Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

A DESTRUIDORA DE PEDRAS, PARTE 02

Texto original
por Jenna Helland

Lia mordeu a mão que puxou o saco de sua cabeça. Alguma coisa gritou, mas não bateu nela. Ao contrário, colocou-a gentilmente no chão e recuou.

“Eu sou Nira,” disse suavemente. “E eu sinto muito que tivemos que nos conhecer dessa maneira.”

 

Lia olhou para a pessoa parecida com um gato e decidiu que era uma garota. Mais três pessoas-gatos estavam de pé, cautelosos, como se sentissem ameaçadas pela pequena garota que as encarava. Rapazes, ela decidiu. Eles tinham jubas.

“Eu quero ir para casa!” Lia gritou, assustando todos eles.

“Você já viu as ruínas na encosta da montanha?” Nira perguntou. Seu pelo dourado era decorado com manchas pretas. Jóias de pedra azul pendiam de suas orelhas pontudas. E os bigodes ao redor do nariz rosado tremiam mesmo quando ela não estava falando.

“O que é você?” Lia exigiu, olhando em volta. Eles pareciam estar dentro de uma caverna. Tochas estavam penduradas na parede e cobertores haviam sido colocados sobre o chão de terra vermelha.

“Você nunca viu um nacatl antes?” Nira pareceu surpresa. “Somos os Golpeadores Solar. Nosso bando é leal ao grande mestre, Ajani. É nosso dever sacramentado manter suas terras em segurança.”

 

“Estas não são terras dele,” Lia disse petulantemente.

“O demônio que vive nas ruínas é uma ameaça para todos nós, não importa onde nós chamamos de casa,” Nira respondeu.

“Por favor?” Lia disse. Eu quero ir para casa.”

A Golpeadora Solar olhou por cima do ombro, como se esperasse que seus companheiros pudessem tornar isso mais fácil. Eles não disseram nada. “O demônio está colhendo os ossos de criaturas para um ritual…”

“Ritual?” Lia perguntou em confusão.

“Ele está matando inúmeras criaturas apenas para ter mais poder”, explicou Nira. “Estamos caçando-o há muito tempo. Muitos do nosso bando morreram, incluindo a maioria dos nossos magos. Ele levou sua aldeia, o que eu não esperava que acontecesse tão rapidamente.”

“Levou para onde?” Lia imaginou se o demônio estava com a garota de olhos verdes e se sentiu culpada por pensar nisso.

“Para as ruínas aqui nas montanhas,” Nira lhe disse. “Se você não nos ajudar, eles vão morrer. Eu queria que você não tivesse que ouvir isso, mas é a verdade.”

 

Lia pensou em seu pai e em quão alto ele era. Ela não podia imaginar nada que pudesse machucá-lo. “Vamos procurar meu pai. E minha mãe é uma maga. Ela ajuda as pessoas o tempo todo.”

A Golpeadora Solar pareceu triste. “Você deve ajudá-la. Sua família também está nas ruínas.”

Lia abraçou os joelhos e se perguntou por que não sentia nada. Tudo isso parecia parte de uma história para dormir. Um gato que podia falar. Um demônio nas montanhas. Certamente Nira estava errada. Sua família estava a salvo na cabana, esperando por ela.

“Devemos atacar antes que o demônio complete o ritual,” disse Nira. “Para o meu plano funcionar, precisamos de uma destruidora de pedra, e todos os nossos foram mortos.”

“O que é uma destruidora de pedras?” Lia perguntou.

“Você é uma,” ela respondeu. “Eu te observei no rio. Você será uma maga poderosa um dia.”

“Quebrar pedregulhos não é muito útil,” disse Lia, duvidosa.

“Hoje, você quebra pedregulhos. Amanhã, você vai quebrar paredes. Algum dia, castelos podem desmoronar em sua passagem.”

Lia olhou para ela com admiração. Lia galopou em seu cavalo branco e o Castelo de Eos caiu no chão.

Nira desembainhou sua espada. Com a ponta da lâmina, ela rapidamente arrastou terra vermelha. Lia a observou com curiosidade.

 

“Como você, um dragão tem uma espinha,” Nira disse a ela. “Mas ao contrário de você, alguns dragões têm uma grande placa que se conecta a cada costela. É também onde as asas se prendem. Chamamos isso de pedra angular.”

“Pedra angular?” Lia perguntou.

“Pedra angular significa algo importante,” Nira disse. “Se você destruir esta placa, o esqueleto vai cair. E então o ritual não poderá ser terminado.”

“Você quer que eu mate um dragão?” Lia sussurrou. Ela não queria que Nira pensasse que ela era fraca, mas também não queria desapontá-la.

