Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

AJANI, MENTOR DOS HERÓIS

Uma brisa morna, levemente tocada pelo cheiro de azeitonas e pelo mar distante, agitava o pelo de Ajani. Ela sussurrava pela curta grama amarelada e pelas folhas verdes brilhantes das árvores robustas e desgastadas pelo tempo.

De todos os mundos que ele visitara, em Theros era onde ele mais se sentia em casa. Até mesmo seu plano natal, Naya, não era mais o mundo que ele conhecera, tendo se fundido com os outros quatro fragmentos de Alara e formado um novo mundo – inteiro, porém adoecido. Mas Theros, protegido por entidades poderosas e ancestrais, parecia imutável. Os nativos os chamavam de deuses, e era difícil argumentar em contrário.

Elspeth parecia achar aquilo reconfortante, pensar que mentes maiores que as de qualquer mortal estavam cuidando dela. Ajani achava a ideia menos atraente. Uma amarga experiência lhe ensinara que qualquer ser suficientemente poderoso para ser adorado como deus também era suficientemente poderoso – ou, pelo menos, provavelmente – para destruir um mundo, ao invés de protegê-lo. Os behemoths-deuses de Naya eram apenas bestas irracionais, seus movimentos definiam padrões de migração natural em vez de inspiração divina. O dragão planinauta Nicol Bolas, cujo poder era realmente divino, manipulara séculos de desenvolvimento religioso e político nos fragmentos de Alara para facilitar seus objetivos egoísticos e destrutivos.

Ainda assim, Ajani não podia negar o poder e a majestade dos deuses de Theros, nem a beleza do plano que eles guardavam. No fim, talvez Elspeth estivesse certa.

Ajani caminhou o restante do dia, passando por colinas cobertas de arbustos e subindo montanhas, até sentir o cheiro familiar dos leoninos. Seu povo estivera ali recentemente. Ele ainda estava a horas de distância do que ele lembrava ser o território deles, mas não seria surpresa se eles tivessem se expandido.

Planície | Arte de Adam Paquette

Ele acampou sob a luz fraca, sem cobertura ou subterfúgio. Seu pelo branco brilharia como um farol na escuridão, e, se houvesse algum leonino aqui, eles o encontrariam.

Quando o sol se pôs, as estrelas surgiram, e Ajani olhou para cima, ansioso para ver o espetáculo de luz e cor que se exibia no céu todas as noites, histórias de deuses e figuras míticas ecoavam em constelações que se moviam vagarosamente. O fenômeno era único em Theros, e era lindo.

Mas não nesta noite. Nesta noite, as estrelas estavam friamente indiferentes, o espaço entre elas era escuro e vazio. Pior ainda, em um canto do céu, havia apenas o vazio, um vazio onde nenhuma estrela brilhava. Ajani se perguntou o que teria acontecido, e o que Elspeth pensaria sobre aquilo.

Elspeth. Seus pensamentos continuavam voltando para ela. Ele sabia que ela havia saído de Dominária e ido para o mundo metálico de Mirrodin. Ajani conhecia os leoninos daqui e planejara visitá-los – o que era uma desculpa para procurar por ela, se ele fosse totalmente honesto.

Então, outros planinautas espalharam a notícia: Mirrodin está morto. Phyrexia retornou. Pelo bem desse e de cada outro mundo, não ponha os pés lá.

Ele temeu por Elspeth, e ainda mais por seus amigos em Mirrodin. Mas manteve a esperança. Mesmo quando os mundos morriam e os céus escureciam, ainda havia esperança.

Talvez Elspeth ainda estivesse viva.

O pensamento era um conforto em que ele se agarrava enquanto adormecia.

Ele acordou, piscando ao amanhecer, olhando para um enorme machado empunhado por uma jovem leonina com pelo cinza. Suas orelhas estavam firmemente dobradas para trás. O mais leve farfalhar no mato lhe disse que havia mais dois leoninos o cercando.

“Identifique-se,” disse a jovem fêmea.

“Você é Seza,” disse Ajani, bocejando, “e da última vez que estive aqui, você era jovem demais para sair em patrulha.”

Os olhos de Seza se arregalaram e suas orelhas se ergueram.

