Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

A VERDADE DOS NOMES

Texto original
por James Wyatt (com contribuições de Matt Knicl e Allison Medwin)

A jovem khan dos Mardu sentou-se bem equilibrada em frente à sua horda, perfeitamente imóvel apesar de seu cavalo se mover nervosamente embaixo dela. O contato com o couro gasto de seu arco, o peso da espada em suas costas, a energia quase palpável dos guerreiros inquietos atrás de si – ela tirou força de tudo isso. Mais do que qualquer coisa, ela tirou força de seu nome de guerra, Alesha, porque ele era dela.

Alesha esquadrinhou os penhascos acima, mas não conseguia ver os guerreiros que sabia estarem agachados ali. Ela olhou à frente, na direção da abertura do cânion, procurando um sinal de sua presa.

Ali.

Ela viu cinco – não, seis – formas escuras no ar. Eles estavam muito longe para se discernir os detalhes – suas quatro asas com penas, corpos sinuosos, barbatanas e espinhos longos – mas a crepitação de relâmpagos ao redor e entre eles não lhe deixava dúvidas. Esses eram os dragões que ela procurava, a prole imunda da monstruosa Kolaghan.

“Mardu!” ela gritou.

“Mardu!” Os gritos de resposta da horda sacudiram o cânion, e Alesha sorriu. Os dragões não deixariam de notá-los agora.

As formas distantes ficaram maiores conforme os dragões aceleravam em direção à horda. Cavalos bufaram enquanto cavaleiros se moviam em suas celas, preparando-se para o ataque. Goblins rangiam os dentes em sua avidez para morrer, e orcs permaneciam parados como pedra, esperando.

Cerco ao Posto Avançado | Arte de Daarken

Silenciosamente, Alesha ergueu seu arco acima da cabeça, sinalizando aos arqueiros para prepararem suas flechas. Ela esperou, respirando profunda e lentamente enquanto os dragões voavam cada vez mais perto. O ar ressoava com as batidas de suas asas, e o cheiro característico dos relâmpagos chegou até ela através do vento.

Ela abaixou o arco, encaixou uma flecha e puxou a corda, ouvindo o ranger de centenas de arcos atrás de si. Ela podia ver o brilho frio dos olhos das bestas e os relâmpagos crepitando em suas bocas.

Agora.

Sua flecha atingiu o primeiro na boca, fazendo seu ataque de relâmpagos se perder inofensivamente em direção ao solo. Uma centena de flechas se seguiram, e o dragão se desviou para cima e para o lado. Bem para o lugar certo.

Meia dúzia de guerreiros pularam do penhasco para cima do dragão que se desviava. Um atingiu uma asa e escorregou, caindo para a morte. Outros dois se agarraram desesperadamente aos espinhos nas costas da criatura enquanto ela girava ao redor de surpresa. Um agarrou a longa cauda do dragão. Mas dois Mardu – dois que seriam celebrados nesta noite – enfiaram as espadas em sua carne, golpeando profundamente seu ombro e seu flanco. A fera rugiu de dor, e seus relâmpagos enviaram uma cascata de rochas rolando pelas encostas do cânion.

Alesha esporeou o cavalo e atirou outra flecha enquanto cavalgava à frente para enfrentar os outros dragões cara a cara. Cascos trovejaram atrás dela, goblins guincharam, orcs troaram seus gritos de guerra. Os Mardu se ergueram para saudar a morte, de espadas em punho.

Um dragão voou baixo, abrindo a boca para bombardear Alesha e sua vanguarda com sua baforada mortal de relâmpagos. Sua flecha se alojou na boca da criatura, mas um instante depois raios brilharam por todos os lados ao seu redor. O pânico se ergueu em seu peito, uma memória de um terror passado, quando outra cria da prole de Kolaghan dera-lhe as cicatrizes que ela carregava nas costas. Seu cavalo empinou e relinchou, e Alesha pulou da sela antes que a fera a derrubasse. Ela rolou no chão e se agachou.

As bravatas da horda Mardu agora se misturavam a uivos de dor e gritos de alerta conforme a luta começava de verdade. Alesha preparou outra flecha e avaliou o campo de batalha.

Com meia-dúzia de flechas despontando de suas escamas, o dragão que lançara o golpe sobre sua vanguarda estava dando a volta para atacar mais uma vez. “Aquele ali!” ela gritou, gesticulando com o arco. “Derrubem-no!”

