Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

EMARANHADOS

Havia algo exótico sobre o ar em Innistrad. Talvez fossem os horrores que as árvores testemunhavam, o sangue que regava o solo do qual se alimentaram suas raízes sedentas ou os ossos que se espalhavam pelo leito do rio, mas o ar deste Plano era como em nenhum outro. Wrenn e Seis deram um passo – um dos últimos juntos – e pisaram no solo de Innistrad, nas profundezas da floresta Kessig. Era perto do lugar onde se encontraram pela primeira vez.

Aqui? Wrenn inquiriu, perguntando sem abrir a boca. Como a pergunta doía e queimava, como doía. Esta parte era sempre dolorosa.

Wrenn e Sete | Arte de Heonhwa Choe

De alguma forma, doeu mais desta vez do que quando ela se separou de Quatro, que havia se ferido tão gravemente na batalha que mal conseguiram completar seus últimos passos juntos antes que a velha e valente árvore estremecesse e a expulsasse de seu coração, lançando-a para dispersar, com os membros nus e expostos, no solo de Innistrad. Era um Plano novo para ela, mas do qual já ouvira rumores.

Esses rumores, vindos da boca de outros planinautas, afirmavam que as melhores árvores cresciam na floresta Kessig e, depois de seu tempo com Seis, ela estava inclinada a concordar.

Não. Mais perto, respondeu a árvore. Wrenn acenou com sua grande cabeça e continuou na floresta, para longe do lugar onde haviam chegado, procurando uma clareira grande o suficiente para sustentar a glória de Seis.

Talvez essa separação doesse mais porque Seis poderia continuar, poderia ficar com ela, mas estava optando por não fazê-lo, e parte do motivo pelo qual a parceria deles sempre funcionou tão bem foi que ela ouvia quando a grande árvore falava. Eles eram parceiros, não apenas um dono e uma ferramenta. Ela tinha visto magos que tratavam seus parceiros como bestas de carga e os forçavam a atuar além do ponto de sua própria exaustão. A semente de Wrenn foi plantada por um pai melhor, e ela foi criada para respeitar aqueles que serviam com ela, mesmo que sua guerra não fosse deles.

Eles haviam dado mais cinco passos quando a árvore falou novamente, dizendo: Aqui. Pare.

Wrenn parou. Eles cravaram suas raízes no solo e, aos poucos, ela começou a se retirar da casa que fora dela por tanto tempo. Enquanto ela se puxava, sua consciência de grande árvore diminuía, até que ela se sentiu como um dente amolecido em sua cavidade, ainda parte do corpo, mas aguardando apenas um último golpe forte para arrancá-lo completamente.

Então, com um puxão final que ela sentiu até o fundo do estômago, Wrenn se desenraizou e não estava mais conectada a Seis. Seis, que não era mais o imponente e majestoso ent que se tornara durante o tempo em que passaram juntos – as árvores não tinham gênero, mas as dríades sim, e ao descobrir o conceito em sua mente, ele considerou suas escolhas e decidiu que preferia o masculino – agora era um carvalho maduro, saudável e lindamente retorcido de Innistrad, seus galhos alcançando o céu nublado.

Wrenn suspirou e encostou a testa na casca dele, respirando o cheiro familiar dele pela última vez. “Algum dia,” ela prometeu. “Algum dia, daqui muito tempo, quando Sete se cansar e eu precisar do meu Oito, voltarei aqui. Caminharei novamente neste bosque e irei encontrá-lo, velho amigo, e suas sementes terão tempo de crescer e se tornar árvores jovens e fortes, e eu vou oferecer a elas a escolha que uma vez ofereci a você, e se um deles aceitar, eu me considerarei muito sortuda.”

Eles não podiam mais se comunicar em silêncio, suas mentes estavam separadas pela primeira vez. A consciência de Seis desvaneceria quando ele se acomodasse no chão e se juntasse às árvores que eram seus companheiros e parentes naturais. Seu parceiro estava deixando-a e, embora ela ainda pudesse ter se puxado para dentro, isso era o que ele queria. Ela iria deixá-lo ir, pelo seu próprio bem. A vida de um planinauta não era algo simples, até para quem ouviu o chamado.