“Ajani?”

Ele sorriu.

“Pelo branco. Um olho. Machado grande. Quem mais?”

Ela abaixou o machado e sorriu timidamente. Ajani se sentou, esfregando seus olhos.

“Eu tinha que ter certeza,” ela disse. “Existem coisas estranhas na selva hoje em dia.”

Arte de Adam Paquette

Ela sinalizou para seus companheiros.

“Este é Ajani Juba D’ouro, um amigo de Oreskos.”

Dois outros guerreiros, também fêmeas, saíram de trás de Ajani.

“Aletha!” ele disse, batendo a mão no ombro da mais alta. “E… me perdoe. Você é?”

“Koila,” disse a terceira leonina. Ela olhou para Seza, que assentiu com tranquilidade. “Eu cresci nos campos e apenas recentemente vim para Tethmos.”

“Koila,” ele repetiu, fixando o nome em sua mente, junto à imagem de seu pelo dourado e a cicatriz acima do nariz.

“Venha,” disse Seza. “Vamos levá-lo para Tethmos. Você precisa ver o que Brimaz fez com o lugar.”

“Brimaz!” disse Ajani. “Brimaz é o rei? E Seza lidera patrulhas. Eu realmente fiquei longe por tanto tempo assim?”

Os quatro leoninos caminharam juntos. Aletha sempre foi quieta e Koila provou ser mais ainda, então a conversa era principalmente sobre Seza atualizando Ajani a respeito dos acontecimentos entre os leoninos de Oreskos. A rainha, Omala, morrera em batalha contra os humanos. Brimaz, seu sucessor escolhido, recusou-se a vingá-la, uma escolha controversa que acabou por lhe render mais amigos do que inimigos.

Quando Ajani estivera por aqui antes, era evidente que Brimaz poderia ser rei algum dia. Ajani passou longas horas conversando com o jovem sobre a importância da convivência com a humanidade. Talvez suas palavras tivessem se enraizado nele.

Na fronteira do território da patrulha, seus companheiros se afastaram para uma breve conversa, em voz baixa. Quando acabou, Aletha e Koila se despediram dele e se viraram, enquanto Seza gesticulou para que ele continuasse caminhando.

“Eu não quero te tirar do seu dever,” disse Ajani, embora estivesse grato pela companhia. “Eu conheço o caminho para Tethmos.”

Seza balançou a cabeça e deu um passo para o lado dele.

“Não é isso. As coisas estão perigosas ultimamente. Os minotauros estão em uma área maior do que a habitual. E não há como prever o que os humanos farão, agora que…” Ela gesticulou para o céu iluminado pelo sol e vacilou.

“Você sabe alguma coisa sobre isso?” ele perguntou.

“Não muito,” disse Seza. “Um dia, os deuses simplesmente… foram embora. Irritados com os mortais, dizem os humanos. Tudo o que eu digo é boa viagem.”

“E eles deixaram aquele anel branco no céu?”

Ela olhou para ele por um momento, mas em sua visita anterior ele já havia ganhado a reputação de fazer perguntas estranhas.

“Isso apareceu há alguns dias,” ela disse. “Nosso contador de histórias chama de Fosso do Oblívio, mas ele é tão ignorante quanto qualquer outro sobre o que realmente é aquilo.”

Agora eles estavam dentro das fronteiras de Oreskos, a cidade dos leoninos. No entanto, o sol se pôs e as estrelas, estranhas e dispersas, surgiram assim que os dois atingiram uma elevação e viram as fogueiras do covil de Thetmos, o maior assentamento leonino de Theros. A maioria dos leoninos era nômade – a maioria dos leoninos em qualquer lugar era, pelo menos, parcialmente nômade, o suficiente para que Ajani considerasse como parte de sua natureza – de modo que até seu maior assentamento dificilmente poderia ser chamado de cidade. Ainda assim, era maior do que ele se lembrava, com menos espaço aberto dentro de suas paredes pintadas.

Seza e Ajani não eram estranhos e os portões estavam abertos. Eles caminharam sem preocupação. Seza falou com um guarda próximo, e os dois foram conduzidos até o salão do rei.

