Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

A QUALQUER CUSTO

Texto original
por Nik Davidson

O demônio Ob Nixilis está tendo um dia péssimo.

As coisas estavam indo tão bem Ele conseguira tomar o poder do Coração de Khalni e, com ele, havia construído uma ligação com o mana bruto de Zendikar. Ele estava, finalmente, pronto para beber da rede de edros de Zendikar e restaurar sua centelha de planinauta, quando o desastre aconteceu, vindo na forma da elfa planinauta Nissa Revane.

Nissa tomou o Coração de Khalni das mãos do demônio, restaurou sua própria conexão com Zendikar e fez toneladas de rocha e solo desabarem sobre ele.

Foi um contratempo. Mas Ob Nixilis não chegara assim tão longe simplesmente desistindo.

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Dor.

Modestamente melhor do que o nada que eu esperava. Só pode significar uma coisa: ela me deixou aqui vivo.

Eu gargalhei. Nada a fazer, na verdade. Meu corpo estava quebrado em uma dúzia de lugares por causa do colapso da caverna, e eu estava completamente preso no lugar. O ato de gargalhar criou ondas de agonia irradiando por todo o meu corpo, e usei aquela dor para diagnosticar meus ferimentos. Eram graves, mas eu me curaria.

Eu respirava. Que bom. Fôlegos curtos e dolorosos, com pedra e areia fazendo pressão sobre mim – mas estava claramente com acesso a ar fresco suficiente para me manter consciente. Isso implica que não esteja muito longe da superfície. Ou talvez esteja apenas perto o suficiente de um bolão de ar que se esgotaria em breve. Nenhuma das opções era terrivelmente boa. Mas eu estava vivo.

A derrota, se você sobrevive, significa tempo para refletir. Arrogância desmerecida foi causa de morte para incontáveis aspirantes a senhores da guerra. Afinal, quantos eu abati ao longo de milênios por causa dessa arrogância? Aqui, enterrado vivo, com uma derrota esmagadora nas costas, decidi que aproveitaria a oportunidade que tenho.

Era um plano muito bom. Sincronizar uma rede de edros com o Coração de Khalni e utilizá-la para canalizar energia planar suficiente pelo meu corpo para reacender a minha centelha. Havia uma chance decente do procedimento me matar, sim, mas já não me preocupava com isso há muito. E sim, eu sabia que ser planinauta já não era a mesma coisa de antes, de algumas décadas para cá. Tanto melhor, na verdade. A ideia de que incontáveis planos de existência perderam seus protetores e campeões com poderes semidivinos! Imagine o caos que a Emenda causara no Multiverso! Um caos assim precisa ser sufocado. Um caos assim precisa ser subjugado, e eu sou a pessoa perfeita para esta tarefa.

O plano era bom, mas falhara. A ideia de que outra planinauta, além de Nahiri, quisesse realmente salvar esse plano de existência horrendo realmente não havia sido fatorada no meu raciocínio. Eu tinha contingências prontas para ela, mas admito que não estava preparado para uma Joraga tresloucada, que se ligava ao coração de um mundo moribundo, aparecendo horas antes do meu ritual estar completo, revirando o trabalho de um século inteiro, e me enterrando vivo.

 

Renovação de Nissa | Arte de Lius Lasahido

 

Eu estava irritado.

Havia um problema maior, e era o fato de que todas as minhas tropas estavam em um vale, por assim dizer. Eu não sabia quanto tempo Zendikar tinha antes que os Eldrazi terminassem de destruir esse plano de existência, e mesmo considerando o que aprendi, não tinha mais meio século para recriar meu trabalho. Na velocidade em que as coisas progrediam, o plano de existência estaria quebrado, sem chance de conserto, dentro de um ano. Sem mencionar que não havia outra fonte de poder como o Coração de Khalni nesse plano de existência. Bom, havia uma. Mas nem mesmo eu estava tão desesperado assim. Ainda não.

Considerei as minhas opções. Opção um: tento replicar meu trabalho. Complicação: os Eldrazi certamente destruirão o plano de existência comigo nele, muito antes que eu obtenha sucesso. Talvez tenha uma sorte extraordinária e encontre por acaso outra fonte de poder, mas apenas tolos planejam com base na sorte, e não pretendo começar agora.

Opção dois: vou atrás da elfa e tomo o Coração de volta. Complicação: enfrentar uma planinauta no meu estado atual parece me dar chances bastante baixas, especialmente alguém com o Coração de Khalni à disposição. Especialmente quem já me derrotou quando eu estava com todas as minhas forças. Não há honra ou dignidade em um ataque fútil contra um inimigo superior, apesar do que talvez tenha dito a um ou dois generais quando precisei que fizessem algo conveniente para a minha estratégia.