Ainda assim, ela imaginou que sentia gratidão e alegria através de sua casca, e sorriu ao se afastar. Ela sentiria falta dele. Mas isso era coisa do passado; havia ficado para trás. O futuro estava à frente.

Era hora de encontrar o dela.

Depois de passar a maior parte do dia vagando pela floresta Kessig, seguindo o sussurro do canto das árvores que lhe dizia que havia um parceiro viável crescendo ali, ela estava começando a duvidar que a promessa do futuro algum dia se cumprisse. Seus pés doíam e suas pernas estavam cansadas. Eram coisas que ela sempre teve, mas raramente tinha motivos para usar. Agora eles estavam tão doloridos que pareciam ser todo o corpo dela, e ainda assim o canto das árvores a atraía mais para dentro da floresta, incitando-a, prometendo um parceiro compatível à frente.

As poucas sortudas cujos Planos abrigavam dríades nativas tendiam a presumir que podiam se ligar a qualquer árvore, que qualquer receptáculo lenhoso seria suficiente para sustentá-las. Não era assim. Como acontece com qualquer forma de magia, a delas exigia uma certa harmonia para que cantassem corretamente. A canção da muda de Wrenn encheu seu corpo. Qualquer árvore perto dela poderia ouvi-la, e aquelas que conheciam as harmonias iriam cantá-la de volta.

Seis cantou para ela uma vez. Agora ele era uma presença silenciosa atrás dela enquanto ela se aprofundava mais na floresta, e o novo cantor estava ou muito longe ou muito fraco, pois sua canção era baixinha e difícil de ouvir.

Talvez ela devesse ter sido menos respeitosa com o desejo de Seis de voltar para casa e parasse na primeira árvore harmoniosa que viu quando ele anunciou seu desejo de se separar. Mas isso teria sido uma crueldade, e sua força ainda não havia chegado ao fim. Ela poderia continuar.

Determinada a fazer como sua espécie sempre fez, sobreviver, Wrenn caminhou em frente, cada vez mais fundo na floresta Kessig, seguindo a música da árvore que esperava por ela em algum lugar nas clareiras.

Teferi não havia visitado Innistrad antes. Sempre foi uma história contada por outros viajantes, um boato sussurrado de passagem, até que a curiosidade e o tempo se combinaram para torná-lo um destino interessante. Os habitantes locais eram pessoas amedrontadas, com bons motivos, desconfiadas de estranhos, mas generosas e hospitaleiras quando convencidas que seus visitantes não os fariam mal. Eles estavam, alguns deles, desesperados por qualquer indício de esperança, qualquer palavra amável ou possibilidade de que a vida pudesse ser mais fácil em outro lugar. Incapaz de libertá-los de sua terra natal e relutante até mesmo em considerar a logística de uma aventura tão selvagem, Teferi começou a achar desgastante a constante companhia deles.

Arte de Heonhwa Choe

O alívio veio de uma forma inesperada, quando cátaros da igreja local adentraram a pousada com relatos de uma bruxa branca vista na floresta. Aqui em Innistrad, não era irracional supor que qualquer fenômeno desconhecido pudesse representar um perigo, e a hospitalidade que lhe fora oferecida era suficiente para que ele se sentisse obrigado a oferecer ajuda. E foi assim que ele se viu na orla do bosque acompanhado, mas à parte, de um destacamento de homens, com suas espadas e arcos em punho, em busca da chamada bruxa branca e da terrível abominação que ela supostamente convocara. Ele não tinha ideia do que poderia ser a ameaça, apenas que tinha sido o suficiente para guiar os cátaros até a floresta e providenciar uma fuga de seus anfitriões.