Havia um fogo rugindo no meio do grande salão e um javali assando sobre ele, o ar preenchido com o cheiro suculento de carne tostada. Um grupo de leoninos sentou-se ao redor do fogo. O maior e mais novo deles estava sentado de frente para a entrada, e se levantou quando Ajani e Seza entraram.

Ajani era alto para sua espécie, mas Brimaz era mais alto. O adolescente desengonçado da memória de Ajani tinha crescido com ombros largos e autoconfiança, com feições agudas e uma juba cheia e fluida. Brimaz usava roupas refinadas e uma coroa fina e denteada, concessões à sua posição, mas o conjunto de cicatrizes em seu ombro exposto o marcavam como um líder que não recuava nas linhas de batalha.

“Brimaz, velho amigo!”

Brimaz deu um passo à frente, de modo que Ajani teve que esticar o pescoço para olhar o rosto do rei.

“Rei Brimaz, agora”, ele roncou.

Não houve som, além do crepitar do fogo.

Brimaz, Rei de Oreskos | Arte de Peter Mohrbacher

Ajani olhou nos olhos dourados de Brimaz. Poucas pessoas conseguiam olhar diretamente no olho direito, azul-claro, de Ajani e no emaranhado de cicatrizes que outrora fora seu olho esquerdo, mas Brimaz nunca se esquivara.

O canto da boca de Brimaz se contraiu.

Ajani se permitiu sorrir.

Brimaz bufou e logo os dois leoninos riram e se abraçaram.

“É rei, agora?” disse Ajani, sobre o jovem monarca à sua frente. “Devo chamá-lo de ‘Sua Majestade’?”

“Fah,” disse o rei. “Brimaz serve. Mas eu te deixei preocupado, não deixei?”

“Nem por um momento,” disse Ajani.

“Claro que não,” disse Brimaz, com os olhos brilhando. “Sente-se. Coma. Tenho certeza que você viajou de longe.”

Brimaz não estava plenamente ciente da verdadeira natureza de Ajani como um planinauta, mas ele certamente sabia que a origem do velho leonino e suas constantes viagens não tinham nada a ver com qualquer lugar do qual os leoninos de Oreskos já tivessem ouvido falar.

“É bom estar de volta,” disse Ajani.

Ajani e Seza tomaram seus lugares. Um dos conselheiros do rei tirou pedaços de carne escorregadia do javali que tostava no fogo e entregou aos recém-chegados. Agradecido, Ajani mordeu a carne suculenta; gordura escorreu pelo seu queixo.

“Meus agradecimentos por sua hospitalidade,” ele disse com a boca cheia de comida. Visitante querido ou não, tratar de negócios antes do sustento era uma ofensa pela qual nem mesmo ele seria perdoado.

Houve algumas conversas ao redor da fogueira, nenhuma sobre questões importantes. Apenas quando Ajani estava lambendo a gordura de suas patas, ele começou a falar.

“Como eu disse, é bom estar de volta.”

“Mas não é por isso que você retornou para nós,” disse Brimaz, sorrindo. “Você veio me aconselhar, me pedir algo, ou me incitar à ação. Eu me lembro dos modos de Ajani Juba D’ouro, estranhos e amistosos.”

Ajani sorriu.

“Você me conhece muito bem,” disse ele. “Algum dia, talvez, eu venha aqui apenas para ver meus amigos. Valeria a pena essa viagem. Agora, porém, você está certo. Estou aqui em busca de sua ajuda.”

“Ajani é um amigo de Oreskos,” disse Brimaz. “Que ajuda você precisa?”

“Eu estou procurando por uma amiga minha, uma humana,” disse Ajani. “Seu nome é Elspeth.”

“Ela é como você, de longe?”

Ajani assentiu.

“E ela está com problemas?”

“Se ela está aqui,” disse Ajani, “espero que isso signifique que ela não está mais com problemas.”

“Mas se ela é como você,” disse Brimaz, “imagino que os problemas tenham o hábito de encontrá-la.”

Ajani assentiu novamente.

“Você deveria falar com Lanathos,” disse Brimaz. “Ele é um cronista humano que está tentando aprender sobre nossos hábitos.”

