Mtg Lore
Compêndio da Lore de Magic the Gathering
EPISÓDIO 04: AVALIAÇÃO
Will acordou assustado. Levou um momento para ele perceber que estava em seu quarto, que as figuras sombrias escondidas nos cantos eram resquícios de algum sonho do qual ele havia despertado. Ele ainda estava de uniforme, agora amarrotado. Sua última tarefa, na mesa à sua frente, permanecia inacabada. Do lado de fora, ele podia ver a noite de Arcávios, uma faixa de escuridão pontuada pelos usuais brilhos estranhos em todo o campus. Não havia sinal de Rowan. Seu lado do quarto ainda estava no mesmo estado de desordem em que estivera por semanas. Ele se levantou, estremecendo com uma cãibra no pescoço, na mesma hora que um grito veio do corredor.
“—portão sul!”
“Quantos ela—?”
“Está todo mundo—”
Na multidão de alunos que passavam correndo, Will avistou alguém do time da Torre do Mago Prismari – Arlo Wickel, o armador que impressionou Quint com sua magia da terra.
“Ei o que está acontecendo?”
Wickel apontou para o corredor. “Ei, calouro! Siga a multidão – Decana Uvilda está esperando para te levar a um abrigo.”
“Mas o que está acontecendo?”
“Os Oriq estão aqui,” ele disse secamente, antes de se virar e correr atrás da multidão de alunos mais jovens. Will ficou ali por um momento, atordoado, uma sensação de mal-estar aumentando em seu estômago. A Professora Ônix estava certa.
Lá fora, Will tropeçou em uma cena de caos absoluto. A multidão, aumentada por mais e mais alunos saindo dos dormitórios, estava paralisada em uma das extremidades do pátio. Do outro lado, além de suas expressões horrorizadas e atordoadas, Will podia ver uma parede invasora de formas escuras.
Não – não são formas. Criaturas.
Elas deslizaram pelo gramado bem cuidado com pernas finas e pontudas, a carapaça quitinosa cobrindo a carne cor de vinho. Espinhos violetas brilhantes corriam ao longo de suas costas e subiam até cabeças sem olhos, totalmente inexpressivos, exceto por uma boca aberta e cheia de dentes. Gritos terríveis cortavam o ar.
Elas pareciam famintas.
No início, Will apenas pensou que seus joelhos estavam ficando fracos – mas o chão inteiro estava tremendo. Ele viu Wickel sair da multidão, seu corpo todo vibrando com energia, e enfiar as duas mãos na argila abaixo dele. Um semicírculo de solo agitado ondulou de onde ele estava, erguendo-se em uma parede de terra densa entre as criaturas e os alunos. Ele se voltou para os calouros com olhos arregalados. “Corram! Eu disse corram!”
Mesmo enquanto se apressava em obedecer, Will pôde ver a primeira das horríveis criaturas vindo sobre de terra, escalando-a sem esforço. Ele precisava encontrar sua irmã. Onde estava Rowan?
Do outro lado do campus de Strixhaven, Rowan uivou e brandiu sua espada. Ela acertou uma articulação entre a carapaça da criatura, lançando um esguicho de sangue escuro sobre seu uniforme e caindo no jardim coberto de vegetação que cercava os dormitórios da Murchaflor. Atrás dela, Plink estava se afastando de uma das coisas, gritando de medo; com um encantamento gritado, Auvernine invocou raízes espinhosas do solo para envolver as pernas da criatura e arrastá-la para dentro do solo.
“Eles estão por toda parte!” gritou Plink, quase tropeçando na forma enterrada da criatura. “Estamos cercadas! Abandonar o navio! Rendam-se!”
Rowan examinou o campo que se estendia diante da faculdade Murchaflor. Sua amiga estava certa. As criaturas estavam avançando em um paredão assustadoramente brilhante de quitina, empurrando os alunos de volta para os dormitórios.
“Se esperarmos pelos professores —” começou Auvernine.
“Não. Se apenas esperarmos, seremos esmagados. Temos que passar por eles. Temos que sair,” disse Rowan.
“E ir para onde?” Auvernine perguntou desesperadamente.
Rowan olhou para o Biblioplexo, seus pensamentos voltando-se para Will. Se ela conhecesse seu irmão, é onde ele estaria. “Para lá,” ela disse, apontando para sua enorme silhueta na noite.