Os cátaros se espalharam, em busca de sinais da bruxa que espreitava entre as árvores, como lhes informaram. Teferi os observou ir antes de caminhar sozinho pelas árvores. Nenhuma bruxa local representaria uma grande ameaça para ele, e ele queria entender esta floresta, se pudesse. As florestas eram diferentes em cada mundo, mas tinham certas semelhanças – carvalhos e olmos, por exemplo, podiam ser encontrados em quase qualquer lugar que tivesse árvores, e o cheiro de suas folhas nunca variava tanto quanto ele esperava. Talvez se ele estivesse mais sintonizado com a magia natural, ele teria entendido os motivos. Talvez fosse uma boa coisa conversar com o próximo mago alinhado com a natureza que ele encontrasse, supondo que eles estivessem com humor para uma conversa. Era sempre esclarecedor aprender mais sobre o funcionamento dos Planos, que podiam ser tão diferentes e tão harmoniosos ao mesmo tempo.

“Por aqui,” chamou um dos cátaros, a voz seguida pelo som de passos estalando nas folhas enquanto partiam, presumivelmente perseguindo sua presa. Como nenhum deles estava à vista para notar seu atraso, Teferi não sentiu necessidade de segui-lo.

Algo cintilou no limite de sua consciência, além das árvores, além dos cátaros que se afastavam. Ele se virou, olhando para as sombras. Ele não viu nada lá. Depois de uma pausa momentânea para franzir a testa para o caminho vazio, ele retomou sua caminhada, mais lentamente agora, tomando tempo para estudar os arredores.

Talvez tenha sido por isso que ele ouviu a mulher.

Ela falava baixinho, a voz baixa e suave, com vogais arredondadas que não combinavam com o sotaque que ele conhecia. Ele ajustou seu caminho, indo em direção à voz, ainda sem chamar os cátaros para se juntarem a ele, e parou quando viu a figura parada na sombra de um dos grandes carvalhos.

Ela era pálida, tão pálida que parecia ter sido desenhada inteiramente na casca de um álamo, um espectro branco contra os troncos mais escuros dos carvalhos ao seu redor. Seu cabelo era comprido, solto e ainda mais branco, descolorido e desbotado. Sua testa estava encostada em uma das árvores, o rosto obscurecido pelo ângulo, e suas palavras pareciam ter como alvo a própria árvore.

Teferi caminhou em sua direção, mãos estendidas e abertas, dedos abertos para mostrar que ele não estava formando nenhum símbolo misterioso, nem preparando qualquer feitiço. Dada a sua cor, ela provavelmente seria a “bruxa branca” dos cátaros, mas parecia mais um presente da floresta, pois ninguém conseguia entender o mundo natural como uma dríade, mesmo que houvesse espaço para mal-entendidos entre aqueles de carne e osso e aqueles de seiva. Sem prestar atenção, o pé dele pisou e quebrou o menor dos galhos caídos, e ela girou, os olhos arregalados, pressionando as costas contra a casca da árvore com a qual estivera falando. Como ela não se fundiu à árvore, ele se sentiu seguro para continuar se aproximando, e cada vez mais, parando a uma distância respeitosa e oferecendo-lhe uma curta reverência.

“Perdoe-me a intrusão, mas você não parece bem,” ele disse. “Posso ajudar?”

“Afaste-se, mago,” ela disse, a voz afiada como um galho quebrado, mas ainda suave, como se metade do coração tivesse sido arrancado dela. “Eu sei me defender.”

“Prefiro não lutar,” ele disse. “É uma maneira sem graça de conhecer pessoas. Os moradores estão mais do que famintos por uma batalha entre nós dois. Posso presumir que você veio em busca de um momento de paz?”

“Vim procurar uma árvore,” ela respondeu, com os olhos estreitos e cautelosos.

“Não procure mais.” Teferi estendeu as mãos, indicando as árvores ao redor deles.

A dríade riu ironicamente. “Se fosse tão simples. Mas não é. Nenhuma dessas árvores é forte o suficiente para me conter.”

Teferi franziu a testa. “Perdoe-me, mas eu tinha a impressão de que uma dríade nascia com sua árvore, crescia junto dela e nunca a deixava.”

