Mtg Lore

Compêndio da Lore de Magic the Gathering

A ASCENSÃO DE KOZILEK

Texto original
por Kelly Digges

A planinauta tritã Kiora foi fundo para defender seu mundo natal contra os Eldrazi. Ela roubou a fabulosa arma de uma deusa no plano de Theros e a trouxe até Zendikar. Kiora se lembrava das histórias antigas dos deuses dos tritões e de como o deus travesso Cosi fazia Ula, o deus dos mares, de tolo – Cosi era uma memória deturpada do titã Eldrazi Kozilek, dobrador de realidades, e Ula, na verdade, o titã Ulamog. Com Ulamog destruindo toda Zendikar, Kiora se inspirou nas antigas histórias dos truques de Cosi para enfrentar oque ela imagina ser Ula, o deus dos mares.

Os outros planinautas lutando contra o Eldrazi pensam que estão aprisionando Ulamog, mas Kiora não tem intenção alguma de parar. Ela tem sua arma divina. Tem aliados poderosos nas profundezas. Sua trajetória agora está clara.

Sua batalha contra um deus está finalmente ao seu alcance.

________________________________________

Kiora desceu suavemente das alturas estonteantes do Portão Marinho, de pé na beirada de um tentáculo gigantesco, agarrando o bidente que estava prestes a matar um deus.

Planinautas deviam ter visão.

Ela não estava com raiva. Não de verdade. Não chegara até aqui confiando que os outros veriam as coisas como ela, e não tinha total certeza por que se incomodara em tentar convencê-los. Mas a ideia de enfrentar Ula era tão grandiosa, tão intoxicante E ela tinha uma arma que poderia fazer o serviço. Certamente, alguém iria querer compartilhar esse triunfo!

As guelras de Kiora se abriram quando o tentáculo gigantesco do polvo mergulhou para baixo da superfície das águas. Lá, esperando por ela nas águas rasas que lambiam o Portão Marinho, estava seu próprio exército, aquele que os pés-secos tinham dispensado: cinco dos próprios travessos de Cosi e uma legião de monstros marinhos.

“Qual é o plano?”, perguntou um dos travessos, na linguagem tão peculiar que os tritões usavam embaixo d’água. Shen era o nome dele.

“Nos dividimos”, disse Kiora. “Não temos tanto tempo quanto pensávamos.”

“Há algo errado?”, indagou outro dos travessos, Yesha.

“Nem um pouco”, ela respondeu. “Ula está… Ulamog está vindo para cá.”

“Quem disse?”, duvidou Shen.

Travessos eram céticos notórios, pois tinham a percepção de como era fácil afirmar algoe de como era difícil provar que alguém era falso.

“Uma mergulhadora das ruínas, chamada Jori En”, disse Kiora.

“Ouvi falar dela”, comentou Shen. “Ela é confiável.”

Uma escolha bem cuidadosa de palavras. Jori pode ser confiável, mas não é devota a Cosi.

“E o melhor”, disse Kiora. “Vocês se lembram daqueles outros mundos que eu contei? Para onde eu consigo viajar?”

Os travessos murmuraram afirmativamente. Ela não tinha certeza do quanto eles acreditavam nela, mas era óbvio o suficiente que o bidente viera de fora de Zendikar.

“Bom, de acordo com os estudiosos lá da torre, talvez nem precisemos matar Ulamog. Se o machucarmos o suficiente, ele pode deixar Zendikar e ir incomodar algum outro mundo.”

Os travessos não regozijaramela não esperava isso –, apesar de provavelmente não ser pelos mesmos motivos da elfa coração-mole lá da torre.

“Se ele for embora, ele pode voltar”, disse Yesha.

“Se ele partir”, respondeu Kiora, segurando sua arma roubada com firmeza, “eu posso segui-lo.”

“Então, qual é o plano?”, perguntou Shen mais uma vez. Ele era o mais impaciente dos cinco, e o mais propenso a questioná-la — um adorador realmente devoto a Cosi. Kiora gostava de Shen.