“Ah, agora você quer estudar?” disse Plink, cambaleando em direção às amigas, quase histérica.
No entanto, não foi apenas Will que a atraiu para lá. Era o centro do campus; se os reitores e professores escolhessem qualquer lugar para se posicionar, seria lá – e seu irmão sempre falou sobre todos os feitiços poderosos guardados naqueles velhos tomos empoeirados. Vamos torcer para que você esteja certo, Will.
“Professora Ônix, cuidado!”
Liliana girou ao ouvir o grito de sua aluna no momento em que um agente Oriq lançou uma espiral de energia sibilante na direção dela. Era um feitiço terrível, algo destinado a sugar a vida dela – mas ela tinha bastante experiência em magias como esta. Ela parou o feitiço a centímetros da palma de sua mão estendida e o considerou friamente. Atrás dela, a multidão de alunos que estivera em sua sala de aula momentos atrás a encarava, boquiaberta e apavorada. Ele poderia ter acertado eles, ela pensou. Bem. Sejamos justos. Com um gesto, Liliana o enviou de volta para o lançador, duas vezes mais faminto do que antes. Ele tentou recuar, mas a magia voraz o devorou antes que ele tivesse a chance de gritar.
Os Decanos Kianne e Imbraham vieram se juntar a ela, correndo pelo caminho que levava à Faculdade Quandrix atrás de outra leva de alunos. “Professora Ônix,” disse Imbraham com sua voz alta e estranha. “Estamos sendo perseguidos por um inimigo muito curioso. Sugiro que nos reagrupemos com outra faculdade em—”
Ele foi interrompido por um grito; um aluno tinha ficado para trás. “Vá!” Imbraham latiu. “Eu cuido desse grupo.”
Eles partiram imediatamente, assim como Kianne e Liliana. Outro grito se seguiu; desta vez, eles puderam ver o aluno, caído no chão e se encolhendo enquanto um monstro parecido com um inseto pairava sobre ele. “Caça-magos,” Kianne disse baixinho. Liliana podia ver mais deles saindo das sombras, as pernas pontudas batendo nas pedras do calçamento.
A criatura recuou, os segmentos de seu corpo brilhando, e Kianne enviou uma lança geométrica de força perfurando-a. Liliana agarrou o estudante apavorado e o empurrou para trás. “Saia daqui.”
Porém, outra coisa chamou a atenção dela – em meio à escuridão rastejante por todos os lados, parecia haver uma figura humana, um homem em um estranho uniforme vermelho. Pelo menos ela pensou que ele era humano à primeira vista; havia algo de errado com o rosto dele, um alongamento e afiamento das maçãs do rosto que a lembrava de mandíbulas. Ele travou os olhos nela, e com uma coordenação misteriosa, todos os outros caça-magos avançaram em direção a eles.
“Quem é aquele?” disse Kianne.
“Não sei,” Liliana disse. “Mas parece que ele está controlando essas criaturas de alguma forma.”
O rosto da Decana Kianne se contorceu de horror. “Todos eles? Eu nunca vi magia assim antes.”
“Sempre há um feitiço,” murmurou Liliana. Ela estendeu a mão e fios negros de magia saíram das pontas dos dedos, mas antes que pudessem fazer contato com ele, uma das criaturas se jogou no caminho. O feitiço se enterrou em sua concha, fazendo sua quitina rachar e se desfazer em pó.
Ao seu lado, a Decana Kianne ergueu as mãos, a luz brilhando ao seu redor. Em segundos, uma horda de fractais angulares e felinos se reuniu. Os constructos pularam em sua direção, colidindo com a onda de caçadores magos que se aproximavam. O homem de casaco vermelho desapareceu na multidão de corpos espinhosos e agitados, e Liliana se inclinou para persegui-lo quando algo a deteve.
Todo esse caos. Um ataque por todo o campus, sem objetivo aparente exceto destruição e caos. Por quê?
Porque, como Liliana percebeu com um pavor crescente, não era um ataque – era uma distração.