“Elas são assim mesmo,” ela disse. “Quer dizer, nós somos. Quer dizer, houve um grande incêndio uma vez. Ele devorou as árvores do meu povo, até que eu encontrei uma maneira de puxá-lo para dentro de mim. Ainda queima. Está me queimando agora. Ele me concede a flexibilidade de me mover de árvore em árvore, se a árvore puder conter o fogo. Quando ainda era novo e brilhante, o inferno me levou a uma árvore cuja canção conhecia a minha. Nós viemos juntos e éramos Um.” Sua expressão se suavizou. “Com Um, aprendi que aquelas de nós que não têm raízes para se ancorar podem andar como quiserem, não se limitando a um único mundo, e quando ela terminou de servir seu tempo como minha parceira, permiti que ela se enraizasse em outro mundo, e encontrou outra árvore para cantar.”

“Agora você não tem árvore.”

“Não.”

“Você está presa neste Plano sem uma?”

“Eu preciso de um parceiro para viajar,” ela admitiu. “Mas Six ficou cansado e esta floresta foi o seu começo, então ele perguntou se eu poderia levá-lo para casa antes que ele se aquietasse, e ele foi bom para mim. Ele me carregou para longe. Eu o carreguei para casa e ouvi a música que permitiria que eu continuasse minhas próprias jornadas. E eu pensei que tinha encontrado, então viajei em direção a ele até que não pude ir mais longe, e agora temo que o fogo me consumirá.”

Teferi franziu a testa, tentando classificar as frases intrigantes, enquanto passos nas árvores anunciavam a presença dos cátaros. “Acho que o mago foi por aqui,” gritou um deles.

A dríade olhou para Teferi com súbita aversão. “Então você foi uma isca para me chamar e me capturar?” ela exigiu, as mãos fechando em punhos, o ar acima deles ficando vermelho-quente com o fogo bruxuleante. “Não sou tão fácil de matar quando ainda tenho algo para queimar.”

Teferi ergueu as próprias mãos. “Paz, por favor. Eles não estão comigo.” Então ele fez uma careta. “Bem, eles estão, eu acho, mas eu não estou com eles. Se entrarmos mais fundo na floresta, podemos atrasá-los. Você consegue andar?”

Wrenn acenou com a cabeça. “Não posso deixar este mundo sozinha, mas posso andar.”

Teferi se aproximou e ofereceu-lhe o braço. “Então caminhemos.”

O calor acima das mãos dela tremeluziu e se apagou, e seus dedos, quando ela os colocou na dobra de seu cotovelo, eram frios como madeira virgem e menos flexíveis do que ele esperava que fossem. Mas eles se dobraram como os dedos deveriam se dobrar, envolvendo sua carne, e quando eles começaram a andar, ela era ágil como qualquer outra pessoa.

Eles não tinham ido muito longe quando ele estremeceu e suspirou, fechando os olhos. “Você está bem?” perguntou Wrenn.

“Estamos sendo seguidos,” ele disse. Ela ficou tensa. “Não, não pelos cátaros, e não se preocupe em se virar. Estava me seguindo antes, e eu não vi nada quando olhei.”

“Nem tudo em Innistrad é visível,” disse Wrenn. “O solo não encoraja os mortos a descansar.”

“Os mortos pretendem nos ferir?”

“Nada que siga viajantes na floresta sem se aproximar deles pode ser bom,” disse Wrenn. “Eu presumo que isso significa querer nos ferir, sim.”

“Esse era o meu medo.” Teferi se virou, lentamente para evitar que Wrenn tropeçasse, e fez uma careta para a escuridão atrás deles. “Mostre-se.”

Nada se materializou. Mas as sombras, que já eram densas, se aprofundaram e se tornaram pesadas com a sensação de uma presença invisível. Fosse o que fosse, não significava nada para eles; a aura de malícia irradiando da escuridão mais profunda era palpável o suficiente para que mesmo Wrenn, que tinha pouca conexão com os mundos morto ou espiritual, enrijecesse e estreitasse os olhos.

“Não é das árvores,” ela murmurou. “Não tem música.”

“Mostre-se,” repetiu Teferi, sacudindo os dedos em uma série rápida de linhas em espiral que terminava com um levantar de sua mão, a palma apontada para as sombras profundas. Uma luz azul chamejou de sua pele, e quando ela desapareceu, uma figura espreitou onde a presença maliciosa estivera. Era uma paródia distorcida e retorcida de um humanoide, preso em algum lugar no cruzamento entre homem, besta e árvore. Sua boca era uma mandíbula aberta cheia de dentes pontiagudos que nunca haviam crescido na mandíbula de qualquer coisa viva.