Opção três: me unir a um poder maior. Ah, nunca é a minha primeira escolha, mas às vezes é o único jeito. Estudei os Eldrazi quase tão completamente quanto estudei os edros. Apesar de não poder barganhar, eles já se mostraram dispostos a trabalhar com aliadoso velho Kalitas aprendeu isso da pior maneira –, e eu, certamente, me deleitaria em ajudá-los a deixar este mundo na poeira. Mas e daí? Eles não tem noção de gratidão ou de justiça. A ideia de que me recompensariam é impossível e alienígena para eles. Uma vitória pírrica é apenas o tipo de derrota mais palatável.

 

Gerador da Estagnação | Arte de Tyler Jacobson

 

 

Tempo. Eu precisava de mais tempo!

A solução me veio, e gargalhei novamente. Ruidoso, desatento à dor. Gargalhei até chorar lágrimas derretidas. Depois de todos esses séculos, nada me diverte mais do que a ironia. Havia exatamente um modo de ganhar tempo suficiente para que eu recriasse o meu trabalho.

Eu teria de salvar Zendikar.

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Uma coisa de cada vez. Enterrado vivo. Não tinha certeza de quanto tempo se passara. Não estava nem perto de estar curado, mas quando se está na contagem regressiva para o fim do mundo, você pega um ou dois atalhos. Estendi-me para a área em torno de mim e tentei extinguir alguma vida próxima, sugando a energia para mim. Um feito mágico simples, e minha especialidade, de certo modo. Mas quando o fiz nada. Eu estava enterrado em Bala Ged, um lugar desprovido de toda vida por Ulamog. Não havia nenhum inseto, minhoca, grama para drenar e obter forças. Desta vez, achei a ironia menos divertida. Eu fiz força por, talvez, horas antes de conseguir mover as rochas acima de mim. Enquanto isso, imaginava mil jeitos agradáveis de acabar com a existência miserável da elfa. O processo inteiro de escapar levou dias. Um punhado de ideias pareciam promissoras.

Dali, o próximo passo era escavar o que fosse possível da minha rede de edros. Mesmo com um punhado de edros, conseguir construir uma espécie de “bússola” de linhas de forçaalgo que me daria uma direção sobre como a energia do que restava desse plano de existência estava distribuída. Se houvesse alguma defesa de Zendikar, a Joraga estaria no centro dela, usando o poder do Coração de Khalni, e isso era algo que eu conseguiria detectar.

O trabalho era lento e me dava bastante tempo para pensar. As proles de Ulamog eram uma força implacável e irracional, e as várias monstruosidades que os comandavam tinham um poder que eu raramente vira. Ainda assim, era o aspecto irracional da sua natureza que me dava oportunidade. Tudo o que precisaria era de uma força coordenada com poder suficiente e um senso insuficiente de autopreservação para me dar a oportunidade de puxar o mal pela raiz. Sabia que os zendikari estavam ocupados angariando tal força, mesmo que eu não tivesse intenção alguma de liderá-la. Os titãs  foram aprisionados por muito tempo, e poderiam ser contidos novamente. Muito pelo contrário – estava mais do que contente em dar aos monstros todo o banquete que mereciam. Eu só não tinha a intenção de ser um dos pratos.

Passei bastante tempo decifrando exatamente o que Nahiri fizera comigo. E agora eu faria a mesma coisa com Ulamog: usar um edro para prender uma ameaça extraplanar e salvar Zendikar. Me perguntei se Nahiri ficaria contente ou enojada que fizesse o trabalho dela agora. Achei ambas as opções hilárias.

Passei mais de um dia com as garras atravessando a poeira até encontrar o que procurava: um edro um pouco menor do que a minha cabeça, com entalhes detalhados e vivo, com poder. Era a chave da rede de edros que eu havia criado antesexatamente o necessário para prender Ulamog e diminuir seu poder. Olhei para ele novamente com alguma reverência. Havia espaço suficiente em meu desprezo por Nahiri para admirar sua genialidade. Criar algo com tanto poder e conter esse poder em um objeto que sobreviveria por milênios, ou mais! Se Nahiri não tivesse voltado para ajudar a adiar a destruição de Zendikar, era quase certeza que ela estava morta. Me deixou um pouco triste, na verdade, pois eu nunca mais teria a chance de enfrentá-la.

Bem Já foi sentimentalismo suficiente para uma década. Ou, provavelmente, para o resto da minha vida.