Will correu. Ele correu o mais rápido que pôde, tentando não pensar na horripilante criatura atrás dele e em suas muitas pernas, ou na queimação em seus pulmões ao se esforçar mais, ou na grama molhada sob seus pés que seria tão fácil de escorregar —
Espere. Sem parar, Will enfiou a mão no chão e aplicou um pouco de foco. Atrás dele, o orvalho da noite se condensou em gelo duro. Ele se virou, olhando por cima do ombro bem a tempo de ver uma das longas pernas do monstro derrapar para o lado, desabando embaixo dela.
“Toma!” gritou Will, pouco antes de bater em algo espetado e enorme.
Ele ricocheteou na concha da segunda criatura enquanto ela acertava uma garrada nele, cortando seu uniforme, mas não atingindo nenhum órgão vital. Caindo no chão, ele rolou para o lado enquanto outra garra se enterrava na terra onde sua cabeça estivera um momento antes. Will esticou os braços às cegas, fazendo contato com a parte blindada intermediária blindada, e extraiu o calor tão rápido que uma rachadura se abriu no meio da concha. A criatura caiu para trás, gritando, mas nesse momento a outra já havia se levantado e corria em sua direção.
De repente, um rugido preencheu o ar, o som se espalhando pelo céu. Mais rugidos responderam até que o chão tremeu com a cacofonia. A criatura saltou para longe de Will e quase galopou sobre suas muitas pernas, movendo-se rápido – mas não rápido o suficiente.
Uma coluna de fogo desceu do céu e varreu o solo. Ao redor, Will podia ouvir os gritos das criaturas invasoras, podia sentir o cheiro do carbono no ar enquanto suas conchas queimavam, estalavam e enegreciam. Em um instante, elas não eram nada além de cinzas, espalhadas ao vento pelo bater de asas gigantes.
Will colocou os braços sobre a cabeça, evocando camadas de gelo ao redor de si quando outra explosão de chamas rasgou o pátio. Mal foi o suficiente para protegê-lo do calor escaldante, mas Will não pôde evitar o grito de alegria que explodiu dele. Os dragões chegaram.
Rowan se virou ao som de seu nome, deixando suas amigas passarem correndo por ela em direção ao campus principal. Lá, com uma espada de gelo em sua mão e um corte engraçado na frente de seu uniforme, estava seu irmão. “Will!”
Eles correram um em direção ao outro e se abraçaram, se apertando com força. Quando Rowan se afastou, ela franziu a testa para a arma improvisada em sua mão. “Onde está sua espada?”
“Em nosso quarto,” Will disse entre respirações ofegantes. “Eu vim o mais rápido que pude.”
“Cuidado!” alguém gritou atrás deles. Rowan mal teve tempo de registrar o agente Oriq saindo de trás da cerca viva; quando ele estendeu a mão, espinhos vermelho-sangue de energia letal lançando-se sobre eles, ela jogou Will no chão.
Houve um som gorgolejante, depois silêncio; levou um momento para Rowan perceber que havia fechado os olhos. Quando ela os abriu, ela viu o Oriq espalhado pelo chão. Perto estava a presença severa e familiar da Professora Ônix, que girou sobre eles com aqueles olhos violetas frios. “Vocês dois. Por que não estão se abrigando?”
“Fomos atacados,” eles disseram – quase ao mesmo tempo.
“Nos dormitórios Prismari,” disse Will.
“E nos Murchaflor,” disse Rowan. “Eles estavam nos cercando – quase como se estivessem tentando nos manter em um só lugar.”
“É o que estavam fazendo,” disse a Professora Ônix. “Isso é parte de alguma distração.”
“Distração do quê?” perguntou Will.
“Não tenho a resposta para isso,” ela disse. “Ainda não. Mas eu sei de uma coisa – os caça-magos não estão apenas arrebanhando os alunos. Eles formaram um perímetro ao redor do Biblioplexo.”
Um perímetro. Rowan não gostou do som daquilo. Uma parede viva de espinhos, daquelas antenas roxas brilhantes, de dentes estalando. “O que devemos fazer?”
Então a Professora Ônix virou aqueles olhos violetas para ela. “Se eu fosse uma professora responsável, levaria vocês dois a algum lugar seguro. Eu os manteria longe de tudo isso.”
“Mas você não vai fazer isso,” disse Rowan. “Vai?”
