Mtg Lore
Compêndio da Lore de Magic the Gathering
A VIDA É BELA
Rei Nakazawa
Escreveu histórias curtas, artigos sobre o processo criativo e os flavor texts de várias expansões de Magic the Gathering.
12 Orzabin 9957 Z.C
ah tá, tem um monte de tinta em cima de mim. Bem, tenho que andar
o cara da bio diz que eu preciso manter um diáriu pra dizer se as coisas tão dando certo. eu disse que eu nao escrevo muito mas ele disse que estava bem. pra falar a verdade, isso me lembra da escola, ou do pouco tempo que eu tive lá. mas não quero falar disso.
já chega por hoje.
24 Orzabin 9957 Z.C
faz tempo, mas o cara da bio diz pra escrever então tá aqui.
a coisa que ele usa é pegajosa e me deixa tonto mas o cara da bio diz que está ajudando então eu acredito. mas ser o único humano aqui é meio solitário.
eu não o cara mais esperto. então eu não sei escrever bem. mas você não vive na rua do estanho muito tempo se for estúpido. sou espero quando precisa. eu ando com os caras. eu nao sei muito sobre coisas que ajuda a viver. isso já é suficiente.
mas os médico estão certos. eu não posso viver assim pra sempre. aqui em novigen eu tenho comida quente um lugar macio pra dormir que é melhor do que eu tinha.
si, eu gosto daqui
9 Dhazo 9957 Z.C
faz tempo que eu escrevi. nao tanto, só uns dias, mas parece muito.
o cara da bio – ele disse que chama raiche – ele disse que eu estou melhorando, aos poucos, seja lá como é isso. eu me sinto melhor tambem. eu acordo cedo de manhã, não durmo até o meio-dia que nem antes. mas então não fico na rua do estanho mais. raiche me lembra disso todo dia.
Hah se o pai me visse agora. seu filho ajudando a ciencia, como diz raiche. então eu nao vou ser ninguem, né? me dá vontade de encontrar e cuspir na cara gorda dele.
e rir. lembrar de rir.
eu meio que sinto falta da rua do estanho. saber o que o matty o gats e o restante estao fazendo. caindo o tepo todo sem mim. os meninos não sabem nem encontrar suas bundas com um mapa.
pra piorar, tem umas coisas estranhas em todo o canto e raiche diz que sao xperimentos como eu. mas algumas dessas coisas com certeza não parecem boas. me deixa nervoso só de pensar no jeito deles. mas raiche diz que se eu nao pareço como eles agora, então não vou mais. então ele dever ter visto que eu nao tava acreditando porque ele disse que me olhou de cima a baixo e eu nao vou me tornar como eles.
se ele nao resolver isso, eu vou embora, com ou sem cama quente.
21 Dhazo 9957 Z.C
Finalmente encontrei outro humano neste lugar. O nome dele é Warrik, e ele disse que é filho de um ferreiro de Anasis Plaza. Parece uma boa pessoa, então estamos conversando. Ele é pequeno, cerca de doze anos, talvez, pelo que posso dizer. Isperto, para a sua idade. Parece que ele está nos mesmos tratamentos que eu, o que é meio estranho na minha cabeça. Ele é apenas uma criança. Mas eu também era apenas uma criança quando meu pai me expulsou. Ele disse que está fazendo isso por sua família em casa, para que eles possam ter algum dinheiro. Mas como ele vai ter, se ele morreu?
Certo, esqueci disso. Nós nos conhecemos meio que por acaso. Eu estava apenas vagando por Novijen, o tipo de pequena viagem que Raiche vive me dizendo para não fazer. De repente, esses caras Simic começam a correr e eu ouvi rugidos e gritos. Dobro a esquina correndo e vejo um menino encurralado em um laboratório, e uma coisa enorme e molenga com a forma de um cão de limo, só que não é como nenhum cão de limo que eu já vi. Está babando e rosnando e olhando para a criança como se fosse um lanche. Se eu tivesse pensando por um segundo, talvez não tivesse feito nada. Droga, se eu tivesse pensado, o garoto seria comida. Então eu simplesmente pulei. Não tenho ideia do que ia fazer, apenas pulei. Antes que eu entenda, eu estrangulei o cachorro, mesmo que ele era muito maior do que eu. Então eu luto com ele no chão e bato sua cabeça na parede, derrubando.
