Mtg Lore
Compêndio da Lore de Magic the Gathering
EPISÓDIO 3: UMA ALIANÇA INESPERADA
A luz do sol se espalhava através das árvores, ondulando sobre o pântano. Kaito não se afastou da estrada. Ele sabia que até a flor mais inocente poderia ser mortal no pântano.
Os nezumi nunca esconderam que não gostavam de visitas; usar a paisagem venenosa a seu favor era o obstáculo perfeito. E em circunstâncias normais, Kaito nunca teria arriscado se aventurar tão fundo no território deles.
Mas a chave para encontrar Tezzeret estava com os nezumi.
Após a morte de Tameshi, Kaito passou semanas rastreando cada fragmento de informação que pôde encontrar sobre Tezzeret. Ele foi às bibliotecas de Otawara, vasculhou todos os arquivos e conversou com alguns dos Historiadores Vivos mais reverenciados de Kamigawa.
Tezzeret não existia em nenhuma unidade de dados.
Mas ele existia em uma memória.
Um historiador que se apresentou em um dos teatros mais antigos de Towashi falou de uma vila habitada pela gangue Nezumi-Katsuro. Ela havia sido incendiada cinco anos antes, atacada por forças que nunca foram responsabilizadas.
Um dos sobreviventes era uma criança chamada Nashi, cujos pais tentaram colocá-lo em segurança quando o ataque começou. Nashi só havia chegado ao limite da aldeia quando assistiu aterrorizado sua mãe ser queimada viva e faíscas de fogo incendiarem todas as cabanas ao seu redor.
A vila nezumi ardeu durante a noite, e depois que o fogo se apagou e os sobreviventes se reuniram perto das cinzas, Nashi ouviu os adultos sussurrar o nome do homem que ordenou o ataque.
Eles o chamavam de Tezzeret — e ele foi traído por seus subordinados, que o deixaram com morte cerebral na vila queimada para os nezumi encontrarem. Eles mantiveram Tezzeret até o dia em que um dragão chegou e barganhou por seu corpo.
Os nezumi temiam vingança da organização de Tezzeret. Eles temiam que, se alguém descobrisse que havia sobreviventes, alguém pudesse retornar para terminar o trabalho. Então, os nezumi fizeram a única coisa que podiam – eles ajudaram a criança a se tornar um fantasma. Então eles também se tornaram fantasmas.
Eles poderiam se esconder pelo resto de suas vidas, mas Nashi não tinha família sobrevivente. Foi mais gentil mandá-lo para longe do pântano, onde a organização de Tezzeret nunca seria capaz de encontrá-lo e ele poderia recomeçar.
Mas os nezumi das aldeias vizinhas não falavam com Kaito. Não apenas sobre Nashi, mas sobre qualquer coisa. Eles gritaram xingamentos e bateram as portas e até ameaçaram envenená-lo se ele não saísse. A julgar pelo número de flores tóxicas ao longo da estrada, ele não duvidou que estavam falando sério.
Kaito não tinha amigos no pântano. Mas havia respostas aqui, e ele não estava pronto para voltar antes de encontrá-las.
Ajustando sua máscara de tanuki, ele seguiu a estrada quebrada, uma faixa translúcida de energia, através da água turva. Era o suficiente para manter Kaito seco, mas ele olhou nervosamente para as rachaduras amarelas brilhantes. Se a estrada cedesse, não havia nada para mantê-lo acima do solo.
Ser comido vivo por enguias venenosas não era exatamente o fim que Kaito havia imaginado para si mesmo. Não que ele tivesse aversão a enguias; ele gostava muito delas quando estavam assadas com óleo de gergelim e envoltos em arroz e algas marinhas.
Kaito correu para a próxima costa. Raízes maciças se projetavam do chão formando uma mistura de fios emaranhados, bloqueando a estrada brilhante à frente. Uma trilha menor era tudo o que restava, coberta de seixos e palha amassada.
Kaito seguiu a trilha até chegar a uma aldeia. Era menor do que algumas das outras, com casas feitas de telhados de palha e portas de papel deslizantes. Casas que desmoronariam facilmente se o vento soprasse muito rápido.
Ou um incêndio, Kaito pensou sombriamente.
O que aconteceu com a família de Nashi foi violento. Talvez até vingativo.
Kaito precisava saber por que e como isso se conectava a Tameshi e ao monstro que ele viu nas docas.
Como se conectou à imperatriz.
Um largo caminho de terra cortava o centro da aldeia. No outro extremo havia um ferro-velho cheio de sucatas de metal e pedaços de máquina ultrapassados.
Houve rumores de que nezumi nos pântanos estavam experimentando tecnologia não regulamentada. Eles frequentemente trocavam suas criações com os Justiceiros Okiba – uma gangue de motoqueiros exclusivamente nezumi – em troca de um fluxo quase constante de mercadorias roubadas.
Mas Kaito era um futurista, cujas principais crenças eram empurrar os limites da tecnologia para o bem maior.
Quem era ele para julgar o que os nezumi faziam?