“A ideia deles é atrair o titã até algum tipo de armadilha com edros”, disse Kiora, “e segurá-lo neste mundo, como ele estava antes. Sem dúvida, é uma noção atraente para quem pode pegar as coisas e ir embora quando acabar.”

Os travessos fizeram sons de asco.

“Nossa ideia é matá-lo se pudermos, e afastá-lo daqui se não pudermos”, anunciou Kiora. “Felizmente, para nós, a ideia deles e a nossa são compatíveis… Até certo ponto. Vamos bater no Ulamog com tudo o que temos, e se isso que vamos tirar vantagem da distração deles, tanto melhor. Thola, Inash, Runari… vocês ficam aqui. Ajudem os outros caminhantes de mundos com a armadilha de edros, e entrem na matança do Ulamog, se eles tiverem um lampejo de sensatez. Se não… façam o que devem fazer.”

 

Kiora, Mestra das Profundezas | Arte de Jason Chan

Os três travessos assentiram e nadaram para longe. Kiora mandou uma ordem para metade dos seus monstros marinhos, um lembrete gentil de que esses tritões dariam ordens em nome dela. Ela calculou que as chances disso funcionar estavam mais ou menos na metadea chance da maré, como os tritões a chamavam: às vezes para dentro, às vezes para fora. Mas os travessos estariam a salvo, pelo menos.

Kiora se virou e nadou para longe do Portão Marinho, para o mar aberto. Shen e Yesha a acompanhavam, junto com a metade da sua armada. Eles lutaram para atravessar a nuvem de proles Eldrazi que nadavam em torno de Ula, e, então, estavam livres, com apenas água à frente deles.

“E a gente?”, indagou Shen. “Aonde estamos indo?”

“Para fora e para baixo”, respondeu Kiora. Para fora era uma direção típica de tritões, sempre para longe da costa mais próxima – apesar de que Kiora, às vezes, usava o termo para descrever aquela direção que somente ela e outros como ela poderiam seguir: para fora do mundo e para longe das praias da realidade.

“Você vai nos contar por quê?”, indagou Shen.

“É importante o suficiente para Kiora virar as costas para Ulamog”, disse Yesha. “É o suficiente para mim.”

Isso calou Shen, pelo menos, mas Kiora podia vê-lo pelo canto do olho, com seu maxilar cerrado e olhos escuros. Os travessos não seguiam Kiora porque ela era planinauta, nem mesmo porque era poderosa. Eles a seguiam porque queriam fazer parte da história que ela estava contando, uma história sobre roubar a arma de um deus e usá-la para derrubar outro.

Eles nadaram através daquele silêncio taciturno por bastante tempo, bem além das plataformas continentais e sobre o mar aberto. Atrás e abaixo deles estavam as criaturas marinhas de Kiora, mordendo o mar inquietos na direção uns dos outros enquanto nadavam. Estavam entediados, prontos para agir. Kiora não os culpava.

“Estamos fora o suficiente”, disse Kiora, e o trio parou de nadar.

Shen e Yesha esperaram.

“Por milhares de anos, nós e os nossos ancestrais não sabíamos que adorávamos os titãs Eldrazi”, Kiora começou a dizer. “Tenho certeza de alguns ainda fazem isso.”

Shen resmungou com o comentário. Muitos tritões supunham que se alguns deles ainda reverenciassem os Eldrazi, os travessos, com certeza, estariam entre eles – quando nada poderia ser menos verdade.

“Nós, que mantivemos a fé em Cosi, sabemos que não há nada especial nos deuses. Não existe uma divindade. Só existe o poder. E qualquer coisa com poder suficiente, especialmente algo antiquíssimo, pode tomar o manto de um deus. Eu roubei esta arma de um ser que se autoproclamava deusa, e é uma arma digna disso. Mas lembrem-se que os Eldrazi não são as únicas coisas que o nosso povo já adorou como algo divino.”