Eu só estou parado lá porque não posso acreditar no que acabei de fazer, quando ouço palmas. É Raiche, e ele diz que eu “desempenhei de maneira admirável”. Ainda estou tentando entender o que acabei de fazer, e eles estão levando a coisa-cachorro embora, quando o garoto pula e me abraça, dizendo que salvei a vida dele. Raiche está me contando como eu deveria estar melhorando física e mentalmente, e o garoto está falando sobre ter uma dívida de sangue, mas eu não estou ouvindo. Vai demorar um pouco para acreditar, posso imaginar.
24 Dhazo 9957 Z.C.
Uma coisa que tenho que dar crédito para Raiche, no entanto, olhando para o que escrevi antes e como escrevo agora, é incrível. Digo, até agora mesmo é muito melhor. E não é apenas minha mente. Além do que aconteceu com o Warrik, hoje tivemos um teste onde tive que correr um quarteirão nesta pista interna. Não é muito para correr sozinho, xceto para fugir de Wojek. Mas eu me senti pronto para isso, mais vivo do que nunca. Corri daquele otário mais rápido do que eu já corri antes. Era como se eu fosse uma daquelas enormes aranhas que os Gruul tanto gostam. Raiche também ficou muito impressionado. Disse que meu progresso era diferente de tudo o que ele já tinha visto. Meio orgulhoso disso, mesmo que eu não tenha feito nada. Apenas vivi.
Apenas vivi. Tipo como é na Rua do Estanho. Raiche disse que não conseguia imaginar ser assim, mas é a única vida que conheço. E isso me serviu muito bem, apenas vivendo. É meio divertido, indo dia a dia, sem emprego, sem nada. Um pouco de comida na barriga, um pouco de vinho, um pouco de sono, talvez um pouco de companhia do Beco Oculto de vez em quando. O que mais um homem precisa?
Pelo menos foi o que pensei, até Raiche me encontrar. Eu tinha acabado de jogar os dados, conseguido uma dupla, garantindo uns cinquenta, quando de repente os caras ficaram quietos. Achei que era por causa da minha boa sorte, até que me virei e vi esse vedalkeano de pé sobre mim, apenas olhando. Os outros correram, mas eu apenas fiquei sentado lá. Não sei porquê. Ainda não sei. De qualquer forma, o vedalkeano finalmente me pergunta se estava feliz. E eu digo a ele o que acabei de falar. Ah, escreveu. Não importa. De qualquer forma, ele franze a testa para mim e me diz que eu deveria procurar algo melhor. Eu rio dele e pergunto onde devo conseguir o ouro para o meu novo eu. Ele diz, venha comigo, e eu vou te ajudar. Claro, eu não vou na hora – Matty sempre me contou as histórias mais horríveis sobre o que os Simic fazem com as pessoas. Mas tenho que admitir que sou meio curioso, então pensei, por que não? Não como se eu tivesse algo melhor para fazer.
Então ele me leva para Novijen, o QG Simic, e basicamente bebe um vinho e janta comigo, depois me joga algumas lesmas pegajosas oito vezes por dia. Muito nojento, mas o que quer que eles devam fazer, eles fazem bem. Estou até começando a pensar menos sobre o que eles estão fazendo comigo. Digo, eles estão me deixando mais forte, mais inteligente e mais rápido. Por que diabos eu estava tão preocupado?
Warrik me disse que algo semelhante aconteceu com ele. O negócio de seu pai não estava indo muito bem e eles temiam ter que fechar a loja quando Raiche chegou, dizendo que eles poderiam ganhar muito dinheiro se deixassem Warrik ir com ele por alguns meses. Sua mãe também não confiava nele, mas eles concluíram que não tinham escolha. Ele pode morrer em Novijen, mas se eles não fizerem nada, ele morrerá com eles nas ruas. Então aqui está ele. Acontece muito, aposto, do jeito que as coisas estão lá fora com a gente nas trincheiras.
Ainda assim, não pense que minha antiga vida era tão ruim assim. Assim que eu sair daqui, vou voltar para a Rua do Estanho, mesmo que Raiche não me dê aquele grande valor que ele vem prometendo desde o início. Vou mostrar a Warrik meu antigo cantinho, apresentá-lo à galera. Teremos um novo membro em breve, garanto.
8 Prazh 9957 Z.C.
Progresso exponencial. Acho que nem Raiche esperava isso. Eu certamente não. A taxa em que minhas proezas físicas e mentais têm avançado ultimamente é nada menos que surpreendente. Agora posso levantar três vezes o meu peso sem dificuldade e ajudei Raiche em meus próprios experimentos citoplásticos. Ouvi rumores sobre me introduzir no Conluio Simic assim que os testes terminarem. Ainda não decidi se aceito.