“Isso significa que você está seguindo meu conselho sobre reconciliação?”

O restante dos leoninos ao redor da fogueira estiveram falando entre si, contentes em deixar o rei e seu velho amigo falarem em uma aparência de privacidade. Agora eles estavam quietos, as orelhas inclinadas para a frente, escutando.

“Estou, onde parece prudente,” disse Brimaz. “Mas aconteceu, Lanathos veio até nós. Nem todos confiam em seus motivos,” – um olhar, para alguns ao redor da fogueira – “mas ele é inofensivo. Ele nos conta suas histórias e ouve as nossas. Eu não sei por que ele acha que nossa companhia valiosa, mas um humano que ouve nossas queixas é revigorante o suficiente para deixá-lo ficar. Ele falou com comerciantes humanos recentemente, então, talvez ele tenha ouvido alguma notícia de sua amiga.”

“Há muito que eu quero perguntar,” disse Ajani. “Sobre seu povo, velhos amigos, o céu…”

“…mas você está preocupado com sua amiga,” disse Brimaz. “Vá. Fale com Lanathos. As novidades podem esperar.”

Lanathos, o Cronista, era um homem de idade, cujo pescoço e queixo estavam cobertos de cicatrizes de queimaduras. Seu cabelo branco era repartido, ele estava parado em frente a uma lareira e contava sua história com a paixão e a intensidade de um mestre contador de histórias.

“…e assim Polukranos retornou!” gritou Lanathos. “Expulso de seu lugar em Nyx pela fúria descontrolada de Púrforo.”

Lanathos olhou profundamente para o céu estrelado e revirou os olhos exageradamente. Essa irreverência o colocaria em um tribunal em qualquer uma das pólis humanas. Mas aqui, os leoninos riram. Ou o homem estava brincando com a audiência, ou era tão iconoclasta quanto eles. Ajani imaginou o quão diferente teria sido aquela história quando Lanathos a ouvira.

“Vocês todos sabem o que aconteceu depois – como Niléia e Heliode prenderam Polukranos sob a terra, para adormecer lá eternamente e deixar o mundo mortal em paz.”

Polukranos era uma espécie gigante de hidra celestial que tinha que ser amarrada nas estrelas para manter os mortais a salvo. Ajani ouvira a história de sua queda e aprisionamento da última vez que estivera aqui.

Polukranos, Devorador de Mundos | Arte de Johann Bodin

“Mas, meus amigos, os deuses têm uma definição diferente da que eu e você temos para ‘eternamente’. “Pois Polukranos despertou para ameaçar todos de Theros mais uma vez!”

Agora havia murmúrios de genuíno alarde, como se Polukranos pudesse avançar sobre o horizonte a qualquer momento. Ajani sorriu. Quando se dignavam, os leoninos eram um bom público.

“Em eras passadas, ele devorou uma cidade inteira, e nada menos que uma cidade saciaria a fome de suas cinquenta cabeças,” disse Lanathos. “Meletis, agora, seria o alvo de seu poder selvagem!”

Mais murmúrios na multidão. Um aplaudiu, mas foi rapidamente silenciado. Foi Meletis que escravizara os leoninos, há muito tempo. Eles a consideravam como sua verdadeira pátria, e muitos esperavam um dia recuperá-la O pensamento da cidade em perigo, mesmo em uma história, parecia cortar dos dois lados.

“A terra tremeu com seus passos e lagos se formavam em suas pegadas. Ele devorava tudo em seu caminho, alvoroçando a Floresta Nessiana até o Planato dos Quatro Ventos, onde o tirano Agnomakhos foi derrotado. Nada ficava entre Polukranos e Meletis. Nada… exceto a Campeã do Sol!”

A multidão aplaudiu. Ajani não ficou surpreso ao ouvir que esta era uma história da Teríada, sobre a meio-mítica Campeã do Sol. Apesar de ser abençoada pelo principal dos deuses humanos, a Campeã era uma figura popular entre os leoninos, e Ajani ouvira muitas histórias da Teríada em sua visita anterior. Talvez fosse porque as histórias da Campeã, ao contrário das histórias dos deuses que eram populares em territórios humanos, eram focadas nos atos dos mortais em vez das brigas dos deuses. A Campeã tinha a benção de Heliode, mas as provações eram apenas suas.

