Mtg Lore
Compêndio da Lore de Magic the Gathering
A RETALIAÇÃO DE OB NIXILIS
Texto original
por Kimberly J. Kreines & Nik Davidson
O planejamento tinha dado certo. Juntos, Nissa, Jace, Gideon e o exército de zendikari tinham conseguido construir uma enorme prisão de edros capaz de deter um titã Eldrazi. E apenas um momento atrás, Nissa havia içado o último edro no lugar, prendendo Ulamog – o monstro que estava desolando seu mundo.
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De pé na rocha flutuante próxima a Gideon, Nissa estava no nível da enorme placa facial óssea de Ulamog. A impossibilidade do que acabaram de fazer ameaçou tirar-lhe o equilíbrio, mas a comemoração dos zendikari lá embaixo a mantivera de pé.
Rede de Edros Alinhados | Richard Wright
Por tempo demais, o mundo dela esteve à mercê de Ulamog, que se lançou descontroladamente em um caminho inescapável de destruição – Bala Ged, Sejiri… Mas era quase inconcebível que agora, finalmente, fosse o oposto. Enfim, era a vez de Zendikar destruir. E Zendikar não teria piedade.
“Certo, vamos começar a puxar! Mantenham a formação!” Gideon dava ordens aos zendikari mais abaixo, enquanto descia uma escada de corda na direção do Portão Marinho. “Mantenham o perímetro seguro!”
Era bom o fato de Gideon estar no comando; o povo estaria seguro com ele, e isso significava que Nissa estava livre para se concentrar no titã. Um surto de antecipação inundou seu corpo. Ela olhou para Jace, do outro lado do campo de batalha. Quando seus olhos se encontraram, ele abriu a mente para ela. Ele está preso, como você queria, ela disse. Agora é hora de destruí-lo.
Sim. Quantos edros ainda estão enterrados na falésia?, perguntou Jace. Nissa conseguia sentir a empolgação na voz dele, mesmo que fosse dentro da cabeça dela. Vamos precisar de mais um… não, de dois, na verdade. Nisso, isso vai dar certo! Eu tenho um plano.
Eu também. Nissa desembainhou sua espada.
Mas antes que ela avançasse, Jace empurrou a atenção dela para o círculo de edros. Ele criara seu diagrama ilusório em tamanho real, sobreposto. Com apenas mais dois edros para redirecionar o poder que estamos canalizando, creio que seja possível destruir o titã sem nem precisar tocá-lo. O risco é mínimo – relativamente falando. Se nós apenas… Jace continuou a falar, mas Nissa não estava mais ouvindo. Ela não queria um golpe clínico e calculado, mas, sim, enfiar sua espada no pescoço de Ulamog. Ela queria eviscerá-lo. Ela queria acabar com ele, aqui e agora. Ela prometera a Jace que não tentaria destruir o titã até que ele estivesse preso; agora ele estava preso.
Nissa se virou para olhar o terreno além da falésia rochosa, e entrou em contato com a alma do mundo. Ela chamou e Ashaya respondeu. A elemental se ergueu com uma determinação que Nissa não vira ainda no mundo. Com uma esperança que nunca sentira antes. Zendikar emergiu – pronta, enfim, para a liberdade.
Ashaya, o Mundo Despertado | Raymon Swanland
E, então, algo quebrou. Como um graveto que se parte sob um pé, Ashaya estalou e titubeou, e partes da sua forma desmoronaram. Confusa, Nissa se estendeu mais ao longe e puxou com mais força. Mas Ashaya não lhes respondeu; seus galhos convulsionaram e tremeram, e com ela, toda Zendikar tremeu.
A rocha flutuante onde Nissa estava balançou; primeiro lentamente e, depois, mais rápido com violência. Nissa cambaleou, estendendo os braços para se equilibrar. Os coices e tremores eram tão fortes que parecia que Zendikar se rasgaria em pedaços. E, de repente, parou tão rapidamente como começou. O mundo acalmou, e tudo ficou quieto.