Uma nezumi cinza mais velha estava atrás de uma cerca de madeira, o pelo ao redor de sua boca salpicado de branco. Suas garras estavam enroladas no cabo de uma ferramenta de jardinagem, a lâmina serrilhada em forma de pinça e presa a uma caixa de metal que vibrava com energia.
“Você não é bem-vindo aqui,” ela vociferou.
Kaito hesitou, olhando para a lâmina irregular. Poderia facilmente ser usado como uma arma.
A nezumi estreitou os olhos rosa escuros. “É para colher cogumelos. Corta os caules na medida certa para evitar que os esporos se soltem.” Seu nariz se contorceu. “Se você está aqui para verificar nossas licenças-”
“Eu não estou,” Kaito disse rapidamente, mantendo suas mãos na frente dele, esperando mostrar que ele não era uma ameaça. Não atualmente, de qualquer maneira.
Seus inimigos eram mais monstruosos do que roedores.
Ela cheirou o ar. “Humanos não viajam até aqui a menos que seja para ganhar alguma coisa.”” Ela mostrou seus dentes amarelos. “Nós nunca valemos a inconveniência.”
“Seus bens roubados e projetos paralelos ilegais não são da minha conta. Estou aqui para obter informações.” Kaito deixou o silêncio seguir. Era um risco falar com os nezumi assim tão descaradamente, mas ele lidou com o suficiente deles em Towashi para saber que eles respeitavam a honestidade bruta muito mais do que conversinha fiada.
Na maior parte do tempo.
Um nezumi marrom escuro apareceu na varanda próxima, com uma longa cauda atrás dele. Ele olhou para sua vizinha, assobiando violentamente. “Você está conversando muito com esse estranho, Rabo-de-Lama.”
A nezumi mais velha estalou as mandíbulas em resposta. “Vá para dentro e cuide da sua vida, antes que um desses cogumelos faça um desvio pela sua casa.”
O vizinho rosnou levemente, os pelos subindo na nuca, mas ele deu um passo para trás em submissão.
“Estou procurando por alguém chamado Nashi.” Kaito olhou entre eles. “Ele morava a alguns quilômetros daqui quando era criança.”
Ao som de seu nome, vários kami enfiaram a cabeça para fora da varanda do vizinho. Kami que inconfundivelmente pertencia ao pântano, com seus cogumelos flutuantes e flores venenosas girando em torno de suas cabeças. Um olhou para Kaito com seis enormes olhos de sapo. Quatro bolhas circulavam ao redor dele, com girinos se mexendo ansiosamente dentro.
Os nezumi podem ter experiência com mentiras, mas os kami não.
Sob a varanda, eles começaram a sussurrar um para o outro. Rabo-de-Lama cortou-os com um olhar penetrante, e eles recuaram para as sombras.
Ela deu de ombros para Kaito. “Nunca ouvi falar.”
Kaito olhou para o telhado. A palha estava ficando mais fina e desgastada perto dos cantos. “Parece que você mora aqui há muito tempo. Tempo suficiente para se lembrar do incêndio.”
Sua cauda levantou atrás dela, balançando hipnoticamente. “Os humanos não nos ajudaram na época. Por que iríamos ajudá-lo agora?”
“Talvez por causa da minha boa aparência e personalidade encantadora?” Quando a nezumi não reagiu, Kaito ergueu os ombros. “Olha — eu só quero falar com ele.”
Rabo-de-Lama encostou o cabo de madeira no portão e se moveu para a casa. “Eu não acho que é sua escolha.” A nezumi estava quase na porta da frente quando ela retrucou: “Leve suas perguntas de volta para onde quer que você veio. Nós não queremos você aqui.”
Foi a despedida mais educada que ele teve o dia todo.
Quando ela desapareceu para dentro, Kaito olhou para o estranho ainda na varanda. Seus olhos eram mais escuros — mais ônix do que rubi.
“Eu sei que os nezumi o esconderam. Eu sei que você quer protegê-lo.” Os dedos de Kaito estavam inquietos, dançando ao seu lado. “Mas o que ele sabe… pode ajudar a todos nós em Kamigawa.”
“Eu nunca mordi um humano antes. Paramos de atacar com nossos dentes para parecermos mais civilizados para vocês humanos. Achamos que isso poderia mudar as coisas – mostrar a vocês que éramos iguais, não animais.” Ele lançou um sorriso de escárnio. Um aviso. “Mas alguns de nós estão cansados de fingir ser algo que não somos.”
Levaria apenas meio segundo para Kaito puxar a espada de suas costas. Sem mencionar que ele poderia atirar no nezumi cogumelos venenosos simplesmente estalando os dedos.
Teria sido a maior diversão que ele teve durante toda a semana. Mas não lhe daria informações. Por isso, Kaito precisava ser agradável.
Ou, pelo menos, fingir ser.
Ele deu um passo para trás. “Obrigado pelo seu tempo.” Kaito virou-se da aldeia, sentindo os olhos de uma dúzia de nezumi em suas costas.
A estrada brilhante apareceu à frente, e Kaito pegou sua máscara, deixando o metal se transformar em um pequeno tanuki. Ele não parou de andar, mesmo quando Himoto, o drone, saiu de sua mão e desapareceu por entre as árvores próximas, de volta na direção da vila.