Arte de Piotr Foksowicz

A criatura sibilou, o som grave e gutural, e Teferi reagiu instintivamente, erguendo as mãos e liberando uma torrente de magia azul bruxuleante. A forma se contorceu e avançou, interpretando precisamente aquilo como um ataque, e os olhos de Teferi se arregalaram. Qualquer fantasma ou espectro simples teria sido banido por aquela explosão, jogado adiante no tempo e deixado os dois em segurança. Ele murmurou uma frase suave e lançou mais magia entre seus dedos, enquanto o espectro recuava, ainda sibilando, e finalmente desapareceu em uma explosão de terrível energia necrótica.

Ele se virou para Wrenn, abaixando as mãos. Ela havia caído quando ele se desequilibrou com tanta força e o observou do chão, um delicado e insatisfeito fantasma de uma mulher. “Aceite minhas desculpas,” ele disse, ajoelhando-se para oferecer as mãos. “Mas a coisa se foi, por enquanto.”

“Assim como nosso caminho de volta,” ela disse amargamente, enquanto se permitia ser puxada para ficar de pé. “Olhe o que você fez, mago.”

Teferi olhou por cima do ombro. O caminho se foi, ou melhor, o caminho foi replicado, transformado de uma linha razoavelmente reta passando pelas árvores em um emaranhado de caminhos idênticos, cada um se ramificando em uma direção diferente, até parecer que eles deveriam andar por caminhos diferentes para saírem. O distintivo crepitar de magia temporal pairava sobre tudo.

“… Ah,” disse Teferi, fracamente.

“Sim,” disse Wrenn. “Ah.” Então, com mais raiva em sua voz, ela disse: “A árvore que me chamou desapareceu. Não consigo mais ouvi-la. Sabe o que você fez?”

“Receio que não.” Teferi olhou para as mãos, depois para o ar, ainda com manchas azuis crepitantes. “O que é mais preocupante. Você veio aqui procurando uma árvore. Você não pode se refugiar em uma dessas?” Ele indicou as árvores ao redor deles.

“Antes fosse,” ela disse, uma pitada de riso maníaco em sua voz. “Estas são árvores boas e maduras que me levariam para longe… se fossem parceiros adequados. Mas nenhuma delas canta para mim. Nenhuma delas pode carregar minha chama. A árvore que me chamou era uma muda ainda. Muito jovem para me conter. Muito pequena para conter a queimada.”

Teferi franziu a testa. “Então nós vamos encontrar outra árvore, antes que você queime até virar nada.”

“Não funciona assim,” protestou a mulher, a voz cada vez mais áspera. “Dríades caminham pelo mundo com nossas árvores para nos manter e nos ancorar. Por meu coração ser feito de fogo, quando eu caminho, minha árvore caminha comigo. Não posso ter nenhum parceiro pequeno demais para me acomodar, nem posso convencer qualquer árvore inadequada para me levar ao mundo. Devo encontrar uma árvore e não tenho tanto tempo quanto gostaria!”

Teferi franziu a testa, seguindo o fio da história nas coisas que ela não estava dizendo. Ele começou a andar novamente, e ela o seguiu, sensata demais para ficar para trás sozinha. “Calma, amiga,” ele disse ele, quebrando o silêncio. “Você precisa encontrar uma árvore. Eu preciso encontrar uma maneira de sair dessa bagunça que eu fiz. Talvez possamos encontrar essas coisas juntos?”

“Não é como se houvesse outra coisa para fazer,” disse a mulher. “Mas como eu disse, meu tempo é curto.”

Teferi acenou com a cabeça, ponderando. “Eu entendo não querer admitir fraqueza para um estranho, mas soa como se você dissesse que sem uma árvore, você morrerá.”

“Eu posso me defender!” ela retrucou, o ar ao redor de suas mãos ficando nebuloso com o calor enquanto ela aproveitava o mana que ainda lhe restava. “Não me provoque, mago.”

