Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

ALINHAMENTO DA REDE DE EDROS

Foi uma batalha difícil, mas com a ajuda e os conselhos de Zendikari confiáveis, Gideon liderou seu exército na vitória no Portão Marinho. Ele precisou dos talentos de todas as forças díspares de Zendikar: Drana e sua legião de vampiros, Noyan Dar e seus magos do Turbilhão, Tazri e sua infantaria, os cavaleiros celestes, os goblins, os kor, Nissa e sua força elemental e Kiora, que apareceu com um contingente de criaturas marinhas bem a tempo de virar a maré da batalha. Gideon aprendeu bastante – tanto sobre os Zendikari como sobre si mesmo – enquanto batalharam lado a lado por dias. Agora, ele pretende usar esse conhecimento para liderar o exército no que virá a seguir.

Kiora subiu a escadaria do farol de dois em dois degraus, até o cômodo onde ela descobrira que Gideon estaria “em reunião com mentes importantes de Zendikar”. Ele claramente se esqueceu de lhe enviar um convite. Ela marchou porta adentro.
Kiora, a Onda que Arrebenta | Arte de Tyler Jacobson

Sua entrada criou um burburinho no grupo que já estava lá dentro. Era um grupo curioso, até mesmo pelos padrões Zendikari: uma elfa, uma humana, um kor e uma vampira. Eles a fitaram de um jeito bastante frio, incomodados com a interrupção.

Gideon era o único com um sorriso largo no rosto. “Tenho algumas perguntas para você.”

“Aposto que tem.” E ela tinha algumas instruções para ele, pois viera com um propósito. Quando ela chegara ao Portão Marinho, desafiara Gideon a acompanhá-la em batalha, e ele o fez – em grande parte. Talvez ele não fosse um aliado tão apavorante quanto ela pensara de início. Agora, precisava saber se ele poderia ser útil no que estava por vir.

“Primeiro, gostaria que você conhecesse meus conselheiros.” Gideon apontou para os Zendikari, um de cada vez. “Drana, Tazri, Nissa e Mund…” Mas ele não chegou a terminar de apresentar o kor. A porta abriu com um estrondo. Kiora girou, erguendo seu bidente por instinto.

“Ulamog!” Uma tritã estava na soleira, resfolegante. “Ulamog está a caminho!”

Por uma só respiração, o cômodo ficou em silêncio. A mente de Kiora engrenava. Seria mesmo assim tão fácil? Ela pensara que teria de perseguir o titã. Mas se ele estava vindo até aqui, direto até ela, tudo bem. Era este o momento que esperara. Ela socou o ar com seu bidente. “Sim!”

“Não!” Gideon passou por ela empurrando-a, e seu braço enorme esbarrou em sua arma.

“É verdade,” a tritã engasgava tentando respirar, com suas guelras se agitando inutilmente.

“A que distância? Há quanto tempo?” Kiora afastou Gideon com o ombro. Se ele a empurrou, ela empurraria de volta. “Onde você viu?”

“Perto assim.” A tritã gesticulava para indicar a distância entre ela e Kiora, como se dissesse que ficou face a face com Ulamog. Um exagero. Kiora a olhou de cima a baixo. Se essa tritã realmente esteve perto assim do titã, não estaria aqui para contar a história.

“Jori, onde?”, perguntou Gideon.

“Lá no…” A voz da tritã, Jori, foi diminuindo. “Foi… Ele estava vindo para cá, e daí o Jace…”

“Jace! Onde ele está?” Gideon olhou em volta como se esperasse ver Jace se materializar.

“Ele…” Jori abaixou os olhos. “Ele…”

Os ombros de Gideon caíram. “Sinto muito que ele tenha abandonado você. Só porque podemos, não quer dizer q…”

“Ele não foi embora,” interrompeu Jori. “Ele não fez aquela coisa de caminhar entre planos que vocês fazem. Escapamos juntos.”

Ah, isso fazia mais sentido. A tritã tinha um planinauta para ajudá-la. Ainda assim, pensava Kiora, a proximidade de Ulamog tinha de ser exagero. Ninguém ficaria tão perto do titã e sobreviveria. A não ser que estivesse preparada. Ela segurou o bidente da deusa com firmeza. Vamos nessa, Ula.

“E os edros?” perguntou Gideon. “Jace resolveu o enigma?”

“Não sei,” respondeu Jori. “Ainda estávamos longe do Olho de Ugin quando aconteceu. Seguimos em frente, mas ele usou o misticismo mental para me forçar a dar meia-volta. Pensei que ficaríamos juntos, mas alguém tinha de avisar você. Ele tinha razão, nisso.”

“Um titã a caminho daqui.” O kor meneou a cabeça. “O que vamos fazer?” Ele apontou para a represa lá fora com o queixo, repleta de Zendikari em festa. “O que vamos fazer com eles?”

“Evacuamos.” Tazri, a humana com um halo brilhante em torno do pescoço, falava com a firmeza de quem está no comando.

Não, pensou Kiora. Nós

“Planejamos um ataque,” disse a vampira, Drana.

Exato.

“Absolutamente não,” replicou Tazri. “Seria um ataque suicida.”

“Um ataque é o único motivo para eu estar aqui,” disse Drana. “Não trouxe a minha legião apenas para bater em retirada.”

Kiora poderia vir a gostar dessa vampira.

“Concordo,” falou Nissa, a elfa com olhos verdes e brilhantes. “Não podemos fugir. Lutamos demais para isso. Zendikar lutou demais para isso.”

“Lutamos por uma fortaleza, um lugar para fortificar, e não um lugar para morrer,” contra-atacou Tazri. Ela virou-se para Jori. “Se a ameaça for real, não podemos ficar.”

“A ameaça é real,” confirmou Jori.

“Então, não temos escolha.” Tazri virou-se para Gideon. “Comandante-Geral, temos ordem para evacuar?”

Gideon hesitou por apenas um momento, mas era tudo o que Kiora precisava. “Evacuar não é uma opção.” Ela deu um passo à frente. “Não temos mais para onde fugir. É hora de contra-atacar!” Ela ergueu seu bidente. “Eu lidero a ofensiva.”

“Impressionante.” A vampira batia palmas. “Acho que até posso me unir a você.”

“Isso é um motim!” Tazri se pôs entre Drana e Kiora. “Agora não é hora de dividir nossas forças. Mantemos o plano e ficamos juntos. Quando soubermos se podemos usar os edros…”

“Não precisamos dos edros,” interrompeu Kiora. “Temos isto aqui.” Ela rodopiou seu bidente com um sorriso.

“O que é?” indagou Jori.