É bastante irônico, considerando todas as coisas. Meu pai queria que eu fosse um Izzet, praticamente me criou desde o nascimento para esse único propósito. Ele literalmente me empurrou de escola em escola, oficina em oficina. Uma vez ele até tentou subornar um metalurgista para me contratar como aprendiz. Quando ficou óbvio até para ele que eu não tinha a aptidão para Izzet, ele me jogou nas ruas. Ele disse que com meu quarto irmão a caminho, eles não tinham dinheiro para cuidar de mim. Besteira, é claro, mas por mais que minha mãe e minha irmã chorassem por mim, elas não podiam desafiá-lo. Então eu fui embora. Foi a única boa ação que o velho idiota fez por mim.
Agora eu me pergunto: eu poderia voltar para a Rua do Estanho assim? Eu quero, mas não pelas razões que pensei que queria. Mas com este corpo, com esta mente, o bem que eu poderia fazer ali é espantoso. É como se eu estivesse vendo o mundo claramente pela primeira vez, vendo como o mundo funciona. Eu costumava ter medo dos Gruul e sua anarquia, dos Rakdos e suas facas. No entanto, todos eles fazem parte disso. Os Boros, os Azorius e sim, até os Simic… Eles governam este mundo, então devem ser, e são, responsáveis por tudo que acontece com seu povo, de bom e de ruim. Acho que estava muito intimidado pelo poder deles antes, mas agora, posso ver maneiras de contornar até mesmo as estruturas de poder mais arraigadas das guildas, maneiras de trazer mudanças sem caos. Eu poderia fazer a diferença.
Sinto que devo isso à galera, à minha rua, tentar fazer alguma coisa. Isso é algo que aprendi cedo na minha vida na Rua do Estanho. Os Boros, apesar de todos os seus exageros, não ajudaram nenhum de nós quando se tornaram realmente importantes. Os selesnyanos, com toda a sua pregação de fraternidade, fizeram ainda menos. Não podíamos confiar nas guildas ou em qualquer outra pessoa no poder. Só podíamos contar um com o outro. E nós fizemos. Talvez uma pequena parte de mim ainda espere que a vida volte a ser como era, mesmo que eu saiba que não voltará.
Ainda há algo sobre a Rua do Estanho, e minhas velhas memórias, que me atrai de volta. Mas meus antigos amigos aceitariam minha ajuda? Se eu estivesse no lugar deles, hesitaria. Warrik olha para mim ultimamente com uma mistura de admiração e medo. Eu não posso acreditar que alguém teria medo de mim, mas aí está. Ele diz que sou uma pessoa completamente diferente. O que é verdade, claro, mas de certa forma, não é. Eu posso sentir. Por que não consigo fazê-lo sentir isso? Ele me pede permissão toda vez que quer falar comigo, ou mesmo se aproximar de mim. Eu digo que ele não precisa, mas ele pede mesmo assim. Uma vez até o peguei me chamando de “senhor”. Ele nunca chamou nem seu pai de “senhor”.
Um dos hábitos favoritos de Raiche é me dizer que faço parte de um futuro glorioso para Ravnica. É tolice minha esperar que o passado e o futuro possam coexistir juntos?
30 Prazh 9957 Z.C.
As coisas estão indo mal. Parecia tão bom no começo, mas agora está desmoronando.
Estou piorando tão rápido quanto estava melhorando. Vou voltar a ser como era antes? Isso é uma coisa tão ruim? Penso nos últimos dias e me pergunto se fui feliz. E eu acho que mais ou menos. Tipo. Não.
Também estou preocupado com Warrik. Ele está doente o tempo todo agora. Ele está vomitando e sua pele parece toda amarela. Eu contei a Raiche sobre isso, sobre o que estou passando, mas ele me disse para não me preocupar com isso, que Warrik estava apenas sentindo um efeito colateral de algum tratamento, e eu estava apenas passando por um “faze”. Mas é algo mais do que isso. Até eu sei disso. E acho que ele também sabe disso.
1 Mokosh 9957 Z.C.
Tentei escapar na noite passada.
Warrik não está melhorando. Ele está tão amarelo e pálido que mal consegue se levantar sozinho. Todos com quem conversei disseram as mesmas coisas que Raiche, que estamos bem e nos recuperaremos em breve. Eles acham que eu sou tão estúpido assim? Talvez eu não seja um biomanti, mas não sou um idiota.