Ela olhou para baixo, para dentro do abismo que se estendia abaixo deles. Os olhos de Shen se arregalaram.

“Afinal”, continuou Kiora, “do que mais você chama um ser que estava vivo para ver os Elrazi sendo aprisionados, para começar? Do que mais você chama aquele que comanda as próprias mares com cada movimento?”

Agora, Yesha também compreendia. Kiora via nos olhos dela.

Kiora ergueu o bidente à sua frente e canalizou todo o poder que tinha em si. O bidente começou a brilharprimeiro azul, depois branco, até que o brilho ofuscante parecesse cegar. Kiora dividiu as correntes e as beiradas da sua percepção se estendiam como se fossem tentáculos se contorcendo. Ela se perdeuum cisco flutuando em um mar vasto e famintoe os oceanos de Zendikar se abriram para ela. Ali pertoperto do cisco, perto demaisestava Ula, uma grande mancha de tinta preta se espalhando com uma corrupção morta e sem sentido.

Ela se estendeu mais, então, por todo o mar. As formas dos continentes se revelaram no espaço negativo, as falésias e vales do fundo do mar se estendendo entre eles. Em algum lugar, nadando pelo mar escuro e amplo, estava sua irmã e mais uma dúzia de tritõesmas Kiora não conseguia discerni-los das baleias e dos krill, e dos restos de naufrágios. Mais à frente deles, ou além de onde ela esperava que estivessem agora, para a costa longínqua do Murasa.

Lá está. Ela o encontrou, enroscado firmemente nas profundezas, dormente. Cochilando. Kiora nunca ousara chamá-lo — ela não tinha certeza, honestamente, se conseguiria. Mas não o chamaria agora, não de verdade, ao menos não sozinha. O bidente chamava. Ele responderia.

Na escuridão tão distante, um olho se abriu.

Kiora voltou a si, e abriu seus olhos. Ela não tinha ideia de quanto tempo se passara, mas sentiu como se tivesse passado horas nadando. O brilho do bidente diminuía, mas não por completo; ele pulsava em um ritmo lento e fixo.

“O que é isso?”, indagou Shen. “Por que chamá-lo se Ulamog está tão perto? Do que nos adianta o poder se ele estiver a um oceano de distância?”

“Nada de nada”, respondeu Kiora. “É por isso que eu não o chamei.”

A água ficou muito fria e imóvel.

“Eu o invoquei.”

Yesha empacou.

“O que a faz pensar que pode ao me

E, então, ele estava lá, com eles, uma escuridão vasta que ocultava o pouco de sol que ainda os alcançava lá embaixo.

 

Lorthos, o Forma-Maré | Arte de Kekai Kotaki

Lorthos!

Ela o invocou, e ele veio! Kiora teria gargalhado se não fosse tão aterrorizante.

O grande volume se mexeu, girou, toda uma paisagem de cracas e cicatrizes na carne emborrachada se erguia ao lado deles. Era estonteante, como a sensação de voar. Com o tempo, um bico enorme ficou à vista, um maxilar que poderia engolir uma baleia inteira sem ao menos mastigar.

Espere! Disse Kiora, segurando o bidente mais uma vez. Ela canalizou o pensamento através do bidente, mas não era um comandonão igual a quando ela exigia que suas feras marinhas menores a obedecessem. Era uma súplica. Há intrusos no seu mar, ó grande. Lutaria contra eles ao meu lado?

O bico se abriu e fechou, e abriu novamente, mas o grande polvo não a engoliu inteira.

Eu não sou fraca, pensou Kiora. Eu o invoquei e carrego uma arma que pode feri-los. Juntos, eu e você, podemos ensinar uma lição de humildade a estas criaturas.

Eram conceito de civilização: arma, lição e humildade – mas, com certeza, algo dentro de Lorthos sabia que ele era o poder, e o poder deve se defender.