O canto da boca da professora se contraiu – Rowan quase teria chamado aquilo de sorriso. “Não. Eu não sou tão responsável assim. E preciso de ajuda.”
“Então esta é a nossa entrada?” disse Will, colocando a mão no círculo de pedra. Parecia situado em uma das colinas na seção mais selvagem do campus Murchaflor.
“Sim. É uma antiga passagem de manutenção que encontrei quando era estudante.” A professora colocou a mão na porta e murmurou algo baixinho. Com um rangido lento que pareceu alarmantemente alto para Will, o círculo de pedra se separou, recuando para a encosta da colina. Do outro lado havia um longo túnel escuro.
“Eles deixam os alunos descer até aqui?” ele perguntou.
Rowan e a Professora Ônix arquearam uma sobrancelha.
“Não,” disse Will. “Não, acho que não.”
Rowan convocou uma bola de luz faiscante em sua mão e deu alguns passos cautelosos pela passagem, a professora e Will seguindo logo atrás.
“Vai ter, hum,” começou Will, “alguma coisa esperando por nós lá embaixo?”
“Eu não sei,” disse a Professora Ônix. “É possível. Ninguém em Strixhaven usa esses túneis há muito tempo, mas eu dificilmente sou a única que sabe sobre eles. Eu acredito que Extus tem enviado seu pessoal através dele há meses.”
“Extus?”
“O homem responsável por tudo isso. O líder dos Oriq.”
Will sentiu algo travar em sua garganta. “Ah. Então a única coisa com que precisamos nos preocupar é um bando de magos assassinos usando magia negra.”
“Deixa disso, Will,” disse Rowan. “Não é nada que não tenhamos visto antes.”
“Ah é?” A Professora Ônix parecia entretida. “Vocês dois são os heróis menos prováveis nisso tudo. Mas vamos supor que não sou de falar muito.”
O que aquilo significava, Will não tinha ideia.
Extus caminhou pelos corredores curvos do Biblioplexo, passando uma das mãos pelas belas prateleiras de madeira. Tanta sabedoria naqueles livros antigos – mas nem uma gota parecia útil agora. Era estranho ouvir o silêncio habitual daquele lugar mais uma vez, só que agora o silêncio era ocasionalmente quebrado pelos gritos de um aluno preso lá dentro.
“Extus!”
Ele se virou ao som de seu nome. Um de seus agentes se aproximou, carregando um livro pesado com páginas gastas e amareladas. Tavver, se julgou a voz corretamente – um membro mais jovem e bastante dedicado à causa. Ele já havia estado em várias missões no coração da escola.
“Encontrei na Ala Leste, como o senhor disse, senhor.”
“Bom trabalho.” Extus pegou o livro e limpou uma camada de poeira. Letras douradas brilhavam na luz fraca.
“O que é, senhor? Se não se importa que pergunte,” disse Tavver.
“O trabalho de outra mente brilhante esquecido e deixado para apodrecer. Eles são tão rápidos em nos descartar se não servirmos a seu propósito.” Ele estendeu a mão, sentindo-se benevolente. “Você será recompensado por tudo o que fez hoje.”
Assim que o agente pegou sua mão, Extus avistou a aluna com as vestes Platinopena por cima do ombro. Ela estava sangrando muito, um braço mole balançando ao seu lado, mas ela olhou para os dois com uma expressão de fúria absoluta. Ele sentiu o ódio irradiando do feitiço que ela estava moldando, uma orbe de perfeita escuridão, que ela lançou direto para ele.
Sem hesitar, Extus reforçou seu aperto no braço de Tavver e o puxou para perto, girando-o na direção do feitiço. O corpo do agente se curvou sob o impacto, um grito ecoou dentro de sua máscara quando ele ficou mole e caiu no chão. A estudante ergueu os braços, tentando reunir mais energia, mas estava exausta. Extus lançou um raio de energia crepitante que voou pelo ar e atingiu a aluna em cheio. Enquanto ela caía, a biblioteca ficava em silêncio mais uma vez.
Ele olhou para o corpo de seu agente mascarado, agora imóvel. Sem uma segunda olhada, Extus continuou.
“Você encontrou isso quando era estudante?” Will maravilhou-se, sua voz saltando assustadoramente nas paredes do túnel de pedra.