Do menor goblin ao mais alto orc, todos os guerreiros ao alcance da sua voz se tornaram um só, prontos para levar adiante sua vontade. Uma chuva de flechas atingiu a fera, ricocheteando em suas escamas ou se alojando entre elas, esburacando suas asas ou – no caso dos tiros muito habilidosos ou muito sortudos – se alojando em um olho. A criatura guinchou, um barulho ensurdecedor que fez goblins buscarem abrigo e levou mesmo os veteranos mais experientes a abaixarem as cabeças e darem alguns passos para trás. Ela pousou, garras primeiro, esmagando e rasgando tudo ao seu alcance. Alesha atirou mais uma flecha, que penetrou no ombro da fera, e então sacou a espada das costas.

“Pra cima dele!” ela gritou. “Agora!” Ela conseguia ver o dragão se retraindo, colocando as patas sob si para poder alçar voo novamente. Eles tinham que matá-lo antes que ele pudesse fazer isso.

Alessa, a Que Sorri Para a Morte | Arte de Anastasia Ovchinnikova

Como um, seu bando avançou e caiu sobre ele como uma onda, com Alesha em seu centro. Seus números eram ridiculamente pequenos, ela percebeu. A colisão matara muitos, e cinco outros dragões mantinham o resto da horda ocupada. Seis das feras eram o suficiente para garantir um momento de glória a todos os guerreiros que mereciam um.

Sua espada pesada – tão longa e larga quanto seu braço – deu uma mordida profunda no flanco do dragão, e ela se abaixou quando a asa dele a atacou como reflexo da dor. Ele tentou se virar para encará-la, mas um golpe poderoso da enorme lâmina de um orc lançou sua cabeça para trás e enviou em seu rastro um borrifo de sangue com cheiro forte.

Alesha assentiu, observando o orc, um jovem tenro que ainda tinha que ganhar seu nome de guerra apesar de já ter lutado em muitas batalhas. Este momento pertencia a ele, e ela queria testemunhá-lo.

Um guerreiro de verdade teria saltado para a abertura que seu golpe poderoso criara, direcionando a espada para o pescoço da criatura. Um orc tão forte quanto este podia até mesmo ser capaz de decepar a cabeça com um corte bem posicionado. Houve a menor das pausas enquanto os outros assistiam, antecipando o momento de glória.

Rufião de Batalha | Arte de Karl Kopinski

Ele não veio. Ao invés de seguir para o abate, o orc se virou e atingiu as garras dianteiras do dragão, um instante antes de elas rasgarem a barriga de outro combatente. Foi Gedruk Quebra-asa que correu adiante e cortou o pescoço da criatura antes que ela conseguisse se reequilibrar. Ele precisou de três golpes poderosos enquanto o dragão se contorcia e se debatia, e o sangue imundo da criatura o cobriu antes que ele tivesse terminado. Mas finalmente a criatura ficou imóvel, e um grito de vitória se elevou dos guerreiros que a rodeavam.

Alesha esquadrinhou o campo de batalha. Um outro dragão estava morto – aquele que liderara o ataque inicial – e outros dois estavam no chão. Ela apontou o que estava no ar, dando a volta para mais um bombardeio. “Aquele lá!” ela chamou, e os Mardu se uniram para trazê-lo ao chão. Enquanto ele manobrava, porém, eles teriam um momento para saborear o triunfo.

Ou a vergonha.

“Você!” ela vociferou para o orc.

Ele se aproximou, agigantando-se sobre ela. “Khan?” ele disse, sua voz era um estrondo quase afogado no barulho do campo de batalha.

“Aquele abate poderia ter sido seu.”

Ela o observou cuidadosamente enquanto suas palavras o atingiam. Ele se empertigou, ficando ainda mais alto. “Gedruk o roubou de você,” ela disse.

“Roubou?”

“Eu vi que você se deteve. Eu te vi cortar a garra da fera ao invés do pescoço. Por quê?”

O orc rosnou. “Não sei.”

“Você poderia ter ganhado seu nome de guerra,” ela disse. “Saber quem é e reivindicar seu nome.”

A fúria contorceu o rosto do orc e ele deu outro passo em direção a ela. “Você me diz isso? Um garoto humano que pensa que é mulher?”

Alesha manteve a expressão impassível enquanto um goblin próximo guinchou e desatou a correr para longe dela, sem dúvida prevendo sua ira. Porém, antes que ela pudesse responder ao orc sem nome, o dragão estava sobre eles.