Mas Nissa sabia que era uma falsa calmaria. Algo estava errado, ela podia sentir…
Um rangido rasgado rompeu o silêncio. À direita de Nissa, a represa e tudo nela se inchou, como um maremoto. Nissa assistiu, horrorizada, zendikari e Eldrazi serem lançados pelo ar e atirados contra a muralha de pedra; e sendo lançados novamente quando a coisa toda se retraiu uma segunda vez.
Com olhos arregalados e selvagens, Nissa se virou para Ashaya. Zendikar irradiava uma enxurrada de dor e horror enquanto a elemental desmoronava e se tornava uma pilha de escombros.
“Ashaya!” Nissa correu para sua amiga, mas foi jogada de joelhos quando outra ondulação se espalhou pelo mundo como uma ânsia de vômito.
Ao longo do mar, à sua esquerda, o círculo de edros se agitava com a mesma violência da terra. As linhas de força tensionaram para manter sua formação, enquanto surto após surto de tremores ondulavam por toda baía. A prisão iria se desfazer. Mas não era o balanço do mundo que a tensionava. Era o contrário. A prisão incômoda era quem tensionava o mundo. Lá, bem acima da prisão, Nissa viu um edro perdido, um poder enegrecido saindo dele, destruindo a integridade do alinhamento das linhas de força. Era algo errado. Não devia estar lá. De onde viera aquilo? Ansiosa, ela buscou Jace.
Nissa, foge daí! O grito de Jace encheu sua mente assim que ele obteve sua atenção.
Com um estalido enorme, uma das linhas de força da prisão estourou. O círculo estava rompido. O coração de Nissa parou.
Corre, Nissa! Agora!
Mas Nissa não correu. Ela se lançou na direção da linha de força partida. Isso não pode acontecer. Não agora. Era a vez de Zendikar.
Quando ela pousou sobre uma rocha flutuante perto da fenda, um dos edros semilibertos se inclinou, tensionando sua outra ligação até que ela também se partiu. Por uma respiração, a grande rocha vacilou, suspensa na última nesga de ligação mágica que a mantinha no lugar, e depois tombou para dentro do mar.
Nissa foi encharcada pela onda que se seguiu ao impacto do edro, mas ela não parou nem para secar os olhos. Isso não pode acontecer. Ela se estendeu para a linha de força pendurada, aquela que estava ligada ao edro caído, e puxou seus sentidos para o mana poderoso que compunha a linha de força até conseguir tocá-lo. No momento em que conseguiu, um surto imaginável de poder passou por ela. Nissa se sentiu mais forte do que nunca. Mas aquilo não era importante. O que importava era onde ela canalizaria aquele poder. Ela o enviaria através de si mesma até a outra linha de força pendurada; e completaria o círculo quebrado com o próprio corpo. Ela consertaria tudo.
Nissa se estendeu para a outra linha de força, procurando em sua própria reserva forças para se esticar na direção daquela magia, dando tudo o que tinha no esforço de fechar o círculo. Só mais um pouquinho e…
Nissa foi derrubada.
Ela só viu o tentáculo rosado e espesso depois que ele a atingira. Ulamog.
Com a integridade da prisão comprometida, ele se libertara o suficiente para fugir pelas beiradas.
Ulamog, o Vórtice Infinito | Aleksi Briclot
Os edros do círculo começaram a balançar, desequilibrando-se. As linhas de força chicotearam para fora do seu alcance. Ulamog não estaria mais contido.
Não! Nissa saltou para a vinha mais próxima, desta vez com a espada desembainhada. Ela mirou no titã. Isso não pode acontecer. Preso ou não, ela destruiria Ulamog. Esta era a vez de Zendikar.
Balançando-se na vinha, Nissa estocou sua espada em um dos tentáculos de Ulamog que se debatiam mais abaixo. Sua lâmina mal deixou um arranhão, mas ela não se importava. Golpeou novamente. E mais uma vez. E, então, o restante do círculo cedeu. Um a um, os outros edros tombaram para o mar. Onda após onda de água do mar respingava Nissa quando uma cacofonia de gritos aterrorizados ressoou atrás. Ulamog, livre das suas amarras, se movia mais uma vez na direção do Portão Marinho.