“Lá estava ela!” disse Lanathos. “Armadura brilhante, lança elevada, manto branco chicoteando aos quatro ventos. Ela caminhou para frente e gritou em desafio, e as cinquenta cabeças da hidra se viraram para ela. Agora, a Campeã era uma estranha para essas terras. Meletis não era sua cidade. Mas ninguém mais estava lá para defendê-la, e a Campeã não a deixaria cair.”

“Ela era um ponto diante do grande corpo de Polukranos, que nem os deuses podiam matar. Mas ela tinha uma arma, uma arma que Polukranos nunca havia enfrentado: uma lança forjada por Púrforo, abençoada por Heliode, brilhando com a luz do sol e a vontade da Campeã. Ela mirou sua lança e avançou.”

“Polukranos viu aquela mortal solitária que se atrevia a enfrentá-lo, e despertou sua fúria. Ele escancarou uma boca e engoliu a Campeã inteira!”

Os leoninos ofegaram. Ajani franziu a testa. Era este o fim da Teríada? Eles nunca tinham ouvido antes?

“Ah,” disse Lanathos, “mas a Campeã do Sol era sábia e poderosa, e ela provou ser muito difícil para Polukranos devorar. Assim que ele a engoliu, ela atacou com sua lança e cortou a cabeça da hidra, quase a decepando. Ela saltou para a segurança, e a cabeça ficou mutilada, mas não totalmente cortada, incapaz de crescer novamente.”

Arte de Tomasz Jedruszek

“Durante dias eles lutaram. Toda vez que Polukranos, em sua raiva irracional, tentava engolir a Campeã, ela cortava seu caminho e deixava outra cabeça inutilizada. Os deuses assistiam, impotentemente ligados ao Silêncio de Crufix, enquanto uma mortal matava seu prezado animal de estimação uma cabeça por vez.”

Ajani se perguntou se esse “Silêncio” era algo parecido com o que estava acontecendo agora no céu. Não o surpreenderia se tais coisas tivessem acontecido anteriormente. A memória dos deuses de Theros era longa e os deuses, indisciplinados.

“Finalmente, a Campeã enfrentou a última cabeça do poderoso Polukranos. Ele aprendera que engoli-la só lhe causaria dor. Ele tentou pisar nela, mas ela posicionou sua lança para espetar suas patas poderosas. Ele atacou com sua cauda, mas ela simplesmente se esquivou. Quando ele vacilou, ela subiu em sua cauda, correu sobre suas costas, subiu na última cabeça e enfiou a lança nos seus olhos.”

“Polukranos, devorador de poleis, amado pelos deuses, não existia mais. Tudo o que restou no platô silencioso foi a Campeã de Heliode, sua lança brilhando na luz do sol.”

Lanathos fez uma reverência expansiva, e os leoninos murmuraram sua apreciação. Sem dúvida, o contador de histórias entendeu que os leoninos eram muito mais contidos do que o público humano.

Quando a multidão se dispersou, Ajani dirigiu-se ao cronista.

“Uma boa história,” ele disse.

Lanathos se curvou.

“Meu nome é Ajani. Os leoninos de Oreskos me consideram um amigo, e eu fico feliz em ver que eles também te consideram assim.”

Lanathos riu.

“Amigo para a maioria,” ele disse. “Praga, charlatão e espião para os outros. Como acontece com qualquer coisa, depende de quem está contando a história. Mas parece que eu tenho a confiança do Rei Brimaz, e isso é suficiente para a maioria das pessoas.”

“É o suficiente para mim,” disse Ajani. “Eu estava esperando que você pudesse me ajudar a encontrar uma amiga, uma humana. Seu nome é Elspeth.”

“Esse é um nome incomum,” disse Lanathos. “Então, Ajani, por falar nisso. De onde você disse que é?”

Sempre são os contadores de histórias que perguntam, pensou Ajani.

“De longe,” disse Ajani. “De além das montanhas, e ainda mais longe.”