O bico se fechou e a vastidão detalhada do corpanzil de Lorthos passou por eles mais uma vez. Enfim, seu olho ficou à vista, com um brilho azulado, e o olho brilhava no mesmo ritmo do bidente. Como estes tritõezinhos deviam parecer pequeninos para ele! Féculas insignificantes dançando pela escuridão, ousando dizer seu nome.

E, então, ele se virou e nadou abaixo deles, expondo o topo do seu manto. A sucção puxou Kiora e seus travessos, e eles nadaram com a corrente. Suas criaturas marinhas menores se afastaram para as beiradas da sua percepção, tentando ficar longe daqueles tentáculos enormes.

“Segurem-se em alguma coisa!”, avisou Kiora. “Não será um passeio suave.”

Shen e Yesha encontraram lugares para ficar entre os relevos da pele de Lorthos. As cicatrizes eram profundas o suficiente para se esconder, cracas maiores do que os maiores mariscos que ela já viraa escala dele era quase incompreensível. E Ula é ainda maior.

Kiora assumiu seu posto no topo do manto de Lorthos, e seu bidente ainda pulsava no mesmo ritmo que o olho dele. Shen escolheu um lugar próximo a ela, sem dúvida pronto para tomar o bidente caso ela caísse em combate. Ela encontrou os olhos dele e deu uma piscadela.

Ainda não.

E, então, Lorthos se ergueu e Kiora se ergueu com ele.

Ela não precisava dizer aonde ir. Ele sabia, ele conseguia sentir a intrusão do titã Eldrazi nos seus mares. Ele ão podia saber de outros mundos, e provavelmente não fazia ideia o que seriam os Eldrazi. Mas ele sabia do poder – e conhecia um desafio.

Lorthos se lançava à frente com propulsões, se expandindo e contraindo como se fosse um coração gigantesco. Kiora cerrou os dentes. Viajar de polvo era sempre assim, mas desta vez era pior – ele era tão grande! Apesar disso, ela não conseguia refutar os resultados, já que cada surto dele os empurrava centenas de milhas à frente.

Lenta e inexoravelmente, Lorthos e Ula convergiram para o Portão Marinho.

Os monstros marinhos de Kiora se espalharam entre eles, servindo como uma tela contra as ondas de proles. A mente dela era puxada em uma dúzia de direções ao mesmo tempo, tentando manter o controle sobre sua vasta armada cujos membros feridos tinham seus instintos ferais deslizando da luta para a fuga.

A água foi ficando mais rasa enquanto se aproximavam, e cada propulsão de Lorthos erguia seus passageiros para fora da água, piscando com o ar e o sol, para logo depois serem lançados de volta ao oceano. E, então, ficou raso até para isso, e Lorthos se ergueu do mar com seus tentáculos. Seu manto irrompeu pela superfície e lá ficou, erguendo grandes ondas no pequenino porto e dando a Kiora sua primeira visão clara do inimigo.

O estratagema dos outros planinautas estava funcionando. Ula estava no centro de um círculo de edros brilhando fortemente com uma luz cegante, cegante mesmo. Seus braços e tentáculos se debatiam, batendo em seus atacantes e em sua prisão, mas ele parecia estar preso.

 

Arte de Craig J Spearing

Olha só isso! Seria esta a face de um deus? Esse vazio entorpecido em osso branco? Ele parecia tão estúpido, se agitando como uma sépia presa na arapuca. Por que alguém pensara que essa criatura patética um dia fora digna de reverência? Só porque era grande? Rá!

Mas ele era mesmo enorme.

Aqui, tão perto e ainda se aproximando, a enormidade do seu inimigo começou a se fazer ver. Ele era uma torre acima da água, quase tão alto quanto o farol, mesmo estando parcialmente submerso. Contra um titã Eldrazi até mesmo Lorthos parecia pequeno. Em uma luta “tentáculo a tentáculo”, o grande polvo do Murasa não teria chance alguma. Que bom que ele teria a ajuda dela.