Em vez de responder, Nira embainhou a espada e segurou as pequenas mãos de Lia. “Você consegue escalar?” ela perguntou gentilmente, inspecionando os dedos curvados de Lia.

“Melhor que as outras crianças,” ela prometeu.

“Qual é o seu nome?” Nira perguntou.

“Lia,” ela disse.

“Entre o meu povo, um guerreiro recebe um novo nome antes de sua primeira batalha,” disse Nira. “Posso te dizer a seu?”

Lia assentiu. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. Ela, uma guerreira?

“Na minha língua, kaa significa” ‘poder’,” disse Nira.” Agora você é a guerreiro Kaa-lia. Você vai destruir a pedra angular. E você trará sua família de volta para casa.”

 

Pouco antes do pôr do sol, Kaalia estava debaixo de uma árvore morta no cume que dava para a arena. Com exceção de Nira, o bando esfarrapado de Golpeadores Solar já havia desaparecido nas árvores. Eles circulariam e lançariam seu ataque de uma direção diferente. Kaalia olhou para a cena frenética no vale. Ela tentou ensaiar as instruções de Nira, mas seus pensamentos pareciam estar se movendo muito rápido.

O massacre inútil de inocentes deve parar.

O esqueleto do dragão avérneo era como uma horrível casa.

Mate a pedra angular, destrua o esqueleto.

Os ossos balançavam com a brisa e faziam uma música oca e estridente.

Destrua o esqueleto, pare o demônio.

Kaalia choramingou, mas Nira não se mexeu. Ela estava assistindo a cena debaixo, atentamente.

Pare o demônio, traga sua família para casa.

Quando o sol desapareceu atrás das montanhas escuras, uma fila de pessoas vestidas de preto entrou silenciosamente na arena. Tiras de pano preto cruzavam suas gargantas. Kaalia não viu sua família, nem ninguém da vila.

 

“Aqueles são seus servos,” Nira sussurrou.

“Eles querem estar aqui?” Kaalia ficou horrorizada. Ela podia sentir o cheiro horrível vindo das ruínas. Como alguém poderia querer estar lá?

“Eles podem ter sido controlados de alguma forma,” Nira disse, enquanto um clarão de luz vermelha piscava do cume do outro lado do vale.

“Esse é o nosso sinal,” Nira sussurrou. Ela agarrou a mão de Kaalia, e as duas correram pela encosta coberta de vegetação, por uma abertura na muralha quebrada, e se agacharam atrás de uma das enormes costelas. Eles estavam a poucos metros do andar principal, e Kaalia percebeu que seus dentes estavam batendo de medo. Ela apertou a mandíbula enquanto os criados formavam um círculo em volta dos ossos pendurados. Ajoelhando-se, eles estenderam as mãos com as palmas das mãos abertas para o céu noturno. Um careca magrelo, enrolado em farrapos de pele foi até uma plataforma no extremo norte. Ele estava sorrindo, mas era um sorriso desdentado e perverso que fez Kaalia estremecer.

Durante uma missão de reconhecimento anterior, Nira havia descoberto marcações ao longo da curvatura externa da costela que lhes permitiria subir e não serem vistas. Mas assim que Kaalia colocou o pé no primeiro degrau, o chão resistiu violentamente. Os servos gritaram de alegria, e o som de sua risada fez Kaalia se sentir doente de medo.

“Vamos,” insistiu Nira. “Temos que nos apressar.”

Enquanto Kaalia subia, a superfície áspera arranhava suas mãos. Os cânticos dos servos ficaram mais altos e mais exigentes. Um estrondo trovejante sacudiu a terra e os servos gritaram de dor. As palmas das suas mãos se abriram simultaneamente. Gotas de sangue começaram a cascatear em direção ao céu. Kaalia olhou para Nira com horror. Pele não se rasgava por conta própria. Sangue não chovia para cima.

 

“Se você destruir a pedra angular, os ossos cairão,” Nira a encorajou. “Toda essa loucura vai acabar.”

No topo da costela, Nira pulou na espinha primeiro e ajudou Kaalia a subir. Um vento forte parecia se apressar de todos os lados, e os ossos balançavam precariamente sob seus pés. Seguindo a direção de Nira, elas se abaixaram na passarela quando uma fumaça doentia começou a subir de baixo.

Os ossos afiados ficaram próximos da barriga de Kaalia, enquanto ela avançava em direção à pedra angular. Com o canto do olho, ela viu os outros Golpeadores Solar lutando contra uma multidão de homens armados para atacar o careca na plataforma. Em sua pressa de escapar dos Golpeadores, o homem careca subiu uma escada até a passarela. No topo, ele as avistou e uivou de raiva. Nira saltou de pé.