Mandei um pulso de magia por dois maiores edros da minha rede, e eles flutuaram acima da areia, girando lentamente até encontrarem seu alinhamento. De lá, ativei a chave e a movi lentamente em torno dos dois edros, sentindo o fluxo de energia das pedras. Litomancia era uma arte sutil, e apesar de eu saber que só a entendia superficialmente, ela ainda me oferecia uma versatilidade mágica que não havia conhecido. A função básica de um edro é redirecionar energiamas esta função simples pode ser usada para dar poder, invocar, aprisionar ou destruir.

Foco do Litomante | Arte de Cynthia Sheppard

 

Um senso de peso, gravidade e distância surgia dentro do meu corpo e da minha mente. Fiz força para entender o sentido disso. A localização da elfa era suficientemente fácil de adivinhar; com o poder do Coração, ela se destacava como um sol. Mas havia algo mais, uma canalização de mana que parecia aberrante e familiar ao mesmo tempo. Eles estavam próximos; o que quer que fosse, era provavelmente onde os zendikari estavam tentando resistir com suas últimas forças. Tazeem. Portão Marinho, se minha memória não falha. Um lindo lugar para um massacre.

Desdobrei minhas asas.

São coisas maravilhosas, mesmo, e não as usara muito. Elas faziam com que viagens fossem levemente mais suportáveis, e o deslocamento entre os continentes de Zendikar, algo bem menos trabalhoso. Os céus ofereciam uma sensação de liberdade, mas também serviam como lembrete amargo do que perdi. A liberdade dos céus é uma partícula de poeira desaparecendo em frente à liberdade que o Multiverso já me ofereceu. Por outro lado, você não vê muitos demônios em barcos, e acontece que há boas razões para isso.

Voei ao longo da costa, preferindo evitar voar sobre o mar aberto, exceto o necessário para alcançar Tazeem. Os céus estavam bastante desprovidos de vida. Com bons olhos, você consegue discernir algumas das proles voadoras de Ulamog, mas não tinham interesse em mim e eu não tinha interesse nelas. Pássaros eram algo raro. Anjos, ainda bem, já quase não existiam.

Quando os Eldrazi ascenderam, os anjos lutaram. Adorável, de verdade. Não eram estrategistas péssimos, justiça seja feita, mas trabalhavam sob a falsa noção de que aquela era uma batalha que poderiam vencer. Os anjos lutaram, e a maioria deles morreu. Era muito raro ver uma prole solitária de Emrakul flutuando por aí, fazendo o que quer que a prole dela faça. Mas os céus eram, na maior parte, meus. Um céu aberto, um sol brilhando, nuvens pacíficas flutuando ao vento. E eu as sentia como um peso opressor, um confinamentoaquele horizonte distante era um pesadelo claustrofóbico. Mas logo aquele horizonte não existiria mais. E, de um jeito ou de outro, eu também não estaria mais aqui.

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Ao viajar quilômetros a caminho do Portão Marinho, era claro que eu estava na direção certa. De um lado, ermos sem fimo próprio Ulamog entalhara uma trilha até esse lugar, deixando silêncio e poeira em seu caminho. De outro, uma caravana maltrapilha de suprimentos serpenteava um caminho por Tazeem. Refugiados e guerreiros (apesar de não poder realmente diferenciá-los) vinham como um enxame até a represa; a última defesa de Zendikar já estava em batalha.

Eu pude ouvir o rugido da batalha a quilômetros de distância. Que coisa mais linda. Mas não era nada comparado com o que vi quando terminei de subir a represa.

 

Rede de Edros Alinhados | Arte de Richard Wright

 

Exércitos em choque, proles e zendikari mortos aos milhares e, acima de tudo aquilo, Ulamog. Preso.

Dentro de uma rede de edros enorme.

Eu precisei de um momento para absorver a cena toda. Não conseguia tirar o sorriso do rosto. A rede era gigantesca. Os zendikari conseguiram fazer com força bruta o que me levou décadas para fazer com total cuidado e sutileza. Usando os edros gigantes e estruturais, eles puderam usar a energia do plano de existência inteiromeu trabalho com o Coração de Khalni era, em essência, um modelo em escala do que eles fizeram aqui. O alinhamento era rude e rudimentar, mesmo nos meus padrões de amador, mas era estável.

Apenas um tolo planeja com base na sorte, mas um tolo ainda maior deixa de tirar vantagem da sorte. A opção um voltou a ser considerada.

Encontrei um bom ponto de vantagem para estudar a rede, deslocando gentilmente as sentinelas kor que estavam usando o local como posto de observação. A rede tensionava ao conter Ulamog, mas o titã também começava a enfraquecer. Eu estava impressionado. Os zendikari talvez conseguissem matá-lo. Nota máxima pelo esforço e inventividade. Mas era hora de adicionar um pequeno tropeço nesse plano.