Nissa gritou com angústia. Por mais impossível que seu sucesso inicial tenha sido ao prender Ulamog, este final parecia ainda mais impensável.
Este final?
Seria mesmo este o fim?
Com aquele pensamento, uma onda de fraqueza banhou Nissa, drenando-a. A única coisa que conseguiu fazer foi forçar seus dedos a segurarem na vinha.
Nissa, o que está fazendo? Você tem de sair daí! Era a voz de Jace na cabeça dela novamente.
Ele estava mais desesperado do que nunca, mas ela não conseguia se mover. Agora!, gritou Jace.
A ansiedade dele não a afetava. Ela encarava a água abaixo, as ondas batendo. Seria frio se ela caísse.
A prisão se quebrou, Nissa, a voz de Jace estava mais calma. O demônio a quebrou. Não há mais nada a fazer. Só foge. Por favor.
O demônio… Nissa se sacudiu. O demônio? De uma só vez ela o sentiu, sentiu o mal do monstro que ele era. Ele estava aqui. Ela olhou para cima. Lá estava ele. O demônio que ela enfrentara em Bala Ged, aquele que arrancara o Coração de Khalni do solo, aquele que tentara destruir Zendikar. Ele voltou.
Ob Nixilis Reaceso | Chris Rahn
De repente, tudo fez sentido. Era dele a escuridão que ela sentira; ele era a coisa que estava errada ali. Era o edro dele que perturbara a prisão, que fizera a terra tremer. Ele era a causa daquilo tudo. E agora ele conjurava uma mágica, um feitiço tão antigo e poderoso que Nissa não reconheceu nada além da sua forma vaga e sua escuridão completa e consumidora. Com a conjuração da magia, toda a terra de Zendikar gritou com dor.
“Levante-se!”, gritou o demônio.
E algo se levantou.
Nissa virou-se para ver uma fileira de placas negras brilhantes e impossivelmente grandes rasgando o chão. Mesmo antes que o restante do monstro rompesse a superfície, Nissa sabia que estava olhando para um segundo titã. Kozilek. O demônio invocara outro horror para devastar o mundo dela.
Retorno de Kozilek | Lius Lasahido
Ela olhou para cima e viu o demônio, e ele sorriu para ela. Ele sorriu.
Nissa teve um arrepio de asco, e naquele momento algo dentro dela veio à superfície. Uma parte que reconhecia como algo muito antigo, uma parte dela que ela tentara endurecer, tentara esquecer. Havia poder naquela parte, e agora era aquele poder que fluía em suas veias. Não era diferente da sensação do poder das linhas de força passando por ela, mas, desta vez, ela podia segurar tudo para si. Era gostoso. Sua força voltou dez vezes maior, e ela subiu a vinha mão ante mão, puxando-se para a superfície da rocha flutuante onde estava dependurada.
Ela ficou lá, encarando o demônio. Nissa sabia que deveria se virar e fugir. Sabia que deveria escapar – ou lutar contra os titãs, ou ajudar o povo, ou fazer qualquer outra coisa além do que estava prestes a fazer. Mas será que importaria se fizesse alguma dessas outras coisas? Será que suas ações fariam alguma diferença? Havia alguma esperança ainda, alguma última nesga de esperança restante para salvar Zendikar?
Se ela se virasse e fugisse do demônio, Nissa teria de responder a essa pergunta. Então, não fugiu do demônio. Ao invés disso, olhou diretamente para ele, o “seca-olho” que roubara a última chance do seu mundo sobreviver. Por aquilo, e por tudo o mais, ela acabaria com ele.
Nissa saltou para a represa que tremia e correu na direção do demônio, com a espada em riste e pronta para atacar. Fora um erro dela não ter garantido que tinha acabado com ele quando lutaram daquela vez; ela não cometeria o mesmo erro duas vezes.
