teferi terminavam de coordenar os sobreviventes: ele havia montado as barracas de triagem, ela as poucas reservas fisicamente aptas para procurar sobreviventes no campo de batalha e queimar os mortos phyrexianos, e então ambos trabalharam com os civis goblins e viashinos – houve alguns que se recusaram a deixar suas casas e evacuar – para inventariar suprimentos, levantar acampamento sob os membros protetores dos magnigotes e garantir que todos fossem alimentados de acordo com suas necessidades.

Ambos estavam exaustos.

Falar com Jodah… Depois de tudo aquilo, Teferi não sabia se tinha forças.

Mas ele encontrou força de alguma profunda reserva. Era o que Niambi queria que ele fizesse.

Jodah ajoelhou-se em um afloramento, olhos secos e examinando a devastação do campo de batalha: as tropas escolhendo entre os sobreviventes, espantando abutres; os bancos de lava negra, fumegando na noite cada vez mais profunda. Ele segurava, embalado em suas mãos, o colar de Karn: o clarividente, o localizador phyrexiano, o comunicador da Bons Ventos – e uma mecha do cabelo branco de Jaya.

“Vamos.” Teferi se agachou ao lado dele. “Você precisa comer e dormir.”

Jodah abriu as costas do clarividente e colocou o cabelo de Jaya nele como um medalhão. “Eu não posso deixá-la ir. Acabei de recuperá-la. Ela não pode ter ido embora. Ainda não. Eu a conheço há muitas vidas, e ainda não tivemos tempo suficiente juntos.”

Teferi sentiu um grande vazio dentro de si: não tinha energia suficiente para se machucar. Ele o reconheceu bem – ele manteve esse entorpecimento depois que Subira morreu. Levou anos para que as bordas se desgastassem, revelassem crueza suficiente para ele sofrer. Ele sofreu o luto por um longo tempo. Ele sempre faria. Ela tinha sido o amor de sua vida, e a mãe de sua filha.

Jhoira se juntou a eles, suas botas esmagando o cascalho. “Ainda temos amigos vivos que precisam de nós, Jodah. Quais são os planos de Sheoldred? O que ela vai fazer com Karn e Ajani?”

“Eu não sei,” Jodah disse. “Como podemos combatê-los sem o sílex?”

Jhoira sentou-se ao lado de Jodah, de pernas cruzadas, e colocou o braço em volta dos ombros de Jodah.

Teferi contemplou a paisagem. “Vamos construir um memorial para Jaya que durará mais que as eras. Suas forças, suas conquistas, suas maravilhas não serão esquecidas. Shiv se tornará um local de peregrinação.”

Jodah apenas balançou a cabeça.

“Vou ficar com ele,” Jhoira disse.

As pedras erguiam-se das areias vermelhas de Shiv, um arranjo de pirâmides brancas em torno de um fogo sempre aceso que pairava no ar. O próprio Jodah tinha criado aquele feitiço. Na luz certa, quando os ventos de Shiv a atingiam, a chama parecia uma mulher se virando para esconder seu sorriso, seu cabelo pálido fluindo para o nada.

Danitha, Radha e Meria voltaram para suas terras natais para que suas forças devastadas pudessem se recuperar, e assim pudessem recrutar mais tropas para o inevitável retorno phyrexiano. Jodah, Teferi e Jhoira ficaram para construir isso: um monumento para Jaya.

Teferi sentiria falta dela.

“Jaya e eu nos conhecemos quando ela era…” Jodah beliscou a ponta do nariz e fechou os olhos como se quisesse esconder seu brilho. Ele engoliu. “Dominária perdeu uma maga – os reinos perderam – eu perdi – sinto muito.”

Jhoira pousou a mão no ombro de Jodah, e Jodah se inclinou para aquela velha familiaridade.

“Eu nunca pensei que teria que fazer isso,” Jodah disse, por fim.

Teferi limpou a garganta, mas não falou. Ele apenas balançou a cabeça, incapaz de colocar em palavras o quanto ele sentiria falta de sua inteligência, o humor que ela trazia para tarefas tão sérias. Jaya não poderia salvar um Plano sem fazer uma piada sobre isso. Ele havia imbuído memórias dela em uma das pirâmides de pedra: sua paciência em ensinar Chandra, como ela sorria antes de dizer algo realmente cortante e como eles se conheceram. Ele nunca esqueceria o dia em Zhalfir quando a confundiu com uma cozinheira e pediu um ovo frito. Ela, sorrindo, foi atrás do balcão para atender e acendeu todos os queimadores com um movimento de seus dedos – para grande surpresa do dono da barraca. “Você quer um pouco de chutney nisso?” Ele nunca a esqueceria.

Teferi andou em círculo ao redor do monumento. Suor brotou em sua pele, e ele enxugou as gotas em sua testa. Ele parou para tocar a pirâmide vazia que eles deixaram para Karn imbuir com as memórias de Jaya se ele… não, quando ele voltasse.