 

Garras do Demônio | Arte de David Gaillet

 

Voei alto, bem acima da batalha. Kor em seus aeroveleiros me viram neste momento, mas não me enfrentaramsua atenção estava concentrada em segurar as proles e a entregar informações sobre a batalha lá embaixo. O edro-chave vinha pendurado atrás de mim, e começou a reagir com a incrível energia da rede. Suas runas brilhavam com uma luz violenta, sob o fluxo das linhas de força. Eu desejei que ele ficasse no lugar, o tranquei em um ponto harmônico acima do centro exato do círculo. Ele começou a girar, e um vórtice de energia se formava e enviava uma descarga elétrica, deixando o meu corpo todo dormente. Eu titubeei no céu por apenas um momentoo meu coração pulava e eu mal conseguia respirar.

Eu esperei tanto por isso. Tanto tempo.

Eu pronunciei três palavras.

Naquele momento, tudo começou novamente.

A energia transbordava meus sentidos: minha visão fulgurou em branco e eu não conseguia sentir meu corpo. O poder me queimou por dentro, uma torrente de agonia e perfeição E dentro do meu cerne, primeiro como um bruxuleio e depois como uma chama fulgurante, a minha centelha. A minha centelha voltara.

O Multiverso estendia-se à minha frente mais uma vez! Eu pude sentir os mundos, incontáveis mundos, novos e conhecidos, espalhados em uma tela infinita de realidades. Eu os senti como alfinetes de luz, faróis de poder ao longe. O sonho que tive por milênios estava finalmente ao alcance das minhas mãos: eu podia partir desse lugar terrível! Eu comecei a desvanecer, para qualquer lugar que não fosse este…

Não. Meu trabalho aqui não acabou. Ainda não.

Eu me puxei de volta do fluxo de mana, e o poder fluía por mim. Um estalar de dedos e um dos edros estruturais saiu do alinhamento. O poder total das linhas de força o segurou no lugar por mais um momento, mas depois, lenta e dolorosamente, desabou terra abaixo. Houve gritos de terror incrédulo, Ulamog se debateu e o restante da rede desmoronou. E, lá embaixo, muito abaixo de mim, eu vi. A pequena elfa. Ela tinha de saber o que estava acontecendo, ela tinha de sentir em seus ossos. Sim. Ali está. Ela olhou para mim e sua face tinha uma composição de choque com um desespero completo, absoluto. Era um bom começo. Mas eu estava longe de terminar.

Uma a uma, eu sentia as minhas ligações com os mundos que conquistara reaparecendo. Não eram todas, mas eram o suficiente. Fazia tanto tempo. Eu soltei um raio enorme de aniquilação para mirrar os exércitos abaixo, cortando sua retirada e forçando-os de volta para o caminho de Ulamog. Os zendikari morriam, centenas por segundo, e eu conseguia sentir cada vida sendo apagada – tonificante, suculante e doce.

Um bolsão de ordem se formava nas linhas de batalha lá embaixo. Alguns planinautas estavam desesperadamente tentando organizar uma retirada; não que houvesse algum lugar significativo aonde podiam ir. Com a cabeça inundada em poder, eu não queria mais nada além de arrebatá-los e acabar com todose eu o faria – , mas me segurei. Ainda não. Ainda não.

Havia uma última coisa que precisava fazer antes.

Muito abaixo da superfície, ele já estava começando a se mover. Eu sussurrei algo para ele, e a distância não importava. Eu ousei não encontrar a minha mente demais na direção delea realidade se retraiu e se partiu apenas com a aproximação dos meus pensamentos. Mas o poder estava lá, e poder conversava com poder. Não havia uma consciêncianão de algum modo que pudesse descrever –, mas havia uma vontade, e aquela vontade não queria nada além de receber um propósito.

 

Ob Nixilis Reaceso | Arte de Chris Rahn

 

Gargalhei. Eu não havia sentido júbilo assim antes, nunca. Nenhum triunfo, nenhuma glória era maior do que isso. Seres de poder Seres de poder querem ser invocados! Com a minha centelha reacendida, era a coisa mais fácil do mundo.

Mais uma palavra. Apenas uma palavra era tudo o que precisava. O mundo sacudiu quando eu a disse. A danação de Zendikar chegara, afinal.

Estendi-me para o sul e o agarrei. O acordei completamente com a força total da minha vontade. Seria minha a última palavra para esse plano de existência miserável, e eu a gritei do centro da minha alma.

Levante-se!

 

Traduzido por: Meg Fornazari

 

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