Kaito caminhou até ter certeza de que não poderia ser visto.
Abaixando-se atrás de um salgueiro, ele manteve distância de todas as plantas desconhecidas e pressionou um dedo na têmpora. Usando a câmera de seu drone, ele voou pelo pântano e entrou na vila pelo lado. O drone se escondeu nas plantas murchas, mirando os Kami do Pantanal que se arrastavam desajeitadamente em direção a outra cabana, bolhas flutuando ao redor com pressa.
O drone o perseguiu, tomando cuidado para ficar fora de vista, e seguiu o telhado em direção a uma chaminé sem fumaça antes de mergulhar para a lareira.
Kaito ouviu o coaxar do kami enquanto ele entrava na sala, transmitindo uma mensagem quase inaudível para quem estava lá dentro.
“Eu sei,” uma voz rouca respondeu. “Nossa aldeia não é a primeira que ele visita – e quanto mais ele fala o nome de Nashi, mais perigo ele coloca nele.”
O kami grasnou novamente. Desta vez, Kaito pegou uma palavra.
Otawara.
“Sim. Vou avisá-la. Mas não adianta enviar um drone antes do anoitecer – ele seria capaz de rastreá-lo com muita facilidade à luz do dia”, disse a figura em voz baixa. “Por enquanto, só precisamos ter certeza de que nosso silêncio é tudo o que damos ao humano.”
O drone tanuki voltou pela chaminé, instalou-se atrás das pedras e esperou.
Quando Kaito chegou à beira do pântano, o sol já havia se posto. Com o feed do drone ainda ativo, ele assistiu o drone dos nezumi se dobrar na forma de um coelho e partir para a escuridão.
O tanuki o seguiu, e Kaito partiu na direção de Otawara.
Era quase madrugada quando Kaito alcançou a cidade no céu. O drone dos nezumi havia desaparecido em um dos bairros movimentados, mas não importava. Kaito vasculharia as ruas a pé.
Depois de se reunir com sua máscara de tanuki, ele atravessou o parque, examinando as casas à distância. Apenas quando ele se transformou em um jardim estreito de musgo que ele percebeu que não estava sozinho.
Uma sombra se estendia pela grama. Em um instante, a mão de Kaito estava ao redor do punho de sua espada, e ele a balançou para frente e girou para encarar a figura que se aproximava.
Uma cidadã-da-lua pairava na frente dele com apenas um lampejo de emoção por trás de seus olhos roxos. Em sua mão estava um pergaminho desenrolado, com vários outros empacotados em uma bolsa na cintura.
Kaito torceu sua espada, e a borda serrilhada da lâmina apareceu um momento antes de uma dúzia de lâminas em forma de estrela se separarem umas das outras, mantidas juntas por sua telecinesia.
A mulher olhou brevemente para a arma. “Não é meu desejo te machucar.”
“Dê-me um minuto,” disse Kaito, a voz suave. “Você mal me conhece.”
A estranha deslizou para a esquerda, movendo-se como uma brisa silenciosa. “Sua busca deve terminar hoje. Por favor, vá para casa em paz e não fale o nome da criança novamente.”
“Desculpe,” Kaito respondeu. “Eu não vou a lugar nenhum até que eu e o garoto tenhamos uma conversa.”
Ela baixou o queixo. “Uma conversa não requer tantas lâminas.”
“Depende de como a pessoa está disposta a falar, não é?”
A mandíbula dela ficou tensa. Claramente Kaito atingiu um ponto fraco.
Ele não tinha intenção de machucar a criança nezumi, mas também não estava com vontade de se explicar para uma estranha – ou receber ordens de uma.
“Se houver alguma informação que você precise, estou certa de que você pode encontrá-la em outro lugar,” ela disse, com a voz equilibrada. “Mas você vai ficar longe da minha família.”
“Parece que há uma ameaça enrolada em algum lugar,” ele observou, apertando o punho. Ele nunca tinha visto pergaminhos como os dela antes, mas se fossem mágicos, ele não correria nenhum risco.
Seus pés pairavam vários centímetros acima do musgo. “Violência não é a minha intenção.”
Kaito abriu um sorriso letal. “Você se esgueirou atrás de mim com um ultimato e um pergaminho flutuante – então me perdoe se eu não acredito em você.” Ele sacudiu o cabo de sua lâmina, e cada estrela disparou em direção ao pergaminho desenrolado da mulher.
Ela girou, rápida e graciosa, e abriu a palma da mão ao seu lado para que o pergaminho flutuasse ao lado dela.
As estrelas arremessadas formaram um arco no céu antes de retornar a Kaito, brilhando sob o sol. Com um grunhido, Kaito atacou a esguia cidadã-da-lua, esperando distraí-la com um combate corpo a corpo. Ela pulou para trás como se estivesse dançando no ar, os braços abertos como asas enquanto ela permanecia fora do alcance de Kaito.
Lançando-se para frente, ele golpeou com força, mas a mulher foi rápida. Ela se abaixou antes de girar para o lado, as mãos levantadas como se fosse apenas parte de uma performance.