“É apenas o artefato mais poderoso em toda Zendikar – de nada. Mais poderoso do que os edros.” Ela encarou Tazri. “Essas rochas estiveram aqui esse tempo todo e nada fizeram para impedir os Eldrazi. Isso aqui, por outro lado, é algo novo. Veja.” Ela fez um grande arco com o bidente, invocando a maré e, ao puxá-lo de volta, uma onda se ergueu do mar e entrou pela janela com uma mira tão perfeita que mal umedeceu a esquadria. Ela fez chover em todos lá dentro.

Bidente de Thassa (promo) | Arte de Ryan Lee

“Uau!” Jori olhava com reverência para Kiora e para o bidente.

Kiora deu uma piscadela. “Eu falei.”

“Não temos tempo para isso,” gaguejou Tazri, limpando a água salgada do rosto. “Comandante-Geral, temos de…”

“Matar o titã!” Kiora ergueu tanto o bidente como a voz. Ela olhou para os outros. “Esta é a nossa chance. Este é o nosso momento. Olhem o que fizemos lá fora.” Ela apontou para a janela com seu bidente. “Se podemos superar um enxame Eldrazi gigantesco, podemos matar o titã.”

“Eu gosto desse plano”, disse Drana. “Ou melhor, gosto da ideia vaga, e do plano adequado que podemos construir com ela.”

O estômago de Kiora se agitava como borboletas. Sim. Ela nem se importava com a parte técnica, a vampira estava do lado dela.

“Teremos o poder do mar inteiro conosco,” disse Jori, apontando para o bidente com o queixo. “Acho que temos uma chance.”

Kiora endireitou a postura. Sim.

“O poder do mar é grande, mas precisaremos de mais do que isso,” adicionou Nissa. “Eu trarei a terra para ajudar. Se trabalharmos juntos, creio que seja possível.”

É isso! Finalmente, Kiora encontrou pessoas que não desistiriam. “Então, quem está comigo,” ela gritou. “Quem está pronto para acabar com Ulamog de uma vez por todas?”

Gritos irromperam no pequenino topo do farol.

“Não permitirei que façam isso,” gritou Tazri, de repente.

“Me corrija se estiver errada, mas não é decisão sua,” respondeu Drana. Ela olhou para Gideon. “Creio que seja sua, Comandante-General.”

Kiora seguiu o olhar dela. Era a hora da verdade. Será que Gideon era o aliado que ela esperava que fosse?

Todos olhavam para ele. Cada um deles. Como deveriam. Gideon era o Comandante-Geral. E como Comandante-Geral, a ordem viria dele. E é isso que ele faria.

Em um momento.

Talvez dois.

Ele precisava pensar. Ele tinha de encontrar o melhor meio de agir. Tinha de haver um melhor meio de agir.

Gideon, Campeão da Justiça | Arte de David Rapoza

“Temos a ordem para evacuar?” pediu Tazri.

“Eu ouvi da primeira vez, Tazri.” Gideon não quis ser ríspido. Ele pigarreou. “Eu só preciso de um minuto.” Tanto Tazri como Kiora abriram suas bocas, mas Gideon as cortou. “Um minuto em silêncio.”

As duas resmungaram quando Gideon se virou de costas, mas ele ignorou. Com passos largos, caminhou até a janela e olhou para fora, protegendo seus olhos o sol deslumbrante. O horizonte era uma linha reta. Não havia sinal algum do horror que Jori prometia estar a caminho. Mas ele acreditava nela; ele ouvira os rumores, e o titã se movia lentamente. Mas seria lento o suficiente para que Jace chegasse antes, com o segredo dos edros? Não havia como saber.

Sem os edros, eles precisavam de algo mais – de outra vantagem que mudaria a balança a favor deles. Ele pensou em Kiora e no bidente da deusa. Uma arma poderosa, é certo. Mas uma só arma e uma só maga – e, em um lampejo nos olhos, ele viu os Subversivos caídos.

Arrogância Trágica | Arte de Winona Nelson

Ele piscou para forçar a imagem sumir. Ele já aprendera aquela lição, há muito tempo.

Gideon suspirou, olhando para os Zendikari na represa. A presença deles ali, juntos daquele jeito, provavelmente era o motivo pelo qual o titã estava vindo para cá. O Eldrazi não conseguia resistir ao chamado da sereia que era esse agrupamento de vida. Eles eram isca fácil.

Não! Ele bateu com os punhos no parapeito da janela. Ele já aprendera aquela lição também. Essas pessoas não estavam desamparadas. Longe disso. Eram fortes. Eram corajosas. Eram capazes. Eram seu exército.

Eles se reuniram de todos os cantos de Zendikar. Deixaram suas diferenças de lado – melhor ainda, aprenderam a usar suas diferenças como bens de guerra. E superaram uma horda tão grande de Eldrazi que levaria semanas para queimar todos os cadáveres alienígenas, ou até mesmo meses.

Eles eram uma força como Zendikar nunca vira antes, e provavelmente nunca veria novamente. Era bastante. Era mais do que bastante. Era… Gideon sorriu para si mesmo: talvez fosse a vantagem que precisavam.

Gideon se virou para os outros e deu suas ordens. “Não vamos fugir. Ficamos e lutamos. E matamos o titã.”

Tazri perdeu o fôlego.

“Rá!” Kiora ergueu seu bidente. “Sim!”

“Bravo.” Aplaudiu Drana.

“Nissa,” chamou Gideon, lançando-se aos detalhes do seu plano quando o criava. “Você lidera dois contingentes de terra. E de terra, no seu caso, eu quero dizer a própria terra. O solo, as rochas e tudo.” Gideon imitou os passos largos de um dos elementais de Nissa. “Traga uma tropa de cada lado da represa.”

Nissa assentiu.

“Kiora,” continuou Gideon, “você coordenará um ataque marinho.”

“É claro que sim. Eu não preciso que voc…” Uma batida na porta interrompeu a insubordinação de Kiora, para a sorte dela.

Era Ebi, um dos sentinelas que Gideon colocara em torno do Portão Marinho. Ao ver a face do kor espiando porta adentro, o coração de Gideon apertou. Ele temia que Ebi vinha dizer que Ulamog fora avistado. Ainda não; eles precisavam de tempo.

“Acho que encontrei algo que você estava procurando, Comandante-Geral.” Ebi fez um sinal de mão para trás e Gideon viu de relance algo azul se movendo do outro lado da porta – algo azul que ele reconhecia…

“Jace!” Gideon conseguiu respirar novamente.

O mago mental entrou pela soleira. “Olha quem anda praticando seus poderes de vidência.”

Gideon se aproximou e abraçou o homem menor, dando-lhe um tapinha amigável no ombro. Jace estava sempre tão tenso. Ele sorriu para Ebi. “Eu agradeço.”

“Senhor.” Ebi fez um aceno de cabeça.

“E o perímetro?” tentou Gideon, forçando a sorte.

“Seguro,” relatou Ebi.

“Bom.” Gideon deu um suspiro. Ótimo. Eles teriam um pouco mais de tempo.