E algo deu errado. O poder que passava pela rede de edros alinhados avermelhou e depois enegreceu. Ele fulgurou em um dos edros, um lampejo escuro. E, então, um a um, os edros começaram a cair do céu.

Kiora não sabia o que tinha acontecido, ou como. Talvez os edros estivessem podres ou defeituosos, ou oque quer que aconteça quando você deixa os edros por aí por alguns séculos a mais. Ou talvez ele tenha apenas se libertado. Por qualquer motivo, o efeito estava claro: Ula estava livre da sua prisão.

Em frente! Ela pediu a Lorthos, apesar de ele mal precisar que lhe dissesse. Ela sorriu largamente e arriscou ficar de pé, se apoiando no bidente. Enfim, ela puniria Ula pelo que ele fizera com o povo e com o mundo dela – pela destruição desde que foi libertado; pelos milênios de enganação antes disso; por ser a podridão purulenta no coração desse plano de existência por tanto tempo.

“Ula!”, ela clamou. “Vire-se e me enfrente, miserável!”

Shen olhou para ela como se tivesse ficado louca. Era gratificante.

Ula não se virou para ela, mas, sim, para longe, para andar pesadamente ao longo da represa na direção da praia. Covarde!

A água começou a borbulhar, ficando agitada e violenta. No início, Kiora pensou que pudesse ser sua própria fúria canalizada subconscientemente pelo bidente. Mas não não, isso era outra coisa. Outra coisa estava acontecendo e ela não sabia o que era; e, então, ela viu e ah, pelos deuses e monstros

 

Retorno de Kozilek | Arte de Lius Lasahido

A forma alienígena que se ergueu pela paisagem lhe era horrivelmente familiar. Uma coroa de placas negras como azeviche estava sobre o nada que deveria ser a cabeça daquela coisaimpossivelmente achatada e escura, como um buraco no espaço. Um manto de carapaça brilhante se espalhava embaixo daquilo. Suas mãos enormes se esticavam e duas espadas de obsidiana se estendiam dos seus antebraços.

Cosi.

Com um passo, ele estava na água, lançando uma onda contra o outro lado da baía. Com mais um, estava na frente do Portão Marinho. Ele ergueu um braço gigantesco e o lançou, e a pedra branca e brilhante da represa pareceu se esticar sob ele, derretendo, fluindo para fora e para os lados em quadrados espirais, da mesma cor do óleo na água. Kiora assistiu desamparada a Baía de Halimar, cujo nível da água era mantido acima do oceano pelo próprio Portão Marinho, deslizar pela abertura como uma cascata em torno do braço de Cosi, em geometrias impossíveis.

Os dois titãs se moveram, um na direção do outro, e por um segundo insano Kiora imaginou que eles lutariam pelo privilégio de devorar Zendikar. Eles passaram um pelo outro, lentos e calmos como icebergs. O momento passou.

Cosi se virou para ela.

O mundo parecia se torcer em torno dele, como se ele fosse o centro de tudo. Aquelas placas pretas e perfeitas sobre sua cabeça pareciam absorver a própria luz. Ela não conseguia compreender a forma delas, ou se eram mesmo sólidas. Onde elas se sobrepunham, pareciam estar fundidas. Não eram objetos, nem mesmo formaseram buracos no espaço, e a cativavam.

Quem a ensinara que deuses podiam ser desafiados? O exemplo de quem a trouxera nessa trajetória de colisão contra um deus contra dois? Histórias com Cosi lhe mostraram que Ula poderia ser enganado, derrotado, humilhado. Mas havia algo que ela se esquecera na gana de enfrentar Ula, algo que toda história com Cosi tinha em comum.

Cosi sempre ganhava. Não os mortais que seguiam o exemplo dele. Não os golfinhos que gargalhavam em glória a ele. Cosi sempre ganhava. Kiora enganara Thassa, e pensara humilhar Ula. Mas Cosi a enganara.

Um movimento no canto de um dos seus olhos a trouxe de volta. Shen ficou de pé ao seu lado, com expressão facial afrouxada e olhos negros. Em torno da cabeça dele flutuava uma coroa com placas de obsidiana, como as de Cosi.