Os olhos de Kaito estavam presos no pergaminho flutuante. Com um toque mental, cada estrela saiu flutuando em direção ao pergaminho, perseguindo-o em círculos enquanto a mulher usava sua própria telecinesia para afastá-las. Kaito virou a perna para acertá-la, mas ela disparou para o céu. Ele recuperou o equilíbrio, alcançando as estrelas afiadas que ainda circulavam ao redor do jardim, e as convocou de volta para se alinhar com sua espada. Ele observou como os olhos da mulher voltaram para o pergaminho.
Se ele tivesse apenas um momento, ele iria aproveitá-lo.
Kaito ordenou que as estrelas atacassem mais uma vez, visando não a mulher ou os pergaminhos, mas a corda presa à cintura. Apenas uma delas encontrou seu alvo, mas foi o suficiente. A corda se rompeu e a bolsa começou a escorregar em direção ao chão.
Circulando o braço ao seu lado, ela pegou a corda antes que os pergaminhos caíssem, mas a distração deixou seu primeiro pergaminho desprotegido. Kaito estendeu a mão, e ele voou pelo ar e atingiu seu punho.
A mulher piscou, e um segundo rolo de pergaminho flutuou no ar e se desenrolou na frente dela.
No momento em que ela leu as palavras, Kaito sentiu seu corpo inteiro enrijecer. Sua espada caiu de sua mão, e as estrelas rebeldes seguiram, batendo no musgo como brinquedos quebrados. O pergaminho flutuou para cima e, quando os pés da estranha tocaram o chão, ele voltou para a bolsa com todos os outros.
Kaito não conseguia se mexer. Seus ossos pareciam ferro, pesados e inflexíveis. Esforçando-se contra a magia, ele cerrou os dentes. “Eu não estou… tentando machucar… o garoto.”
Ela inclinou a cabeça curiosamente, e quando falou, sua voz etérea soou apenas na mente de Kaito. Você está dizendo a verdade, e por isso só tenho gratidão. Mas meu filho não pode ser encontrado. Por ninguém.
“Seu-seu filho?” Kaito tentou virar a cabeça quando a mulher se moveu ao lado dele, mas ele permaneceu imóvel como uma pedra. Apenas seus olhos podiam segui-la.
Ela assentiu brevemente antes de pegar um dos pergaminhos de sua bolsa e desenrolá-lo.
“O que você vai fazer comigo?” Kaito perguntou, as bochechas ficando quentes. Ele ainda estava pensando rápido, esperando uma saída para isso.
“Você não precisa ter medo de um simples feitiço de memória.” Com sua mente, ela acrescentou: Mandar você para um caminho diferente manterá você e minha família seguros. Não se preocupe — você não vai se lembrar de nada disso.
O estômago de Kaito parecia vazio. Depois de tudo que ele fez para chegar aqui… de tentar encontrar a imperatriz e trazê-la para casa…
Ele não podia deixar tudo por nada. Ela não podia tirar suas memórias.
Suas palavras foram alimentadas por uma raiva imprudente. “Estou tentando salvar a imperatriz, e seu filho pode ser a única pessoa em Kamigawa que pode ajudar!”
A mulher flutuou na frente dele, a boca se transformando em uma linha reta. “Você está enganado. Nashi não sabe nada da imperatriz.”
“Mas ele sabe sobre Tezzeret,” Kaito disse, ainda lutando contra o feitiço de paralisia.
Quase não havia cor em seu rosto, mas naquele momento, ela parecia pálida. Seus olhos estudaram Kaito – procurando por um fragmento de falsidade – mas não encontraram nenhuma.
Ela pairou com a verdade por um período de tempo antes de gentilmente guardar o pergaminho. Imediatamente, o movimento estremeceu o corpo de Kaito, e ele caiu de joelhos.
Com um gemido, ele agarrou sua espada caída e se levantou, os músculos doendo. Depois de convocar todas as lâminas do musgo, ele embainhou a espada reformada em suas costas e se virou para encarar a cidadã-da-lua.
“Então,” Kaito disse, ainda ofegante. “Você vai me dizer como sabe sobre Tezzeret, ou vamos ter que lutar de novo?”
“Sua arrogância é parte do motivo pelo qual você perdeu a batalha.” Ela acenou uma mão esguia. “Isso deixa você sem foco.”
Ele esfregou a nuca. “Assim, a maioria das pessoas me chama de Kaito, mas ‘desfocado’ também funciona.” Eiko e Patas-Leves quase certamente concordariam.
Havia um leve toque de diversão em seu olhar. “Eu sou Tamiyo,” ela disse, a voz tão firme quanto o aço. “E talvez você e eu devamos ser aliados.”
Kaito mergulhou nos detalhes do lugar. Pinturas em aquarela estavam espalhadas pelo espaço. Paisagens que poderiam parecer fantásticas para o povo de Kamigawa.
Mas Kaito as reconheceu. Eram lugares reais. Outros Planos.
Ele se virou para Tamiyo, que encheu duas xícaras de chá-verde antes de colocar cuidadosamente o bule de porcelana em uma mesa baixa.
Kaito piscou. “Você é uma planinauta.” Não era uma pergunta.