Ebi trocou o peso do corpo, parecendo sentir a tensão dentro da sala. “Eu vou voltar para o meu posto, então.”

“Obrigado, Ebi.”

Quando o sentinela kor fechou a porta atrás de si, Gideon se virou para Jace. Ele estava procurando por uma vantagem e agora tinha duas. As chances estavam a favor deles; essa batalha não poderia ser perdida. “Os edros,” ele disse. “O Olho de Ugin. Conte-nos tudo.”

Tudo estava tão melhor do que Jace imaginara que estaria… Ele previra que teria de ajudar Gideon a reunir o exército, encontrar o local de maior vantagem e juntar edros para construir a prisão – que ele ainda acreditava que poderia ser transformada em uma arma mortal, não importando o que Ugin dissera. Mas estava tudo bem à sua frente: um exército formidável, uma localização que serviria e mais da metade dos edros de que precisaria, flutuando ali mesmo, acima do mar. Agora, ele apenas tinha de mover as peças para os lugares certos… cuidadosamente.
Arquivo de Edro | Arte de Craig J Spearing

Ele não necessitava ler nenhuma das mentes no pequeno cômodo para saber que havia um excesso de tensão. Jori estava lá, desalinhada e em mal estado, o que indicava que ela tinha acabado de chegar e, quase certamente, acabara de dar a notícia de Ulamog. Então, os olhares gélidos e posturas agressivas indicavam que os presentes não estavam em total acordo sobre o que fazer com a aproximação do titã.

Nissa parecia pronta para lutar, assim como a tritã que Jace não conhecia e a vampira. Mas Tazir e o kor pareciam menos convencidos, e Jace não sabia dizer onde Jori estava. Então, era sua responsabilidade colocar todos na mesma posição; ele precisava que todos o apoiassem para executar o plano com sucesso. Um encontro de mentes sem coerções ou empurrõezinhos mágicos (que ele teria de considerar, se fosse necessário) poderia ser alcançado se a narrativa mais correta e atraente fosse tecida. Era uma questão de lançar informações. “Vocês retomaram o Portão Marinho,” disse, sorrindo. “Impressionante.” E também era uma questão de afagar os egos.

“Eu tinha um exército enorme…” começou Gideon.

Mas a segunda tritã, a que Jace não conhecia, cortou Gideon. “Não foi nada de mais.”

O kor e Tazri olharam para ela de lado, com olhares de esguelha. Então, ela era o curinga. Bom saber.

“Foi muito mais do que nada para muita gente,” disse Gideon. Ele olhava para Jace, mas estava falando com todos. “Cada soldado que lutou pelo Portão Marinho deu tudo de si. E perdemos muitos no caminho.” Ele parou por um momento, e tanto a humana cimo o kor baixaram suas cabeças em reverência; a tritã-curinga não o fez. “Mas saímos com a vitória. A cidade está segura.” Ele sacudiu a cabeça. “E, agora, ficamos sabendo da notícia. Então, estamos reajustando nossos planos. Um ataque com tudo sobre o titã. Um ataque com muito mais probabilidade de sucesso agora que você está aqui. Os edros,” pressionou Gideon. “Como podemos usar o poder deles?”

“Os edros.” Jace deu um suspiro. Era aqui que a coisa complicava.

“Não precisamos dos edros. Eu tenho um bidente e um exército de criaturas marinhas,” disse a tritã-curinga.

Jace a ignorou, concentrando-se na divulgação de informações. “Os estudiosos daqui do Portão Marinho estavam no caminho certo, trabalhando com o poder dos edros para enfrentar os Eldrazi. Mas não precisamos de edros individuais, nós…”

“Precisamos é seguir o caminho,” interrompeu a tritã, agitando seu garfo de frutos-do-mar irritantemente longo. “Eu lidero a ofensiva. Se vocês só me seguissem, poderíamos estar na metade do caminho para matar Ulamog agora.”

“Isso seria extremamente mal-aconselhado,” disse Jace. “Se vocês correrem para lá indiscriminadamente, serão os primeiros a ser mortos.”

A tritã se inclinou para falar apenas com ele. “Sem ofensa… Jace, é isso? Mas seu misticismo mental não vai funcionar comigo. Minha mente é só minha, e eu sei o que estou fazendo.”

“Se eu quisesse usar…” Jace se controlou. Deixar seu temperamento dominar não seria bom nesse momento. “Não tenho intenção alguma de usar meu misticismo em você, ou em qualquer um aqui…”

“Kiora,” informou a tritã. “Lembre-se deste nome. Logo, toda Zendikar vai saber dele.”

“Kiora,” repetiu Jace. Delirando. Ela estava completamente delirando. Cuidado. Certo, com cuidado, ele ainda tinha de passar seu argumento. “Posso supor que você já usou essa arma antes para destruir algo desta escala?”

“Você não imagina as coisas que esta arma está acostumada a fazer.” Kiora rodopiou o bidente.

“E era você quem estava acostumada a fazer essas coisas?” pressionou Jace. Ele reconhecia uma evasão quando a ouvia.

“Eu a empunho agora, e isso é tudo o que importa.” Kiora trocou o peso do corpo. Não por desconforto, mas por inquietude. “E estou pronta para o ataque. Vamos.” Ela acenou para os outros.

“Escutem,” disse Jace para o cômodo todo. “O titã com quem estamos lidando é um ser além do nosso entendimento, que usa forças que nós podemos perceber apenas pela tangente. Ele ameaça a própria existência deste mundo. Para impedi-lo, vamos ter de usar muito mais do que apenas uma arma física – e não importa o quanto ela é poderosa. Eu preciso que todo mundo aqui, e todo mundo lá,” disse ele indicando os Zendikari do lado de fora, “me ajude a construir e executar a armadilha que eu pretendo…”

“Armadilha?” Nissa, que estava mais atrás, ficou ereta de repente. Suas orelhas se inclinaram e seus olhos verdes e brilhantes perfuraram Jace. “Você disse armadilha.”

“Disse, sim,” Jace assentiu. “Apenas um edro não é suficiente, mas uma rede complexa de edros alinhados pode prender o titã, e assim ele não causaria mais destruição. Quando o prendermos…”

“Não.” Nissa bateu com seu cajado no piso.

Arte de Cynthia Sheppard

Ah, ótimo. Mais antagonismo. Jace estava indo tão bem…

“Não vamos prendê-lo,” a voz de Nissa ressoava com poder. “Os titãs ficaram presos aqui por tempo demais. O mundo esteve com dor por tempo demais.”

“A armadilha não seria permanente,” disse Jace. Por que ele não começara com isso? “Quando o prendermos, descobriremos como destruí-lo. Tenho algumas ideias…”

“Como eu disse, eu já sei como matar o titã.” Kiora brandiu seu bidente e deu passos largos até a janela. “Vocês vêm?” Ela olhou para Nissa. O que ela planejava fazer, pular?