“Calma, dríade,” ele disse. “Paz e nomes. O meu é Teferi. O seu?”

Ela se endireitou, parte da cautela deixando sua expressão. “Eles me chamam de Wrenn. Eu ouvi falar de você, mago. Suas histórias viajam mais longe que seus pés.”

Tinha a cadência de um ditado. Teferi sorriu. “Coisas boas, espero. Coisas que levem você a acreditar que eu não faria mal a um inocente.”

“Ninguém que anda pelos mundos é inocente,” disse Wrenn. “Ainda assim, a maioria de seus contos é… menos do que terrível. Muitos o chamam de um homem gentil. Vou confiar em você por agora.” A névoa de calor em torno de suas mãos desapareceu. “Sim. Sem uma árvore, minha jornada terminará aqui.”

“Você acha que pode ouvir outra se eu te ajudar?”

“Eu posso ouvir, mas você terá que mostrar o caminho.”

Teferi olhou ao redor do labirinto retorcido em que o mundo havia se tornado, desprovido de cátaros e presenças espectrais, e suspirou. “Tão bem quanto qualquer outro, presumo que conseguirei.”

Eles haviam caminhado durante a maior parte da tarde, seguindo o caminho tortuoso. Nenhum deles estava familiarizado o suficiente com a área para saber qual das curvas foi introduzida quando Teferi baniu o monstro. Algumas das árvores próximas pareciam assustadoramente familiares, e Teferi estendeu a mão, faíscas queimando, e se encolheu quando o escudo do seu próprio feitiço o jogou para trás, similarmente com o que ele tinha feito com Zhalfir, mas não tão parecido assim. Ele podia sentir a passagem do tempo ao redor deles; Wrenn estava ficando mais fraca, ainda procurando pelo canto da árvore que a salvaria. O tempo estava avançando. Eles ainda estavam em fase com Innistrad.

Eles só estavam… presos.

Arte de Isis

“Já estivemos aqui antes,” disse Wrenn. “Demos uma grande volta.”

“Não,” disse Teferi, apesar de suas próprias suspeitas. “Nós nunca nos viramos. Nós estivemos caminhando para o sul, ou mais ou menos para o sul, esse tempo todo.”

“Você pode ouvir o canto das árvores do jeito que eu posso?” perguntou Wrenn. “As árvores sussurram seus desejos para você, fazendo você entender o que elas desejam? Se sim, então vou acreditar em você. Se, como parece mais provável, não, então você não tem como me contradizer, e estou cansada. Estamos quase de volta ao ponto de partida.”

Teferi olhou para ela, procurando qualquer sinal de frivolidade. Ela olhou de volta calmamente, os olhos abertos e desprotegidos. Tanto quanto ele poderia dizer, ela falava a verdade. Ele parou no meio do caminho, sentindo o tempo girar em torno deles, e ali, bem nas margens, marinando, estava a recordação da presença à espreita. Estava bem ali. Ele deveria ter sido capaz de destruir esse feitiço sem pensar duas vezes!

E em vez disso, ele resistiu, prendendo e provocando-os. Wrenn puxou a mão de seu braço e foi até um tronco apodrecido, ainda graciosa, apesar de seu claro cansaço crescente. Ela se sentou, com as costas ligeiramente curvadas, e disse: “Este não é o final que imaginei para a história para a qual fui criada.”

“Não é um fim,” Teferi protestou. “É um feitiço que deu errado. Certamente você já viu feitiços darem errado antes.”

“Sim, e quando isso acontece comigo, eu os separo até que se dissolvam em minhas mãos…” Ela parou, franzindo a testa ao ver o rosto de Teferi. “O que foi?”

“Separá-los como, exatamente?”

“Tudo o que vem de você permanece sendo você, para sempre,” ela disse. “A água que passa pelo solo até as raízes da árvore ainda faz parte das nuvens; a história que mapeia seus passos ainda faz parte de quem você era, e quem você era é para sempre parte de quem você é e será. Se o feitiço persiste, você pode juntá-lo, encontrar os lugares onde ele se emaranhou além de suas intenções e dividi-lo em pedaços. Eles podem ser liberados sem causar danos, de volta ao mana que é todas as coisas.” Wrenn piscou. “Não é assim que seu povo enxerga as raízes da magia?”