Tamiyo sentou-se na cadeira oposta e levou a xícara aos lábios, soprando suavemente o vapor. “Acredito que apenas um colega planinauta poderia fazer essa descoberta simplesmente olhando algumas pinturas amadoras.”
Kaito sabia que havia outros planinautas no Multiverso. Mas ele não tinha ideia de que havia outro em Kamigawa. Seu olhar pousou nos livros encadernados em couro e nos pacotes de pergaminhos espalhados pela maioria das superfícies.
Então ele percebeu. “Você está coletando informações.” Ele franziu a testa. “Por que?”
Tamiyo tomou um gole de chá. “Acredito que é meu dever preservar as verdades do Multiverso.” Erguendo a sobrancelha, ela acrescentou: “O conhecimento nos ajuda a crescer — como indivíduos e como sociedade. É um presente que não valorizamos.”
Kaito segurou seu copo entre as palmas das mãos, deixando o calor passar por ele. “Fale-me sobre Tezzeret. Quem é ele? O que ele quer?”
Tamiyo começou a responder quando seu comportamento mudou abruptamente. Seus olhos pousaram em algum lugar atrás de Kaito, e seu rosto se suavizou em um sorriso. “Acho que você já sabe sobre meu filho, Nashi.”
Kaito se virou para encontrar o jovem nezumi parado na porta. Com pelo branco brilhante e manchas cinzentas, ele usava uma jaqueta de couro preta com cortes curtos e anéis de prata ao longo da orelha.
Nashi deu uma olhada em Kaito antes de seu rosto se iluminar. “Máscara legal! Isso é um drone?” Ele ergueu um pedaço de hardware que piscava com pixels. “Eu estou tentando construir um com peças recicladas. Sabe como é – fazer algo velho ficar novo novamente, essas coisas. Você construiu o seu? Que tipo de chip você usou para conectar a câmera? Você usa microimplantes, ou—” Nashi congelou por um momento antes de sorrir timidamente. “Desculpe. Provavelmente são muitas perguntas ao mesmo tempo.”
Kaito puxou a máscara de sua cabeça, deixando-a dobrar de novo e de novo até que ela parecesse um tanuki de origami.
“Uau,” Nashi disse, radiante. “Massa.”
Tamiyo ergueu o queixo, os olhos cheios de humor gentil. “Você precisa de alguma coisa, Nashi?”
Ele ergueu o metal. “Preciso de um antigo chip de dados. Fritei o meu tentando conectar um pedaço de hardware quebrado. Posso ir ao mercado de usados?”
“Leve Rumiyo e Hiroku com você. E tente não se encher de bolinhos e pães de coco antes do jantar.” Tamiyo sorriu para seu filho, mas seus pensamentos estavam muito dentro da cabeça de Kaito. Não pergunte a ele sobre Tezzeret. A maior parte do que sei foi mantida em segredo dele, para proteger seu coração. Eu não desejo lembrá-lo de uma escuridão que ele tentou tanto escapar.
Kaito assentiu levemente e sorriu para Nashi. “Boa sorte com o drone.”
Nashi abriu um sorriso cheio de dentes e correu de volta, saindo da sala.
Quando seus passos sumiram e ele estava fora do alcance da voz, Kaito pousou sua xícara e olhou para Tamiyo. “Conte-me tudo.”
Então, ela contou.
Kaito descobriu que Tezzeret não era apenas um planinauta – ele era o planinauta com o braço de metal. O homem que Kaito viu no quarto de Kyodai todos esses anos atrás.
O homem que teve algo a ver com o desaparecimento da imperatriz.
Os olhos de Kaito ardiam com fúria. Ele sentiu uma dor no peito – uma mistura de tristeza e clareza que era muito esmagadora para suportar em um espaço de tempo tão curto. Mas ele escutou mesmo assim, mesmo enquanto sua cabeça balançava e ele sentia o Plano girando.
Tamiyo explicou que Tezzeret tinha vindo a Kamigawa para adquirir artefatos mágicos do pântano perto da vila de Nashi. Mas quando os nezumi se recusaram a vender suas terras, Tezzeret retaliou. As coisas aumentaram rapidamente, e o resultado disso foi a vila inteira queimada.
Kaito piscou lentamente como se estivesse reunindo seus pensamentos de um lugar distante. “Mas o que ele estava fazendo com Kyodai? O que ele quer?”
“Acredito que ele esteja pesquisando sobre kami. Não sei quais são suas verdadeiras intenções, mas estou determinada a descobrir.” A voz de Tamiyo ficou firme. “Não é meu desejo intervir nos assuntos de outros planos. Mas Tezzeret trouxe seus experimentos para cá, para minha casa. Minha família é tudo para mim, e é muito mais importante do que meu desejo de neutralidade.”
Kaito se acalmou. “Você vai tentar impedi-lo?”
“Não até que eu tenha descoberto tudo o que há para saber sobre a pesquisa dele.”
“Ameaçar kami e sequestrar a imperatriz não foi suficiente?” Kaito balançou a cabeça, as bochechas coradas quando suas emoções começaram a tomar conta. “Não preciso entendê-lo — quero saber para onde ele levou minha amiga.”
Tamiyo desviou o olhar momentaneamente, e Kaito sentiu o desconforto em seus olhos.