Todos eles sabiam o que fazer. Outra salva de flechas buscou os pontos mais macios da criatura, dessa vez junto com o jato de fogo de um canhão. Este dragão também foi ao chão, e dessa vez mais dos guerreiros estavam fora do alcance de suas garras agitadas quando ele aterrissou. Alesha gritou e os Mardu – mesmo o orc sem nome que a desafiara – correram adiante para enfrentá-lo.

Tinha sido em um dia como este, em uma batalha muito parecida com esta, quando Alesha ganhara o direito de escolher um nome para si. Com sangue escorrendo em suas costas onde as garras do dragão retalharam sua carne, ela agarrara a lança das costas de um homem morto e a mergulhara na boca da fera até atingir o cérebro. O cabo da lança se despedaçara, mas o dragão morrera em um instante. Ela não se lembrava se tinha ficado com medo quando a cabeça monstruosa a atacara.

Ela se lembrava era do pânico que tinha vindo depois. Ganhar seu nome de guerra fora seu único objetivo. Quando a luta estava terminada, ela ficou parada em silêncio entre os outros jovens que alardeavam suas conquistas e os nomes arrojados e macabros que escolheriam. Esmaga-cabeça. Rompe-crânios. Quebra-asa – Gedruk estivera entre eles. Alguns deles, a maioria orcs, vangloriavam-se dos feitos de seus antepassados e falavam do orgulho em adotar os nomes desses ancestrais. Ela sempre fora tão diferente – apenas dezesseis anos, um rapaz aos olhos de todos exceto aos dela mesma, prestes a escolher e declarar seu nome diante do khan e de todos os Mardu.

O khan tinha caminhado entre os guerreiros, ouvindo os contos de seus feitos gloriosos. Um a um, eles declararam seus novos nomes de guerra, e cada vez o khan gritava os nomes para todos ouvirem. Cada vez, a horda gritava o nome em uníssono, fazendo a terra tremer.

Então o khan veio até Alesha. Ela ficou parada diante dele, cobras se contorcendo dentro de seu estômago, e contou a ele como matara seu primeiro dragão. O khan assentiu e perguntou a ela seu nome.

“Alesha,” ela disse, tão alto quanto podia. Só Alesha, o nome de sua avó.

“Alesha!” o khan gritou, sem um momento de pausa.

E toda a horda reunida gritou “Alesha!” em resposta. Os guerreiros dos Mardu gritaram o nome dela.

Naquele momento, se alguém tivesse lhe dito que em três anos ela seria khan, Alesha podia até mesmo ousar acreditar nisso.

Meio perdida em suas memórias, a khan dos Mardu estava sorrindo quando o outro dragão atingiu o solo atrás dela, estava sorrindo quando se virou para enfrentá-lo, estava sorrindo quando sua espada mordeu profundamente o pescoço da criatura enquanto esta avançava para atacar o orc sem nome ao lado dela. O dragão rugiu e se debateu enquanto a morte vinha reivindicá-lo, porém mais um movimento da pesada espada dela o decapitou.

Marca Rúnica Mardu | Arte de Viktor Titov

O orc ao seu lado ficou olhando estupidamente, nenhum traço de raiva em seu rosto.

“Eu sei quem sou,” Alesha disse a ele, ainda sorrindo. “Agora me mostre quem você é.” Ela gesticulou em direção às duas feras restantes que ainda mordiam e rosnavam para os Mardu ao redor. Ele hesitou, ainda de queixo caído, mas então se recompôs e correu de volta para a batalha.

Ela o seguiu, assistindo enquanto ele se jogava na frenética luta corporal que circundava o maior dos dragões. Ele era forte, evidentemente, e rápido apesar de seu peso. Ele lutou sem que lhe faltasse habilidade, mas suas técnicas não eram ortodoxas. Ele usava sua força para espancar a cabeça e os membros da besta, para desequilibrá-la e mudá-la de posição. Ele garantia que seus dentes e garras mortais nunca atingissem os outros combatentes e criava aberturas para seus aliados atacarem. Ele não estava tentando dar um golpe final, e sim torná-lo possível.

Alesha assentiu, sorrindo para si mesma.

Em pouco tempo a batalha tinha terminado. Seis dragões jaziam mortos no solo do cânion, entre muitos guerreiros caídos. Suas perdas tinham sido enormes, mas seis dragões! Seis da prole de Kolaghan nunca mais caçariam os Mardu. A horda tinha muito a celebrar.