Quando Kozilek ascendeu, a represa convulsionou, o mar inchou, a terra tremeu e os zendikari gritaram. Tudo isso acontecia em torno de Nissa, mas fora da sua esfera de concentração, além da ira que a impulsionava para a frente. A única coisa que ela conseguia ver era o demônio horrendo, e a única coisa que sabia era que ele iria morrer.
Arte de Lius Lasahido
Enquanto lutava para passar por proles que surgiam e rochas derrubadas no caminho até o monstro alado, Nissa tinha uma percepção vaga da influência de Kozilek sobre o mundo em torno dela. Ela já sentira a influência desse titã antes, quando mais da sua prole povoava o mundo. Nissa não se importara muito com o caos distorcido na época, e não gostava dos efeitos confusos que as linhas de força sofriam agora. Os padrões infinitos que teriam coberto o mundo eram perturbados e quebrados. Tudo estava errado. Cada passo que ela dava exigia um esforço concentrado para forçar seu pé a tocar a terra, superar a dissecção da realidade, compensar pelas distorções gravitacionais. Mas Nissa manteve a pressão. Nada a impediria.
E, então, o terreno à frente dela entrou em erupção. O braço agitado de Kozilek esmagou a represa, e seu enorme punho esmagou a rocha, derrubando o farol. O impacto lançou Nissa pelos ares junto com escombros da represa e centenas de outros zendikari. O mundo foi virado de cabeça para baixo e Nissa estava lá, em suspensão momentânea. O tempo ficou lento e uma corrupção negra e iridescente cristalizava nas placas de rocha branca e pura e nas faces das pessoas em torno dela. Era como se estivesse presa em um lago congelado, sufocada pela pressão do gelo.
E o tempo começou a andar novamente, a gravidade dobrou, ou até triplicou, puxando Nissa de volta contra a parede desmoronada com tal força, que ela perdeu o fôlego. Nissa tentou ficar de pé, mas a sensação era a de afundar em areia movediça. Tudo em volta dela se transformava em cantos serrilhados e padrões geométricos que falavam de coisas antinaturais. Ela piscou uma vez, mas não conseguia clarear a visão. Tudo parecia a mesma coisa; ela não mais discernia o que era represa, o que era mar e o que era demônio.
Ela caíra no campo de distorção de Kozilek. Nissa cambaleou, incerta de onde seu próximo passo a levaria, incerta de onde estava ou aonde estava indo. Incerta se ainda estava viva ou não. Será que o fim chegara?
Não. Não! Este não era o fim. Não podia ser. Não até que ela o destruísse. O demônio era uma mancha em seu mundo perfeito. A necessidade de removê-lo de Zendikar a impulsionava. Ela continuou, pé ante pé, uma respiração após a outra, até finalmente se libertar do alcance da distorção.
Enfim livre, Nissa correu até o final da rocha branca da represa e para o penhasco, na direção do demônio. Mergulhou sobre ele, derrubando-o no chão com a lâmina no pescoço dele.
“Muito bem.” Ele olhava para ela, ainda com aquele sorriso revoltante. “Finalmente, disposta a vencer. Finalmente, disposta a fazer o que for preciso.”
“Você!” A bílis subia pela garganta de Nissa enquanto ela empurrava seu sabre para baixo.
Mas, com um movimento rápido, o demônio desviou do fio da lâmina e se deslocou, voando para longe e ao mesmo tempo, lançando uma onda da sua magia drenadora de essência sobre Nissa. Ele a atingiu antes que ela conseguisse ficar de pé, sugando a vida das suas veias, bebendo o ódio que lhe dava energia.
Ela gritou, estendendo sua vontade pelo terreno e mandando uma cascata de terra no demônio de baixo para cima. A terra sequer chegou a tocá-lo; girando em pleno ar, a terra voltou-se contra ela, seguindo um feixe de linhas de força antinaturalmente retorcidas e enleadas.