Havia uma rouquidão desesperada em sua voz. “O que você não me disse?”
Seu olhar voltou para ele como uma onda quebrando. “Há uma planinauta chamada Errante que conheci uma vez em Ravnica. Ela me contou sobre Tezzeret e a arma que ele estava prototipando.”
Kaito franziu a testa. “Que tipo de arma?”
“É chamado de Chip da Realidade e pode ser perigoso não apenas para Kamigawa, mas para vários Planos. Na noite em que a imperatriz desapareceu, Tezzeret foi ao palácio para tentar controlar Kyodai usando um protótipo do chip.” Tamiyo piscou solenemente. “Não funcionou. Não da maneira que Tezzeret pretendia. Em vez disso, o chip disparou a centelha da Errante.”
O coração de Kaito bateu contra suas costelas. Quando ele falou, ele mal podia ouvir sua voz sobre o zumbido em seus ouvidos. “O que você está dizendo?”
Tamiyo exalou. “A Errante e a imperatriz são a mesma pessoa.”
A Imperatriz. Ela ainda estava viva, como Kaito acreditava.
Ouvir a verdade fez seu peito tremer de alívio.
“Uma planinauta. Todo esse tempo.” Ele engoliu o nó na garganta. “Por que ela não voltou para casa?”
“Ela é incapaz de fazer isso,” Tamiyo explicou. “O Chip da Realidade deixou sua centelha instável. A Errante não controla seu dom do jeito que você e eu conseguimos.”
Kaito apertou os punhos. “Se o protótipo do Chip da Realidade a mandou embora, talvez faça o oposto também. Encontramos Tezzeret, roubamos o chip e trazemos a imperatriz para casa.”
“Concordo que precisamos tentar. Mas devemos trabalhar juntos nisso. Tezzeret não nos espera – só temos uma chance.” Tamiyo se acalmou. “Há mais coisas acontecendo nos laboratórios do que qualquer um de nós sabe. Seja lá com quem Tezzeret está envolvido, ele está atrás de algo maior do que apenas a Errante. Não se trata de governar Kamigawa – ele quer o controle dos kami por uma razão, e eu pretendo descobrir qual é. Antes de persegui-lo no subsolo e irmos atrás do Chip da Realidade despreparados.”
“A imperatriz precisa de nós,” Kaito argumentou. Ele não a decepcionaria. De novo não.
“Devemos ser pacientes,” Tamiyo insistiu.
Kaito se levantou de repente, com o pulso acelerado. “Esperei dez anos.”
“Toda Kamigawa aguarda o retorno da imperatriz.”
“Não como eu. Ela-” Kaito não conseguia encontrar as palavras.
Mas Tamiyo entendeu mesmo sem elas. Ela era sua amiga, dizia sua mente. Eu entendo a perda que você sentiu e como você está desesperado para substituí-la. Mas não estamos prontos para essa luta. Ainda não.
Kaito apertou a mandíbula, puxou a máscara sobre o rosto e se moveu para a porta. “Obrigado pelo chá,” ele disse por cima do ombro, “mas eu tenho outro lugar para ir.”
Se o Chip da Realidade traria sua amiga de volta, então ele iria atrás dele.
E ele não estava disposto a esperar pela permissão de Tamiyo.
Kaito estava do lado de fora do laboratório de Tameshi, olhando para as portas sólidas e o painel brilhante na parede. Em sua mão estava a cartão de acesso de Tameshi – aquele que Kaito havia tirado do bolso de seu amigo pouco antes do armazém pegar fogo.
Ele nunca quis que Tameshi morresse. Mas se sua morte traria a imperatriz para casa…
Kaito torceu a boca teimosamente. Ele não queria pensar sobre essa troca. Se Tameshi tivesse vindo até ele, talvez houvesse outra maneira. Um final diferente para a jornada que envolveria os dois trabalhando juntos.
Ele confiou em Tameshi com sua vida. Mas a confiança de Tameshi veio com segredos. Segredos que o mataram.
A dor que ficou no coração de Kaito duraria uma eternidade.
Ele passou o cartão de acesso sobre o painel e uma luz verde piscou. A porta se abriu e, quando Kaito entrou, ele murmurou uma palavra de gratidão ao amigo que nunca mais veria.
Era a coisa mais próxima da redenção que Tameshi poderia ter.
Kaito já havia feito sua mágica nas câmeras, mas manteve seus passos em silêncio, movendo-se pelas sombras da sala como se ele próprio fosse uma sombra. Ele passou por enormes cilindros de vidro que borbulhavam com um líquido rosa. Ele não sabia o que estava guardado dentro deles, mas reconhecia uma gaiola quando via uma.
Procurando por movimento, ele se arrastou em direção à janela de vidro à frente e olhou para dentro. A sala estava cheia de mesas cobertas com os mesmos tubos de vidro que ele tinha visto nas docas, mas havia muito mais do que Kaito poderia contar rapidamente. Não foi apenas um experimento da noite para o dia — isso era uma operação completa.
Mas mesmo com a abundância de líquidos em tons de neon e equipamentos de metal espalhados sobre as mesas, eram das formas no chão que Kaito não conseguia desviar o olhar.