“Há quanto tempo foi isso?” perguntou Rowan. Ela segurava a única luz deles, uma pequena faísca de magia que fazia coisas estranhas em suas sombras.
“Há muito tempo,” disse a Professor Ônix. “Era uma época muito diferente e eu era uma pessoa muito diferente naquela época.”
Eles emergiram no que parecia ser a câmara de uma caverna. Acima, o teto de pedra cinza desaparecia na escuridão. Um abismo separava a saliência onde eles estavam de outro túnel, que ele mal conseguia distinguir na luz fraca; uma ponte de madeira cruzava o abismo.
“Hum, há alguma outra maneira de atravessar?” Will perguntou, olhando a corda puída e as tábuas que pareciam antigas.
“Sabe, eu nunca descobri.” Professora Ônix pisou levemente na beirada da ponte. Rowan a seguiu, pisando com velocidade alarmante sobre as pranchas podres.
“Vá mais devagar,” Will disse, seu ritmo constante e lento atrás dela.
“Cada minuto que desperdiçamos aqui é um que os Oriq gastam machucando pessoas,” Rowan disse por cima do ombro. Cada passo para frente derrubava pedaços de madeira no abismo abaixo.
Um ruído cortou o ar, ecoando nas paredes. Pedras deslizaram para baixo enquanto nuvens de poeira floresciam ao redor deles. Rowan deu mais um passo e a madeira estalou embaixo dela.
Will mergulhou assim que Rowan tropeçou, prendendo uma das mãos em seu pulso. Derrubando mais tábuas, ele a levantou e puxou, erguendo Rowan de volta para a ponte. Eles chegaram em um amontoado, então rastejaram o resto do caminho.
“Obrigada,” disse Rowan, sua voz trêmula.
“Você faria o mesmo por mim.”
“Vamos,” disse a Professora Ônix, do outro lado. Ela mal pareceu notar a experiência de quase morte deles. “Apressem-se.”
“O que ele quer?” disse Will. “Extus. Por que ele está aqui?”
“Ele poderia estar atrás de várias coisas. Tomes de grande valor, artefatos mágicos – o Biblioplexo está cheio de coisas que um aspirante a megalomaníaco pode desejar.”
“Então, para onde você está nos levando?”
“Eu estou te levando ao lugar que eu iria, se quisesse causar o maior dano possível.”
Will apenas olhou enquanto ela continuava descendo o túnel.
“Precisamos continuar andando,” disse Rowan, empurrando-o para frente.
Extus apoiou uma das mãos na madeira lisa e fria das portas duplas que conduziam ao Salão dos Oráculos. Elas haviam sido trancadas, mas felizmente, o ataque Oriq havia acontecido muito rápido para qualquer proteção ser ativada e colocada no lugar. Com um breve esforço de vontade, ele explodiu as dobradiças das portas e entrou.
Ao redor da sala havia rostos severos e enrugados esculpidos em pedra – oráculos, mortos há muito tempo, mas não esquecidos. Extus pensou ter notado certo desprezo em seus olhos duros, como se até mesmo do túmulo eles não aprovassem o que ele estava fazendo aqui. Como se eles achassem que ele não pertencia a suas fileiras.
Não importa. Eles estavam mortos. E quando ele terminasse, eles ficariam felizes de estar.
Seu olhar mudou para o teto, e mesmo com sua máscara, ele teve que apertar os olhos contra a luz. O Liame de Strixhaven pairava no ar, tentáculos de energia chicoteando e estalando ao redor do corredor. Mana das origens primordiais deste mundo, ainda girando em um redemoinho de poder. Abaixo dele havia uma série de anéis de pedra, quase tão antigos quanto o próprio vórtice – círculos de contenção, Extus sabia. Sua luz lançava um brilho azul suave em toda a sala, projetando sombras que dançavam pelo chão.
Sim, ele pensou. Isso vai servir.
Abrindo o livro de sua mão, ele folheou as páginas amareladas até encontrar o que estava procurando.
Passos soaram no corredor enquanto os agentes Oriq entravam na sala. Cada um deles carregava um livro ou pergaminho. Extus acenou com a cabeça, feliz que sua máscara escondeu o sorriso vertiginoso esticado em seu rosto. “Ótimo. Organizem-nos como discutimos. Está na hora.”