Nissa assentiu. “Zendikar e eu lutaremos ao seu lado.”

“Hã, Zendikar, claro. Beleza. Mais alguém?” Kiora piscou uma vez com quatro pálpebras.

“Eu vou aonde a batalha está,” disse a vampira.

“Chega!” Gideon deu um passo à frente. “Eu dei minhas ordens e…”

“Estamos seguindo suas ordens,” disse Kiora. “Mais ou menos.” Ela deu uma piscadela, segurando-se no peitoral da janela; ela realmente ia pular.

“Parem, isso é uma ordem,” comandou Gideon. “Todos vocês.”

“Vocês não podem sair e lançar uma onda de ataque sozinhas,” o kor deu sua opinião.

“Por que não?” indagou Kiora.

“Porque,” disse Jace de supetão, “qualquer ataque contra o titã que não consiga o destruir corre o risco de afastá-lo de Zendikar inteiramente para outro mundo.”

“Parece ótimo. Já vai tarde.” Kiora estendeu seu braço janela afora e o tentáculo de um polvo se ergueu para encontrá-la. “Vocês vêm?” Ela fez um sinal para Nissa.

Mas Nissa hesitava, olhando para Jace. “Para outro mundo?”

“Sim.” Jace assentiu solenemente. “E não sabemos para qual.” Ele deu uma olhadela para Kiora. “Mas aonde ele for, vai destruir tudo também. Os povos e a terra serão destruídos. E quando ele terminar, vai procurar outro plano de existência. Repetirá isso de novo e de novo, por toda a eternidade. A menos que isso acabe aqui.”

“E nós vamos acabar com isso aqui.” Kiora deslizou para o tentáculo.

Por favor. Jace se estendeu para a mente de Kiora. Você não quer fazer isso.

Tanto Kiora como Gideon se moveram tão rápido que Jace não notara o que estava acontecendo até estar no chão, empurrado pelo braço enorme de Gideon, enquanto defletia o golpe do bidente que atingiria Jace.

“E você não quer fazer isso,” disse Kiora, cuspindo. “Nunca mais.” O tentáculo desceu pela janela, levando a tritã-curinga com ele.

Kiora, Mestra das Profundezas | Arte de Jason Chan

“Temos de impedi-la,” Jace ficou de pé às pressas. “Temos de…”

“Não.” Gideon caminhou até a janela. “Estamos perdendo um tempo que não temos. O titã está se aproximando e devemos nos preparar. Vamos montar a armadilha e, assim que o alvo estiver seguro no lugar, lançaremos a nossa ofensiva como planejado. Nós o aprisionamos e o destruímos. Perguntas?” Agora no meio do cômodo, Gideon parecia preencher o lugar todo, sem deixar espaço para debate.

“Ótimo. Precisamos agir rápido. Jace, meu exército está à sua disposição, use-o como precisar para montar a armadilha. Nissa, acompanhe Jace e dê assistência como puder. Munda, Jori, cuidem das patrulhas. Vamos precisar de mais sentinelas. O titão não virá sozinho e precisamos garantir que o perímetro esteja seguro. E isso significa que deve estar seguro contra uma certa tritã que conhecemos, também. Não permitam que Kiora interfira com o que vamos fazer. General Tazri, Drana, vamos conversar com as tropas. Precisamos preparar o exército.”

“Sim, senhor.” O sentimento teve um eco por todo o cômodo, e Jace não notou que tinha falado também até ouvir a própria voz. Isso o surpreendeu. Gideon o surpreendeu. O planinauta crescera um bocado como líder desde que Jace saíra da Rocha Celeste. Que bom. Eles precisariam de um líder forte para o que estavam prestes a fazer.

Quando os outros saíram, um por um, Jace virou-se para Nissa. “Que bom que você ficou.”

Ela não tentou responder.

Certo, eram apenas negócios. Jace podia trabalhar assim. “Então… Eu ouvi dizer que você consegue mover o terreno.”

Horas depois, Nissa se estendeu para a terra e encontrou mais um edro enterrado. Ela gentilmente tirou a terra para puxar a rocha. Mesmo que não estivesse vendo o edro, sabia onde estava, precisamente qual espaço ocupava Zendikar. E mesmo que não pudesse ver o titã, sabia que ele estava lá. Durante aquela noite, enquanto trabalhavam para montar a armadilha de Jace, Nissa sentiu Ulamog adentrar a baía do Portão Marinho. Ele viria até eles pela água. E quando o sol nascesse, todos poderiam vê-lo como uma torre gigantesca… Esperando para ser destruída.
Renovação de Nissa | Arte de Lius Lasahido

Ela olhou para sua elemental Ashaya, sua melhor amiga e alma de Zendikar. “Está quase na hora.”

A resolução de Ashaya inundava Nissa, e juntas elas puxaram o edro do solo e o apoiaram em um dos lados angulares.

Nissa caminhou em volta da imensa rocha, passando a mão por sua superfície. Ela procurava por rachaduras, manchas ou lascas. Mas assim como todos os outros que foram escavados naquela noite, estava em estado perfeito de conservação. Esses edros não eram apenas poderosos, tinham uma composição poderosa. Eram robustos o suficiente para durar enquanto canalizassem todo o poder deste mundo, como Jace lhe garantira.

E se ele estivesse errado de algum modo, ou se os edros falhassem, Nissa estaria pronta.

Zendikar também estaria pronta. Ashaya pousou sua enorme mão no ombro de Nissa.

Nissa olhou para a fachada amadeirada tão familiar da sua elemental. “Você sabe que eu não permitiria que o titã ficasse preso aqui novamente se houvesse outro jeito.” Ela pausou. “Ou se eu tivesse alguma dúvida.”

Ashaya sabia. Zendikar compreendia.

Entre elas, havia a segunda parte não verbalizada deste acordo: tanto Nissa como Zendikar queriam que isso acabasse aqui e agora, e queriam ser as responsáveis por isso. Elas não queriam afastar o titã; elas queriam enfrentá-lo.

A terra se inchava com uma fome que não seria saciada a não ser que tivesse a chance de confrontar o inimigo, lutar e destruí-lo. Zendikar era mais poderosa do que esse monstro que a maltratara como se fosse uma praga, e hoje o mundo provaria sua força.

Ashaya, the Awoken World (token) | Arte de Raymond Swanland

Nissa suspirou. “Vamos terminar o que nós começamos.”

Juntas, elas moveram o edro até a beirada da falésia, onde Gideon e Jace estavam com uma equipe de kor e uma quantidade desmesurada de corda.

“Bom, bom. Traga para cá.” Gideon dirigiu Nissa e Ashaya entre duas linhas de corda. “Amarrem bem,” instruiu o kor.