“Não,” disse Teferi cuidadosamente. “Nós vemos o funcionamento de uma maneira um pouco menos… orgânica. É uma ideia interessante.”

“A magia vive. Você pode ver o seu feitiço?”

“Posso.”

“Você pode tocá-lo?”

Ele fez uma careta, lembrando-se da ferroada após encostar os dedos contra a magia, mas admitiu: “Posso.”

“Você pode segurá-lo?”

“Não sozinho.”

“Ah. Suas raízes são muito rasas. Venha aqui – eu vou ajudar.” Ela cantarolou, uma única nota clara e carregada, e a magia natural da floresta girou em torno dele, brilhante e crescente, aumentando as faíscas de seu próprio feito temporal. “Agora você consegue segurá-lo?”

Teferi alcançou o feitiço novamente e sorriu, pois ele não conseguiu afastá-lo. “Posso.”

“Ótimo. Agora, você tem que lembrar que é melhor desfazer um emaranhado movendo-se por ele. Sempre há um ponto de entrada, um lugar onde os galhos não se entrelaçam. Use-o para entrar na música. Encontre o lugar onde ela não encontra perfeita harmonia consigo mesma, e você pode desfazê-lo.”

Teferi franziu a testa, mas não queria discutir com ela, não após ela ter se envolvido tanto nas garras da magia do tempo dele que deu errado. Ele respirou fundo e sentiu a distorção, o obstáculo que ela havia descrito. Quando ele o encontrou, não era uma nota fora do lugar ou uma falha na harmonização; era um ponteiro de segundos ligeiramente desafinado, uma garganta de ampulheta permitindo que gotejasse areia demais. Era tão leve que ele poderia tê-lo ignorado milhares de vezes se estivesse estudando o feitiço da maneira normal, a uma pequena distância, sem a magia natural de Wrenn alimentando a sua. Agora, ele passou as mãos de sua consciência sobre ele e quando aquela menor fraqueza se curvou diante dele, cravou seus dedos mentais na abertura como se estivesse separando a casca de uma laranja.

Com a camada externa removida, era mais fácil “ver” as maneiras pelas quais o feitiço havia se distorcido, a interação daquela presença terrível e seu próprio mana azul claro. O tempo estava curvado, um relógio quebrado, no meio do que deveria ter sido uma tarefa simples. Pouco a pouco, ele endireitou e desdobrou as engrenagens, reparando a intenção original do feitiço e, quando terminou, ele não ferroou mais seus dedos. Ele podia tocá-lo tão facilmente quanto qualquer coisa intacta.

Ele ergueu a cabeça, e o caminho estava de volta como antes, não era reto, mas também não era um labirinto emaranhado e proibitivo. O caminho estava livre. A sensação de que a magia do tempo deu errado não pairava mais pesadamente no ar. A magia de Wrenn se afastou da dele e ele se virou para ela. Ela o estava observando com olhos cansados.

“Suas histórias viajam virtuosamente,” ela disse. “Você merece as canções que cantam sobre você.”

“Nem todas,” Teferi disse, o sucesso empalidecendo diante do fracasso passado. “O lugar de onde venho originalmente, Zhalfir… Eu o perdi.”

“Você o perdeu?”

“Sim. O continente inteiro, através de um feitiço muito parecido com este. Eu nunca fui capaz de desfazer o que fiz.” Então ele se iluminou. “Mas se encontrarmos uma nova árvore para você, talvez-”

“Se nossos caminhos se encontrarem novamente,” ela disse e se enrijeceu, o olhar indo para um ponto atrás dele na floresta.

Teferi se amaldiçoou por ser um tolo. Se a presença não tivesse sido totalmente banida, a remoção do feitiço poderia ter permitido que ela voltasse. E mesmo se não tivesse, pode ser que os cátaros ainda persistissem em sua busca na floresta. Ele se virou lentamente, pronto para um ataque.