Os sobreviventes se puseram a trabalhar. Os ceifadores de desgraças proferiram seus ritos ancestrais sobre os mortos para mantê-los quietos na morte. Goblins deslizaram pelo campo de batalha, recolhendo flechas que podiam ser reutilizadas e armas quebradas que podiam ser reforjadas. Outros Mardu dilaceravam os corpos dos dragões para obter carne e troféus.

Cavernas Sanguinárias | Arte de Adam Paquette

Alesha andou entre eles, assim como lutara entre eles. Em cada grupo de combatentes, ela buscou aqueles que ainda não tinha reivindicado um nome de guerra. Naquele dia, muitos ganharam o direito de requerer seus nomes. Ela ouviu conto atrás de conto de feitos heroicos, e com cada nome escolhido, ela gritava o nome para a horda ouvir – sem nunca um momento de hesitação. Quebra-presa. Salta-penhasco. Barzeel. Cavalga-cauda. Turuk. Vallash.

Ao final, ela foi até o orc que lutara ao lado dela, o orc que ousara questioná-la.

“Você,” ela disse. “Quantas batalhas você lutou?”

Ele ficou de pé rigidamente, olhando sobre a cabeça dela ao invés de encontrar seu olhar. “Nove.”

“E que feitos gloriosos você reclama para si neste dia?”

“Nenhum, khan.”

“Nenhum? Nove batalhas e você não ganhou nenhuma glória? Você não tem um nome de guerra a reivindicar?”

“Não.”

“Então você é um tolo. Eu sei quem você é, mas você mesmo não sabe.”

Ele se empertigou novamente, mas dessa vez não se atreveu a falar.

Ela se virou para a guerreira ao lado dele. “Kuru Vashar,” ela disse, “você lutou ao lado desse novato hoje. O que você viu?”

Vashar parou e olhou para o orc alto. “Eu caí debaixo de um dos dragões,” ela disse. “O peso dele me esmagou contra o chão. Você ficou ao meu lado e atingiu a fera, mudando o peso dela de lugar, e então eu consegui escapar, depois você me ajudou a ficar de pé.”

Alesha assentiu e apontou para outro. “Magran Quebra-espinha, o que você vê?”

“Khan, esse aí se colocou entre eu e uma garra mortal. A força dele arremessou a garra para o lado, então eu passei por ele e enterrei minha lança na perna da frente do dragão.”

Mais um. “Jalasha Impalador, o que você vê?”

Jalasha estendeu a mão e bateu no ombro do orc. “Meu amigo salvou minha vida, se atirando na cabeça do dragão quando ele estava prestes a me agarrar com as mandíbulas.”

Dragão Boca-de-raio | Arte de Alejandro Mirabal

Alesha assentiu e deu um passo para perto do orc sem nome. Ela agarrou a borda de seu colarinho blindado e puxou a cabeça dele para baixo, forçando-o a olhá-la nos olhos.

“Eu sei quem sou. Eu não sou um garoto. Eu sou Alesha, como minha avó antes de mim.”

Muitos dos guerreiros mais próximos murmuraram sua aprovação.

“E eu sei quem você é,” ela disse. “Os Mardu sabem quem você é. Mas você – você pensa que todo Mardu tem que ser um Quebra-espinha ou Quebra-elmo. Você pensa que seus feitos não são tão gloriosos quanto os deles. E você está errado.”

Ela soltou a armadura dele e o empurrou, fazendo com que ele cambaleasse alguns passos para trás.

“Quando você aprender qual é o seu lugar entre os Mardu, então poderá escolher um nome.”

Ela deu as costas a ele, pronta para ir até o próximo grupo de soldados.

“Espere,” o orc disse.

Alesha parou, mas não se virou para ele. “Por quê?”

“Eu tenho um conto da batalha.”

Ela se virou e o olhou fixamente. “Nós já ouvimos bastante dos seus feitos.”

“Este não é sobre a minha glória.” Ele ergueu a voz para que todos pudessem ouvir. “Hoje eu vi uma guerreira abater um dragão com um único golpe, e em seu rosto ela carregava o júbilo da batalha.”

Alesha sorriu.

O orc se aproximou um passo e falou com mais calma. “Como você disse, minha khan, eu não conheço a mim mesmo. Mas te conheço, e eu te sigo…”

Agora ele gritou acima de todo o ruído do campo de batalha. “… e eu te nomeio Alesha, a Que Sorri Para a Morte.”

E mais uma vez, os guerreiros dos Mardu gritaram o nome dela.

Traduzido por Alysteran

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