Não deveria surpreender que os primeiros contos que reuni para colocar em minha enciclopédia venham do meu local de nascimento, Rabiah. Acho esse conto convincente porque deixa o leitor com várias referências tentadoras sobre um lugar de poder que está no topo de um Plano. Naturalmente, é também um conto de grande paixão e dor, e meu eu jovem sabia muito bem aonde essas emoções poderiam levar.

Enquanto uma memória viver, seu criador também viverá… Para aqueles de nós que contam histórias e escrevem as grandes e infames ações de nosso povo, essas palavras têm um peso maior que cem barras de ouro. Hoje, minha história é breve; a lição extraída dela talvez um pouco mais, talvez duas vezes mais curta. Somente meus leitores saberão.

Princesa Fátima era a mulher mais rica de todas. Ela tinha riquezas em abundância, camelos, sedas e um namorado que era um dos homens mais poderosos de seu reino. Ela também era rica em magia. Na terra de Fátima, como em muitos de nossos reinos atrasados, as mulheres têm pouco controle sobre suas próprias vidas. O marido ou o pai as controla. Mas o pai de Fátima estava morto, nenhum tio ou irmão vivia, e ela ainda não havia se casado. Todas as noites, Fátima sussurrava no ouvido de seu namorado, al-Abin: “Peça-me para não casar com você, e eu vou te amar para sempre”. Ao que al-Abin responderia: “Não se case comigo, querida”.

Por meses, esse estranho acordo durou, até que uma noite Fátima sussurrou: “Peça-me para não casar com você, e eu vou te amar para sempre.” Ao que Al-Abin respondeu: “Case-se comigo e me faça o mais feliz dos homens.” Furiosa, Fátima declarou que nunca se casaria com ele. Apesar dos pedidos de al-Abin, Fátima permaneceu inflexível. Naquela mesma noite, seu amante deixou Fátima para sempre.

Furiosa com Al-Abin e com a terra que o deu à luz, Fátima ficou enraivecida por vários dias. No final deste período, ela voltou toda a atenção para sua magia. Determinada a construir um lugar onde ninguém jamais ousaria perturbá-la, Fátima escolheu criar uma Cidade de Bronze que ardia com o calor de sua fúria.

A cada mês em que trabalhava em sua cidade, o poder de Fátima crescia até ficar tão grande que ela podia atravessar os Planos e deixar seu povo para trás. Ela mudou sua cidade para os confins mais distantes de Rabiah, onde trabalhou em completa solitude. No entanto, depois de vários anos, Fátima sentiu um toque de solidão. Embora ela não desejasse ver seu povo novamente, desejava alguma companhia. Assim, Fátima construiu o primeiro dos homens de bronze.

Fátima se importava profundamente com suas criações de metal, que sofriam a dor que ela nunca se permitia sentir e, portanto, muitas vezes paravam para reclamar depois de realizar qualquer tarefa. Como era sua cidade, seus homens de bronze eram frios como a traição de al-Abin e quentes como a ira de Fátima. No entanto, eles eram – e são – seus filhos, e Fátima os ama até hoje.

Não vá à Cidade de Bronze, a menos que possa suportar muita dor. Pois se você se aventurar dentro de seus muros fundidos, se sentirá queimado pelo calor de suas chamas e pela raiva e tristeza de sua amante solitária.