Nissa rolou para longe, girando pelo chão quando os escombros choveram nela – detritos negros e retorcidos, atormentados e antinaturais. Em pânico, viu quatro proles da linhagem de Kozilek derraparem entre ela e o demônio. Será que ele os invocara?
“Enfim”, disse o demônio, “os meus planos devem ganhar prioridade. A queda de Zendikar.” Ele fez um cumprimento de cabeça e as proles se aproximaram de Nissa, lançando pedaços de rocha para o alto. “E Zendikar vai morrer.”
Arte de Ryan Barger
Uma dor lancinante rasgou Nissa, e ela berrou de agonia. Apesar de não ser sua intenção, seu grito alertou Ashaya. Ela conseguiu sentir a preocupação de Zendikar quando a terra começou a se animar; o mundo vinha em seu auxílio. Mas enquanto despertava, era distorcida, quebrada, corrompida. Estava sendo arruinada.
Não. Nissa não permitiria isso. Ela empurrou a alma de Zendikar para longe. Longe dessa distorção, longe dessa praga, longe dela. Fuja!
Ashaya não queria partir. O mundo se recusava a deixá-la, mas Nissa o forçou. Não havia mais nada que elas pudessem fazer.
Ao partir, ela sentiu sua última nesga de esperança se contorcer em medo, sob a influência das proles de Kozilek. Suas entranhas reviravam. A terra, as linhas de força, a vida do mundo tornaram-se tão contorcidas e retorcidas que não mais existia.
Enquanto o demônio gargalhava, o que restava da realidade de Nissa se desenleava.
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Eu gargalhava com a expressão confusa da elfa, e com a realidade desenrolando-se à frente dela. Não consegui me segurar. Era engraçado. Havia algo nos olhos dela.
“Ah, pequena elfa. Você quer ouvir algo divertido? Se você tivesse apenas me deixado terminar o meu trabalho, eu teria recuperado a minha centelha e partido do seu mundo. Eu não escolhi você como inimiga, mas agora me sinto na obrigação de ser o inimigo que você merece. A distorção de Kozilek vai permitir que você tenha a experiência das últimas horas de Zendikar arrastadas por mil anos. Sofrendo, como eu sofri. Normalmente, eu não me importaria com esse tipo de teatralidade, mas você ganhou uma exceção.”
As proles formaram um círculo em torno da Joraga, partindo o espaço de tal modo que nenhuma linha de força a alcançaria, como aranhas que tecem uma teia de realidades partidas. Ela fora separada de Zendikar. Impotente.
A minha mente se esforçava em instruir as proles. Era possível, mas eu sabia que andava no fio da espada. Especialmente com o titã assim tão perto, eu arriscava a loucura, ou algo pior. Mas enquanto eu não os comandasse a fazer algo que o titã se oporia diretamente, imaginava que ele não se importaria se eu pegasse algumas proles emprestadas para cuidar de um inseto que estava se metendo no trabalho dele. Eu me lancei aos céus novamente para analisar o restante do campo de batalha. Era, agora, uma derrota absoluta. Glorioso.
Agora era hora de partir deste lugar para nunca mais voltar.
Depois de garantir que nenhum sobrevivente escaparia do Portão Marinho, é claro, eu partiria para nunca mais voltar.
Na verdade, isso não era importante agora. Eu devia apenas partir deste lugar para nunca mais voltar.
Que interessante. Havia alguém na minha cabeça. Isso é inaceitável. Telepatas são mesmo os piores. Eu tive experiências demais com gente tentando colocar coisas exóticas na minha mente.
Eu tinha um senso direcional bem vago desse intruso, escondido entre os soldados que fugiam mais abaixo. Eu me lancei violentamente contra o chão, como um cometa, lançando zendikari para todos os lados com o impacto contra o solo enlameado e salgado. Um menino com robes azuis estava de pé, intacto, mas sobressaltado; por reflexo, ele se dividiu em dúzias de imagens espelhadas. Não era um truque ruim.