Um por um, os agentes colocaram os livros e pergaminhos cuidadosamente na frente de seu líder até que os textos antigos formaram um semicírculo aberto diante dele. Parando por apenas um momento para saborear a ocasião, Extus começou a ler.
Liliana esperava ter que lutar para chegar ao Liame — não havia como os Oriqs deixarem seu prêmio final desprotegido, afinal — mas ela não esperava que seus pupilos estivessem tão entusiasmados com essa parte da “aventura”. Dificilmente ela tinha que matar alguém; ao primeiro sinal de um dos Oriqs mascarados, Rowan os eletrocutaria com uma corrente de energia que os deixaria se contorcendo no chão. Até mesmo Will foi bastante útil, formando cascas de gelo ao redor dos agentes Oriq caídos, então quando seus músculos parassem de se contrair, eles não seriam capazes de fazer muito mais do que tremer. Quando alcançaram o Salão dos Oráculos, porém, as portas já estavam arrebentadas. Lá dentro, ela podia ver um grupo de figuras mascaradas formadas pela luz ondulante do vórtice interno. No centro, um deles estava entoando algo de um grande livro pesado.
Ela podia sentir as correntes arcanas mudando no ar, ouvindo, de uma maneira que ela havia sentido muitas vezes antes. Poderosa magia negra estava em ação aqui; até mesmo os gêmeos Kenrith pareceram notar algo, ambos parados bem ao lado dela.
“Chegamos tarde,” disse Liliana. “Ele já se vinculou ao Liame.”
“Ainda não.” Rowan foi a primeira a quebrar o transe que parecia envolver todos eles, correndo para a sala.
“Espere!” gritou Will, correndo atrás dela antes que Liliana pudesse impedi-lo. Tolos – eles não podem enfrentá-lo com tanto poder à sua disposição! ela pensou.
Os magos mascarados já estavam se virando, suas mãos acesas com fogo brilhante e veneno borbulhante e outros feitiços cruéis e assustadores. Rowan gritou com uma mistura de fúria e prazer assustador quando um raio rastejou sobre sua pele e saltou para um grupo Oriq, o poder desenfreado se soltando. A fumaça saiu de seus capuzes quando eles caíram. Essa menina já é uma força a ser reconhecida, pensou Liliana. Mais alguns anos e ela será verdadeiramente assustadora.
Mas Rowan ainda era muito inexperiente para sentir o agente Oriq estender a mão atrás dela, os dedos estalando com poder mortal. Liliana se concentrou, e o tempo pareceu desacelerar por um momento enquanto ela sentia, através das energias misteriosas girando no ar, a pouca luz da alma do homem. Com um impulso selvagem de força de vontade, ela empurrou-o para fora de seu corpo, que caiu em um amontoado no chão.
Foi quando o feitiço caiu sobre ela. O que? pensou Liliana, girando a cabeça para a origem do ataque. Extus, o homem segurando aquele livro pesado, tinha uma mão estendida. Porém ela não sentiu o acúmulo de nenhuma magia ofensiva – nem o calor do fogo nem a sensação doentia da magia da morte. Com o quê ele a acertou?
De repente, a sala pareceu dobrar e balançar sob seus pés. Tudo girava desconfortavelmente; uma sensação de vertigem surgiu em seu estômago. Era uma sensação não muito diferente de transplanar, embora doentia e distorcida. A última coisa que ela viu foi o menino Kenrith – olhando não para ela, mas para sua irmã. Aterrorizado, embora Liliana não sabia dizer se era por ela ou com ela. Então sua visão escureceu.
Quando ela abriu os olhos, a luz do Liame havia sumido.
Liliana piscou enquanto seus olhos se adaptavam à escuridão. Ela se moveu para se sentar, sua mão se arrastando pela sujeira e folhas, e olhou ao redor, sua mente finalmente clareando o suficiente para reconhecer as formas da floresta ao seu redor. Mágica de translocação forçada. Ela nunca tinha sido atingida por aquilo antes.
Ela se levantou. À frente, podia apenas distinguir uma das tochas que conduziam a Strixhaven. O próprio campus estava em algum lugar distante, além da vista.
Tentem não morrer, vocês dois. Estou indo – mas será uma longa caminhada.