Não é só isso. Eu não percebi isso até que Warrik não estava por perto, mas as únicas coisas que alguém fala comigo é como me sinto e como estão indo meus testes. Nada mais. Eles até me chamam de ZV29K o tempo todo. Acho que Raiche nunca me perguntou qual é o meu nome. Quase comecei a pensar que esse era meu nome por um tempo. Até Warrick. É por isso que devo isso a ele, e a mim, nos tirar daqui. Encontrar ajuda. Não sei onde vamos encontrá-la, mas precisamos.
Enfin, eu peguei Warrik de seu quarto e desci um corredor. Eu sabia dessa abertura que poderíamos usar para sair. Mas havia essa patrulha de coisas limosas – como o cão que atacou Warrik na primeira vez que o encontrei, mas com a forma de humanos, chatos, gariais, todos os tipos de coisas. Eles me viram, e eu sabia que tinha que passar por eles. Coloquei Warrik no chão e dei um soco no rosto de um dos que pareciam humanos. Meu punho passou por ele e parecia um daqueles citoplastos que Raiche usou em mim. Tentei tirar meu braço, mas estava preso. Os outros tentaram me cercar, mas girei a coisa de aparência humana, ainda presa ao meu braço, e os empurrei para o lado. Eu finalmente libertei meu braço e comecei a lutar e lutar. Eu estava coberto de gosma e eles ainda estavam vindo.
De repente, eles pararam e foram embora. Raiche estava lá. Ele disse que sentia muito pelo acidente e que voltasse para o meu quarto. Eu me viro e Warrick não estava onde eu o deixei. Perguntei a Raiche onde ele estava e ele disse que foi mandado de volta para seu quarto. Mas não o vi hoje e estou preocupado.
Não vou deixar Warrik neste lugar. Eu não vou embora sem ele.
3 Mokosh 9957 Z.C.
começando a sentir meio tonto. esse não durou muito. mais dificil que nunca pra sair. tento pensar em outras maneiras de fugir, mas não consigo. muito difícil pensar agora ainda mais difícil do que antes.
eu sinto falta de Warik. eu não o vi desde que tentamos escapar. Eu falei Raiche onde ele estava, mas ele não respondeu. eu tentei encontrar, mas não me lembro onde tudo é agora. torço achar logo.
8 Mokosh 9957 Z.C.
screver isso antes de ir.
meu corpo está mudando. perdi todo o meu cabelo e minha pele parece aquela gosma que raiche colocou em mim. parece que estou derretendo. as mesmas peles amarelas que o warik tinha antes de sumir.
Estou assustado. gosma está pingando no chão. Acho que está vindo de mim. eu não quero morrer.
9 Mokosh 9957 Z.C.
COMUNICADO OFICIAL
17 Mokosh 9957 Z.C.
Para: Momir Vig
Assunto: Projeto de Revitalização de Citoplastos
Meus profundos cumprimentos:
O Projeto de Revitalização do Citoplasto está em uma importante encruzilhada. Eu sinto fortemente que a restauração da ordem natural em um estado mais forte e permanente está próxima, e que o PRC será um passo primordial nesse objetivo.
Espero que você tenha lido minhas anotações sobre a cobaia ZV29K. A forma de vida citoplástica resultante agora está mantida no Centro de Detenção do Leste com os outros, onde me disseram que parece estar “feliz” (o que quer que isso signifique para essas formas de vida), contente em comer, dormir e se envolver em rituais estranhos que dizem-me que imitam os do acasalamento humano. Embora todas as tentativas de se comunicar com essas massas irracionais tenham continuado infrutíferas, meus colegas estão trabalhando em vários cenários para obter o uso que pudermos deles. O teste de sistemas nervosos por meio de uma série de choques elétricos cada vez mais fortes está sendo executado enquanto você lê isso.
No entanto, eu não hesitaria em chamar esta última rodada de assuntos de um sucesso absoluto. ZV29K persistiu em seu estado superior por duas semanas inteiras a mais do que todos os indivíduos anteriores. Eu projeto que este período pode ser estendido por três dias completos, se não mais, no próximo conjunto de cobaias. Esta centésima rodada de testes em humanos será nossa última, acredito, antes que possamos finalmente começar o tratamento de nossas preciosas cobaias florais e animais. Então o sucesso estará verdadeiramente ao nosso alcance.
Claro, vou mantê-lo informado de todo o progresso.
Raiche Belas
Pesquisador Sênior, PRC
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