Nira sacou sua espada. “Faça agora!” ela ordenou Kaalia.

Kaalia se agachou na frente da pedra angular. Seus pés continuavam escorregando entre as fendas da espinha. Eu vou cair. Apenas alguns centímetros abaixo dela, os ossos pendurados ondulavam com magia que ela não conseguia compreender, fundindo-se e depois desmoronando. Era hipnotizante. Kaalia não queria desviar o olhar. Se eu desviar o olhar, eu vou cair.

 

“Kaalia!” Nira gritou. Ela atacou o careca, mas ele se esquivou do golpe e contra-atacou. Nira ergueu sua espada para bloquear, mas a força de seu golpe quase a derrubou do caminho. Para um homem que era só um pedaço de pele, ele era anormalmente forte.

Kaalia desviou os olhos da massa de ossos abaixo dela. Mas ela se sentiu nervosa, aterrorizada. Como ela conseguiria acalmar sua mente, como era necessário quando ela quebrava pedregulhos?

“Cale a boca do mundo!” Nira gritou. “Finja que você está em outro lugar!”

Kaalia pressionou a mão contra a pedra lisa, fechou os olhos e desejou estar de novo no rio. Bant havia sido um grande reino. Uma bela terra de castelos flutuantes, mares de grama exuberante e os céus mais azuis que você pode imaginar. Sob seus dedos, a pedra angular se aquece. Era um dia fresco de outono, quando o castelo de Eos foi sitiado por criaturas horríveis. Kaalia imaginou o rio cintilante correndo pelos dedos dos pés descalços. Eles atravessaram a muralha! Houve um som ondulante, e então seus dedos só sentiram o vazio. Lia galopou em seu cavalo branco e o Castelo de Eos caiu no chão. Quando Kaalia abriu os olhos, a pedra angular havia sumido e um buraco quase bifurcava a espinha.

Triunfante, ela chamou Nira, mas mãos ásperas a arrancaram da passarela. O careca estava sacudindo-a e gritando na cara dela. Atrás dele, Nira lutava para se levantar. Sangue manchava o pelo na cabeça da Golpeadora.

“Seu rato!” o homem gritou. “Você é o número final! Seu sangue vai acender o pavio!”

E ele a jogou de lado.

Com uma graça felina, Nira pulou atrás dela. No ar, ela envolveu Kaalia em seus braços e elas caíram juntos. Pouco antes de aterrissarem, Nira girou o corpo para amortecer a queda de Kaalia. Acima, houve um estalo alto quando a espinha quebrou. O careca balançou um momento antes que a caixa torácica do dragão avérneo se partisse ao meio e caísse. Seu corpo bateu no chão com um baque surdo. Ossos caíram no chão, chovendo sobre Kaalia enquanto ela tentava desesperadamente ajudar Nira. A visão de Kaalia girou perigosamente.

“Nira!” Kaalia soluçou. “Nós paramos! O esqueleto caiu aos pedaços.”

“Muito bem, pequena guerreira,” Nira sussurrou. “Agora fuja daqui. O resto de nós está perdido.”

Uma explosão de energia irradiou do chão, que se abriu e deixou uma cicatriz irregular na arena. Ossos e corpos voavam como penas ao vento. Kaalia bateu contra a parede da arena, protegendo freneticamente seu rosto dos escombros que caíram ao redor dela. Ele surgiu da fenda que agora cortava o chão. Suas asas estalaram e se encaixaram enquanto ele se erguia lentamente no céu noturno.

 

Era como se o mundo inteiro tivesse se reduzido a um único pontoele. Ele sacudiu a lâmina pelo ar e os gritos dos moribundos ecoaram pelo vale. Lutando por consciência, Kaalia vislumbrou uma imagem do rosto da Golpeadora girando na fumaça acima dela, e então o mundo escureceu.

Quando Kaalia acordou, um sol fraco estava nascendo no leste, lançando uma mortalha branca sobre a devastação ao seu redor. Nada se movia em meio aos destroços. Não havia sons exceto o distante zumbido dos gafanhotos. Os corpos espalhados entre os destroços foram queimados além do reconhecimento. Do outro lado do vale, metade do cume desaparecera, com apenas uma cratera fumegante em seu lugar. O demônio havia escapado.

Ela se ajoelhou ao lado do último lugar que Nira estava deitada. Kaalia se sentiu vazia. Como se suas entranhas tivessem sido arrancadas, e houvesse apenas sombras no lugar. Eu matarei o demônio. Eu não sei como ainda, mas vou encontrar uma maneira de fazê-lo sofrer. No vasto deserto, é onde ela encontraria sua vingança.

 

 

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