Rowan olhou para o local onde a Professora Ônix estivera, então se virou para Extus. “O que você fez com ela?”
A figura mascarada não respondeu. Com um grunhido de frustração, Rowan estendeu a mão para ele. O ar se partiu com um rugido quando um raio correu em sua direção, mas o líder Oriq apenas gesticulou em sua direção. O relâmpago simplesmente parou e caiu do ar, espatifando-se no chão como se fosse feito de vidro. Ele acenou casualmente, como se rebatesse uma mosca, e Rowan viu o ar se curvar e entortar quando uma onda de força avançou em sua direção. Ela fechou os olhos e ergueu as mãos – mas em vez de ser dilacerada pelo feitiço, ela foi apenas salpicada de cacos de gelo quando a parede que Will tinha erguido foi quebrada.
“Rowan, me escute!” gritou Will, agarrando seu ombro. “Precisamos sincronizar nossa magia, como costumávamos fazer.”
“Você mesmo disse – eu não consigo mais controlar meus poderes!” cuspiu Rowan. “Há algo diferente agora. Nossa magia está mudando.”
“Sim,” disse Will. “Você ficou mais forte. Mas eu tive mais controle. Juntos, podemos fazer isso. Não há outra maneira!”
Mas aquilo não era verdade. Rowan olhou de volta para Extus e a tempestade de magia bruta surgindo e brilhando atrás dele. O Liame, como a Professora Ônix tinha chamado. Ela podia sentir o poder irradiando dele, mais poder do que qualquer mago poderia usar. Ela poderia pegá-lo, puxá-lo para fora, assim como ela tirou o poder do elemental da água daquele aluno de Prismari. “Podemos fazer o que ele está fazendo – podemos usar o Liame. Usar o mesmo truque sujo!”
“Isso é muito perigoso!” disse Will. “É muito poder – você vai se matar! Você vai destruir toda Strix—”
Ele foi interrompido por outra onda de força rugindo de onde Extus estava. Will jogou outro escudo de gelo, mas desta vez o feitiço foi forte o suficiente para perfurar e empurrar os dois para o outro lado da sala.
Rowan ergueu-se em uma posição sentada, a cabeça zumbindo. Não muito longe, ela podia ver Will fazendo o mesmo. Algo estava se acumulando a seus pés, encharcando suas botas. Assustada, ela percebeu que era sangue.
Entretanto, não era o sangue dela e nem de Will. Filetes do material pareciam se espalhar por toda a sala. Ela seguiu o caminho deles, seu olhar vagando em direção ao Liame pendurado acima de Extus. Onde antes brilhava azul, agora brilhava com um vermelho profundo.
Um rugido de quebrar os ossos sacudiu o salão, rachando as paredes e sacudindo poeira centenária das vigas. Outra rachadura rasgou a sala e um pedaço do teto despencou na direção deles.
Rowan mergulhou na direção de Will, e os dois caíram no momento em que a pedra se espatifou no chão. Outra pedra caiu, esmagando o corpo inerte de um agente Oriq próximo e fazendo Rowan se encolher.
Mais sangue fluía dos círculos concêntricos de pedra no chão em frente a Extus, borbulhando como se viesse de uma fonte. O que começou como um gotejamento transformou-se em um dilúvio. O cheiro doce de ferro encheu seu nariz.
Sob o Liame, Extus abriu bem os braços. “Levante-se, Grande! Eu te invoco, Avatar do Sangue! Libere sua ira sobre este mundo injusto!”
Da fonte borbulhante de sangue naquele círculo de pedra, duas pontas começaram a tomar forma, alongando-se e curvando-se na forma de chifres. Algo estava se libertando.
Rowan se empurrou para trás até atingir a parede. Não eram chifres, mas um capacete de bronze antigo. O que surgiu, empapado de sangue, era enorme e apenas vagamente humanoide. Em cada um de seus quatro braços musculosos, ele segurava uma arma cruel, as pontas e espetos eram muitos para Rowan contemplá-los totalmente. Era uma criatura de guerra, isso estava claro. Um ser cujo único propósito era desfazer o que durou séculos.
Esse era o plano de Extus o tempo todo. Isso era o que eles estavam tentando impedir. E agora, o fracasso deles poderia significar a morte de todos.
Traduzido por Blackanof
Revisado por Sophia
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