Teferi endireitou os ombros. Saheeli esperava a uma distância respeitosa, suas roupas em tons de joias tremulando ao vento, os detalhes dourados piscando, sua pele morena polida e seu cabelo preto escorregando para baixo. Ao seu aceno de “estou pronto”, ela se virou, e eles saíram juntos.

Quando Teferi passou pela porta levadiça, teve que reprimir um estremecimento. Eles haviam alcançado – a torre de Urza. Era mais do que a laje desgastada emanando o frio da noite anterior. Ele nunca pensou que pisaria neste lugar novamente.

Saheeli o levou a um antigo salão abobadado com o teto ainda intacto, bem protegido do sol. Ela descansava a mão em um dispositivo que Teferi usaria para aumentar a força e a precisão de sua magia. Ele não estava ansioso para subir nele: com sua plataforma, suas tiras de couro e fios, parecia um dispositivo encontrado em uma masmorra para obter confissões, não um item mágico feito para aumentar os talentos inatos de um planinauta.

Embora a tábua de argila que Karn encontrou nas Cavernas de Koilos estivesse perdida, seus desenhos não. Jaya os pegou quando ela pegou o sílex. Mas ao contrário do sílex, os desenhos permaneceram no corpo de Jaya, escondidos em um bolso secreto em suas roupas.

Saheeli não conseguiu compreender como eles descreviam o funcionamento do sílex. Apenas Karn tinha entendido isso. Mas ela foi capaz de determinar quando o sílex foi acionado e fez uma réplica perfeita dela.

Então essa agora era a missão de Teferi: voltar ao quando para aprender o que Karn já havia descoberto: o como. Como alguém o ativou?

“Boa sorte, Teferi,” disse Saheeli. “Para o bem de todos nós.”

Ele se forçou a relaxar. Um pequeno pássaro marrom empoleirou-se em uma janela em arco, depois caiu no chão para se banhar na poeira. Karn teria conhecido sua espécie, seus hábitos.

Para salvar sua casa, para salvar o Multiverso, Teferi faria a única coisa que jurou nunca fazer: atravessar o próprio tempo.

A luz vermelha da Ponte Planar se apagou. Karn deduziu, pelos chiados ecoando pela escuridão, que ele estava em uma vasta caverna. Ele podia sentir depósitos minerais, o peso de estalactites de quartzo no alto, e podia sentir o cheiro de pedra fria e úmida. Ele se sentiu mal – errado – como se a passagem turbulenta pelas Eternidades Cegas tivesse coberto sua superfície de metal com uma película impura. Ele se ajoelhou, seu corpo amassado ainda dolorido da batalha no convés da Plataforma de Mana. Ele esperava que os outros, Jodah, Jhoira, Teferi, tivessem se saído melhor do que ele e Jaya… não, melhor não pensar nisso. Não até que ele pudesse lamentar a perda.

Luz branca brilhou, sobrecarregando seus sentidos. Os ruídos de trepidação pararam.

Elesh Norn estava diante dele, brilhando como se abrigasse uma estrela. Seus membros atenuados tinham uma delicadeza de inseto, e seu rosto comprido tinha a beleza de um artrópode. Seu sorriso era estreito e satisfeito consigo mesma, mesmo enquanto ela fazia uma reverência servil em sua direção.

“Bem-vindo, Pai.” A voz de Elesh Norn era um contralto rouco e agradável. “Bem-vindo ao lar.”

Karn procurou por Ajani e Sheoldred. Ele tinha visto a Ponte Planar engolir a pretora, assim como seu amigo completado, mas não viu nenhum sinal deles aqui. Devia tê-los depositado em outro lugar. Apenas ele e Elesh Norn estavam neste platô, amontoado com montes de areia branca de porcelana. Abaixo do platô, phyrexianos insetóides fervilhavam em uma massa brilhante de ouro branco.

Norn agarrou seu queixo, puxou sua atenção de volta para ela. “Você esteve longe por muito tempo,” ela assobiou. “Sentimos sua falta. Você merece compartilhar a glória do que está por vir.”

Karn tentou se levantar, mas descobriu que não conseguia mover as pernas. Ele tentou convocar sua centelha, se transportar para algum lugar, qualquer lugar, mas estava muito quebrado, muito cansado. As garras de Norn se cravaram no metal de suas bochechas, virando sua cabeça. Seu pescoço reclamou até daquele movimento, as juntas rangendo – e então ele viu. Um pequeno e atrofiado broto crescendo da areia de porcelana. Seus galhos retorcidos e delicados o lembraram das pequenas árvores que ele viu acima da linha de florestas nas montanhas. Seus membros pálidos brilhavam com um brilho iridescente. Gotas de óleo pendiam de seus galhos como botões.

Mesmo agora, neste inferno, cercado por monstros, ele não podia deixar de sentir uma ternura por aquela árvore. Uma coisa viva, lutando contra todas as probabilidades para sobreviver. “O que é isso?”

Norn olhou de soslaio para ele, suas fileiras e mais fileiras de dentes se espalhando em um ricto zombeteiro. “É o começo de grandes coisas, Pai. É o começo de tudo.”

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