“Este aqui vai entrar ali no meio daqueles dois.” Jace falava com Munda, apontando para uma ilusão azul brilhante dependurada no ar à frente deles. A ilusão era um modelo em escala do anel de edros que estava sendo construída acima da água. Nissa não compreendia por que o planinauta mental insistia em confiar nesta entidade sintética, com tantas possibilidades de imperfeições, quando o anel genuíno estava bem à frente dele. Com a cabeça curvada sobre a ilusão, Jace perdia a vista maravilhosa.

“É realmente lindo”, Nissa sussurrou para Ashaya. A elemental concordou.

Os edros começaram a brilhar quando os dois primeiros foram interligados. Agora, as runas entalhadas na superfície das rochas cintilavam poderosamente, em um padrão que trouxe memórias da primeira vez em que Nissa recebera visões de Zendikar.

Não era o único jeito que aquela noite parecia um ponto de culminação para Nissa. Era como se tudo o que ela fizera sua vida toda, todo o trabalho que teve, a trouxera até aqui.

Ela tinha jurado há muito tempo, feito uma promessa para Zendikar; esta era sua chance de dar fé às suas palavras.

“Calma… firmeza!” O clamor abrupto de Munda chamou a atenção de Nissa. “Soltem o contrapeso.”

Nissa e Ashaya assistiram a uma equipe, com quatro kor e humanos em uma rocha flutuante ali perto, rebaixar uma placa enorme presa ao edro por um sistema de polias. Quando o contrapeso desceu, o edro subiu na direção do anel.

“Cuidado agora… aí, bom,” Gideon andava de um lado para o outro na falésia. Nissa conseguia sentir a inquietação dele; Gideon queria estar lá, puxando, erguendo, empurrando – queria estar lá fazendo tudo o tempo todo. Ela sorriu; sentiu-se grata por Gideon ter vindo até Zendikar.

Repreensão de Gideon | Arte de Dan Scott

“Certo.” Gideon fez um sinal para uma terceira equipe de kor que estava alinhada pela represa. “Equipe do portão, puxe!”

A equipe puxou e o edro flutuou na horizontal pelo ar. Parecia uma nuvem escura, apesar de Nissa conseguir ouvir as cordas e polias que o suportavam. Aqui e e ali haviam lampejos de luz – mágicas para ajudar a colocar a rocha gigantesca no lugar certo.

Jace espiava entre sua ilusão e a realidade, conferindo constantemente se o edro estava no lugar. Nissa não precisava ver a ilusão; ela sabia quando estava certo. “Pronto,” ela sussurrou para Ashaya.

“Pronto!” O grito de Jace ecoou as suas palavras.

“E… parem!” gritou Gideon.

Essa parte do procedimento funcionava sem tropeços; o primeiro que fizeram levou um pouco de movimentação e bastante reajuste. Agora, as três equipes sabiam exatamente o que fazer. Eles puxaram e apertaram suas cordas em direções opostas, e o edro foi parando gentilmente. Quando se alinhou perfeitamente, ele se fez saber; só faltou estalar no lugar.

Gideon olhou para Jace. “Como está?”

“Perfeito,” sussurrou Nissa.

Jace estudou sua ilusão por mais tempo. “Local, bom. Altitude, boa. Diria que está bom.”

“Eu disse,” sorriu Nissa para Ashaya.

“Ótimo,” disse Gideon. “Primeira equipe, prepare suas cordas para o último movimento.” Ele se virou para Nissa. “Só precisamos de mais um.”

“E você o terá.” Ela estendeu sua vontade pelo terreno, sentindo a falésia esburacada em busca de outro edro. Era possível que eles tivessem de ir para o penhasco mais ao lado…

“Olhem lá! Olhem lá!” O grito irrompeu das árvores mais à frente. Nissa deu um pulo já com a mão sobre seu sabre, e uma das sentinelas aéreas, uma elfa montada em uma arraia, os sobrevoou.

Elfo Cavaleiro Celeste | Arte de Dan Scott

“Sybil!” Gideon chamou com o sural já desenrolado. “O que é?”

“Movimento nas árvores, naquela direção!” gritou Sybil. “Devem ser proles.”

“Sobrevoe de novo,” ordenou Gideon. “Preciso saber quantas são, e o tamanho delas.” Ele olhou para Nissa.

Ela assentiu, agarrada na empunhadura da sua espada. Ela estava pronta para ir. Com a aproximação do titã, todos sabiam que haveria mais proles; era apenas questão de tempo antes que uma delas infiltrasse suas fronteiras. Nissa continuou de olho na elfa que dava a volta, observando sua reação.

Sybil voltou sacudindo a cabeça. “Acho que foi alarme falso,” avisou.

“Se você ouviu, havia algo lá,” disse Gideon. “Eu confio em você. Mais uma passada.” Ele fez um círculo com o dedo.

Sybil deu mais uma volta, mas Nissa sabia o que a elfa diria quando voltasse.

“Negativo,” disse. “Não há nada além de chão queimado. Parece que era um acampamento antigo, ou algo do tipo. Não tem sinal de prole ou corrupção.”

“Certo. Confira com as outras sentinelas. Quero uma varredura completa do perímetro,” ordenou Gideon. “E chame outra cavaleira celeste.”

“Pode deixar.” Sybil se virou para voar, mas de repente, ela deu um grito e trouxe sua arraia de volta.

Por instinto, Nissa se pôs em uma posição defensiva de batalha.

“O que você vê?” chamou Gideon. “Onde está?”

Sem palavras, Sybil apontou para a frente.

Nissa seguiu o dedo da elfa. E foi então que ela viu o titã.

Ulamog, arauto da destruição.

Ulamog, a Fome Interminável | Arte de Michael Komarck

A primeira luz que nasceu no horizonte iluminou a forma do gigantesco Eldrazi.

Naquele momento, Nissa quase saltou para a rocha flutuante mais próxima, balançando-se na vinha dependurada um pouco além, e lançando-se diretamente no titã. Ela tinha sua espada, todo o poder do seu ódio, e agora ele estava com a guarda aberta.

Mas ela se segurou. Zendikar já pagara o preço por sua imprudência uma vez. Este titã estava devastando a terra porque ela o soltara das suas amarras. Este mundo e estes povos foram massacrados porque agira precipitadamente. Ela não permitiria que isso acontecesse uma segunda vez. Desta vez, faria tudo certo. Prendê-lo primeiro; destruí-lo em seguida.

Ela acalmou sua respiração e se forçou a embainhar sua espada. Sua hora chegaria. Ela olhou para Ashaya. “Precisamos de outro edro.”

Era tão difícil para a elemental quanto era para Nissa virar as costas para o titã, mas Ashaya se virou e deu passos largos sobre a rocha escarpada. Nissa mantinha o ritmo ao caminhar ao lado da elemental, estendendo-se pelo terreno enquanto andava em busca da última peça do enigma de Jace.