Ele pensava que era uma resposta inócua, mas pôde dizer imediatamente que havia falado demais. Os olhos brilhantes de Lanathos se arregalaram.

“Existem pessoas do outro lado das montanhas? Leoninos e humanos? Eles têm cidades? Templos? Conhecimento dos deuses?”

Ajani levantou a mão e Lanathos parou com sua litania ofegante.

“Mais tarde,” disse Ajani, “talvez, eu possa responder às suas perguntas.”

O rosto de Lanathos se avermelhou – algo como abaixar as orelhas em vergonha, Ajani aprendera, embora houvesse nuances de expressão humana que ele ainda não compreendia.

“Claro,” disse o cronista. “Você está procurando por sua amiga.” Ele esfregou o queixo marcado pelas cicatrizes. “Sinto muito desapontá-lo, mas sou o único humano em toda Oreskos que conheço.”

Brimaz disse que você falou com comerciantes humanos recentemente. Você ouviu algo sobre um recém-chegado nesses territórios, uma mulher solitária que falava estranhamente e carregava uma espada?”

Lanathos piscou.

“Claro que sim. Você acabou de ouvir a história que eles me contaram.”

As orelhas de Ajani giraram para trás, por vontade própria. O velho humano estava contando uma piada?

“Eu estou procurando minha amiga,” ele disse. “Não a Campeã do Sol.”

“O que faz você pensar que sua amiga não é a Campeã do Sol?”

Ajani deixou suas orelhas caírem inteiramente.

“Eu ouvi histórias da Teríada na última vez que estive aqui,” ele disse. “Sobre a Campeã treinando com centauros, e vivendo entre os leoninos. Minha amiga está aqui agora, e ela nunca fez nada disso.”

“Ajani, você está falando sobre a Teríada como se ele falasse sobre uma única pessoa.”

Ajani respirou fundo e soltou o ar.

“Sim,” ele disse. “Eu estou. Lembre-se, eu sou de uma terra distante. Se eu entendi mal, por favor, explique.”

“A Teríada é sobre a Campeã do Sol,” disse Lanathos. “Mas isso não é uma pessoa. É um título, concedido por Heliode a um mortal digno em tempos de grande necessidade. A história da Teríada é a história de todos eles, desde o primeiro – quem quer que tenha sido – até a mais recente, a mulher que matou Polukranos.”

Arte de Tyler Jacobson

Alguma coisa não se encaixava.

“A mais recente,” murmurou Ajani. “Você contou essa história como se…”

Seus olhos se arregalaram.

“Há quanto tempo?”

“Recentemente,” disse Lanathos. Muito recentemente. Durante o Silêncio dos deuses, talvez um pouco antes.

Quão rapidamente Theros transformava eventos em história, e história em mito!

“Na sua história, a Campeã lutou com uma lança,” disse Ajani. “Eu nunca soube que Elspeth carregava uma.”

Lanathos encolheu os ombros.

“Os detalhes são como roupas, as pessoas trocam para mantê-los diferentes. Quando ouvi a história, era uma lança. Quando os comerciantes que me contaram ouviram pela primeira vez, talvez fosse uma espada.”

“E o lugar?” perguntou Ajani. “O Planalto dos Quatro Ventos. Você acha que ela realmente estava lá?”

“Talvez não no próprio planalto,” disse Lanathos. “Mas eu aposto que ela realmente estava perto de Meletis. Polukranos ameaçando a Cidade dos Doze é a alma da história. Mas não pense que ela continuará lá por muito tempo.”

“Por que você diz isso?”

“Outra história que eu ouvi,” disse Lanathos. “Depois que ela matou Polukranos, a Campeã foi vista em Ácros, que estava cercada por uma horda de minotauros. Enquanto situaçao, Brimaz está ciente disso, mas eu não vou contar essa história. Eu ainda não sei como termina.”

“Obrigado,” disse Ajani. “Você me ajudou muito.”

“O que você vai fazer?” perguntou Lanathos.

“Encontrá-la,” disse Ajani. “Ajudá-la, se ela precisar.”

Ele sorriu.

“Afinal, a Campeã sempre tem companheiros.”

Traduzido por Blackanof

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