Arte de Victor Adame Minguez
Então, sussurrei uma palavra: o nome mais verdadeiro para a dor que eu aprendera na vida. Em uma esfera crepitante à minha volta, a agonia reinava. Eu senti tanto quanto ele, mas a dor não me era tão estranha como a deste menino. Todas as imagens se dobraram, mas apenas uma delas realmente sentiu. Foi trivial escolher o artigo genuíno. Sorri convencido ao me lançar contra ele, mas tremi quando ele encontrou o meu olhar.
Aqueles olhos me atingiram como uma lança. Descartando qualquer sutileza, ele atacou meus sentidos com toda a força que tinha, mas isso significou que o meu punho apenas quebrou o maxilar dele em vez de decapitá-lo como eu esperava. Ele girou até o chão, desmoronando em uma pilha de robes manchados de lama. Dei um passo para quebrar o pescoço dele e acabar logo com isso.
Algo agarrou a minha asa por trás e me puxou junto com ela, rasgando-a no processo. Eu caí dolorosamente e olhei para cima para ver meu inimigo. Apesar de ele poder ter me atacado uma segunda vez antes que eu o visse, ele esperara. Alto, musculoso, com queixo quadrado e determinação. Um rapaz bem-apessoado pela maioria dos padrões. Eu ri feito criança ao analisá-lo. Ele estava disposto a me atingir pelas costas para salvar seu amigo, mas não estava disposto a vencer uma luta dessa maneira. Eu gostei dele imediatamente. Um herói.
Inclinei a cabeça de leve para ele. “Ob Nixilis. É um prazer. Agora, gostaria de pedir que você, por gentileza, se afaste e caminhe para casa. Você tem a aparência de um general, então deve saber que esta guerra está perdida. A defesa daqui era sua? Muito impressionante. Adoraria marcar uma revanche uma hora dessas. Você escolhe o mundo e os termos. Mas, por ora…”
Ele me interrompeu com um golpe de sua… coisa… quádrupla… de metal. Ele estava realmente empunhando um sural? Não vejo um desses há séculos, e nunca em Zendikar. Especialistas em sural tendiam a ser extremamente habilidosos, ou com vidas divertidamente curtas. Irritado, eu desviei do ataque.
Repreensão de Gideon | Dan Scott
“Estas pessoas estão sob a minha proteção, demônio. Afaste-se, ou eu o derrubarei.” Ele realmente parecia falar sério.
“Decepcionante. No meu tempo, desculpe a expressão, havia uma certa civilidade nisso tudo. Mas creio que não se fazem mais planinautas como antigamente. Uma novidade é que é muito mais fácil matar um.” Ergui a palma da mão e soltei uma torrente continuada de enfraquecimento puro. E o rapaz ficou ali, de pé, com um sorriso convencido e frustrante no rosto e um brilho dourado cercando seu corpo. Invulnerabilidade! Isso estava tomando uma forma muito mais interessante do que eu esperava.
“Não tão fácil”, ele brincou e avançou, golpeando-me em amplos arcos. Ele avançava com força, mas não comprometia muita distância – ele tinha vantagem no alcance e não me dava abertura para me aproximar e agarrá-lo. Eu o mantive longe com mais golpes de energia; a maioria ele evadiu, mas alguns o atingiram. A cada vez, conseguia se segurar com aquele brilho dourado dele. Consideração tática: sua proteção lhe exigia foco. Entretanto, tinha experiência e fluência nesse foco. Ele entrelaçava impecavelmente seu escudo com a série de ataques, não me dando aberturas reais. Mais de uma vez, parei golpes com meus antebraços, mas os cortes eram superficiais e curavam rapidamente. Ele me manteve em postura defensiva, e não caía em nenhuma das minhas fintas. Lutamos até uma posição neutra; ele conseguiu manobrar-se entre o telepata e eu.
“Você luta bem, mas não consegue me ferir, e não vou deixá-lo ferir estas pessoas. Eu luto por Zendikar, demônio.” Havia muita determinação em sua voz, mas eu podia ver o início de dúvida beirando em sua face. É assim que sempre começa.