Jace gostava de imaginar que cada enigma tinha mais de uma solução. Era limitante pensar de outro modo, e ingenuidade supor que alguém que criara um enigma teria considerado cada solução possível e depois eliminado cada caminho para cada uma delas, exceto por uma. Ainda assim, ele não encontrava nem sombra de mais uma solução possível para o enigma à sua frente; até onde conseguia perceber, só havia um modo de prender Ulamog. Jace não estava acostumado a trabalhar sem planos de contingência. Isso o deixava inquieto.

Cada grito de sentinela deixava Jace tenso, correndo os olhos sobre a água em busca de Kiora e suas criaturas marinhas – mais uma variável que ele não tivera tempo de considerar adequadamente. Mas, felizmente, cada grito era nada mais do que um alerta para Tazri e seu esquadrão de defesa, sobre outra onda de proles que se aproximava. Jace deu meia risada consigo mesmo; ele acabara de considerar uma onda de proles Eldrazi como uma ocorrência de sorte.

Ele dedilhou o diagrama ilusório tridimensional que flutuava na sua frente, mantendo a cabeça baixa e desviando seu olhar da realidade. Ele sabia o que estava lá. Ele já o vira uma vez. E o ar parado, o quebrar das ondas, os sons de tentáculos rangendo eram o suficiente para confirmar que o titã estava perto de onde Jace estava, sobre uma rocha flutuante. Não havia por que olhar para cima.

Além disso, havia uma miniatura de Ulamog bem ali, em suas mãos. Ele fizeram uma ilusão do titã para colocar na ilusão do anel de edros. Ele avançava seu Ulamog com braços bifurcados se agitando através da abertura no anel de edros. Quando o titã estava lá dentro, Jace movia os pequeninos kor, humanos e elfos para puxar as cordas e encaixar a porta de edro no lugar. A porta era feita de três edros interligados, que estavam eficientemente presos em um lado da abertura no círculo. Tudo o que as pessoinhas tinham de fazer era guiar a porta até que ela se encaixasse e fechasse o anel. Quando eles fizerem isso – como ele simulava agora -, o anel de edros se acenderá com uma luz azul e viva, e o titã ficará preso lá dentro.

Ótimo.

De novo.

Jace apagou a ilusão como se fosse um quadro de giz, criando uma nova. Desta vez, Ulamog vinha em um ângulo que criava um desafio modesto. As pessoas em miniatura tiveram de girar o anel para que a porta se alinhasse com o movimento do titã.

Ótimo.

De novo.

Desta vez, ele aumentou a velocidade do titã – algo que não era provável que acontecesse, mas era necessário considerar todas as variáveis.

Ótimo.

De novo.

Ele dobrou o tamanho do titã, desanimado. Eles teriam de ampliar a porta.

Jace suspirou. Isso é um absurdo. Nunca aconteceria na realidade. Seus exercícios começaram a perder o sentido. Ele já simulara tudo uma dúzia de vezes, ou mais. A alternativa? Olhar para cima. Mas olhar para cima significava olhar para a versão real da sua ilusão. Olhar para cima significava ver as faces reais das pequeninas miniaturas. Uma das elfas era Nissa. Uma das tritãs era Jori En. E sobre uma rocha flutuante em frente ao anel de edros estaria outra figura – uma que Jace não incorporara na simulação porque não teria participação na completude do anel de edros. Aquela figura estava lá somente para, nas palavras dele, “ficar entre o titã e o Portão Marinho, caso algo dê errado.” Aquela figura era Gideon.

Gideon, Aliado de Zendikar | Arte de Eric Deschamps

Jace olhou para cima.

Lá estava ele, de pé, em frente à última civilização de Zendikar, o mago de combate ousado, que viera até Ravnica perto da morte para suplicar pela ajuda de Jace. Em outro momento, e em outro lugar. Jace não conseguiria ter previsto esse resultado quando largou a rosa de Liliana pela rua e seguiu o homem suado e ensanguentado. E agora cá estavam eles, prestes a realizar um feito que três planinautas extremamente poderosos levaram décadas para realizar.

E, ainda assim, Jace acreditava que eles conseguiriam.

O titã estava lá, o círculo estava montado e… Jace desviou o olhar de Gideon e olhou de volta para os edros no exato momento em que os Zendikari fizeram alguns ajustes de última hora no posicionamento da porta e Ulamog lançou-se para dentro.

Comemorações irromperam das equipes de cordas posicionadas entre os edros.

Foi quase fácil demais – quase.

“Segurem firme!” A voz grave de Gideon retumbava acima da comemoração. Ele chicoteou um dos tentáculos de Ulamog com seu sural, mandando-o de volta para dentro do anel de edros. Toda a frente e a maior parte dos tentáculos do titã já se moviam dentro da armadilha, mas as placas ósseas nas costas ainda não tinham passado para dentro. Só mais um pouquinho.

Em torno do titã havia massas de proles e rebentos da sua linhagem. Eles se moviam mais rápido do que seu progenitor e caíram sobre o Portão Marinho primeiro. Mas o exército de Gideon estava lá para enfrentá-los, e as forças de Zendikar estavam lutando firmemente. A represa fortificada permaneceu intocada. Jace teve de admitir que estava impressionado com a força bélica que Gideon havia coletado. E também estava impressionado com os próprios Zendikari. Nenhum deles escolhera fugir mesmo após ver Ulamog no horizonte; nem um deles.

Pintura de Guerra Goblin | Arte de Karl Kopinski

Era um exército capaz, e Gideon era um líder adepto. O que não significava que ele também não era um tolo. Nada além de uma ideia audaciosa fez com que decidisse ficar ali, de pé, naquela rocha, a apenas alguns metros da placa facial do titã.

“Ele entrou! Ele entrou!” O grito foi audível mesmo acima da cacofonia de ondas quebrando, ossos partindo e armas cortando.

Jace confirmou; sim, o titã estava no lugar.

“Vamos fechar!” Munda, o kor que costumava lutar ao lado de Gideon, foi quem gritou a ordem. “Time da porta, puxe!”

A equipe, que incluía Nissa e Jori, puxava cordas e conjurava suas mágicas, facilitando o encaixe da porta de edros. Mas ela se movia muito devagar!

As mãos de Jace flutuaram sobre a ilusão, abrindo e fechando a porta ilusória, abrindo e fechando. Todas as vezes, o anel de edros se iluminava e a miniatura de Ulamog ficava presa. “Vamos lá. Vamos lá.”

Ele olhou para Gideon, que agora estava cara a cara com o titã. O que o homem esperava conseguir realizar lá em cima? Ele tinha de saber que não conseguiria parar Ulamog sozinho. Se o plano falhasse, se a armadilha não funcionasse, então Gideon seria o primeiro naquele exército a ser reduzido a poeira.