Ele se lançou contra ela.

Kiora cambaleou para trás pela pele escarpada de Lorthos. Shen continuava a avançar, tentando alcançá-la descerebrado, perdido. O bidente se prendeu em uma das cicatrizes do polvo, e ela ficou presa. Kiora teve apenas um momento para decidir.

O bidente era a arma de uma deusa, sim. Tinha um poder vasto, sem dúvida, e ela ainda não tinha vislumbrado uma parte dele. Mas era uma arma, afinal, e serviria para o mesmo objetivo que qualquer outra arma.

Ela ergueu o bidente e suas pontas duplas se enterraram no tórax de Shen.

Os olhos de Shen clarearam e as placas acima da cabeça dele sumiram. Ele olhou para ela, com as mãos já sem forças tentando agarrar o bidente. Ele tentou dizer algo ou perguntar algo, mas tudo o que saiu foi uma espécie de gemido grave sibilado. Saía sangue de onde as pontas do bidente estavam.

Ela o chutou para longe. O bidente deslizou facilmente dele, e o sangue vermelho vivo respingou pela pele de Lorthos. Shen caiu para longe dela, escorregou, tombou até a água e se foi.

Cosi se assomava sobre ela agora, e suas gavinhas se emaranhavam com os tentáculos de Lorthos furiosamente. Kiora lançou poder para o bidente manchado de sangue, dando apoio a Lorthos nessa luta, mas o polvo seria desesperadamente sobrepujado. Os braços de Cosi rotacionaram de um modo impossível, retorcidos estranhamente naquele cotovelo duplo hediondo. As placas de obsidiana que se estendiam dos seus antebraços varreram o mar e se ergueram acima dela; e a água do mar choveu delas. Estas eram realmente as armas de um deus. Comparado a elas, o bidente era um berloque.

Uma lâmina gigante, e depois outra, atingiu o corpo de Lorthos. A segunda não atingiu Kiora por pouco. Sangue anil, quase negro, subiu em torno deles.

Kiora encarou Cosi, mas ele não a olhava. Ele não podiasem cabeça, sem face, apenas uma presença vasta e alienígena acima dela. Ele atacara Lorthos porque o polvo era o único inimigo minimamente próximo do seu tamanho. Kiora e seu precioso bidente eram insignificantes, muito abaixo da percepção dele.

Ela entendeu, finalmente, o que dera errado. Cosi não a enganara. Cosi não compreendia a pequenina história que ela estava contando – aquela em que os travessos atuavam como golfinhos leais e outros planinautas, como tolos -, e ela se sentia ridícula perto de Cosi.

Thassa a odiara. Cosi sequer podia vê-la.

Com um som horrível e molhado, Cosi puxou os braços de Lorthos, separando-os. O corpo dele tremeu e se partiu, e fontes de sangue anil negro salpicaram pela água. A luz do bidente se apagou. Kiora perdeu o chão e caiu, enquanto Cosi deixava as partes irregulares do maior campeão dos oceanos deslizarem das suas lâminas,

Enquanto ela caía, o bidente escorregou dos seus dedos dormentes. Ela assistiu, desamparada, seu maior troféu caindo para longe.

Ela matara Shen. Provavelmente, os outros travessos também, e dúzias dos seus nobres behemoths do oceano. Lorthos, formador de marés, talvez a maior e mais antiga criatura dos mares de Zendikar. Ela matara todos. Eles acreditaram nela; acreditaram no seu brinquedinho; acreditaram nas histórias dela. E morreram por isso. Ao menos sua irmã a deixara, graças aos deuses. Graças a quem for.

Cosi estava na frente do sol. Não não era Cosi. Kozilek, gigante e impossível, uma zombaria distorcida da ideia de um deus.

Ela atingiu a água e a escuridão a tomou.

 

Arte de Zack Stella

 

Traduzido por: Meg Fornazari

 

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