“Nixilis.” Eu corrigi. “E você quer dizer… estas pessoas?” Casualmente, eu lancei um raio de energia contra um amontoado de retardatários feridos. Seis mortos. Ele reagiu para pressionar o ataque novamente, mas não poderia abandonar sua posição de defesa do telepata. “Ou você quer dizer ele? Ah, meu caro. O telepata pegou você, não foi? É por isso que você sempre deve matar os telepatas primeiro. Que certeza você tem de estar protegendo-o de livre e espontânea vontade? Que certeza você tem de que ele não fez um servicinho na sua cabeça?”
Seus olhos pularam para o lado – para o telepata – por apenas um momento. Aquele breve instante foi tudo o que precisou para a dúvida abrir uma rachadura um pouco maior. E naquele pequenino momento, eu avancei; e naquela pequenina fração de segundo, o peso dele estava no pé detrás.
Há momentos assim em batalha que o tempo para. Quando a alegria do combate sobrepuja os sentidos e a passagem do tempo. Ele me golpeou enquanto se abaixava para uma posição de lutador, mas o golpe foi alto e amplo. Quando nossos olhos se encontraram, eu pude ver a mesma alegria em sua face. Ele amava a luta tanto quanto eu. Ótimo. Eu prefiro assim.
Ele se abaixou bem para receber o meu golpe, mas eu estava pronto; tentou me dar uma rasteira, mas, com um bater da minha asa intacta, saltei acima dele e o arranhei com minhas garras. Seu escudo defletiu o golpe, mas o impacto o empurrou um pouco mais longe do que ele queria, e se aproximou com um avanço explosivo. Tive tempo de me preparar para o impacto com uma posição baixa de luta. Eu tinha mais peso e força, mas ele era mais rápido e tinha um centro de gravidade mais baixo. Eu não conhecia exatamente seu estilo de luta, mas tinha familiaridade suficiente com o tipo geral dela para antecipar o que viria a seguir.
Dei um alvo e ele o tomou. Ele prendeu suas pernas contra meu joelho e começou a pressionar – uma derrubada com chave de joelho, executada com perfeição. Eu era mais pesado do que ele, mas ele ainda conseguiria quebrar meu joelho em apenas alguns segundos.
Usei esses segundos para tomar o controle do braço direito dele, prendendo-o atrás da minha nuca. Em nossa altercação na mistura de lama, sangue, água salgada, ícore e coisas piores, lutamos pelo controle – e ele era melhor lutador do que eu. O joelho estalou, e um choque nauseante pulsou pelo meu corpo. Acontece que o problema dele é que esperava que este fosse o fim da luta, enquanto na verdade quebrar o joelho era apenas a terceira pior sensação que eu tivera na última hora.
Eu usei a minha perna boa e meu peso superior para prendê-lo ao chão. Ele tinha os dentes cerrados e a face salpicada da mesma lama que cobria a mim, a todos nós, e a este mundo miserável e perdido. Ele canalizou sua concentração para evitar que seu ombro quebrasse. Mas eu tinha vencido. Eu tinha vencido, e ele sabia disso.
Arte de Cliff Childs
“Você luta por Zendikar? Por este mundinho arrebentado de bosta? Bom, veja como ele lhe retribui!” Eu pressionei o rosto dele contra a água enlameada. Ele se debateu e se agitou, cuspiu e tossiu, lutando para tomar ar. Eu conseguia sentir o desespero e o medo enquanto suas mãos escorregavam na lama.
Enquanto ele batia em mim inutilmente. Enquanto ele começava a afogar.
A invulnerabilidade não foi páreo para dez centímetros de água suja.
“Esta é Zendikar! Sofrimento e imundície e desperdício! Esta é Zendikar!” Ele teve mais uma convulsão e seu corpo ficou fraco.
Eu o segurei ali por um segundo a mais antes de soltá-lo e virá-lo de costas bruscamente, respingando lama.
“Esta é Zendikar”, sussurrei. “E a sua luta acabou.”
Traduzido por: Meg Fornazari
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