Ulamog se aproximava, braços bifurcados debatendo na direção de Gideon, que empunhava seu sural, cortando um braço nodoso e azulado para longe, e depois outro. Ele não deu nenhum passo para trás; na verdade, ele se movia para a frente na rocha, cada vez mais perto do titã. O que ele estaria pensando agora, olhando diretamente para a placa facial sem feições de Ulamog, vendo o monstro que não o via? Como deve ser essa sensação? Jace não estava nem um pouco tentado a descobrir.

Sem conseguir mais olhar, ele acompanhou a linha de edros de volta até a porta. A equipe quase terminara de completar o círculo. Finalmente! Ele o comparou com sua ilusão. Faltam mais alguns centímetros…

“Sim! Aí!” gritou Nissa da sua posição, dependurada em uma vinha.

Sua declaração surpreendeu Jace. Será que ela estava certa? Ele olhou da ilusão para o alinhamento real, estudando os dois, comparando a localização. Parecia que a elfa estava correta. Mas sem o diagrama, como…

“Jace!” chamou Gideon. “Deu aí?” Sua voz não dava sinal algum de tensão, uma contradição auditiva à tensão em sua face ao empurrar a extensão do queixo ósseo de Ulamog. “Eles podem trancar?”

Ah, certo. Eles tinham de esperar Jace dizer que os edros estavam alinhados como no diagrama. “Sim! É isso. Trancar!”

“Trancar!” Munda ecoou o grito de Jace.

Em resposta, três kor desceram de rapel pelo lado do edro que tinha sido a soleira temporária daquele portão, prendendo a última ligação que faltava. Quando os kor esticaram suas cordas no lugar, Nissa usou uma mágica para colocar aquele edro no alinhamento perfeito e… Jace prendeu a respiração. A luz. Cadê a luz?

O anel de edros não se iluminou com vida como deveria.

E o titã não estava preso dentro das suas amarras.

Gideon se agachou sob outro dos tentáculos de Ulamog que tentavam golpeá-lo. “Deu já?”

“Por que não está brilhando?” gritou Munda.

Jace piscou os olhos para a simulação que ainda flutuava sobre a palma da sua mão. Ele abriu e fechou a porta ilusória. O círculo de edros ilusório brilhava. Ele olhou para a ilusão e para o alinhamento real algumas vezes. Por que não estava brilhando? Ele se equilibrou nos calcanhares. O que estava faltando?

“Tem algo fora do lugar!” Nissa o chamou. Ela corria a mão ao longo do edro mais próximo. Ela pressionou a bochecha ao lado da rocha gigantesca. “O alinhamento está errado.”

Será que ela estava certa? Com base em suas habilidades já demonstradas, que Jace admitia não compreender por completo, será que ele deveria apenas supor que estivesse certa? No mínimo, deveria eliminar a possibilidade levantada por ela antes de tentar outra coisa. Ele não tinha alternativa melhor. Seus olhos traçavam o diagrama e os edros, marcando um edro por vez. Sim, sim, sim. Cada um deles estava onde deveria – ainda assim…

“Acho que está vindo dali!” Nissa apontou na direção dos edros mais próximos do Portão Marinho.

Como… Jace girou a ilusão em 90 graus. O que ela estava vendo que ele não via? Ele calculara tudo. Ele medira o alinhamento.

“Jace!” gritou Gideon. “O que você pode me dizer?” O homem gigantesco deu uma pancada seca sob o braço de Ulamog e cortou uma linha na placa óssea peitoral do titã.

Jace passou a mão pelos cabelos. Era culpa dele. A vida de Gideon. O destino de Zendikar. Este era o enigma que ele viera até aqui resolver, mas não tinha a solução. Ele não fazia ideia de qual edro era, ou mesmo se havia um edro fora do lugar. Ele girou a ilusão para longe… e Nissa a pegou ao pousar na rocha flutuante ao lado dele.

“O q…” Jace cambaleou para trás.

“Eu consigo perceber que vem de lá”, ela disse. Nissa tinha de gritar acima dos sons de água e guerra, mesmo estando bem ao lado dele. “Não sei dizer qual é, não dessa distância. Tenho de ver a montagem toda de uma vez, todas as conexões. Eu teria de subir lá na falésia, mas…”

“Não temos tempo para isso,” completou Jace.

“Correto.” Os olhos verdes e brilhantes de Nissa o penetravam. “Mas acho que existe outro meio. Mais conveniente.” Ela apontou para a ilusão. “Esse diagrama de energia sintética nos permitirá ver.”

“Como assim?”

“Você tem confiança de que não há nenhum erro?”

“Na minha ilusão?”

“Posso ver?” ela tocou a própria cabeça. “Daqui.”

Ela estaria convidando-o para dentro da mente dela?

Um grito acima do ombro dela – Jace olhou a tempo de ver um kor ser atingido por um tentáculo traseiro de Ulamog, tombando até o chão.

Nissa não se virou. Ela pousou a mão sobre o ombro de Jace, puxando seu olhar de volta aos olhos magnéticos dela. “Se houver um meio de identificar o alinhamento errado, devemos agir rápido. Se você não me permitir fazer isso, não terei escolha a não ser enfrentar o titã e tentar destruí-lo sem a armadilha. Eu não quero ter de fazer isso.”

Jace sacudiu a cabeça. “Eu não quero que você tenha de fazer isso.”

“Então, concordamos,” disse Nissa.

Certo. Então, para dentro da mente da elfa. Jace suspirou e olhou dentro dos olhos selvagens e verdejantes de Nissa… e, então, de dentro deles.

Era como se o mundo todo estivesse em chamas – se fogo fosse verde. Primeiro, Jace pensou que o círculo de edros tinha finalmente iluminado, mas depois notou que não era o círculo que brilhava. Era a rede de linhas de força que corria entre cada par de edros. As linhas se entrelaçavam em um padrão intricado e complexo demais para reduzir a uma equação simples – ou até mesmo a uma equação…

O padrão iluminava o espaço acima do mar, mas os edros não eram as únicas coisas que brilhavam, longe disso. Tudo. Tudo estava ligado a outra coisa por uma linha de poder. Os Zendikari segurando as cordas, Gideon aumentando sua base em frente ao titã, a arraia da cavaleira celeste batendo suas asas acima, a árvore à sua direita, a rocha sob seus pés. Era coisa demais para processar, muito para compreender.

A mente de Jace engrenava a toda. Ele perdeu a linha e começou a cair da mente de Nissa. Ele tentou se segurar, mas onde deveria saber que podia se segurar?

Segure aqui. Era a voz de Nissa, e com ela veio o que parecia um ninho de apoio. Como ela fazia isso? Jace segurou a mão invisível e não caiu.

Concentre-se, disse ela. Concentre-se em uma coisa de cada vez. Ela direcionou a atenção dele para o diagrama ilusório.