Corpos. Corpos de kami.
Havia dezenas deles – vivos, mas enrugados e sem brilho, como se sua própria essência estivesse sendo sugada deles. Kaito sentiu seu coração se partir. Ele ouviu os gritos à noite nas docas, e não fez nada para detê-los. Os kami estavam lá dentro, roubados como mercadoria, e levados ao laboratório de Tameshi para se tornarem cobaias.
O kami não era a missão de Kaito. Mas olhando para eles agora, ele sentiu uma culpa horrível percorrer seu corpo.
Se Eiko estivesse aqui – se ela soubesse que Kaito ouviu os gritos e não fez nada – ela o culparia?
Ele se afastou da janela para olhar na sala ao lado, apenas para encontrar outro kami inconsciente. Seu corpo tinha a forma de uma lanterna de papel, com quatro pequenas velas espalhadas ao redor, confinadas a uma cama cirúrgica de metal. Havia um cinza assustador em seu rosto, e os pavios das velas pareciam frios ao toque.
Mas o objeto atrás do kami chamou sua atenção.
Posto ao lado de uma enorme máquina estava um pedaço de metal, fino e quadrado e não maior que a palma da mão de Kaito, com fios pendurados nas bordas como uma água-viva.
Kaito tinha visto isso antes quando ele vasculhou o escritório de Tameshi. O projeto estava em uma unidade de dados criptografada. Naquela época, ele não sabia o que era, ou o que poderia fazer.
Mas enquanto observava a forma como a luz pulsava ao redor dele, seguindo o rastro de fios que conectavam a máquina ao corpo do kami, Kaito soube exatamente o que era.
O Chip da Realidade.
Kaito deslizou pela porta, olhos fixos no chip enquanto passava pelo kami em coma. Não havia ninguém guardando a máquina. Nenhum invólucro para escondê-lo de dedos curiosos.
Estava ali, esperando.
Então Kaito estendeu a mão, tirou o Chip da Realidade de seu suporte e o enfiou no bolso.
Está vendo, Tamiyo? Kaito pensou presunçosamente. A paciência é superestimada.
Ele saiu da sala, fechando a porta atrás de si, e correu para a saída. Mas quando virou a curva final, uma sombra iminente o forçou a parar em seu caminho. A espada de Kaito estava em sua mão antes mesmo de seus olhos registrarem o monstro bloqueando seu caminho.
O monstro que assassinou Tameshi.
Kaito cerrou os dentes, os olhos brilhando de raiva.
“Seus olhos carnídeos sugerem familiaridade, mas o conhecimento de nosso encontro escapa à minha memória. A existência de um segundo Jin-Gitaxias neste plano é altamente improvável, portanto, seu reconhecimento deve ser aceito como genuíno.” O monstro inclinou a cabeça, luz artificial brilhando em sua espinha de metal. “Os esquemas não são importantes neste caso. Roubo é uma ofensa que exige punição rápida.”
Kaito ignorou o peso do Chip da Realidade em seu bolso, focado apenas no monstro. “Sim, bem, considere esta punição pelo que você fez com Tameshi.”
Jin-Gitaxias soltou um som metálico e gutural. “Seus objetivos derivam de vingança, mas eles estão sujeitos a suposições equivocadas – seu companheiro carnídeo foi um participante voluntário, mesmo em sua morte. Mas as perguntas o tornaram ineficiente. O trabalho deve ser protegido.”
Meia dúzia de ninjas armados apareceram ao lado do monstro. Capangas contratados do Submundo eram famosos por fazer o trabalho sujo de qualquer um, desde que fossem pagos.
Kaito puxou sua espada para trás. “Ainda bem que eu nunca fui de conversa fiada.”
O primeiro ninja avançou, e Kaito acertou sua arma contra a lâmina da figura mascarada com um golpe implacável. Apesar de toda a confiança, o estranho não estava preparado, estremecendo sob o peso da lâmina. Kaito empurrou com força, forçando-os a cair no chão, quando a próxima figura atacou.
Kaito não perdeu tempo — ele atacou o agressor que se aproximava, que aparou a lâmina com duas adagas de duas pontas. Jogando o pé para trás, Kaito se preparou antes de sacudir o cabo de sua espada. A lâmina se abriu em estrelas, e Kaito rolou para a direita assim que a figura caiu para frente em surpresa.
As estrelas cortaram a armadura do estranho, fazendo-o gritar antes que seu corpo caísse no chão. Ele não se levantou.
Kaito sentiu o ar mudar quando os capangas se aproximaram. Eles estavam com raiva — mas Kaito também.
Trazendo as estrelas de volta ao seu punho, elas pairaram em linha como uma lâmina que foi esticada demais. Quando os próximos dois ninjas se aproximaram, Kaito deslizou sua espada para baixo, lançando as estrelas intermitentes pelo ar como um chicote, acertando um dos capangas no rosto.
O outro balançou uma adaga na direção de Kaito. Ele se abaixou, tensionou as pernas, e convocou suas lâminas de volta para reformar sua espada. Ele golpeou para cima, contra a adaga do ninja, no momento em que mais dois ninjas do Submundo atacaram. Um violento choque de metal soou, e Kaito bloqueou de novo e de novo.