Em vez disso, ele viu uma árvore como todas as outras ao redor, um carvalho alto e maduro com folhas verdes saudáveis e galhos espalhados. Então Wrenn estava passando por ele, seus olhos no tronco, aparentemente incapaz de olhar em outra direção. Ele não sabia se ela estava respirando. Ele também não sabia se as dríades precisavam respirar. As leis da natureza eram um tanto diferentes no que dizia respeito às filhas da clareira. Elas caminhavam em sua própria definição da realidade.

Wrenn estava caminhando, passo a passo instável, em direção à árvore. Quando estava perto o suficiente, ela ergueu as mãos, as pontas dos dedos roçando a casca, e assobiou. O som era baixo e doce. Se Teferi não estivesse olhando para ela, ele teria considerado o canto de um pássaro. Ela inclinou a cabeça como se estivesse ouvindo e então mergulhou na própria árvore, desaparecendo em seu corpo como um peixe desaparece em águas claras. A árvore não deu nenhum sinal de que nada daquilo havia acontecido, e Wrenn se foi.

Arte de Mila Pesic

Teferi piscou e deu seus próprios passos em direção à árvore. Ele quase a alcançou quando a casca ondulou e a cabeça de Wrenn apareceu. A visão de uma árvore perfeitamente normal com a cabeça e os ombros de uma mulher projetando-se para o lado era apenas ligeiramente desconcertante, e não era mais estranho do que qualquer outra coisa que acontecera naquele dia.

“Você é um milagre, mago,” ela disse, feliz. “Um milagre e um erro no mesmo momento é uma coisa mais comum do que você imagina!”

“O que você quer dizer?”

“Pergunte à música,” ela disse, e recuou para dentro da árvore, que começou a tremer e a sacudir, como se estivesse saindo do chão. Então, enquanto Teferi assistia, ela se desdobrou no formato de um homem, uma espécie de ent adormecido no processo de despertar. Wrenn reapareceu quando a árvore se desdobrou, projetando-se de seu peito como a figura de proa de um navio, a maior parte de seu corpo ainda contido na casca, um sorriso beatífico no rosto.

Em um instante, Teferi entendeu. “Esta é a muda que cantou para você.”

“Você curvou o tempo. As árvores transformam o tempo em sabedoria, e esta sabia que eu estava perto. Ela reuniu todo o tempo que podia conter.” Ela parou por um momento, inclinando a cabeça para o lado como se estivesse ouvindo. “Sete diz que está grate pelo que você fez, mesmo que não fosse sua intenção. Elu estava me chamando, mas pensou que eu não teria a chance de ouvir. Elu quer ver os mundos.”

“E você pode mostrar a elu?”

“Sua história viaja mais longe do que seus pés. Minha história viaja apenas até aqui, precisamente,” ela disse. “Você tem minha gratidão.”

“Como você tem a minha, por me ajudar a desmontar meu próprio emaranhado.”

“Então ficamos bem assim, mago, te desejo serenidade em seja lá o que você veio procurar. Vou ajudá-lo se puder, no futuro, mas por agora, prometi a Sete terras longe de Innistrad, e eu devo manter minha palavra.” A árvore – ou ent, ou receptáculo, ou o que quer que tenha se tornado – ainda estava crescendo, elevando-se acima dos outros carvalhos, levando Wrenn embora. Ela acenou para Teferi, depois se recostou no tronco atrás de si e ao redor, fechando os olhos. O grande ent deu um passo à frente e depois outro enquanto as árvores se curvavam para longe deles e voltavam para esconder sua forma. Quando todas as árvores voltaram, dríade e ent haviam partido.

Pela primeira vez desde que entrou nesta floresta, Teferi estava sozinho. Ele sorriu para o ar vazio e se virou para voltar para a aldeia de onde viera. Ele poderia dizer aos cátaros que o perigo havia sido superado, e ele não estaria mentindo. Talvez essa não fosse a paz que ele buscava, mas foi uma lição não procurada e um novo aliado encontrado, e essas coisas eram melhores do que a paz, especialmente para um homem cujos pés podiam viajar mais longe do que sua história.

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Testimonial #1 Designation

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