Jace respirou fundo, concentrando-se apenas em uma coisa, apenas na ilusão. Ele ainda podia ver o caos das linhas de força na periferia do seu campo de visão, mas a ignorava.

Isso, disse Nissa. Ela estendeu o braço para tocar a ilusão. Posso?

Por que não? Vieram até aqui… Sim.

Nissa segurou dois lados do círculo de edros e tomou a ilusão em suas mãos. Jace permitiu que a mente dela a guiasse enquanto ele mantinha seu formato. Ela puxou para fora, abrindo seus braços e esticando a ilusão, ampliando o círculo e aumentando os edros.

Você fez todos os cálculos?, ela perguntou. Você tem certeza absoluta de que está correto?

Sim, respondeu Jace. Estou muito confiante que tudo está onde deveria, mas…

Então, isso vai dar certo. Nissa lançou a ilusão para o mar, expandindo-a na direção do círculo de edros reais.

O controle dela sobre a ilusão era trêmulo e desajeitado, mas Jace entendeu imediatamente o que ela estava tentando fazer. Seu coração pulou. Genial. Ele tomou o controle, direcionando habilmente a ilusão no lugar, aumentando-a precisamente até o tamanho real, deixando cada edro ilusório do tamanho da sua contraparte de pedra. Nissa não sabia como alinhá-los, mas ele sabia. Cada um deles encontrou seu lugar – exceto por um deles.

Ali. Nissa o notou ao mesmo tempo que Jace. O edro estava inclinado; ele deve te se mexido pouco depois de ter sido cuidadosamente colocado no lugar.

Temos de… começou Jace, mas Nissa já estava saltando na direção do edro fora do lugar. Ela soltou a mente dele ao saltar da primeira rocha – ela soltou a mente dele, e não o contrário. Ela não o expulsara exatamente, mas ele não pensava que teria ficado, se quisesse. Era algo poderoso. Esta elfa era poderosa.

Jace cambaleou, de volta nos próprios pés, olhando com seus próprios olhos para um mundo sem graça. A rede sumira, as ligações desapareceram. O caos desvanecera. Era ao mesmo tempo alívio e decepção. Era uma sensação estranha saber que havia tão pouco – das linhas de força, do mundo – que ele podia realmente ver.

A única coisa que Gideon conseguia ver era osso branco e serrilhado: a placa facial óssea de Ulamog. O titã estava perto demais; a armadilha já deveria tê-lo segurado; a essa hora, ele já deveria estar contido. Mas algo dera errado.

Gideon se preparara para este momento desde a primeira vez que ouvira Jace explicar o plano. Ele acreditara que funcionaria, confiara no mago mental – e ainda confiava -, mas ele sempre soube que havia uma possibilidade de algo dar errado. Jace também sabia. Era por isso que Gideon se posicionara ali, sobre aquela rocha. Ele era a última linha defesa. Ele estava entre o Portão Marinho e Ulamog, e ficaria em sua posição pelo tempo que fosse necessário para que segurassem a armadilha.

E se não conseguissem armá-la, se fosse o caso, Gideon ordenaria uma evacuação. E seguraria o titã aqui, até que seu exército chegasse em um lugar seguro. Mas não era hora disso ainda. Ele podia segurar um pouco mais. Eles só precisavam de um pouco mais…

Um dos tentáculos de Ulamog voou pelo ar, na direção de Gideon. Espirais de invulnerabilidade irromperam sobre sua pele, antecipando a colisão.

Gideon absorveu o golpe, cerrando os dentes sobre todo peso. Um segundo tentáculo lançou-se violentamente pelo outro lado. Ele mudou seu foco de proteção.

Quanto tempo mais deveria esperar? Gideon rasgou alguns dos dedos de Ulamog. Só mais um pouco…

O titã se inclinou para a frente, se assomando na direção de Gideon, que cravou seus pés na rocha e olhou diretamente para onde imaginava que deveriam ser os olhos do titã. “Você não vai passar por mim.” Ele virou o ombro para dar de encontro com o peitoral de Ulamog, concentrando todo o seu poder naquele único ponto de impacto. Gideon manteve a base, segurando cada músculo do corpo, empurrando de volta.

Era como se o peso de um mundo inteiro estivesse sendo apoiado contra ele.

Gideon sentiu seus pés começando a escorregar. Seria a hora? Ele abriu a boca para dar a ordem, mas a fechou. Podia segurar só mais um pouco. Eles só precisavam de um pouco mais…

Gideon apertou os olhos, lançando um rugido alto de esforço.

Ele estava perdendo terreno.

E, então, de repente, um lampejo azul iluminou suas pálpebras por dentro e a pressão sobre seu ombro desapareceu.

Gideon cambaleou para frente com o impulso que segurava o peso do titã. Ele recuperou o equilíbrio antes de tombar da rocha flutuante… O que significava que não havia mais nada na frente dele para segurar sua queda. Ele não estava mais frente a frente com o titã.

Ulamog foi puxado para dentro das amarras da prisão de edros – e a prisão brilhava em azul. O brilho inundava o Portão Marinho, afogando a sombra do grande Eldrazi.

Rede de Edros Alinhados | Arte de Richard Wright

“Rá!” Ele chicoteou o ar com seu sural. Eles conseguiram. Ulamog estava preso.

A comemoração irrompia atrás dele, enquanto Nissa pousava graciosamente na rocha ao lado dele, deixando uma vinha pendurada voltar ao seu lugar. “Nós conseguimos,” ela falou.

“Nós conseguimos,” concordou Gideon, encontrando os olhos de Jace do outro lado da baía. “Nós conseguimos.”

Do seu posto sobre um desfiladeiro, Ebi gritava em júbilo. Eles conseguiram. O titã. Ulamog. Preso. Ebi cambaleou para trás com lágrimas nos olhos. Ainda havia esperança. Ainda havia uma chance de salvar este mundo.

Um grito ecoava dos Zendikari mais abaixo, e Ebi uniu sua voz à deles. “Por Zendikar!” Enquanto ele socava o ar, uma sombra caiu. Antes que ele conseguisse olhar para cima, um demônio pousou na rocha à frente dele.

Ebi lançou sua arma, mas o demônio segurou seu braço no ar. “Infelizmente, parece que você está no lugar errado, na hora errada.” O demônio empurrou Ebi contra a face rochosa atrás dele, com sua mão espessa em torno do pescoço de Ebi.

Ebi tentou gritar. Ele tinha de avisar os outros. Ele era uma sentinela. Gideon contava com ele.

Garras do Demônio | Arte de David Gaillet

“Shhh.” O demônio apertou. Ebi podia sentir sua vida sendo drenada. “Console-se como puder, sabendo que você não estará aqui para testemunhar a desgraça de Zendikar.”

O mundo ficou escuro.

Traduzido por Meg Fornazari

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