Ele vagamente registrou Jin-Gitaxias à frente, andando com o tipo de calma que sugeria que ele acreditava que a luta estava quase no fim. Que ele havia vencido.
Mas ele não conhecia Kaito. Não se tratava de vingança — tratava-se de cumprir uma promessa que estava sendo feita há dez anos.
Esta noite, ele não falharia.
Kaito se tornou um turbilhão de metal e precisão, afastando cada atacante com o tipo de foco que deixaria Patas-Leves orgulhosa. Mas havia muitos deles, e a energia de Kaito não duraria para sempre. Então, ele lutou contra eles, forçando-os a recuar, e puxou um pequeno dispositivo de metal de seu cinto em forma de noz. Ele a jogou contra o chão fazendo um crack feroz.
Fumaça preta explodiu através da multidão, e Kaito disparou para longe de seu alcance pouco antes da eletricidade atravessar a nuvem. Os capangas gritaram de confusão no início – e depois de dor.
Kaito correu para as portas do laboratório sem olhar para trás.
Ele correu do complexo, o ar frio preso em sua garganta. Ele não sabia para onde estava correndo, apenas que tinha que fugir o mais rápido possível. As luzes da rua seguiam a estrada brilhante, mas Kaito pulou um muro baixo e tomou um caminho através dos prédios. Agora já era quase certo que Jin-Gitaxias estava ciente de que Kaito havia fugido com o Chip da Realidade. Se não estivesse atrás dele, logo estaria.
Com os pés batendo no concreto, Kaito derrapou até parar perto de uma das plataformas cercadas. Estava escuro, mas ele podia ver a queda em direção às nuvens abaixo.
Kaito se virou, procurando um esconderijo, quando viu os capangas se aproximando, escalando os telhados do outro lado da passarela. Acima deles, um enorme meca apareceu, metal dobrando sobre si mesmo até se estabelecer na forma de um dragão. Ele saltou sobre o prédio mais próximo, aterrissando um pouco longe de Kaito, e soltou um rugido poderoso.
Magia enchia seu núcleo, brilhando em azul por dentro. Carregando para um ataque do qual seria quase impossível escapar.
Kaito pensou em transplanar. Isso o colocaria em segurança, longe do meca e dos capangas de Jin-Gitaxias.
Mas o Chip da Realidade ainda estava em seu bolso.
O que aconteceria se ele transplanasse com ele? Isso o afetaria da mesma forma que afetou a imperatriz?
Ele seria capaz de encontrar o caminho de volta para Kamigawa e terminar o que começou?
Sair agora era um risco muito grande.
Ele cravou os calcanhares no chão, cerrou os punhos e se preparou para fazer o que fosse necessário para lutar e sair dali.
O meca se aproximou, abrindo suas mandíbulas largas para revelar um orbe de energia crepitante, quando Kaito sentiu o Chip da Realidade se movendo em seu bolso. Com as sobrancelhas franzidas, Kaito o puxou e olhou horrorizado enquanto os fios se contorciam contra o ar da noite, vibrando com vida.
E então o dragão uivou.
Quando Kaito olhou para cima, a luz nas mandíbulas do meca havia desaparecido, e uma faixa laranja brilhante cortou toda a sua garganta blindada. Por um momento, o meca permaneceu perfeitamente imóvel – e então as duas peças se soltaram e colidiram com a terra, não sendo mais uma ameaça para ninguém.
Atrás da máquina quebrada estava uma mulher com cabelos brancos como a neve e uma espada na mão. Ela ergueu o rosto, traços aparecendo sob o chapéu largo, e Kaito reconheceu seus olhos castanhos imediatamente.
A última vez que ele viu a Imperatriz de Kamigawa, ela ainda era uma criança. Mas os anos a tinham mudado. A profundidade em seu olhar parecia carregar a sabedoria de uma centena de vidas. Ela não estava apenas mais velha; ela era uma guerreira. Uma planinauta.
A Errante.
Sua amiga finalmente voltou para casa.
A imperatriz caminhou na direção dele, sem prestar atenção às figuras escalando os telhados. Ela estava olhando apenas para Kaito.
A agitação dos movimentos soou por perto, e Kaito quebrou seu olhar para encontrar Tamiyo flutuando no céu noturno, a boca cerrada com uma leve desaprovação.
“Não foi isso que eu quis dizer quando sugeri que criássemos um plano.” Tamiyo desdobrou o pergaminho em sua mão, cumprimentando a imperatriz com apenas um breve aceno de cabeça.
No momento em que os olhos de Tamiyo terminaram de passar pelo pergaminho, as sombras acima dos prédios pararam de se mover. Os capangas de Jin-Gitaxias não estavam mais correndo; eles estavam procurando no chão por algo que não podiam ver.
“Não devemos ficar aqui,” Tamiyo disse em voz baixa. “Há lugares muito melhores para se ter uma reunião, e o feitiço de invisibilidade não vai durar para sempre.”
Encobertos pela magia de Tamiyo, os três planinautas fugiram de Otawara em silêncio.
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